“Ahhh, você de novo com estes seus círculos! Isso não é vida!”, dizia a esposa de Ruslan Enikeev, um russo que por um ano passou todo o seu tempo livre na frente do computador trabalhando em um projeto para mapear a internet. O Internet Map – ou mapa da internet – acabou se tornando um presente de aniversário de 30 anos bem fora do comum e bastante trabalhoso para Enikeev, que atualmente mora em Cingapura e trabalha em uma empresa de TI.
O projeto foi ao ar em 24 de julho e consiste em um retrato visual da internet. Usando os dados do fim de 2011, o mapa mostra a rede global, seus principais domínios e as relações entre eles. São mais de 350 mil sites, de 196 países diferentes. Num primeiro momento, pode parecer confuso compreender o mapa, ou a imensidão de bolinhas coloridas, de tamanhos diversos. O resultado se assemelha a uma galáxia com seus milhões de estrelas e planetas. E a ideia é que pareça mesmo: cada círculo representa um site e o tamanho é proporcional ao seu tráfego na web; já a distância entre os círculos está relacionada à frequência com que os usuários “pulam” de um site para o outro.
São mais de 2 milhões de links entre os “planetas”. No mapa, o usuário pode, além de visualizar o todo, fazer uma busca por site ou por país, e aproximar o mapa para ver os detalhes. Globalmente, os destaques são, sem muitas surpresas, Google, Facebook, YouTube, Yahoo e Live, todos próximos entre si.
Conteúdo pornográfico
Enikeev mentalizou o mapa há cerca de um ano. “Infelizmente, você não pode simplesmente mostrar o que está na sua cabeça”, disse ele ao Link. “Eu não sou um artista para fazer uma pintura e nem um poeta para criar uma boa música. Logo, comecei a fazer o mapa.” Depois de muito trabalho, ele percebeu que não daria para fazer sozinho. Assim, mostrou o protótipo – que na época só contava com mil sites – à Positive Communications, uma agência russa de criatividade. O CEO da empresa gostou da ideia e conseguiu um desenvolvedor para trabalhar com Enikeev no site. Ele, então, disse que conseguiria concluir o trabalho em dois meses. Levou um tanto mais – quase um ano – , mas saiu.
Nas primeiras duas semanas, o mapa da internet já havia recebido 1,5 milhão de visitas. Ao acessar a página, aparecia um pop-up pedindo doações, que já foi removido. Até agora, pouco mais de um mês após o lançamento do site, já foram arrecadados mais de US$ 4 mil em doações. Os custos devem-se em grande parte à hospedagem do conteúdo, que é na nuvem. Há quem diga que o mapa não tenha muita utilidade. Enikeev ressalta que a proposta principal nem era essa, mas que ainda é possível usá-lo. Ele cita o exemplo da empresa em que trabalha. Recentemente, ela adquiriu outra que, no mapa, estava próxima de sua principal concorrente, o que implica que os usuários iam frequentemente de um site para o outro. “Foi uma aquisição boa, porque literalmente compramos clientes de nossos concorrentes”, diz.
Mas a principal função é mesmo contemplativa. “Você pode ter uma visão global da internet. Do que a internet é de fato, e não apenas computadores, cabos ou páginas. É incrível. Me fascina completamente”, diz Enikeev. “Além disso, você pode ver a dimensão dos segmentos da internet, na Rússia, China, Japão e Pornland (terra pornô)”, brinca Enikeev, referindo-se ao fato de o mapa mostrar uma vastidão de sites de conteúdo pornográfico.
Novos projetos a caminho
Enikeev conta que recebe centenas de e-mails, que ele divide basicamente em três grupos: os artistas, que mandam e-mails entusiasmados, referindo-se ao aspecto visual e fazendo analogias ao céu, ao universo, às estrelas etc; os pragmáticos, que perguntam e comentam sobre as possibilidades de uso da plataforma e fazem sugestões úteis; e, por fim, os cientistas, que querem conhecer o algoritmo e compreender como é possível organizar tantas informações. “Eu amo todos esses grupos”, diz o russo.
As sugestões mais pedidas são a inserção de links clicáveis no site e informação em tempo real, uma vez que por ora o mapa se baseia em dados do fim de 2011. Os dados mais atualizados, segundo Enikeev, serão adotados até o fim do ano.
No projeto de Enikeev, o que primeiro salta aos olhos são os círculos grandes, ou seja, que possuem tráfego significativamente maior do que outros milhares de “pequenos pontos”. Ele, no entanto, espera que a internet mantenha a sua variedade. “Será uma pena se a internet se limitar a apenas alguns poucos sites gigantes como o Google e o Facebook”, diz. Para ele, o Internet Map mostrou uma nova forma de trabalhar com grandes bases de dados – conseguidos na própria web. “Dados são minha paixão. Sempre brinco com eles no meu tempo livre, consigo ver beleza neles. Para a maioria das pessoas, matemática é só números e tabelas, no máximo gráficos. Eu vejo mais. É beleza interior.”
Enikeev diz que novos projetos já estão a caminho, mas, sem dar detalhes, só deixa escapar isto: “Vai ser interessante. Eu prometo.”
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[Anna Carolina Papp, do Estado de S.Paulo]