‘Érica Cristina Marques, de 28 anos, vive em uma comunidade de baixa renda em Curicica, no Rio de Janeiro. Ela faz curso de cabeleireira e seu marido, Túlio Albuquerque, de 34 anos, trabalha como sorveteiro. O casal tem três filhos: Jefferson (10 anos), Jéssica (7 anos) e Thaís (1 ano).
Apesar de morarem próximos ao Projac, sede da Central Globo de Produção, em Jacarepaguá, a recepção do sinal aberto de TV não é solução para a família. ‘Aqui tem muita árvore e muito morro’, afirma Érica. ‘Tem casa em que nem pega o sinal.’
A família assina TV a cabo, da empresa GCG Telecom, e paga R$ 12 por mês para receber 21 canais. Se houver atraso de um mês, a conta sobe para R$ 13. ‘Qualquer um pode pagar’, diz Érica. ‘Uma Net é muito cara.’ Além da Globo, Érica gosta de assistir à Rede 21 à noite. ‘Passa filme bom lá.’ As crianças gostam do SBT, da Cultura e do Futura.
LEGALIDADE
‘Não temos nenhum amparo legal’, admite Giovander Silveira, sócio da GCG Telecom e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Telecomunicações e Melhoramento de Imagens e Atividades Afins (Abetelmim), que reúne 38 empresas dos autodenominados antenistas. Eles vendem TV a cabo em favelas e outras comunidades de baixa renda.
‘Mas não somos piratas’, ressalta Silveira, explicando que os associados da Abetelmim distribuem sinal de canais abertos, que captam diretamente do satélite. Para operar TV a cabo no Brasil é necessária uma licença que essas empresas não têm. A rede das empresas oficiais de cabo não chega aos bairros atendidos pelos associados da Abetelmim, que construíram suas próprias redes.
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) deve anunciar nos próximos dias uma regulamentação que permitirá operações como a da GCG Telecom se conectarem às redes das empresas de cabo, como a Net e a TVA, para venderem pacotes populares nas comunidades em que atuam. De acordo com a agência, as regras estão sob análise de seu conselho diretor, aguardando a aprovação. As empresas esperam pelo regulamento desde o mês passado.
PIRATARIA
Nas áreas cobertas pelas empresas oficiais de cabo, a pirataria é grande. A Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) calcula cerca de 300 mil conexões piratas, comparadas a 3,6 milhões de assinantes legais.
O gato, como é chamada a ligação clandestina, não é exclusividade de comunidades de baixa renda. Mas o Jardim Ângela, bairro pobre na zona sul de São Paulo, foi destaque em reportagem do jornal The New York Times há algumas semanas. O jornal entrevistou um morador do bairro, identificado somente como Antônio, que cobrava R$ 450 por ligações clandestinas de TV em vários pontos da cidade.
Coberto em parte pela Net, é fácil identificar os gatos quando se anda pelas ruas do Jardim Ângela. Em um quintal compartilhado por seis pequenas casas, por exemplo, o cabo entrava e saía pela janela das residências, instalado precariamente, conectando uma a uma ao serviço.
Em um bar, o balconista exibia uma TV de 14 polegadas com decodificador da Net, comprado por R$ 25 no bairro, que ele usa para receber o sinal puxado de um vizinho. ‘Ele assina a Net e eu pago R$ 17, dividimos a conta’, explica o balconista, que pergunta: ‘Não é ilegal, é?’ É, mas, em algumas semanas, ele poderá ter uma alternativa legal. E de baixo custo.’
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‘Baixa renda, um bom negócio’, copyright O Estado de S. Paulo, 28/11/04
‘Alguma coisa errada aconteceu com o setor de TV por assinatura no País. Em 2000, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgou um documento intitulado Perspectivas para a Ampliação e Modernização do Setor de Telecomunicações (Paste), prevendo que o total de assinantes de televisão passaria de 2,8 milhões em 1999 para 13,1 milhões em 2004.
Depois de chegar a 3,6 milhões em 2001, o número caiu para 3,5 milhões no ano seguinte, ficando estagnado em 2003. Para este ano, a expectativa das operadoras é de chegar novamente a 3,6 milhões de assinantes. Ou seja, 9,5 milhões a menos que o esperado.
‘Vemos como uma boa oportunidade de negócio’, afirma o vice-presidente de Banda Larga da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), Fernando Mousinho, sobre a regulamentação que permitirá às operações sem licença se conectarem às empresas legais para venderem pacotes populares. ‘Poderemos expandir a base de assinantes.’
A venda, manutenção e faturamento vão ficar por conta do parceiro, de acordo com Mousinho. A ABTA representa empresas de TV a cabo como Net, TVA e Vivax.
Com preço estimado de R$ 15 a R$ 20 ao mês, o pacote popular deve trazer os canais abertos e os obrigatórios, como os do governo (TV Câmara e TV Senado).
‘Dependendo da comunidade e do custo, podem trazer mais algum, talvez de esporte, filme ou desenho’, explica Mousinho. O pacote popular será limitado às comunidades de baixa renda.
As empresas da Associação Brasileira das Empresas de Telecomunicações e Melhoramento de Imagens e Atividades Afins (Abetelmim), que operam em favelas do Rio de Janeiro, têm mais de 100 mil assinantes que poderiam ser adicionados à base de clientes das empresas tradicionais de TV por assinatura.
‘Somos empresas pequenas que, quando começamos a operar, nem sabíamos da lei’, afirma Giovander Silveira, presidente da Abetelmim. ‘Algumas têm mais de 10 anos e são anteriores à Lei do Cabo’, complementa, referindo-se à legislação do setor. A GCG Telecom, que pertence à Silveira, atende a 4 mil assinantes e emprega 8 pessoas.
Érica Cristina Marques, cliente da GCG Telecom, paga R$ 12 por mês. ‘Um preço de R$ 20 pode ficar puxado’, explica Érica. A possibilidade de ter mais canais, porém, a deixa animada: ‘Adoro filmes. Para ter um canal só de filmes, faria de tudo para pagar.’’
MULTISHOW
‘Artistas se reúnem para celebrar Raul Seixas’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/11/04
‘Mais uma do baú do Raulzito. Gravado em agosto, na Fundição Progresso, no Rio, o especial O Baú do Raul – Multishow ao Vivo vai ao ar hoje, no canal por assinatura. A gravação deu origem a DVD e CD homônimos, que acabam de ser lançados no mercado. Na homenagem a Raul Seixas, ilustres convidados concedem interpretações muito pessoais a hits ou mesmo canções do lado B da carreira do compositor. Entre eles, Caetano Veloso, em Maluco Beleza; Zélia Duncan, em Metamorfose Ambulante; Lobão, em Rock do Diabo; Sandra de Sá, em Tente Outra Vez; Nasi, do Ira!, em Sociedade Alternativa.
Gabriel O Pensador também comparece, assim como Pedro Luís e a Parede, Toni Garrido, Raimundos e AfroReggae. Marcelo Nova, Arnaldo Brandão e Rick Ferreira compõem a ala dos antigos amigos de Raul. CPM22, Detonautas, Pitty, B.Negão e Marcelo D2 fazem a ponte entre o repertório raulseixista e o público mais jovem – que, no final das contas, engrossou a platéia na Fundição Progresso. ‘Isso pode até ser redundância, porque os mais jovens mostraram no show que já conhecem as músicas de Raul’, pôde constatar Marcelo Toller, gerente de Projetos Musicais do Multishow.
A participação de uma nova geração da música, os remixes de sucessos do pai, os arranjos que, muitas vezes, flertam com o xote, o rap, o reggae. Tudo isso levou uma mãozinha da filha do homenageado, a DJ Vivi Seixas. ‘Achei esse trabalho o melhor de todos que foram produzidos pelo Baú do Raul, pela variedade de estilos dos artistas’, diz Vivi, que, pela primeira vez se envolve com o projeto, colaborando com a mãe Kika Seixas.’
TVs EM UHF
‘TVs em UHF fundam associação’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/11/04
‘As emissoras em UHF resolveram se unir. Será lançado no próximo mês a Associação de Televisões em UHF, que representará os interesses de cerca de 20 emissoras, entre elas, a MTV.
A entidade tem entre os seus objetivos disseminar o acesso aos canais UHF, ampliar a freqüência, para que possa haver a inserção de novos canais, e defender a abertura de linha crédito para as emissoras de UHF junto ao governo.
A associação também quer desvendar o UHF para o grande público. Segundo a entidade, cerca de 70% dos telespectadores que têm acesso aos canais UHF o fazem via antena VHF, o que prejudica a recepção do sinal. A idéia é mostrar para o público que com uma antena UHF mais canais podem ser acessados e com mais qualidade. A divulgação da programação exibida nesses canais também faz parte do pacote de ações do grupo.
Há atualmente no Brasil 11 mil canais em UHF disponíveis, mas somente 30% deles estão em atividade.
Entrelinhas
O 60 Minutos, projeto da Bandeirantes, sai de cena sem nunca ter entrado. O programa foi abortado e, entre as reportagens que já estavam prontas para tanto, a maioria vem sendo destinada ao Jornal da Band. Uma ou outra foi para o lixo.
Ainda na Band, o noticiário que vinha sendo planejado para Datena no horário do almoço também subiu no telhado. É tempo de contenção de gastos.
A Globo News se gaba de ter sido o canal de TV por assinatura mais admirado na 5.ª edição da pesquisa promovida pelo Meio & Mensagem sobre os veículos de comunicação mais admirados do País.’
GLOBO & MEIO AMBIENTE
‘Problemas de audiência’, copyright O Estado de S. Paulo, 25/11/04
‘O anúncio ocupava uma página quase inteira do jornal com um assunto que custa a ganhar tanto espaço, se não passa de uma notícia. Veio dizer esta semana que ‘o meio ambiente não podia ficar de fora’ nos meios de comunicação. Falava em coisas que soam a conversa de ONG, como ‘preservação da reserva florestal’ em terreno de empresa, ‘treinamento de funcionários’ para uma ‘correta postura’ diante da natureza e ‘desenvolvimento de materiais e processos ecologicamente corretos’ contra o desperdício e a poluição.
Mas nele o que chamava mesmo a atenção era a assinatura. Tratava-se de publicidade institucional da TV Globo. O que tem ela a ver com essa história de ‘política ambiental’? Só perguntando à empresa. O anúncio não explicava que, há dez anos, nos estúdios da emissora em Jacarepaguá rola, sem o menor ibope, uma novela que parece dirigida por ecochato. A Globo plantou por lá, na construção do Projac, 40 mil espécies de árvores nativas, recompondo uma floresta que hoje a isola da bagunça urbana reinante na zona oeste e lhe serve de cenário para montagens de época. Neste momento, sob uma cúpula geodésica que sobrou do último Rock in Rio, hospeda a trupe da minissérie baseada nos Contos Tradicionais do Brasil, do folclorista Luís da Câmara Cascudo.
O terreno tem 1,65 milhão de metros quadrados. Os estúdios só usam 200 mil metros quadrados. O resto ficou com as árvores, levando a Globo a comprar lotes extras na vizinhança para instalar seu futuro teatro. Por ele passam diariamente 5 mil pessoas, que deixam para trás os restos de 5 mil refeições, uma montanha de lixo orgânico que não apodrece ao relento. Espera a coleta congelado num frigorífico especial. Os resíduos de papel, plástico, vidro e lata vão diretamente para a reciclagem.
Ali funciona dia e noite, por conta das gravações, uma marcenaria industrial, montando e desmontando sem parar casas, ruas e cidades inteiras de vida efêmera. ‘Acho que no Brasil não existe outra marcenaria daquele tamanho’, diz o jornalista Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação. A serragem que cai das máquinas não fica no chão das oficinas. Tragada por tubos de sucção, vira aglomerado de madeira.
A rotina de gravações devora muito quilowatt. O Projac consome o equivalente a um bairro de 50 mil habitantes e nem por isso depende da Light. Gera a própria eletricidade em duas turbinas movidas a gás natural da Bacia de Campos, que lhe dá autonomia e não polui. Erlanger atribui a mania de limpeza à doutrina da eficiência que fez o Projac. Em Jacarepaguá, cada minuto de novela custa hoje 30% menos do que custava há dez anos. Logo, ter uma ‘política ambiental’ até que sai barato.
Mas tem problemas de audiência. O Projac é uma fábrica de modas e famas instantâneas. O próprio nome não deixa de ser uma vitória da popularidade sobre o planejamento corporativo. Vem de Projeto Jacarepaguá, rótulo provisório, feito para caducar quando os estúdios estivessem prontos. A diretora-geral Marluce Dias da Silva ainda insiste por isso em chamá-lo de Central Globo de Produções, segundo a nomenclatura oficial. Não adianta. Antes da inauguração, Projac já tinha pegado. E ficou. Mas sua notoriedade, pelo visto, acaba onde começa o programa interno de meio ambiente. Aí, para sair do anonimato, só com anúncio de jornal. *Marcos Sá Corrêa é jornalista e editor do site O Eco (www.oeco.com.br)’