Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

No Google, existe
almoço de graça


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 25 de janeiro de 2007


INTERNET
Sara Kehaulani Goo


No Google, o foie gras é grátis, mas a jornada é longa


‘THE WASHINGTON POST, MOUNTAIN VIEW, EUA – Rocambole de foie gras. Ostras frescas. Ceviche de mariscos. Este é o cardápio do almoço no Google. E é de graça para quem trabalha na empresa. O mesmo vale para o café da manhã e o jantar.


Os empregados mais mimados do mundo deleitam-se com refeições preparadas por chefs saídos de alguns dos melhores restaurantes da região da Baía de San Francisco. Pouco antes do meio-dia, os funcionários recebem via e-mail os cardápios diários de 11 ‘cafés’ temáticos espalhados pela sede da companhia, no subúrbio. Dependendo do café escolhido, o almoço pode transportá-los para um local exótico e distante: Índia, México, Espanha, China.


Sei o que vocês estão pensando: todos deveríamos ter a sorte de comer como os reis do Google. Deve haver um porém. E há. Na verdade, mais de um.


A maioria das grandes companhias dos EUA ainda opera restaurantes com um apelo principalmente prático: proximidade, não qualidade. Há anos, as empresas e universidades usam produtos alimentícios de atacado, que satisfazem as massas, mas freqüentemente decepcionam o paladar.


Para os 10 mil empregados do Google, a maioria na sede de Mountain View, a comida virou parte da identidade da companhia. O motor de busca, que se orgulha de ser um inovador na tecnologia, usa a mesma abordagem na comida: não se conforma com um simples purê de batatas. Não; o Google apóia a agricultura local, a produção orgânica e a comida saudável.


‘A qualidade da comida é quase inacreditável. Contamos às pessoas e elas não acreditam’, disse Charles Haynes, um gerente de engenharia.


Agora, o porém. Não sair para as refeições significa que os funcionários trabalham mais tempo. Os executivos reconhecem prontamente que seu objetivo é manter a produtividade dos empregados. O Google não revelou o custo total, mas executivos dizem gastar diariamente US$ 10 por pessoa com comida, pagando ainda a conta de visitantes. Isso significa que o custo passa de US$ 100 mil por dia.


Mas mesmo isso tem um custo-benefício melhor que a saída de milhares de empregados para o almoço, disse a porta-voz Sunny Gettinger. Quase todos os funcionários fazem pelo menos uma refeição por dia na sede. ‘E ninguém traz o próprio almoço.’ A comida – particularmente a gratuita – sempre foi um privilégio oferecido pelas companhias de tecnologia em rápido crescimento, especialmente no fim dos anos 90. Se não oferecem mais almoço de graça, muitas grandes empresas tecnológicas oferecem um ótimo desconto.


Mas o Google eleva isso a um nível tão fenomenal quanto seu crescimento.


Existe outro porém: com tanta comida boa, os empregados estão engordando. Entre outras medidas para combater o fenômeno, alguns lanches com gorduras trans foram banidos.


A refeição gratuita do Google pode não durar para sempre. Na maioria das companhias tecnológicas ambiciosas, ‘assim que as ações começam a cair, a comida é um dos primeiros privilégios cancelados’, afirmou o consultor de tecnologia Tim Bajarin. Ele acrescentou: ‘Considerando a receita incrível que o Google continua a gerar, não imagino que isso vá acontecer logo.’’


MÍDIA & RELIGIÃO
Patrícia Campos Mello


Audiência nos EUA é adiada


‘A procuradoria americana adiou para segunda-feira a audiência de Sonia e Estevam Hernandes, fundadores da Igreja Renascer em Cristo. O casal foi preso no dia 9, no aeroporto de Miami, quando tentava entrar nos EUA com US$ 56,5 mil tendo declarado apenas US$ 10 mil.


Os dois estão atualmente em liberdade condicional em sua residência em Boca Raton, acusados de contrabando de divisas e não declaração na alfândega.


Sonia e Hernandes iam se apresentar ontem à Justiça americana, mas o governo dos EUA pediu um adiamento da audiência, por ainda não ter decisão sobre o indiciamento dos brasileiros. Isso porque um júri popular de 25 pessoas deve avaliar se aceita ou não a denúncia do promotor contra os brasileiros, mas ainda não chegou a uma conclusão.


O casal trocou de advogado e agora é representado por Susan Van Dusen e Albert Krieger. ‘A procuradoria simplesmente nos informou que a audiência foi remarcada porque ainda não há um indiciamento’, disse Susan, na saída do tribunal.


A procuradoria tem o prazo de 20 dias a partir da prisão para indiciar um acusado de algum crime. O indiciamento é decidido por júri popular.


Se forem indiciados até segunda-feira, Sonia e Estevam serão informados por um juiz, durante a audiência, sobre as acusações que enfrentam e ouvirão seus direitos pela Constituição americana. Após isso, o casal pode se declarar culpado ou inocente. Daí, o Departamento de Justiça marcará o julgamento para 70 dias após a data da audiência. Então, podem ser julgados por um júri composto por 12 pessoas.


Se o júri popular não aceitar a denúncia do promotor, o casal ouvirá do juiz que não há mais denúncias pendentes. Mas o casal ainda pode enfrentar procedimentos como extradição ou cassação do green card por parte do Departamento de Imigração.


Segundo informações de vizinhos em um condomínio fechado de Boca Raton, os fundadores da Renascer não estão saindo de casa, nem para ir ao jardim. Ontem, receberam entregadores de comida e Hernandes abriu a porta da frente para um funcionário de TV a cabo.


‘FALTA DE CONVICÇÃO’


O advogado do casal no Brasil, Luiz Flávio Borges D’Urso, presidente da OAB-SP, atribui o adiamento da audiência à falta de convicção do promotor americano sobre a ocorrência de crime. ‘A situação que os Hernandes enfrentam é semelhante a de qualquer outra pessoa que comete erro no preenchimento da declaração aduaneira ao ingressar nos EUA. Enfrenta constrangimento e deve esclarecimentos à Justiça Federal e à imigração’, disse em nota oficial.’


Catarine Piccioni


Pastor é acusado de falsificação


‘Eliezer Martins, pastor da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, foi preso em Cuiabá (MT) ontem sob a acusação de vender diplomas falsos de ensino fundamental e médio em diversas cidades de Mato Grosso, cobrando valores entre R$ 700 a R$ 800.


Policiais do Grupo de Ação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) apreenderam, na casa de Martins, 50 cheques preenchidos, fotografias 3×4, atestados de escolaridade, certificados de conclusão e requerimentos de matrícula em branco.


O pastor é suspeito de fazer o levantamento dos interessados em adquirir o diploma por intermédio de pastores e fiéis da Assembléia de Deus no interior de Mato Grosso. O grupo levava as vítimas a crer que os documentos eram reconhecidos pelo MEC.


Martins também é investigado por estelionato, já que fornecia diplomas com conteúdo falso. A pena máxima para cada um dos crimes é de cinco anos de reclusão. O pastor está preso preventivamente em Sinop.’


TV DIGITAL
Gerusa Marques


Costa quer mudar MP da TV


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, sugeriu ontem que os governadores mobilizem suas bancadas no Congresso para modificar a medida provisória que cria incentivos para equipamentos de TV digital e semicondutores. Costa defende a idéia de que os conversores (set top boxes) também recebam os benefícios fiscais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com isso, o equipamento poderia ser produzido em todo o País a preços competitivos, e não só na Zona Franca de Manaus, como prevê a MP assinada pelo governo.


A questão dos conversores foi motivo de disputa de bastidores, nos últimos meses, entre Costa e o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que defendia a produção do equipamento na Zona Franca e ganhou a parada. Derrotado, Costa criticou a decisão. ‘Do ponto de vista global, acho que a medida foi um pouco acanhada no que diz respeito a telecomunicações’, disse o ministro ao Estado, por telefone. Costa está de férias nos Estados Unidos e não compareceu à cerimônia de divulgação do PAC.


‘Nós, do Ministério das Comunicações, vemos o conversor como o principal instrumento de inclusão digital nos próximos cinco anos, juntamente com o projeto dos computadores’, disse Costa. De acordo com as regras definidas anteriormente para a TV digital, o conversor será usado em algumas funções da internet, como acesso a e-mails e saldo do FGTS, além de fazer a conversão do sistema digital para o analógico, permitindo o uso dos atuais televisores com melhor qualidade de som e imagem.


Costa disse que, se o conversor tiver incentivos para ser produzido fora de Manaus, poderá ter preços mais baixos. ‘Quanto mais barato, mais acesso as pessoas teriam’, observou. ‘Mas ficou restrito à Zona Franca. Foi feita uma reserva de mercado, independentemente do resto do Brasil, como São Paulo, Minas e Rio Grande .’


Pelos cálculos do ministro, os conversores vão movimentar nos próximos três anos R$ 9 bilhões. ‘Os políticos não se deram conta da importância do set top box para os seus respectivos Estados’, disse. Mas, como lembra, a MP não é uma proposta fechada, e os parlamentares de Estados que se sentirem prejudicados devem apresentar emendas no Congresso.’


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


CSI no Rio é surreal


‘Em CSI Miami, o traficante brasileiro se chama Antonio Riaz. Ele fala espanhol e é um dos chefões do tráfico no Rio. No episódio gravado no ano passado no Rio, o detetive Horatio (David Caruso) promove, na Cidade Maravilhosa, uma caça ao bandido, que matou seus familiares e mantém seu sobrinho como mula. Não chega a ser tão cômico como o episódio de Os Simpsons no Brasil, mas possui seus momentos divertidos.


Além de o nome do traficante estar mais para o de nossos hermanos latinos, um garoto que mora na favela fala inglês perfeito, o samba é usado como fundo musical até em cenas de luta, a casa da cunhada de Horatio parece a mansão de Sônia Braga em Páginas da Vida, e o Cristo Redentor parece abençoar a violência – como em todas as cenas clichês de filmes e novelas.


O enredo até prende, mas Miami é o mais fraco dos CSIs. Há lutas, suspenses, mortes, tiros, mas investigação de cena de crime é só enfeite. O AXN estréia a nova temporada com o capítulo no Rio, no dia 7, às 21 horas. O canal ainda traz o novo ano de Criminal Minds, série que melhora a cada episódio. O capítulo de estréia – dia 6, às 21 horas – é de tirar o fôlego.


TV dá uma trégua à cratera


É dia de compensar, ao menos no espírito do paulistano, a overdose de imagens da cratera que tanto maltratou o amor pela cidade. Hoje, a TV embarca no aniversário de Sampa, praça que concentra as maiores verbas publicitárias do País. A Cultura traz o infantil Expedições Ubernauta (12 h), o curta-metragem Portas da Cidade (18h45), o Ensaio Especial São Paulo (2h30) e o documentário inédito Europa Paulistana, produzido pelo Eurochannel, às 23h40. Na Gazeta, confetes no Pra Você, no Todo Seu e no Mulheres. Na Globo, os telejornais e o Globo Esporte também entram no pique.


entre- linhas


Louca Paixão, na Record, termina amanhã para dar lugar a… Escrava Isaura. A emissora exibe a novela pela terceira vez. A partir de segunda, às 14h30.


Apesar de a Globo afirmar que os BBBs só podem levar para casa alguns itens de beleza, como lâmina de barbear e cortador de unha, anteontem, Íris apareceu com uma pinça tirando a sobrancelha. No mesmo dia, a Central Globo de Comunicação disse ao Estado que esse item era proibido.


O terceiro ano de Lost estréia aqui, via AXN, no dia 27/2, às 21 horas.’


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 25 de janeiro de 2007


JORNAIS EM CRISE
Clóvis Rossi


Não é ainda caso de suicídio


‘DAVOS – A crise do jornalismo, o impresso pelo menos, entrou na agenda do encontro anual 2007 do Fórum Econômico Mundial. Pena que tenha sido em sessão fechada, com a participação de cerca de 80 jornalistas tidos como entre os mais ‘respeitados e influentes’ do planeta.


Não posso, portanto, reproduzir o inteiro teor da discussão, mas resgato uma avaliação e uma pesquisa (do Gallup) que vão na contramão da perspectiva de fim dos jornais (ao menos do jornal em papel). A frase é de Mathias Döpfer, executivo-chefe do grupo de mídia alemão Axel Springer, publicada no ano passado pelo ‘Die Welt’: ‘Precisamos tomar cuidado para não cometer suicídio por medo de morrer’.


Alarmem-se, portanto, os leitores: não me sinto estimulado a cortar os pulsos. Ainda há vida para o jornalismo impresso, a única atividade remunerada que tive.


A pesquisa do Gallup é mais eloqüente. Feita com 55 mil pessoas de 60 países (o Brasil não está na lista), mostra que a mídia tradicional ainda é, de muito longe, a fonte principal tanto de informação como de análise.


Pego só os pesquisados com acesso à internet: 61% informam-se de notícias de seu país pela TV local, 4% por TVs globais, 10% por jornais/revistas e 7% pelo rádio (o velho e bom rádio).


Blogs, a badalada novidade, são fonte para apenas 3% dos pesquisados, marginal portanto. Para análises políticas, o resultado muda a favor dos jornais, que passam a ser fonte básica para 19%. Blogs, os mesmíssimos 3%.


O problema é menos, portanto, de público e mais de ‘modelo de negócio’, comentou-se. Ou, acrescento, de como a mídia tradicional pode ganhar dinheiro ao usar, além do papel, também a internet como plataforma de informação. Posso, portanto, me aposentar sem cair em desuso.’


BLOGS & JORNALISMO
Plínio Fraga


Postar é…


‘RIO DE JANEIRO – Os blogueiros da política são como os boleiros: estão lá, batendo bola na internet, sem compromisso nenhum além dos interesses próprios. Quem faz sucesso entre eles? Levantamento sobre os blogs da área de política mais acessados mostra em sétimo o do ex-deputado petista José Dirceu e em décimo o do ex-deputado petebista Roberto Jefferson. Eles ainda têm o que dizer?


Jefferson comenta temas nacionais e internacionais: ‘Bolívar não passou de um criador de republiquetas que deram em tiranetes do jaez de um Chávez. Viva dom João 6º, que construiu um Brasil com as dimensões que possui. Chávez é um herói de fancaria’, escreveu.


Claro que se mete em política: ‘Gustavo Fruet ganhou a guerra na mídia, fez o provinciano líder Jutahy Júnior recuar e, se não for o presidente da Câmara, certamente será um novo grande líder nacional do PSDB’, comentou.


José Dirceu define seu blog como ‘um espaço para discussão do Brasil’. Está em campo oposto a Jefferson, ao menos na eleição para a presidência da Câmara. ‘O que de pior existe na política brasileira está se revelando na disputa: a hipocrisia e a mentira travestidas de ética, ou seja, o moralismo udenista’, postou para criticar Fruet.


Dirceu vangloria-se de ser vanguardista desde que deixou Passa Quatro (MG): ‘Fui uma das primeiras pessoas a usar cabelo comprido, andar de sapato sem meia, usar jeans, ir à escola sem terno, sentar em cima de carteira, não levantava quando o professor entrava, misturar os homens com as mulheres, que eram separados, não aceitava o autoritarismo que existia’.


Os escritos de Jefferson e Dirceu na internet são exemplos da definição teórica da realidade virtual: simulacro do real, negação da história, ilusão e exercício retórico. Prostrações por meio de ‘posts’.’


LIVRO ABORTADO
Matheus Pichonelli


Autor de livro sobre Dirceu, Fernando Morais diz que originais foram furtados


‘Com aproximadamente 300 páginas e já em fase de edição, o relato sobre a passagem do ex-deputado José Dirceu, 60, pelo Palácio do Planalto, que era escrito em parceria com o jornalista Fernando Morais, 60, não chegará às livrarias.


O autor informou que os originais, contidos em seu computador, foram furtados de sua casa de praia no Guarujá (SP) e que, por esse motivo, o projeto ‘acabou’.


O incidente só veio à tona agora, meses após a ação dos criminosos, cuja data nem a polícia nem Morais souberam precisar. ‘Deve ter sido em fevereiro ou março do ano passado’, contou o escritor.


A história do furto foi confirmada, por e-mail, pelo ex-ministro, que não quis falar sobre o assunto. Segundo Morais, além do computador, foram furtados uma caixa de charutos e um taco de beisebol autografado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Dias depois, os objetos foram encontrados num terreno na praia da Enseada, segundo a polícia -mas, no computador, havia sido retirada a memória da máquina.


‘Alguma coisa consegui salvar, porque estava guardada em cartuchos de filmes que gravamos em Cuba, mas os depoimentos estavam gravados lá’, disse Morais.


O investigador da Polícia Civil do Guarujá Paulo Carvalhal, 40, que disse ter trabalhado na ação, relatou que um suspeito chegou a ser detido.


Em um primeiro contato, Morais afirmou não possuir cópia do material, ao qual nem mesmo Dirceu tivera acesso. Dias depois, em entrevista ao jornal ‘Correio Braziliense’, disse que o ex-deputado estava ‘com os originais para publicar quando quiser’.


À Folha Morais explicou que o ex-ministro tinha em mãos um material bruto, não o editado -e que este estava apenas no computador. ‘[Quando Dirceu soube] Teve uma reação de espanto. Se aparecer, eu devolvo e ele decide se publica’, disse Morais.


O livro, que seria intitulado ‘Trinta Meses’, começou a ser idealizado logo após o petista ter os direitos políticos cassados pelo plenário da Câmara, em novembro de 2005. Hoje Dirceu, chamado de ‘homem forte’ do presidente Lula até ter o nome envolvido nos escândalos Waldomiro Diniz e do mensalão -que resultaram em seu afastamento, em junho de 2005- tenta reaver seus direitos políticos, cassados até 2015, no STF e via anistia pela Câmara.


Dirceu dizia que o livro não seria ‘chapa branca’, embora mantivesse antiga amizade com o autor que, durante o processo de sua cassação na Câmara, promoveu eventos com intelectuais em solidariedade ao amigo e, em setembro de 2005, depôs no Conselho de Ética como testemunha de defesa do petista.


O relato, que deveria expor ‘as limitações e erros do governo’, deixou alguns quadros do Planalto preocupados com o eventual teor da obra. Segundo o escritor, Dirceu já negociava com uma editoria -cujo nome Morais disse desconhecer.


Morais afirmou que, durante a empreitada, recolheu material para escrever, um dia, a biografia de José Dirceu. Ele garante, entretanto, que este projeto é ainda a longo prazo e que, por enquanto, vai se dedicar apenas à biografia que escreve sobre outro amigo, o escritor Paulo Coelho.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


A morte da Google


‘A manchete da Folha Online pela manhã era ‘Com PAC, brasileiros devem comprar 11 milhões de PCs neste ano’, nos cálculos do setor. Tal agressividade na inclusão digital explica a peregrinação de gigantes ao Brasil nos últimos meses, do MIT Media Lab à Intel. Agora, diz o blog de Lauro Jardim, ‘Google vai lular’ em Davos. Eric Schmidt pediu encontro com Lula.


Para registro, há tempos se questiona na rede até quando os sites de busca, Google à frente, vão manter seu domínio. Evidenciam-se problemas: pesquisas que não se atualizam, tráfego baseado em palavras-chaves e não ‘tags’ (etiquetas), hierarquização feita por algoritmos etc. Em reação, cresce a ‘mídia social’, web participativa ou 2.0, realizada pelos internautas. O post ‘A morte da dominação dos sites de busca na Web 2.0’ era destaque ontem no Digg, não por acaso o mais bem-sucedido dos tais sites de edição ‘social’.


E DA MICROSOFT


Não é só a Google que tem a Web 2.0 nos seus calcanhares. A Microsoft, que mandou Bill Gates a Davos para falar sobre Web 2.0 (sic), era um dos destaques de ontem do Reddit -o segundo site em edição de ‘mídia social’, abaixo do Digg.


A notícia, linkada para o próprio site de vendas da Dell, era que a maior fabricante de computadores do mundo acaba de lançar micros sem o Windows, da Microsoft. Antes aliada de Gates, a Dell agora corteja em sua página os adeptos do gratuito Linux, o concorrente do Windows.


O ESCÂNDALO


Tem mais. Na home page do Digg, o maior destaque do dia ontem era que a Microsoft de Bill Gates tentou contratar um blogueiro independente para mudar tópicos técnicos sobre a própria Microsoft na Wikipédia -a enciclopédia on-line que é o paradigma da Web 2.0 ou participativa. A Microsoft admitiu a ação, à AP, e a Wikipédia lamentou.


O escândalo é maior, notou o site IDG Now, porque os tópicos abordam um formato de documento eletrônico que a Microsoft lançou contra o ODF, de código aberto, grátis.


O DIGG BRASILEIRO


Digg, Reddit e outros sites de ‘mídia social’, inclusive Slashdot e del.icio.us, vivem explosão nos EUA e Europa, incorporados até por sites tradicionais, como o NYT.com.


E por aqui já começou uma corrida, nos blogs de mídia, para identificar o Digg brasileiro. Pelo que vêm postando blogueiros como Ralphe Mazoni Jr. e vários outros, o Rec6 (logo no alto) saltou na frente, seguido pelo EuCurti e pelo Linkk. O blog de Tiago Dória acrescentava ontem a evolução do Garimpar.com. Em destaque no EuCurti, um dos links se perguntava: ‘Quem será o Digg brasileiro?’.


QUALQUER DIA DESSES O blog Kibe Loco comanda uma massa de internautas anônimos -e poderosos. O blogueiro avisou de uma enquete no italiano ‘Corriere Della Sera’ que dava o piloto Michael Schumacher como melhor da Fórmula 1. Como antes, quando mudou enquetes até na Argentina, ontem Ayrton Senna já estava na frente e o blog brincou, ‘qualquer dia desses a gente elege um prefeito por aí’.


APRENDER PORTUGUÊS


O discurso sobre ‘o estado da nação’ de George W. Bush priorizou o etanol extraído do milho, como esperado, e o blog do ‘Wall Street Journal’ comentou que o efeito da maior demanda por milho já eleva preços de frango e gado (e leite). E recomendou aos produtores dos dois setores:


– Vão treinando português, rapazes, porque nós estamos de mudança para o Brasil…


COMÉRCIO, NÃO


O Fórum de Davos, que os jornais britânicos vinham anunciando como palco para a retomada das negociações comerciais globais, com um possível acordo EUA/Europa, frustrou a expectativa dos ‘países pobres’ já no primeiro dia, como sublinhou o ‘WSJ’.


E, após o discurso de Bush por energia limpa, ganharam prioridade o aquecimento global e coisas do gênero.’


TELEVISÃO & CINEMA
Silvana Arantes


‘A TV contribui com o cinema’


‘O seriado ‘A Grande Família’, há seis anos no ar na TV, é um produto do ‘núcleo Guel Arraes’, como a Globo denomina a área de influência criativa do diretor que levou para a emissora experimentos como ‘TV Pirata’, ‘Comédia da Vida Privada’ e ‘Cena Aberta’.


‘A Grande Família – O Filme’ -que estréia hoje em SP e amanhã nos demais Estados, com a ambição de ser o mais popular título nacional de 2007- tem a assinatura de Arraes no roteiro, ao lado de Cláudio Paiva.


A atuação do autor de sucessos da telona como ‘O Auto da Compadecida’ e ‘Lisbela e o Prisioneiro’ se reflete, porém, em toda a produção do filme. A seguir, Arraes fala de cinema e TV e rebate opinião manifestada pelo diretor Walter Salles.


FOLHA – Qual é a especificidade do cinema em relação à TV?


GUEL ARRAES – Existe um cinema mais popular e um mais experimental. Antigamente, os filmes brasileiros populares eram os infantis, de Renato Aragão, e, mais recentemente, os de Xuxa. De uns anos para cá, o cinema popular ficou muito variado e interessante. Filmes como ‘Cidade de Deus’ [Fernando Meirelles, 2002] romperam a fronteira do que é experimental e do que é popular. O leque abriu, e parece que isso aumentou a implicância das pessoas.


Antes, passado um período de implicância com Renato Aragão, o próprio pessoal do cinema novo dizia que era legal conquistar público para o cinema brasileiro. Hoje em dia, que você tem, além de Renato Aragão, um monte de outras coisas, vejo as pessoas meio mal-humoradas com isso.


O cinema popular obviamente vai se aproximar de uma TV brasileira popular, que contribuiu para ele, com a qualidade, com a inspiração, com seus artistas e técnicos. Esse tipo de filme não me parece ter ameaçado o cinema experimental, que tem uma produção muito variada também.


FOLHA – Quando cita a ‘implicância’ com o cinema que se aproxima da TV, você se refere à recente declaração do diretor Walter Salles de que ‘o cinema brasileiro está sendo invadido pela estética televisiva’?


ARRAES – Sim. É um pouco isso.


FOLHA – Como você define a ‘estética televisiva’?


ARRAES – Acho essa discussão bizantina. A transmissão de uma partida de futebol é comparável com a novela, que é comparável com um filme que passa na TV? Televisão não é um estilo, é um veículo, um lugar onde se congregam todos os tipos de formatos.


FOLHA – A resistência à idéia de que a TV possa contribuir com o cinema tem a ver com o estado de ‘subdesenvolvimento’ industrial do cinema brasileiro, que o deixa propenso a viver no nicho experimental?


ARRAES – Quando se pensa a relação cinema-TV no Brasil, pensa-se com moldes importados. Toda essa discussão crítica vem de realidades bastante diferentes. O público francês ama o cinema francês, assim como o público brasileiro ama a TV brasileira. Somos um país pobre. A TV é de graça.


A Globo tem talvez o ciclo mais longo e ininterrupto de produção de ficção no Brasil. Nunca o cinema teve um ciclo desses. Parece-me que ninguém tomou muita consciência da importância da TV no Brasil, de seu papel, para o bem ou para o mal, na formação de mentalidades, da participação que ela tem na cultura pop brasileira. Acho que os intelectuais deveriam se debruçar um pouco mais sobre a televisão, com menos preconceito.


FOLHA – As sessões de ‘A Grande Família – O Filme’ serão antecedidas do trailer de ‘Ó, Paí, Ó’, de Monique Gardenberg. O público brasileiro está preparado para abraçar um filme baiano, com elenco 99% negro?


ARRAES – Depois de ‘Cidade de Deus’ no cinema e de ‘Cidade dos Homens’ na TV, acho que sim. ‘Ó, Paí, Ó’ é o equivalente baiano de ‘Antônia’ e de ‘Cidade dos Homens’. Participa desse movimento da chegada da periferia na central.


FOLHA – De que trata seu próximo filme, ‘Romance’?


ARRAES – É um roteiro que fiz com Jorge Furtado. Um casal de atores monta ‘Tristão e Isolda’, a história que está na origem do amor romântico. Em contraponto a esse amor-paixão, eles tentam viver um amor contemporâneo, mais à altura da nossa fragilidade. Há ainda um subcódigo da representação, na montagem da peça.


FOLHA – Parece ser um filme com perfil para o Festival de Cannes.


ARRAES – Já pensou? Quando chegar lá, vou falar mal da TV. (Risos)’


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Nanini ‘sola’ em filme sobre um casamento e três funerais


‘O fio condutor de ‘A Grande Família – O Filme’ é a consciência da morte que se apodera do patriarca. Lineu (Marco Nanini) passa mal no enterro de um colega da repartição.


Ele enfrenta o envelope com o resultado do exame que pode apontar seu fim iminente com três reações distintas -revolta-se com os ‘desajustados’ da família; decide aproveitar com gula inédita os momentos de vida que lhe restam; resolve demonstrar à mulher, Nenê (Marieta Severo), que 40 anos de vida ao lado dela valeram a pena.


Para visitar todas essas alternativas, o filme repete três vezes a cena do enterro -com os desfechos correspondentes.


Ou seja, desde o roteiro, ‘A Grande Família – O Filme’ definiu a oportunidade de um solo para Nanini. O ator não deixa passar a chance de uma interpretação brilhante, embora, tímido contumaz, seja o último a reconhecer o próprio mérito.


‘A vaidade tem que ser tratada na rédea. Se ela tomar a frente, você está perdido. Entrou num canto de sereia e vive num mundo particular’, afirma.


Sem ter a experiência real da paternidade, Nanini diz que compôs Lineu pela observação, sua ferramenta habitual. ‘Se você diz: ‘Vou fazer meu pai’, não sai. Sai uma forma oca. O banco de observação que você armazena vem naturalmente.’


Para o tom do personagem, buscou um ‘naturalismo não exato, com um quê teatral na interpretação’, já que ele prefere ‘o naturalismo representado ao naturalismo cru’.


No set de filmagens, Nanini evita o local onde o diretor revisa num monitor as cenas recém-filmadas. ‘Isso me atrapalha muito. Sou muito crítico. Fico achando tudo horrível. Vou deprimido para a outra cena, e vira uma bola de neve.’’


Sérgio Rizzo


Comédia privilegia a crônica social


‘Alguns sucessos da Globo Filmes exploram a fórmula do ‘e se?’, como em ‘A Dona da História’ (2004): e se uma mulher de 55 anos (Marieta Severo) reencontrar sua versão moça (Débora Falabella) para rever o passado?


‘A Grande Família – O Filme’ tem relação direta não só com a idéia, mas também com Marieta, agora como Nenê. Em flashback, ela aguarda em um baile a chegada de um rapaz, mas vem outro, que depois será seu marido.


Nenê, você sabe pelo seriado, se casou com o funcionário público Lineu (Marco Nanini). E se tivesse escolhido Carlinhos (Paulo Betti), agora um gerente de supermercado? O próprio Lineu começa a acreditar que ela ganharia mais com o outro quando desconfia estar próximo da morte e se angustia com o futuro dos seus.


Mais ou menos como em ‘Corra Lola, Corra’ (1998), Lineu fará as coisas de um jeito, depois de outro, e de outro. Suas ações interferem diretamente no destino de Nenê, dos filhos, do genro e da vizinha.


O tom não é de comédia rasgada. Embora o elenco crie bons momentos de humor, um clima de crônica social domina a história, muito brasileira em seu olhar sobre pais de família que se esfolam para sustentar a casa e sobre adultos desempregados. E se o país fosse diferente?


Não haveria graça, claro, nos personagens de ‘A Grande Família’.


A GRANDE FAMÍLIA – O FILME


Direção: Maurício Farias


Produção: Brasil, 2006


Com: Marco Nanini, Marieta Severo, Guta Stresser


Quando: em cartaz no Unibanco Arteplex e circuito’


FOTOGRAFIA
Mario Gioia e Tuca Vieira


O fotógrafo de São Paulo


‘German Lorca, que eternizou em imagens a SP de 1954, faz novos registros de marcos da cidade a convite da Folha


A São Paulo de 1954 que comemorava seu quarto centenário teve um fotógrafo oficial. German Lorca, na época com 31 anos, eternizou em imagens os festejos do dia, com cliques de uma praça da Sé ainda com o imponente Palacete Santa Helena em pé e o vale do Anhangabaú como cenário de um desfile militar, entre outros.


A convite da Folha, o filho de imigrantes espanhóis que viveu sua infância em um Brás com ruas de paralelepípedos documentou a São Paulo atual, que hoje completa 453 anos.


Lorca, hoje com 84 anos, percorreu caminhos parecidos para registrar a metrópole contemporânea e encontrou alguns resquícios daquela antiga cidade em desenvolvimento.


‘As coisas mudaram, mas ainda tenho muito prazer em fotografar a cidade’, conta Lorca, que, como exemplo das transformações, lembra a região onde fica o parque Ibirapuera, em 1949, com paisagem totalmente diversa da atual.


‘Sempre ia para locais distantes do centro para conseguir imagens diferentes. Um dia, descendo da Vila Mariana, cheguei onde é hoje o Ibirapuera, cheio de eucaliptos’, diz o fotógrafo, que, cinco anos depois, faria no local um de seus mais clássicos registros, com a Oca -desenho futurista de Oscar Niemeyer, dominando o plano como se fosse um disco voador- observada por uma senhora e por uma criança.


A produção de Lorca tem sido revalorizada nos últimos anos, como prova retrospectiva dele em cartaz na Pinacoteca do Estado. Visto como um dos pioneiros da fotografia moderna no Brasil, sua inquietação nos anos 40 e 50 tinha apoio na produção ‘subversiva’ de colegas como Thomaz Farkas, 82, e Geraldo de Barros (1923-1998).’


***


Com olhar de ‘amador’, Lorca revisita São Paulo


‘Fotógrafo, em cartaz na Pinacoteca, refaz imagens do centro e do Ibirapuera


Nos dois dias de ensaio fotográfico sobre São Paulo, acompanhado pela Folha, German Lorca não deixa de exibir entusiasmo. Usa película e três câmeras -duas Leicas e uma Hasselblad-, não desperdiçando filmes. Acha o ângulo, mede a luz e tira poucas fotos.


No aeroporto de Congonhas, mistura-se com o público em busca de uma perspectiva. Vai ao restaurante no segundo andar da ala central do prédio, um mirante informal. Como um fotógrafo amador com sua pequena câmera, parece um turista em busca de registros de viagem.


Lá, localiza o ângulo com o qual fez outra de suas imagens famosas, em 1965. Pela existência de uma parede da época, vê que era um dos antigos terraços do aeroporto. Sua fotografia original fixou a imagem das silhuetas de seis freqüentadores do aeroporto, vistos pelas costas quando assistiam ao movimento das aeronaves na pista. ‘Agora, a construção de novos acessos tira um pouco a visão. Mas ainda conseguimos ver alguma coisa’, diz.


No centro, na praça do Patriarca, Lorca utiliza como elemento das fotografias o pórtico recente de autoria de Paulo Mendes da Rocha e faz cliques do viaduto do Chá. Depois, faz ângulos da r. Doutor Falcão.


E, apesar da cordialidade no trato, não deixa de se irritar com algumas incongruências, segundo ele, do poder público.


Uma delas foi deixar longe do Teatro Municipal a escultura ‘Giuseppe Verdi’, de Amadeo Zani (1869-1944), inaugurada em 1921. Lorca fotografou-a em 1954, já distante da praça Ramos de Azevedo e tendo como fundo os prédios do vale do Anhangabaú. ‘É uma beleza de escultura, em tributo ao Verdi, que tem tudo a ver com o teatro. Agora está no vale, perto de uma escadaria, meio perdida.’


Em cartaz


Boa parte da produção de Lorca pode ser vista na Pinacoteca do Estado, na exposição ‘Fotografia como Memória -0German Lorca’, com curadoria de Diógenes Moura. Além de imagens da cidade, são exibidos retratos feitos por Lorca, outra porção importante de seu trabalho. Amigos como o fotógrafo Fernando Lemos e o artista plástico Marcelo Grassmann, ao lado de ‘flashes’ familiares, aparecem na exposição.


FOTOGRAFIA COMO MEMÓRIA


Quando: de ter. a dom., das 10h às 17h30. Até 11/3


Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, tel. 3229-9844)


Quanto: R$ 4 (sáb.: grátis)’


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