Eu adoro o Diogo Mainardi. No fim de semana, ponho uma cadeira na garagem e ansiosamente aguardo pelo entregador que me traz a Veja. Então, avidamente, corro até o índice para localizar suas linhas, as quais devoro com uma voracidade lasciva. Se eu fosse mulher, acho que casaria com ele. Até já mandei fazer uma camiseta branca com a estampa I love Diogo Mainardi.
Essa admiração vem de muito tempo. Quando as amigas da minha mãe me perguntavam o que você vai querer ser quando crescer, meu filho? Vou querer se jornalista, minha tia. Igual ao Diogo Mainardi. Se não fosse por minhas raízes africanas, que me concederam cabelos ligeiramente crespos, acho até que usaria aquele mesmo corte de cabelo estilo mauricinho dos anos 1980.
Para falar a verdade… eu odeio o Diogo Mainardi. Poucos conseguem ser tão chatos e irritantes. Poucos possuem a capacidade de conter a petulância que impregna sua alma. Para simplificar, ele é um chato de galochas. Um mala. Acho até que posso lhe imputar a alcunha de ‘o mala mais famoso do Brasil’. E se alguém estiver perdendo tempo lendo essas mal digitadas linhas, deve estar se perguntando por que tantos elogios. Respondo na bucha: para contrariá-lo.
Isso mesmo. Ao contrário das pessoas de boa índole, Diogo Mainardi não gosta de ser elogiado. Gosta de ser depreciado. Achincalhado. Ridicularizado. Acusado. Xingado, até. E processado, principalmente. Esta, sim, deve ser sua alegria maior, seu gozo: ser intimado pela Justiça quando ofende alguém.
Metralhadora giratória
Mas Diogo Mainardi não é insano. Também não é um homem de meia idade que começa a se aperfeiçoar na arte de possuir uma personalidade ranzinza. Muito menos um coroa triste porque faltou Viagra em alguma farmácia de Nova York. Mainardi é um marqueteiro, desses que estão na moda há algum tempo. Não existem Duda Mendonça ou Nizan Guanaes: o maior marqueteiro do Brasil é Diogo Mainardi. Se Luciano Bivar (será que alguém ainda lembra dele?) o tivesse contratado, talvez houvesse uma guinada no resultado das últimas eleições presidenciais.
O que lhe falta em talento na lida com as palavras, no respeito ao Código de Ética dos Jornalistas (o qual ele parece fazer questão de ler apenas para ter o prazer de subverter cada artigo e divulgá-lo, em seguida, cheio de orgulho e galhardia) sobra-lhe como homem de marketing. De um jornalista perdido na obscuridade de quem sonha em ser famoso, ele passou para a categoria dos ‘grandes’ jornalistas brasileiros, chegando a ofuscar o último grande articulista do semanário da Abril, Roberto Pompeu de Toledo, o qual, com seu ar de professor da cátedra de Filosofia, parece não mais arregimentar tantos fãs. Para isso, Mainardi se empenhou ao máximo em aplicar a antiga e desgastada técnica da metralhadora giratória, atirando para todos os lados, para cima, para baixo (até mesmo em seu próprio pé, vez por outra), vitimando a maior quantidade de pessoas idôneas (ou não) possível.
Para mais de uma década
Esse é o seu marketing. E não há nisso nenhuma novidade. Ele tenta ser o que outrora foi o grande Paulo Francis. Logicamente que sem o mesmo conhecimento, sem o mesmo lastro cultural, sem a mesma vivência e profissionalismo. Sem o mesmo brilho, sem a mesma genialidade, sem a mesma sagacidade, enfim.
Mas ele insistiu tanto que está até melhorando. Seu texto está ficando legível. Vejam vocês que, dia desses, quase consegui terminar de ler dois parágrafos de sua coluna semanal. E não é apenas a sua redação que ganha corpo. Sua técnica de tiro também vem sendo aperfeiçoada. Ao invés de desperdiçar petardos por todos os lados, ele atentou que centrar sua metralhadora em um só alvo é ainda mais eficiente.
E sua melhor escolha foi Lula. É claro. Sua popularidade dispensa comentários. Tentando se eleger desde 1989, ele é presidente há quatro anos e foi sempre apontado, em todas as pesquisas, como detentor de larga vantagem, como favorito a passar outros quatro na principal cadeira do Planalto. Escolha melhor, impossível. É pauta para mais de uma década, é ‘pau’ pra mais de uma década.
Iupiiiiiiii! Conseguiiii!
Mas Mainardi teimou em modernizar suas técnicas e assim surgiu aquela em que constrange suas fontes. Coisas do tipo obter informações off the records para depois divulgá-las, citando a fonte e anunciando em letras garrafais que as conseguiu enganando algum pobre coitado que confiou na ética que faltou ao jornalista.
Não vou aqui me estender citando as técnicas usadas pelo colunista para pisotear no código de ética da profissão que ele diz exercer, ou das técnicas de agressão pessoal desenvolvidas ao longo da sua carreira de ‘personal marqueteiro’.
Essa a melhor forma de definir Mainardi, um marqueteiro. Um marqueteiro que usa sua coluna para se promover, colando em sua própria testa o rótulo de polêmico, inquieto e provocador. Mas não é só isso. Às vezes, ele também utiliza as linhas semanais que assina para resolver pendengas e querelas de ordem pessoal. Coisas que cidadãos comuns resolveriam na Justiça, na delegacia, ou até mesmo com um gesto obsceno ou um bom tapa no pé da orelha, ele publica.
Tudo para lhe assegurar a alcunha de polêmico, que gera raiva, ódio, naqueles que são alvos de seus comentários. Alguns, mais inocentes, chegam a processá-lo. Não imaginam o erro que cometem. Ao receber uma notificação judicial, Mainardi deve pendurar nos lábios um sorriso sarcástico. Quem sabe até chega a gritar um iupiiiiiiii! Conseguiiii! É por isso que, para não deixá-lo tão contente, por comentar sua conduta como (anti)profissional de imprensa, prefiro terminar com a frase que carrego em minha camiseta branca: I love Diogo Mainardi!
******
Jornalista, editor do caderno ‘Municípios’, do Jornal da Cidade, Aracaju, SE