Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Leila Reis

‘Afe Maria, quando Maria do Carmo, personagem de Suzana Vieira na novela Senhora do Destino, entra no vídeo da Globo, uma considerável parte da belíssima audiência se arrepia com o sotaque dela. O nordestinês ostentado pela personagem, que chegou no Rio em 1968, intriga os que querem mais realismo na ficção de cada noite. ‘Afinal, os mais de 30 anos na cidade não serviram para provocar um certo aculturamento na personagem?’, questiona uma turma.

Outra turma implica com o ‘pernambuquês’ que, segundo os conterrâneos de Maria do Carmo, não é falado em Pernambuco nem em qualquer outro Estado do Nordeste. A verdade é que existe um jeito de ser nordestino na TV que não tem nada a ver com a realidade. Em todas as novelas e minisséries ambientadas na Bahia, Ceará, Maranhão ou qualquer outro paraíso costeiro o sotaque é o mesmo.

Na representação da TV, não há diferença no jeito de falar de baianos, pernambucanos, paraibanos, alagoanos, sergipenses, cearenses, piauienses, etc. Cabem todos no estereótipo que São Paulo e Rio de Janeiro fazem do nordestino. É o preconceito no ar toda santa noite.

Do ponto de vista da diversidade cultural brasileira, a televisão é absolutamente discriminadora. O nordestino entra nela pela porta do estereótipo, mas existem outros segmentos brasileiros que nem essa oportunidade têm. Paranaenses, goianos, mineiros, catarinenses, capixabas, mato-grossenses e uma multidão de telespectadores que ajudam a garantir o ibope jamais reconheceram o som de seu sotaque na TV.

Somente no terreno do humor – e para atender ao fim específico de fazer rir – é que se encontra a representação de outros tipos brasileiros. Vide as piadas sobre gaúcho do Casseta & Planeta, e a ingenuidade mineira de Nerso da Capitinga, no Zorra Total e outros programas.

Tirando as exceções, a TV brasileira tem dois sotaques: o carioca e o paulista. Isso porque as chamadas cabeças-de-rede estão instaladas no Rio (Globo) e em São Paulo (SBT, Record, Bandeirantes e Rede TV!). É na sede das redes que é produzida e transmitida para o resto do Brasil a programação.

Assim, o que une este País de dimensões continentais é o veículo de massa que fala o carioquês (nas novelas e humor da Globo) e o paulistês dos programas de auditório e de entrevistas.

H á uma preocupação em buscar o sotaque neutro nos telejornais – o do William Bonner, Boris Casoy, Marília Gabriela, por exemplo -, mas o padrão é a língua falada na sede do poder. Assim, as redes nacionais mataram a produção local, confinando-a em uma fatia insignificante da programação.

Dessa maneira, a língua falada pela TV não representa a maioria do seu público e cria até complexos. Uma história contada pelo ator Paulo Betti ilustra bem. Quando interpretava Timóteo na novela Tieta, o ator recebeu carta de uma fã que morava na região em que a novela foi gravada. A mulher dizia que adorava o personagem dele, mas lá, na sua região, as pessoas não falavam como os atores. Mas dizia que ele não precisava se preocupar: ‘Nós estamos aprendendo.’’



ENTREVISTA / DAN STULBACH
O Estado de S. Paulo

‘‘Nunca achei que a TV fosse a arca de noé’’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/12/04

‘Quando vivia o Marcos de Mulheres Apaixonadas, Dan Stulbach era temido. Hoje, na pele de Edgard, em Senhora do Destino, é adorado. O retorno do público é resultado do trabalho que encara com seriedade para realizar seu sonho de adolescente: ser reconhecido por papéis que lhe emocionam. E voa alto. Rodou um filme em Los Angeles ao lado da atriz Marília Pêra. Em entrevista, ele fala de sua carreira, com regressões ao passado e elogios às pessoas que cruzaram seu caminho. ‘Falei muito. É para ganhar mais páginas’, brinca. No fim do papo, Dan fez um resumo: ‘Um moleque que fez uma descoberta emocional e humana gigantesca no colégio, aprendeu a lidar com isso com o tempo – perguntando para atores e trabalhando nos bastidores – e que hoje, se preocupa em utilizar isso para o bem.’

Você direcionou sua atuação em ‘Senhora’ para se desvincular do Marcos de ‘Mulheres’?

Não. Tinha de fazer um personagem diferente. O Edgard é contido, sutil, exato. Marcos era mais intenso . A atração (do papel) era essa: fazer da alegria total à tristeza total na mesma frase.

Como foi o caminho desde o palco do colégio até o teatro profissional e a TV?

Tinha 16 anos. Foi uma ebulição, uma descoberta – mais do que artística, humana. Tinha aquela coisa de querer existir. Acredito nisso até hoje. Qual é a lógica de fazer o que eu faço? Meu trabalho serve para quê? Quando volto lá para trás é a mesma coisa. Queria emocionar quem estava assistindo porque acreditava que essa emoção me modificava e modificava a pessoa e, assim, você está jogando pequena pedra no lago que está f ormando uma rodinha, depois outra…

Quando você ganhou o prêmio APCA por ‘Novas Diretrizes’, leu uma carta que escreveu para você mesmo. Quando você escreveu essa carta?

Sou um cara de muitos sonhos. Quando me apaixonei pelo teatro, comecei a bater na porta de atores: ‘Como é ser ator?’ O Paulo Autran entrou no camarim de Novas Diretrizes e falou: ‘Você é aquele menino…’ Fui assistente do (Marco) Nanini; entrava de bico nos prêmios. Lembro que sentei lá em cima (no Teatro Municipal), comecei a me encher de emoção e escrevi uma carta: ‘Saiba que eu menino vou estar feliz se você ler essa carta porque isso significa que viramos atores.’

Você já estreou em novela das 9. Como foi isso?

Foi da maneira mais natural possível. Nunca projetei TV para mim nem achei que a TV fosse a Arca de Noé – que vai acontecer um dilúvio e você será salvo. Mas é parte importante.

As brincadeiras do ‘Casseta&Planeta’ incomodam?

Adoro eles. No ano passado participei do programa fazendo o Marcos. Encontro com eles, solto uma piada e eles também. Tudo de bom!

Você se acha parecido com o Tom Hanks?

Até minha mãe já está achando (risos)… Brinco que sou parecido mesmo é na conta bancária!

O que mudou na sua vida depois da fama?

Tento fazer as mesmas coisas. O assédio é maior, claro. Mais agora. Na época do Marcos tinha gente que mudava de calçada quando me via. Agora as pessoas falam: ‘Eu te odiei tanto, mas agora eu posso gostar de você.’

Para viver o Edgard você fez laboratório?

Acho que essa coisa de laboratório já virou fashion. É ioga, pilates e laboratório (risos)… Fui ao DOM (restaurante), sentei com o Alex (Atala), que estava para estrear um programa na TV (Mesa pra Dois, no GNT), e trocamos figurinhas. Fiz aula de francês. O resto é intuição.’



TV / MERCADO PUBLICITÁRIO
Leila Reis

‘‘Para o mercado só importa ibope’’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/12/04

‘Daniel Barbará, de 55 anos, diretor comercial da agência de publicidade DPZ, conselheiro do Grupo Mídia e vice-presidente da Abrap (Associação Brasileira de Agências de Propaganda), é muito pragmático em relação à TV. Meio que porta-voz do mercado publicitário, Barbará diz que o conceito de baixaria é relativo. Na hora de anunciar, fala, ninguém olha para conteúdo, e sim para o ibope. E polemiza: ‘Os críticos da TV confundem qualidade com eruditismo.’

Quais são os gêneros de programas mais cotados pelos publicitários?

Pela ordem são os filmes, novelas, jornalismo e programas de auditório. As novelas são boas porque se desenvolvem baseadas em pesquisa, vão mudando de acordo com as expectativas do público. Mulheres Apaixonadas, Celebridade e Senhora do Destino lotaram de merchandising.

Quanto custa o merchandising na novela das 8?

Custa em torno de R$ 500 mil, sendo que 10% desse valor vão para o autor, diretor e para o ator. As novelas têm, em média, 90 merchandisings por mês.

Existe audiência contaminada (aquela obtida por programas que não conseguem anunciantes por causa do conteúdo)?

Não existe isso. Na hora de decidir onde anunciar, o que conta é a audiência. Quanto maior ela for significa que há pessoas de todas as classes assistindo. Programa ruim é o de baixa audiência. Na hora de planejar a mídia, ninguém olha a qualidade. O mercado tem dificuldade de trabalhar com audiências abaixo de 3% que, em São Paulo, significam 150 mil domicílios.

Do ponto de vista do anunciante, qual é o tipo de programa bom e ruim para associar a imagem?

A TV funciona como laboratório, sempre está lançando nomes e programas, mas quando um dá certo, as outras emissoras copiam. Os programas policialescos, por exemplo, são vistos por 50% da população. Quando a audiência cresce, ela chega às classes A e B. O problema está na audiência e não na qualidade. Para o mercado só importa o desempenho no ibope, não a qualidade. Até porque qualidade é um conceito relativo, o que é de qualidade para mim pode não ser para você. Os críticos da TV confundem qualidade com eruditismo. TV é veículo de entretenimento popular.

O que você acha da campanha ‘Quem financia baixaria é contra a cidadania’?

Esse tipo de campanha não pega: as pessoas permanecem nos canais por inércia. A pessoa que achar que está vendo baixaria pode mudar de canal e se não encontrar coisa que o agrade, pode desligar da TV.’



TV GLOBO NO CELULAR
Fernando Paiva

‘Negociações com Globo estão avançadas, diz Vivo’, copyright PAY-TV News, 1/12/04

‘As negociações entre Vivo e Rede Globo para incluir conteúdo audiovisual da emissora nos telefones celulares estão avançadas, informou o vice-presidente de marketing e inovação da operadora móvel, Luis Avelar. O executivo negou que haveria problemas na definição dos percentuais de compartilhamento de receita entre a operadora celular e a Globo. Segundo Avelar, a única resistência da emissora, atualmente, é a questão da qualidade da imagem, que ainda é baixa. Mas isso deve mudar em breve, com a chegada de novos terminais ao mercado brasileiro. A própria Vivo planeja lançar no primeiro trimestre de 2005 celulares com tecnologia 1xEV-DO, que permite transmitir dados em alta velocidade.

Enquanto a Globo não entra no mercado de conteúdo audiovisual para telefonia celular, outras emissoras já o fizeram. Os canais Band News e Band Sports, por exemplo, estão disponíveis via streaming para clientes da Vivo e da TIM. Por outro lado, há também quem se posicione publicamente contrário ao movimento de convergência entre telefonia e TV. É o caso da Record, cujo presidente, na semana passada, disse temer pelo futuro da TV aberta diante da invasão das teles ao mercado de audiovisual.’



CCS vs DIRECTV/SKY

Gizele Benitz


‘Conselho aprova relatório contra fusão de TVs pagas’, copyright Agência Câmara de Notícias, 6/12/04


‘Por seis votos favoráveis, um contra e duas abstenções, o Conselho de Comunicação Social aprovou relatório dos conselheiros Antônio Teles, representante da sociedade, e Daniel Koslowsky Herz, representante dos jornalistas, contrário à fusão das empresas de televisão por assinatura DirecTV e Sky. A operação, que está sendo analisada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), permitiria o controle de 95% do mercado de TVs pagas por grupos estrangeiros.


Recomendações


O relatório aprovado faz uma série de recomendações. A primeira é ao Congresso Nacional, para que aprove com urgência nova regulamentação do Serviço de Distribuição de Sinais de TV e Áudio por Assinatura Via Sátelite (DTH), limitando a participação das controladoras estrangeiras a 49% do capital das operadoras.


O texto também recomenda à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) que fiscalize os serviços de TV por assinatura para garantir o atendimento do interesse público, como prevê a atual legislação que regulamenta o setor. Além disso, sugere que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) adote medidas para impedir ‘a concentração de mercado que o grupo News Corporation (controlador da Sky) e Direct TV Group pretendem impor ao Brasil, com graves e desastrosas conseqüências sobre todo o mercado de Comunicação Social e colocando em risco a soberania nacional’.


Em outro trecho, o relatório recomenda ao Ministério das Comunicações que corrija as distorções na aplicação da atual regulamentação do serviço DTH, ‘para impedir a concentração econômica e de poder político e cultural que os dois grupos estão procurando estabelecer no País’. Além disso, os conselheiros sugerem que o Poder Judiciário e o Ministério Público fiscalizem as decisões do Poder Executivo em relação às TVs por assinatura, ‘identificando e agindo frente a qualquer resquício de ilegalidade ou violação do interesse público’.


Risco de monopólio


A discussão sobre a megafusão entre as duas empresas iniciou-se após a publicação de uma reportagem pela revista ‘Isto É Dinheiro’, no dia 20 de outubro deste ano. A matéria afirmava que, com a operação, o empresário Rupert Murdoch tornava-se dono de 95% do mercado de TV por assinatura via satélite no País.


De acordo com a revista, o Brasil tem apenas 3,5 milhões de clientes na TV paga, mas Murdoch aposta no potencial de crescimento desse setor.


Murdoch é dono da NewsCorp, um conglomerado que reúne os canais Fox, os estúdios 20th Century Fox e 175 jornais, negócio estimado em 52 bilhões de dólares (cerca de R$ 156 bilhões).


A matéria especula que, enquanto a fusão não for aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a intenção da Sky seria oferecer incentivos promocionais para os assinantes da DirecTV migrarem para ela. Assim, se o Governo demorar para julgar o caso, poderia encontrar uma DirecTV já sem assinantes.


O Conselho de Comunicação Social volta a se reunir em fevereiro, após o recesso parlamentar.’




Iolando Lourenço


‘Conselho de Comunicação Social manifesta-se contrário à fusão da DirecTV com a Sky’, copyright Portal da Cidadania / Radiobrás, 6/12/04


‘O Conselho de Comunicação Social, órgão auxiliar do Congresso Nacional, discutiu e aprovou, hoje, por seis votos a um e duas abstenções, relatório contrário à fusão das empresas de televisão por assinatura Directv e SKY. O documento foi elaborado pelos conselheiros Antônio Teles e Daniel Herz, a pedido dos demais membros do Conselho. A operação de fusão das duas empresas permitirá o controle de 95% do mercado de TVs por assinatura por grupos estrangeiros.


O relatório aprovado recomenda, entre outras coisas, que o Congresso Nacional aprove com urgência uma nova regulamentação do Serviço de Distribuição de Sinais de TV e Áudio por assinatura via satélite (DTH) limitando em 49% o capital estrangeiro das controladoras; que a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) fiscalize os serviços de TV por assinatura para garantir o atendimento do interesse público e que o Ministério das Comunicações corrija as distorções na aplicação da atual regulamentação do serviço DHT, para impedir a ‘concentração econômica e de poder político e cultural que os dois grupos estão procurando estabelecer no país’.


O relatório sugere ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) adotar medidas para impedir ‘a concentração de mercado que os grupos News Corporation, controlador da SKY, e Directv Group pretendem impor ao Brasil, com graves e desastrosas conseqüências sobre todo o mercado de Comunicação Social e colocando em risco a soberania nacional’. Sugere, ainda, que o Poder Judiciário e o Ministério Público fiscalizem as decisões do Executivo em relação às TVs por assinatura.


O Conselho de Comunicação Social começou a discutir a proposta de fusão dos dois grupos logo após reportagem publicada na revista ‘Isto É Dinheiro’, em 20 de outubro, que afirmava que com a operação, o empresário Rupert Murdoch tornava-se dono de 95% do mercado de TV por assinatura via satélite no Brasil. Murdoch é dono da NewsCorp, empresa controladora da SKY.’




Jornal do Senado


‘Conselho dá parecer contrário à fusão entre DirecTV e Sky no país’, copyright Jornal do Senado, 7/12/04


‘O Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional (CCS) aprovou e encaminhou ontem às Mesas do Senado e da Câmara parecer sobre irregularidades no processo de constituição de empresas, funcionamento do mercado e regulamentação do Serviço de Distribuição de Sinais de Televisão e Áudio por Assinatura por Satélite (DTH). Nessa análise, os conselheiros discordam da fusão entre as operadoras DirecTV e Sky no país, advertindo que a empresa oriunda do negócio passaria a contar com 1,4 milhão de assinantes e a controlar 95% do mercado de DTH e 31,2% do mercado de TV por assinatura.


Uma das principais constatações é a ausência de fundamentação legal no processo de regulamentação do DTH. Sem contar com uma legislação específica ou estar submetida às exigências da Lei 8.977/95, as operadoras de TV por assinatura via satélite estariam suscetíveis às investidas dos conglomerados internacionais.A advertência do conselho remete à fusão da DirecTV e Sky no Brasil pelo fato de, no dia 29 de outubro, a Globopar (integrante das Organizações Globo e acionista da Sky), o grupo australiano-norte-americano News Corporation (sócio-controlador no país da Sky) e a DirecTV Group (com 34% do capital controlado pelo News Corporation) terem solicitado à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) autorização para concretizar o negócio. Na empresa resultante dessa fusão, a Globopar ficaria com 28% do capital e a DirecTV Group deteria os demais 72%.


No final, o parecer do Conselho de Comunicação recomenda que se evite a concentração do serviço nas mãos de estrangeiros. O conselho volta a se reunir no dia 21 de fevereiro.’




Valor Econômico


‘Fusão da Sky e DirecTV’, copyright Valor Econômico, 7/12/04


O Conselho de Comunicação Social aprovou ontem, em Brasília, um relatório contrário à fusão das empresas de TV por assinatura Sky e DirecTV. Os participantes do conselho entenderam que o negócio entre as duas empresas concentraria o mercado de TV por assinatura via satélite em 95%. As empresas argumentam que a transação deve ser analisada levando em conta todo o mercado de TV por assinatura, onde ficariam com um fatia de cerca de 30%. O relatório tem caráter consultivo e vai ser enviado ao Cade.’ _