A China registrou em menos de um mês pelo menos quatro casos de violência e intimidação contra jornalistas internacionais, o que levou três associações de correspondentes estrangeiros a divulgar nota conjunta na qual se dizem “alarmadas” com a situação. “Estamos particularmente preocupados com o fato de que alguns dos incidentes envolveram membros das forças de segurança”, disse o documento assinado pelos clubes de correspondentes da China de Xangai e de Hong Kong.
No dia 28/7, o repórter japonês Atsushi Okudera, correspondente do Asahi Shimbun, foi espancado por policiais quando cobria uma manifestação na cidade de Nantong, na província de Jiangsu. Seu equipamento fotográfico, avaliado em US$ 7.000, foi confiscado e até ontem (20/8) não havia sido devolvido. Na máquina estava o cartão de memória com as imagens registradas por Okudera.
O jornalista de Hong Kong Lei Zhaohe, da Asia Television, foi agredido por um grupo de policiais à paisana no dia 10/8, durante julgamento de Gu Kailai na cidade de Hefei, capital de Anhui. Ele filmava a prisão de manifestantes do lado de fora da corte quando foi atacado por um grupo de seis homens. Policiais que estavam próximos viram o que ocorria, mas não intervieram.
Jornalistas foram seguidos na Mongólia
Uma equipe da TV estatal alemã ARD ficou presa durante nove horas numa indústria química na província de Henan, no dia 11/8, quando fazia reportagem sobre poluição. Os jornalistas foram detidos pelos seguranças da fábrica e levados para o refeitório. O local logo foi invadido por operários, que haviam sido informados pelos dirigentes da fábrica que os repórteres eram “espiões”. Os trabalhadores tomaram a câmera do cinegrafista e cercaram o refeitório, aos gritos de “morte aos espiões estrangeiros”. Os jornalistas só conseguiram deixar a fábrica escoltados por agentes da polícia de elite, responsável por operações especiais.
No mais recente episódio, uma jornalista americana e um jornalista polonês foram seguidos na cidade de Ordos, na Mongólia Interior, onde faziam reportagem sobre um concurso de Miss Mundo. O táxi que os levava ao aeroporto, às 23 horas do dia 13/8, foi parado por policiais. Em seguida, entrou em uma estrada deserta, onde o carro foi cercado por três SUVs pretas, nas quais estavam oito homens. Após alguns minutos, durante os quais temeram ser agredidos, os jornalistas puderam seguir para o aeroporto.
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[Cláudia Trevisan é correspondente do Estado de S.Paulo em Pequim]