‘José Lourenço, que se define como ‘quase ex fiel leitor do O POVO´, fez o desafio e eu decidi encará-lo. Pra ser sincero, não é nada assim tão extraordinário, pois o que ele pagou pra ver foi a simples publicação, neste espaço, de queixas suas contra o jornal pelo que considera ‘campanha declarada e desavergonhada contra o prefeito Juraci Magalhães não somente no período eleitoral, mas durante todo o quadrimestre anterior. Como conseqüência, minou, liquidou, acabou com seu candidato a prefeito, um homem sério, justo e honesto, no caso, o senhor Aloísio Carvalho’. Um desabafo até então comum e que só ganharia gás em outro trecho, no qual o leitor faz menção à existência de comentários de que o comportamento decorreria do fato do prefeito não ter atendido ‘desejos e anseios financeiros do jornal O POVO´. O senhor Lourenço fez a provocação motivado por nota de coluna anterior, na qual mencionei a existência de pesquisa sobre a campanha em São Paulo apontando que a prefeita Marta Suplicy, do PT e derrotada na tentativa de reeleição, ‘apanhou’ da imprensa paulista. Pra ele, e concordamos neste ponto, falar mal dos jornais de São Paulo à distância é fácil.
Denúncia que o prefeito não fez
O prefeito Juraci Magalhães está desgostoso com a cobertura do O POVO desde antes da campanha iniciar e o leitor sabe disso porque esta coluna mesmo já reproduziu, na edição do dia 1º de agosto último, documento crítico por ele encaminhado. Ao contrário do ‘quase ex fiel leitor’, no entanto, Juraci não menciona a existência de motivações extras no comportamento que o jornal adotava, já então, sob ataques dele. Talvez José Lourenço pudesse ajudar o prefeito, apresentando-me elementos concretos, merecedores de apuração, que confirmem o que seria uma postura anti-ética do empresa. Afinal, deixar que interesses paralelos determinem o comportamento editorial, como dá a entender o queixoso defensor de Juraci, ao ponto de manipular os fatos para torná-los prejudiciais à administração e ao candidato que a representava na campanha eleitoral de 2004, representaria um desvio inaceitável para um órgão que se diz compromissado com a verdade. Algo que não detectei ter existido, a despeito de problemas pontuais na cobertura, todos tratados no ambiente interno sempre que detectados, alguns dos quais também levados ao debate externo. Devolvo o desafio do leitor, então, com esse outro.
Insurgente é música para W. Bush
Uma queixa do leitor Roberto Galvão, chegada no início da semana, foi encaminhada à Redação para ser objeto de alguma reflexão. Segundo Galvão, O POVO tem errado em várias matérias que publica acerca da crise no Iraque quando usa a palavra insurgente para identificar ‘os iraquianos que lutam contra os invasores do seu país’. Um exemplo seria na utilização do termo insurgentes para falar dos que lutam ‘misturando-se com facilidade à população. Eles não se misturam, eles são população’, segundo adverte o leitor. De certa forma, a atitude representaria um contra-senso diante da postura crítica que o jornal adotou em relação à invasão, chegando a destacar, em editorial recente, que ela acontecera ‘apoiada por grandes mentiras impostas pelos Estados Unidos e o Reino Unido’. Galvão arremata seu questionamento cutucando O POVO e indagando se o jornal ‘está seguindo orientação norte-americana’, lembrando haver visto na Band News, canal de TV a cabo, que o governo dos Estados Unidos orientou os órgãos de comunicação de lá para que utilizassem a palavra ‘insurgente’.
Como diria o Marechal Castello Branco..
Mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Nelson Castelo Branco Eulálio Filho diz ter ficado estupefato ao ler no domingo passado, dia 14, artigo assinado pelo jornalista Themístocles de Castro e Silva no caderno People, editado sob o título ‘Um apelo – advertência’. O tema já foi tratado antes neste espaço, há 15 dias, e começa a gerar inquietação maior entre os leitores. Na avaliação dele, a publicação do artigo representa uma autêntica apologia ‘à ilegalidade, ao Estado de exceção, ao golpe de Estado, à anarquia militar, enfim, ao descumprimento da Constituição, pois o texto é um chamamento a tudo isso’. Vários trechos foram pinçados para reforçar a preocupação, dentre eles, por exemplo, aquele em que o jornalista diz, reproduzindo documento atribuído do general Luiz Gonzaga Schoroeder Lessa, que ‘ou o presidente Lula da Silva segura os comunistas que o cercam, com seu revanchismo, ou alguns dissabores poderão surpreendê-lo’. A avaliação de Nelson Castelo Branco, que precisamos considerar, é de que o jornal torna-se conivente com as manifestações ali presentes ao aceitar publicar o artigo. É preciso dizer, ainda, que este não é um caso isolado e, ao contrário, as investidas do jornalista contra o Governo costumam vir enfeitadas por convites e provocações do tipo. Para ser ainda mais justo, e dimensionar o tamanho do problema, o artigo que chamou atenção dele sequer é o mais forte entre aqueles assinados por Themístocles que provocam debates, reações e protestos.
…vivandeiras, bivaques e granadeiros
Homem de direita, de um texto reconhecidamente qualificado, o jornalista Themístocles de Castro e Silva protagoniza, uma semana após a outra, exemplos de exageros como este que chamou a atenção do leitor. Ou, como o que em outra ocasião determinou uma reação do professor universitário Gilmar de Carvalho, igualmente trazida à coluna externa. De minha parte, não causa maior incômodo a defesa que ele faz da época em que o Brasil parecia ser um País que ia pra frente, de quando pra ser presidente da República era necessário ser general. É legítimo que existam pessoas, inclusive civis, que enxerguem este período da vida nacional como merecedor de saudade, referencial de quando os brasileiros eram felizes e não sabiam. O problema está na insistência do jornalista em questão de optar por muito além disso, por sugerir, às vezes de maneira direta e clara, que os militares devem voltar ao comando do País e, como nunca vinculou o apelo à participação deles nos processos eleitorais, defender que isto se dê por meio de um golpe. O POVO deu guarida a todos os textos e deve a leitores como Nelson Castelo Branco e Gilmar de Carvalho uma explicação para a atitude de conivência que adota ao não colocar a questão em debate com o jornalista-colaborador. Ou, por outro lado, deve ter consciência de que publicar textos com tal conteúdo o faz também responsável pela propagação de idéias esdrúxulas, antidemocráticas e inaceitáveis nos tempos atuais.’