Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O valor da informação de qualidade

Os veículos de comunicação brasileiros deveriam pensar logo em como passar a cobrar pelo acesso às notícias disponíveis em seus sites e nos diferentes dispositivos, como notebooks, smartphones e tablets, na opinião do gerente geral da Divisão de Serviços de Notícias do New York Times, Michael Greenspon, um dos criadores do bem-sucedido sistema de comercialização de conteúdos do jornal americano. Em palestra na abertura do 9º Congresso Brasileiro de Jornais, promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), em São Paulo, Greenspon disse que, quanto mais cedo essa decisão for tomada e o processo de cobrança começar, mais recursos financeiros os jornais conseguirão obter. No Brasil, somente os jornais Folha de S.Paulo e Zero Hora já cobram por parte de seus conteúdos digitais.

Greenspon lamentou que o NYT não tenha iniciado antes a cobrança pelo seu noticiário on-line. Em 2011, o jornal passou a cobrar por parte das notícias oferecidas em todas as suas plataformas digitais, depois que pesquisa feita pelo veículo mostrou que 40% dos leitores estariam dispostos a pagar algo pelo conteúdo on-line. Atualmente, o NYT tem 509 mil assinantes em algum dos três tipos de pacote digitais oferecidos, que gastam, em média, cerca de US$ 20 por mês com esse serviço. As receitas com o modelo somam cerca de US$ 120 milhões anuais. A cobrança média de conteúdo no NYT tem três faixas: US$ 15, US$ 25 e US$ 35.

– Deveríamos ter aderido ao modelo de pagamento (por notícias on-line) bem antes. Sabíamos que 40% das pessoas estavam dispostas a pagar algo – disse. – Para nós, o quanto antes, melhor. Mas não poderíamos ter começado a cobrar antes, foi um processo. Para os brasileiros, eu digo, quanto antes, melhor – completou ele no congresso, cujo tema central é “Jornalismo e Inovação – Construindo Novos Modelos de Negócios”.

Modelo de distribuição mudou

De acordo com o gerente geral do NYT, a cobrança na plataforma digital não resultou em canibalização do veículo impresso, que não sofreu com diminuição do número de leitores devido ao público que acessava as notícias pela internet. Segundo ele, cerca de 75% dos leitores da versão impressa acessam também o conteúdo digital do jornal.

Greenspon lembrou que, em 2008, devido à crise econômica mundial, o jornal americano teve que fazer uma série de cortes de custos. Por isso, fechou uma gráfica, mudou o modelo de distribuição do jornal impresso e diminuiu o número de cadernos de seis para quatro. Em quatro anos, entre 1.500 e 2.000 pessoas foram demitidas da empresa, sendo que a redação foi poupada.

A presidente da ANJ, Judith Brito, que abriu o congresso, afirmou estar otimista em relação ao futuro dos jornais. Para ela, as inovações tecnológicas e as mídias digitais estão revolucionando o jornalismo, multiplicando de forma exponencial a audiência dos veículos.

– É preciso buscar novos modelos de negócios que possibilitem continuarmos a produzir informação de qualidade e de credibilidade. Sabemos que o modelo consagrado do jornalismo impresso dificilmente se replicará nos mesmos moldes no mundo digital – disse Judith. – Não nos acomodamos. O nosso negócio deve ter um belo futuro pela frente. Informação de qualidade, produzida com independência, editada com profissionalismo é um produto preciosíssimo – completou ela.

A adoção da cobrança pelos conteúdos digitais dos jornais foi tema de um outro painel do congresso. Para enfrentar esse que é hoje considerado um dos principais desafios das publicações jornalísticas, o diretor de assinaturas da Editora Abril, Fernando Costa, disse que o segredo é equilibrar o desenvolvimento digital com a manutenção do modelo das assinaturas em papel, que responde por boa parte da receita publicitária do negócio.

– Por isso, estamos priorizando a venda de combos (que combinam assinatura de papel e edição digital), porque leva o impresso junto – disse Costa, em debate no painel “Modelos de Cobrança pelo Conteúdo”.

A fim de valorizar o produto impresso, muitas publicações estão optando por cobrar pelo conteúdo da internet.

– Estamos apostando em oferecer uma experiência diferenciada para o usuário que paga – contou Bruno Vilela, gerente de novos produtos da Organização Jaime Câmara.