Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Giselle Beiguelman

‘Em ‘Política em Pedaços ou Política em Bits’, Gustavo Steinberg investiga as tecnologias do poder na internet apoiado teoricamente no pensamento de Michel Foucault (1926-1984).

Combinando rigor teórico com domínio tecnológico, recusa a possibilidade de entabular uma reflexão filosófica sobre a internet sem discutir a materialidade do espaço virtual, mas se contrapõe à abordagem tecnicista, que redunda em determinismo da máquina sobre a história.

Essa opção permite ao autor afastar-se das posturas apocalípticas, integradas e deslumbradas que compõem grande parte da crítica sobre a internet.

Steinberg parte do princípio que ‘na rede de computadores as máquinas não apenas influenciam a formulação dos discursos, mas os próprios discursos só podem ser criados em conjunto com as máquinas’.

Isso implica a discussão, central na obra de Steinberg, de compreender os novos agenciamentos entre tecnologias sociais e materiais que produzem e são produzidas pela rede mundial de computadores e permitem, em última instância, que ela funcione, se expanda e exista.

Afinal, defende o autor, é o uso da internet, por milhões de pessoas, nos mais variados campos, o que dá validade aos protocolos de transferência de arquivos e dados e faz com que programas, produtos e funções sejam mantidos, atualizados ou descartados.

Contudo, destaca Steinberg, é importante perceber que esse uso é feito de forma voluntária. A adesão à rede não é imposta nem pelo mercado, nem pelos Estados. Pode, no máximo, ser estimulada por eles, mas o que garante sua operação é a crença e expectativa de seus usuários de que seus protocolos funcionem.

Protocolos esses que não são nada além de arquiteturas de sistemas implementados por programas que viabilizam a construção de uma rede descentralizada, dentro da qual se estabelece um jogo de poder em que nenhuma parte do sistema é hegemônica, mas todas estão conectadas, ainda que não continuamente.

Mas não estaria aí indicada a emergência de uma versão atualizada da sociedade disciplinar, cuja eficiência assentava na capacidade de distribuir o poder capilarmente, atingindo uma transparência pan-óptica, dentro da qual a sociedade seria legível e visível em todas as suas partes?

Não, mostra o autor. No jogo de poder pan-óptico, a função da distribuição visava a manutenção da segurança pública em nome da defesa da paz interna da sociedade. No da internet, a tecnologia de poder mais importante é a manutenção da confiança pública no funcionamento de seu protocolo.

Uma tecnologia social, portanto, capaz de legitimar protocolos em um sistema que permite, inclusive, a flexibilização da vigilância, haja vista que vírus, erros de sistema e falhas de servidores dificilmente comprometem a rede como um todo.

Conforma-se aí uma tendência rumo a uma ‘sociedade ativadora’, na qual o controle se exerce por mecanismos de auto-regulação, capazes de gerar produtividade a partir de partes desorganizadas, mas baseadas em interfaces simbióticas de homens e computadores que são ativadas descontínua e momentaneamente, configurando uma fluidificação da política.

Uma política que não diz respeito a fins, mas a poderes transitórios que se manifestam em espaços de interconexão. Uma política, enfim, em pedaços, que nos impõe, conforme alerta o autor, a responsabilidade de pensar ‘interfaces adequadas a fim de navegar em redes desejáveis’.

Giselle Beiguelman é autora de ‘O Livro Depois do Livro’ (Fundação Peirópolis), professora do programa de pós-graduação em comunicação e semiótica da PUC-SP e responsável pelo site www.desvirtual.com

Política em Pedaços ou Política em Bits, Autor: Gustavo Steinberg, Editora: UnB, Quanto: R$ 38 (274 págs.)’



Fernando Badô

‘Google testa serviço de busca de textos acadêmicos’, copyright Folha de S. Paulo, 24/11/04

‘Uma semana depois do lançamento do sistema de buscas da Microsoft (beta.search.msn.com), o Google (www.google.com) reagiu lançando mais uma ferramenta, o Google Scholar (scholar.google.com), que ainda está em versão beta (de testes) e é projetado para localizar documentos escolares e acadêmicos, teses, livros, manuais técnicos e artigos publicados na mídia ligados a diversas áreas de pesquisa.

Seguindo a linha da ferramenta principal, o Google Scholar organiza os resultados por relevância de acordo com a busca solicitada, exibindo, na maioria dos casos, páginas de maior utilidade na parte superior da tela.

‘É uma oportunidade de crescimento para as ferramentas de buscas com foco específico’, afirma Gary Stein, analista da Jupiter Media (www.jupitermedia.com).

A ferramenta, no entanto, apresentou resultados mais satisfatórios para localizar um documento feito por alguém do que um texto falando sobre determinado assunto. No sábado, uma procura por ‘Bush’ acusou 162 mil ocorrências, mas as dez primeiras eram documentos escritos por pessoas com o mesmo sobrenome do presidente americano (nenhum dos textos tratava do próprio). Nesse caso, a busca com o Google comum se mostrou mais farta: 86,6 milhões de ocorrências, sendo que o site oficial do presidente e a página da Casa Branca eram as primeiras.

Definições

Um recurso que chama a atenção no Google Scholar é o definition, que mostra uma explicação conclusiva sobre o termo buscado. Por exemplo: se você procurar por ‘DNA’ (3,42 milhões de ocorrências na sexta-feira) e clicar em definition, será direcionado para um dicionário que mostra a definição desse termo.

Algumas ocorrências podem apresentar novas opções para a localização dos documentos. Caso apareça Web Search, você será levado, ao clicar, para o modo de busca convencional. Se surgir Library Search, significa que há uma informação de onde encontrar esse documento em uma biblioteca pública. Infelizmente, esse recurso não apresentou opções de biblioteca para as ocorrências de termos brasileiros, como ‘Luiz Inácio Lula da Silva’ ou ‘Amazônia’.’



Robson Pereira

‘A difícil arte de provocar risadas’, copyright O Estado de S. Paulo, 24/11/04

‘Um robô pode ter senso de humor? Os pesquisadores Kim Binsted e Justin McKay, especialistas em inteligência artificial, acham que sim. Acreditam tanto nessa possibilidade, desprezada até mesmo pela ficção científica, que passaram os últimos anos trabalhando no desenvolvimento de um software teoricamente capaz de transformar algoritmos e linhas de códigos em uma espécie de clone virtual de Groucho Marx.

A principal aposta da dupla de pesquisadores nesta dura empreitada é o Wiscraic, um programa criado por eles a partir de um outro software, também de autoria de Kim Binsted, chamado Jape, de Joke Analysis and Production Engine, uma ferramenta utilizada na criação e análise de piadas. Uma das principais funções atribuídas aos dois programas é a geração do que os seus autores chamam de humor computacional. Coisa séria, que fique bem claro, a julgar pelo currículo da dupla e o volume de verbas destinadas ao projeto.

A primeira demonstração prática da máquina do riso ocorreu há poucas semanas na Inglaterra, durante o Winchester Festival of Art and Mind (www.artandmind.org), evento tradicional que costuma atrair a atenção de cientistas das mais variadas áreas do conhecimento. Levado ao palco, um robô, equipado com o tal Wiscraic, passou alguns minutos tentando cativar e interagir com a platéia com uma sucessão de piadas e trocadilhos.

A reação não foi das melhores. Pouca gente achou graça nas piadas contadas pelo aprendiz de Groucho Marx, embora muitos dos presentes tenham identificado méritos no projeto, principalmente se utilizado para o ensinamento de línguas ou no auxílio ao tratamento de pessoas com problemas de linguagem. O Jape, por sinal, desprovido de suas ambições cômicas, vem sendo usado com sucesso em programas voltados à reabilitação de crianças com distúrbios da fala.

Definitivamente, computadores não são engraçados e pretendê-los capazes de fazer o cérebro humano desencadear complexas reações que culminem na liberação de endorfinas e serotominas em proporções tais que nos leve a reagir com sonoras gargalhadas (ou mesmo singelos sorrisos) ainda é uma possibilidade que precisará ser provada.

Kim Binsted também pensa assim e considera o Wiscraic o primeiro passo de uma longa caminhada. Piadas são parte vital da linguagem e do desenvolvimento social. E se os computadores cada vez mais estão interagindo com seres humanos, inclusive por meio da linguagem, o humor é um ingrediente que não pode ser desprezado, acredita.

INVASÃO DAS MÁQUINAS

Já está disponível na internet o 2004 World Robotics, um relatório anual produzido em conjunto por uma comissão econômica da ONU e pela Federação Internacional de Robótica. O documento, farto em números, estatísticas e análises otimistas, mostra que a ‘invasão das máquinas’, tão temida quanto alardeada pela ficção científica, já começou. E de maneira pacífica.

Deixando de lado as aplicações industriais ou científicas, vale a pena nos debruçarmos sobre o uso de robôs domésticos. E para que ninguém tenha de bisbilhotar as 414 páginas do relatório, cuja íntegra pode ser encontrada a partir do endereço www.unece.org, recolhi alguns dados que me pareceram interessante destacar. Vamos lá:

Em 2007, um exército de 6,6 milhões dessas estranhas criaturas (calma, ninguém precisa ficar preocupado com isso) estarão dentro de nossas casas, ajudando não apenas na limpeza doméstica e na segurança, mas também na prestação de serviços pessoais e em atividades ligadas ao nosso entretenimento e lazer. Ou simplesmente nos fazendo companhia, substituindo ou convivendo com peludos animais de estimação, como autênticos pet robots.

Somente na categoria entretenimento e lazer, que inclui os chamados toy robots, serão cerca de 2,5 milhões de robôs dos mais diversos tipos – um aumento considerável em relação aos números atuais. O grande destaque neste segmento continua sendo a família Aibo, da Sony, já em sua sexta geração. O brinquedinho foi lançado no Natal de 1999 e até agora contabiliza vendas de 700 mil unidades em todo o mundo.

No setor de limpeza doméstica, o grande destaque no mercado tem sido os aspiradores de pó robotizados, lançados há apenas três anos, mas que logo caíram nas graças do consumidor. As vendas mundiais chegaram a 570 mil unidades no ano passado e a previsão é de que até o fim de 2007 cheguem a 3,4 milhões de unidades. Não demora e um brinquedinho vira merchandising em novelas da Globo.’