Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Peixoto, Mário César Carvalho e Leonardo Souza

‘O publicitário Marcos Valério citado por Roberto Jefferson é o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que integra um grupo publicitário formado pelas agências DNA Propaganda e SMP&B Comunicação. Com sede em Belo Horizonte, o grupo detém cinco contas do governo federal, entre elas a do Banco do Brasil.

Esse grupo já detinha, por meio da DNA, a conta do BB durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O grupo expande seus negócios e vê também crescer o número de processos na Justiça, nos quais é réu, e o de autuações fiscais por irregularidades.

Em 1996, a SMP&B Publicidade, dos sócios Cristiano de Mello Paz e Ramon Hollerbach, estava em situação financeira precária. Então, em julho daquele ano, foi criada a SMP&B Comunicação, com o ingresso de dois novos sócios: Clésio Andrade (PL), atual vice-governador de Minas e presidente da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), e Marcos Valério, um ex-servidor do Banco Central com fama de ter muito conhecimento da área financeira.

A partir daí, a SMP&B Comunicação se associou à DNA Propaganda, criada em 1982 e que, hoje, é a maior agência de publicidade mineira. A DNA teve como presidente Daniel Freitas, sobrinho do vice-presidente da República, José Alencar (PL). Daniel morreu em outubro de 2002.

Hoje a DNA detém as contas de publicidade do Banco do Brasil, da Eletronorte e do Ministério do Trabalho. A SMP&B Comunicação trabalha para os Correios e para o Ministério do Esporte. E trabalha também para a Câmara dos Deputados desde 2003. Foram os publicitários do grupo que fizeram a campanha do petista João Paulo Cunha para a presidência da Casa naquele ano.

Das agências sócias, a DNA foi a que mais cresceu. E as duas SMP&B enfrentam agora processo na Justiça por um ato comercial realizado em 1996 -dois anos depois, em 1998, Clésio Andrade saía da sociedade para disputar o governo de Minas como vice na chapa de Eduardo Azeredo (PSDB).

Em abril passado, conforme noticiou a Folha, o Ministério Público Estadual propôs ação de reparação de danos ao patrimônio público por conta de uma fazenda superavaliada ter sido doada ao então banco estatal Credireal para cobrir empréstimo feito pela SMP&B Publicidade. O prejuízo causado, segundo o Ministério Público, teria sido de R$ 8 milhões.

Clésio Andrade nega participação nesse caso, porque alega que ele era sócio só da SMP&B Comunicação.

Clésio e Marcos Valério hoje não se se falam. Após perder a eleição, surgiram rumores de que Clésio tentou voltar para a agência, mas que os sócios não se interessaram pelo seu retorno, pois as empresas já não precisavam mais dele. Clésio negou à Folha essa versão e disse que não se interessava mais pela sociedade, embora tenha dito que enfrentou dificuldades para reaver o dinheiro de sua parte. Após desistir de uma ação na Justiça, houve acordo.’



Renata Lo Prete

‘‘Se fizerem algo comigo, cai a República’’, copyright Folha de S. Paulo, 12/06/2005

‘Na última parte da entrevista, Roberto Jefferson se diz convencido de que caiu numa ‘armadilha’ do ministro José Dirceu ao retirar sua assinatura do pedido de CPI dos Correios. A partir daí, ‘recrudesceu o noticiário, e eu vi claramente a mão do governo’.

A mesma mão ele vê na orientação do trabalho investigativo da Polícia Federal. ‘A PF faz tudo na correria para eu chegar de cabeça baixa à Comissão de Ética.’

O deputado lança um desafio: duvida que Dirceu venha a público negar suas acusações. Rejeita a idéia de estar praticando chantagem ao não contar sua história toda de uma vez e se diz tranqüilo, apesar de tudo. ‘Estou muito seguro de que estou fazendo bem tanto ao meu partido, lavando o rosto do meu partido, quanto à sociedade brasileira.’ (RLP)

Folha – Qual é o caminho a percorrer para comprovar a prática do ‘mensalão’ no Congresso?

Roberto Jefferson – Já tem deputada em Goiás [Raquel Silveira, licenciada, do PSDB] dizendo que foi assediada pelo líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), [com a proposta de] R$ 1 milhão de luvas e R$ 30 mil por mês.

Isso ninguém segura. Era de conhecimento público. Eu li que o próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, já ouvira falar do ‘mensalão’. Era uma coisa que Brasília sabia. Só que ninguém queria dizer. O meu papel foi só o de destampar a panela e tornar isso público.

Folha – O deputado Miro Teixeira (PT-RJ) confirmou ter sido procurado pelo sr., mas disse que o sr. se recusou a tornar pública a denúncia da prática do ‘mensalão’.

Jefferson – É um equívoco dele. Eu falei com ele quando ele era ministro. Mais de um ano atrás. Na frente dos deputados João Lyra (PTB-AL) e José Múcio.

Ele deixou o Ministério das Comunicações. Veio ser líder do governo na Câmara. Aí me chama: ‘Roberto, vamos colocar para fora esse ‘mensalão’. Eu digo: ‘Vamos, mas depois de dizer ao presidente Lula, porque eu tenho certeza de que ele não sabe disso’.

Porque havia, até janeiro deste ano, um cordão sanitário em torno do presidente Lula. Nós não conseguíamos conversar com ele. Nós só chegávamos até o Zé Dirceu, ou até o Aldo Rebelo.

A primeira vez que eu pude conversar com o presidente Lula no gabinete dele despachando foi em janeiro deste ano. E quando eu disse a ele, olhando nos olhos dele, do ‘mensalão’, o choque dele… Eu tenho seis mandatos. Eu sou deputado federal desde o presidente Figueiredo. Eu nunca tinha ouvido falar de financiamento de bancada aliada na base pelo partido do governo. E contei isso ao presidente Lula. E vi a reação dele de perplexidade. E então as coisas pararam.

Mas o que eu estranho é que a Abin, depois que eu disse isso ao presidente Lula, parte para mandar arapongas contra o PTB. Alguém, dentro do governo, não gostou que nós passamos essa informação ao presidente Lula.

Folha – Como o sr. vê a reação do ministro Dirceu à sua entrevista?

Jefferson – Eu vejo que ele está esperando para ver como vou me colocar para ele poder se manifestar. Eu posso apostar que ele vai falar depois desta entrevista que eu dei. Eu duvido, du-vi-do, que ele negue o que eu estou dizendo.

Folha – O sr. concorda com o discurso do Planalto segundo o qual o ‘mensalão’, se existiu, é problema do PT e não do governo?

Jefferson – Eu acho que está certo, mas tem gente do governo metida. O ministro Aldo Rebelo, quando ainda líder do governo na Câmara, foi informado por mim do ‘mensalão’. Ele já sabia. É um homem digno. Tentou resolver. Conversou conosco que isso iria dar um escândalo nacional.

Quando ele fala ‘o governo’, está se referindo ao presidente Lula. Esse não sabia, nitidamente.

E não é o PT. Não são os deputados ou os senadores do PT. Isso eu quero deixar claro aqui. É essa cabeça do PT: Genoino, Delúbio, Silvinho Pereira, Zé Dirceu. É essa cabeça que, para não distribuir poder -porque o PT tem 20% do Congresso, mas na Esplanada tem 80% do PT-, para que isso não desse uma crise…

Esse negócio de exército mercenário, ‘mensalão’, começou agora, com o Genoino, o Delúbio e o Zé Dirceu. E ele se torna efetivo -eu me recordo bem da conversa do [José Carlos] Martinez comigo- em agosto de 2003. Porque havia uma grande insatisfação, não se repartia poder, não se nomeava ninguém para cargo nenhum, e eles começaram a compensar a ausência da transferência de poder.

O PT entendia, na sua cabeça, a sua cúpula, que era muito mais barato alugar um deputado do que discutir com os partidos um projeto de governo.

Folha – Como o sr. compara a reação do governo à primeira reportagem de ‘Veja’ sobre os Correios e a exibida após suas declarações?

Jefferson – Num primeiro momento, o Zé Dirceu ficou muito hostil comigo depois do meu discurso na Câmara, quando eu assinei a CPI. Na véspera, houve reunião da Executiva do PTB para que todos os companheiros assinassem a CPI e nós devolvêssemos os cargos ao governo.

À noite, os ministros tentaram vir à minha casa: Ciro Gomes, Paulo Bernardo [Planejamento], Zé Dirceu, Aldo Rebelo. Para me demover de assinar a CPI. Eu disse: ‘Não vou recebê-los. Porque isso tudo foi tramado pelo governo’. Vamos para a CPI, a maneira mais clara de limpar a honra do PTB.

No dia seguinte, eu estava tomando banho, toca o interfone, a empregada aqui de casa, a Elza, manda subir os ministros Aldo Rebelo e Zé Dirceu. Quando eu saio do banho estão os dois sentados na sala da minha casa.

Eu coloquei ao Zé Dirceu tudo o que eu já disse a você na entrevista passada. Nesse ínterim, sobe um boletim da Polícia Federal, trazido pelo advogado do PTB, dizendo que o Mauricio Marinho [funcionário dos Correios flagrado em gravação recebendo propina e citando Jefferson] descredenciara a fita.

Eu falei: ‘Se é assim, eu não tenho nenhum problema em retirar a assinatura da CPI. Mas Zé Dirceu, vocês, que esticaram a corda até romper, me expliquem como foi essa coisa de Furnas’.

Aí ele repetiu a conversa do Chinaglia. Que recebeu pressão do Severino e do Janene, com ameaça de assinar a CPI, e que adiante eles reconduziriam o Pirandel.

Eu falei: ‘Mas me importa a restauração da minha honra. A ‘Veja’ está fazendo um verdadeiro linchamento’. Ele respondeu: ‘Roberto, na ‘Veja’ não tenho nenhuma ação, porque a ‘Veja’ é tucana’. Eu falei: ‘Mas ‘O Globo’ e a Globo estão repetindo o linchamento’. Ele falou: ‘No ‘Globo’ eu falo por cima. Dá para segurar’.

Retirar a assinatura foi o meu maior erro. Depois que fiz isso, recrudesceu o noticiário contra o PTB. Eu entendi que foi uma armadilha do Zé Dirceu para mim. Recrudesceu o noticiário, e eu vi claramente a mão do governo.

Folha – Viu onde e como?

Jefferson – Nas matérias que saíram na revista ‘Época’ e no ‘Globo’ no fim de semana seguinte. Violentamente contra mim e contra o PTB. Eu falei: ‘Eu errei, eu me enfraqueci ao retirar a assinatura da CPI, e o Zé Dirceu armou essa arapuca para mim’.

Foi quando disse ao Walfrido: ‘Vão botar tudo no colo do PTB. Toda a corrupção que tem dentro dessa estrutura de relações da cúpula do PT em algumas empresas do governo no colo do PTB’.

Eu li agora que a PF ‘identificou um esquema de corrupção nos Correios, no IRB e na Eletronorte’. Vão colocar no nosso colo. Vão enterrar a CPI e, enterrando a CPI, é inquérito, e o delegado da PF está agindo politicamente. Ele só vem para cima do PTB. Aliás, numa violenta ilegalidade, porque, para investigar deputado federal, tem que ser Supremo, não pode ser juiz de primeiro grau.

Todas as diligências -apreensão de documentos, prisões de pessoas, apreensões de computadores- têm sido autorizadas por juiz de primeiro grau contra o deputado federal Roberto Jefferson, quando o foro competente devia ser o Supremo Tribunal Federal.

E hoje [sexta-feira] no ‘Globo’, num noticiário promovido pelo governo, sai que eu mandei gravar o Marinho. Que a PF e o governo ‘desconfiam’ que o deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, foi à Abin e pediu que um órgão de Estado filmasse o Marinho. Olha a conversa!

Eu vejo nitidamente o dedo desse segmento -Zé Dirceu, Genoino, Delúbio- para colocar esse cadáver podre no colo do PTB.

Folha – E quanto a seu amigo Henrique Brandão, dono da corretora de seguros Assurê, contra quem a PF diz ter obtido indícios?

Jefferson – É meu amigo há 30 anos, um homem honrado. E eu quero dizer uma coisa: foi o único que ajudou o PTB, da maneira possível, nas eleições municipais.

Eles querem pegar o Henrique Brandão para me atingir pessoalmente e ao meu partido como um todo. Ele não é suspeito de nenhuma irregularidade. Por que a invasão da casa dele, do escritório dele, apreensão de computador?

Eu vejo claramente que está havendo um inquérito político, e nesta semana a coisa voltou a recrudescer porque eu marquei o meu depoimento, aberto à imprensa, na Comissão de Ética, na próxima terça-feira, às 14h30. Está havendo uma correria política da PF no Ministério da Justiça para tentar enfraquecer o que eu devo dizer ao Brasil. A PF faz tudo na correria para eu chegar de cabeça baixa à Comissão de Ética.

Folha – Na entrevista que concedeu quarta-feira, Delúbio Soares o acusou de praticar chantagem. O sr. não acha que, ao não contar sua história toda de uma vez, o sr. respalda essa interpretação?

Jefferson – Em hipótese alguma. Chantagem é para ganhar dinheiro, ter contraprestação financeira. Eu falei do ‘mensalão’ aos ministros no ano passado. Isso não é chantagem, é advertência.

É que eu acho que chegamos a um ponto em que exauriu a relação. Há companheiros no partido que pensam que podem continuar na base do governo. Eu entendo que acabou a relação.

Eu tenho de ter cuidado, porque na segunda-feira passada houve aqui em casa uma reunião da cúpula do PTB para pedir que eu renunciasse. Mas as coisas têm de ser paulatinas. Tenho de consolidar minha posição dentro do partido. Se eu tivesse renunciado, eu seria jogado aos leões na arena.

Eu pedi prazo a eles, até a reunião do Diretório Nacional [no próximo dia 17]. Eu tenho também uma disputa política interna. Um grupo que quer sair, um grupo que quer ficar. Então, não se trata de chantagem. É cautela para proteger minha posição no partido até a reunião do diretório.

Se eu falo paulatinamente não é por chantagem. É para ir mostrando como as coisas se deram. Eu sento, fico aqui pensando, tomo notas das coisas que aconteceram, tentando rememorar com clareza os fatos para não ferir a verdade e não entrar em contradição. Com toda a serenidade.

Folha – Nos últimos dias, o sr. passou a temer por sua segurança?

Jefferson – Não temo, não. Depois do que eu já disse, se fizerem alguma coisa comigo, cai a República. Creio em Deus. Rezo. E estou muito seguro de que estou fazendo bem tanto ao meu partido, lavando o rosto do meu partido, quanto à sociedade brasileira. Tenho certeza de que as coisas serão diferentes a partir de agora.’



Rodrigo Rangel

‘Ex-araponga ajudou empresário a gravar conversa com chefe dos Correios’, copyright O Globo, 13/06/2005

‘Peça-chave na gravação do vídeo da propina nos Correios, Jairo Martins, que se apresenta como jornalista, trabalhou para o extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o serviço secreto do governo federal, entre os anos de 1993 e 2001. Martins, que na verdade é cabo da Polícia Militar do Distrito Federal, foi um dos articuladores do flagrante. Foi ele, por exemplo, que forneceu a mala com câmera usada para gravar o ex-chefe dos Correios Maurício Marinho. Também foi o responsável por entregar a gravação à revista ‘Veja’.

A descoberta da participação do espião, conjugada com seu histórico de serviços prestados à comunidade de inteligência, contribui para tornar ainda mais nebulosa a verdadeira intenção da gravação. Se por um lado a Polícia Federal e o MP reforçam a desconfiança de que setores da Abin possam estar envolvidos com a gravação, por outro a agência, que tem a função oficial de assessorar o presidente da República, levanta a suspeita de que, por detrás da trama, estejam interesses políticos.

Abin tem policiais em seus quadros desde a ditadura

Desde os tempos da ditadura o serviço secreto brasileiro possui em seus quadros policiais civis e militares de Brasília. A Abin suspeita que parte desses funcionários possa estar envolvida em trabalhos paralelos destinados a prejudicar o governo. Como parte dessa vertente de investigação, o diretor-geral da agência, Mauro Marcelo de Lima e Silva, cita o envolvimento desses agentes-policiais com casos rumorosos que deram dor de cabeça ao Planalto nos últimos meses – o escândalo protagonizado por Waldomiro Diniz é um deles.

– A Abin já vem avaliando há algum tempo a extensão desse problema – diz Lima e Silva.

Para o Ministério Público Federal, as reais ligações de agentes da Abin com a gravação nos Correios ainda são um mistério. A PF já havia flagrado conversas de um experiente investigador da agência com o ex-araponga José Fortuna, preso desde quinta-feira por envolvimento no esquema. A Abin garantiu que seu agente estava em missão oficial. O MP pediu comprovação, mas o procurador Bruno Acioli disse que até agora os documentos não chegaram.

– Nós pedimos que o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (ao qual está vinculada a Abin) apresentasse os documentos secretos e não-secretos produzidos nos últimos seis meses que possam ter algum relação com o caso. O prazo para o envio desses documentos já se esgotou e, até agora, nada – disse Acioli.

Jairo Martins, que até então se apresentava como jornalista, seria ouvido ontem à noite pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Ele concordou em prestar esclarecimentos após negociar com os investigadores. A previsão era de que o depoimento dele entrasse pela madrugada.

Segundo Joel dos Santos Filho, um dos suspeitos de fazer a gravação, preso desde quinta-feira, o empresário Artur Washesk Neto, dona da Comam, foi quem lhe apresentou Jairo Martins, com quem aprendeu a operar a maleta-câmera que flagrou Marinho. Ele também contou que foi a Martins que entregou a fita.

O deputado Roberto Jefferson foi procurado pela PF, que quer ouvi-lo. Ele mandou dizer por seu advogado que só prestará depoimento após ser ouvido na Câmara dos Deputados.’



Regina Alvarez e Helena Chagas

‘Publicitário influente nos Correios’, copyright O Globo, 13/06/2005

‘Nas investigações para apurar os focos de corrupção nos Correios, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio das agências DNA Propaganda e SMP&B, aparece movimentando-se com grande desenvoltura na estatal e tratando de negócios fora da área da propaganda. O publicitário foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos operadores do tesoureiro Delúbio Soares no pagamento de mesada aos aliados. A SMP&B é uma das agências que atende a conta dos Correios.

No meio empresarial, Marcos Valério é conhecido como um homem capaz de abrir portas para negócios com os Correios e com outras estatais. A agência SMP&B também tem as contas do Ministério dos Esportes e da Câmara dos Deputados, enquanto a DNA Propaganda atende ao Banco do Brasil, à Eletronorte e ao Ministério do Trabalho.

No Congresso, o publicitário é chamado de ‘homem da mala’ exatamente pela ligação com Delúbio Soares. Nas novas denúncias, Jefferson disse que o dinheiro do mensalão chegava ao Congresso em malas. O episódio foi relatado por outros políticos, que preferem manter a identidade em sigilo. Segundo esses políticos, o contato de Marcos Valério seria com os líderes de partidos aliados.

A empresários e em áreas do Executivo, Valério se apresentaria como emissário de Delúbio, mostrando grande desenvoltura para negociar em nome do governo e do tesoureiro do PT. Ele não tem ligação histórica com o PT e já atuava no meio publicitário antes de o partido chegar ao governo. Foi sócio do empresário Clésio Andrade (PL) na SMP&B Comunicações. Clésio é vice-governador de Minas Gerais e presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mas hoje está rompido com o ex-sócio.

Ontem, Marcos Valério divulgou nota em resposta às denúncias de Jefferson e informou, por meio de sua assessoria, que vai dar entrada hoje no Supremo Tribunal Federal (STF) em uma interpelação para que o deputado comprove suas denúncias.

Na nota, Valério afirma que em respeito a seus sócios e funcionários das empresas das quais é acionista ‘está tomando todas as medidas judiciais, civis e criminais cabíveis’ contra Jefferson. Ele diz que o próprio Jefferson desqualifica sua denúncia ao afirmar que não tem provas, documentos nem testemunhas do que afirmou.’



Folha de S. Paulo

‘Imagem Desgastada’, copyright Folha de S. Paulo, 13/06/2005

‘Seria um grave equívoco atribuir apenas ao Legislativo a origem dos problemas que têm desgastado a imagem da classe política e indignado o país. O Executivo, sem dúvida nenhuma, é cúmplice nesse processo. Isso, porém, não exime o Congresso Nacional de assumir suas responsabilidades. A instituição tem sido palco de sucessivos casos de fisiologismo, nepotismo e busca de vantagens pessoais que golpeiam a confiança da população na própria eficácia da democracia.

Pesquisa Datafolha publicada na semana passada mostrou que a reprovação ao desempenho dos congressistas aumentou em oito pontos percentuais. Subiu de 28%, em dezembro de 2004, para 36%. A pesquisa constatou também que a avaliação da Câmara é mais negativa do que a do Senado. A parcela dos entrevistados que consideram o desempenho dos deputados ruim ou péssimo subiu de 29% para 38% na comparação com o levantamento anterior.

Ao que parece, a crise de credibilidade do Legislativo veio se agravando desde que o Planalto, em sua desastrosa articulação política, deu espaço para a ascensão de um parlamentar conhecido como ‘o rei do baixo clero’ à presidência da Câmara. Embora não reflitam as convicções de todos os membros das duas Casas, os espetáculos promovidos pelo deputado Severino Cavalcanti em defesa do ‘é-dando-que-se-recebe’, da contratação de parentes e da elevação dos salários da corporação serviram para aumentar o repúdio aos políticos e reforçar a idéia de que usam a vida pública apenas para extrair benefícios pessoais.

Agora, quando novas denúncias chegaram a público, dando conta de um esquema de pagamento de ‘mesadas’ com dinheiro de empresas e estatais a parlamentares, o cenário tende a se agravar. É de esperar que deputados e senadores, sob a vigilância da opinião pública, se comprometam com a rigorosa apuração dos fatos. A CPI é a chance para o Legislativo demonstrar que é capaz de pensar antes no interesse do país e da democracia do que em suas conveniências de ocasião.’



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‘Procuradoria pede documentos à Abin’, copyright Folha de S. Paulo, 13/06/2005

‘O Ministério Público Federal pediu à Abin (Agência Brasileira de Inteligência) todos os documentos relativos à investigações que tenha feito nos Correios. O prazo para entrega já venceu e até agora a Abin não deu resposta, disse Bruno Acioli, procurador que acompanha a investigação.

No fim de semana, a Polícia Federal ouviu o consultor de informática João Carlos Mancuso Villela e Joel Santos Filho. Ambos admitiram ter feito as gravações. Santos Filho disse, em depoimento, que houve três conversas e duas gravações nos Correios, feitas a pedido de Artur Wascheck Neto, dono da Comam, que pagou R$ 5.000 pelo serviço.

Santos Filho disse que contratou Mancuso por R$ 1.000, apenas para que ele comparecesse para dar mais credibilidade. Mancuso prestou depoimento e foi solto.

No depoimento, Santos Filho disse que o dono da Comam estava com dificuldades nos Correios e queria denunciar Maurício Marinho ao então diretor de Administração, Antônio Osório.

Ainda segundo o depoimento, Antônio Gerardo Molina teria ido ao gabinete de Roberto Jefferson, acompanhado por um assessor de um senador. Santos Filho disse à polícia que Wascheck conhecia Molina. Depois da divulgação das gravações, Wascheck se reuniu com Santos Filho e Molina para tratar do assunto. A divulgação teria desagradado Wascheck.

Ontem, Jairo Martins se apresentou à PF com a mala que comprou e que foi usada na gravação. A maleta foi apreendida pela PF.’