Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

James Mann

‘O desmascaramento do ex-funcionário do FBI W. Mark Felt como o Garganta Profunda ofereceu aos Estados Unidos um raro vislumbre das duas esferas separadas que coexistem incomodamente no governo americano. Chamemos uma delas de Mundo Oculto e a outra, de Mundo do Talk Show.

É impossível entender como as coisas funcionam em Washington sem considerar estes dois mundos contrastantes e a luta inerente e interminável entre eles. Bob Woodward compreendeu a diferença entre eles há mais de três décadas. As muitas pessoas que deram palpites errados sobre a identidade do Garganta Profunda não conseguiram entender isso. Elas normalmente superestimavam o papel e o poder do Mundo do Talk Show.

Quando digo Mundo do Talk Show, não me refiro apenas às pessoas nos debates de domingo. Na verdade, não havia muitos programas de entrevistas no início dos anos 70. Uso a expressão para me referir a todos aqueles indivíduos proeminentes que aparecem na televisão. Escrevem artigos e livros. Embarcam no circuito das palestras para discutir o que está acontecendo dentro do governo dos EUA ou qualquer administração que esteja atualmente no poder.

Freqüentemente, são os mesmos rostos reconhecíveis, de novo e de novo. Afinal (pelo menos é o que diz a lógica), se alguém é desconhecido, não deve ser muito importante ou não deve ter algo importante a dizer.

A maioria dos americanos supõe equivocadamente que seu governo é conduzido pelo Mundo do Talk Show – muito embora, na realidade, os habitantes deste universo possam não ter nenhum poder e possam não ter mais que uma conexão limitada com o funcionamento interno do governo.

Para citar apenas um exemplo aleatório: Ari Fleischer, o ex-porta-voz da atual administração Bush, é um tipo clássico do Talk Show. Mesmo fora do governo, seu rosto é reconhecível hoje. No entanto, no governo, ele não estava à mesa para as decisões fundamentais e, suspeito, não sabia muita coisa.

Ou considerem David Gergen, outra figura clássica do Talk Show, que ocupou altos cargos em governos republicanos e democratas. Gergen pode ser um especialista instruído em percepções ou relações públicas – mas não era um tomador de decisões. Repórteres que dependem de alguém como Fleischer ou Gergen como fonte tendem a descobrir apenas o que um determinado governo quer que a imprensa saiba.

Mark Felt foi um clássico representante da outra esfera, o Mundo Oculto. Este inclui burocracias e instituições por meio das quais os Estados Unidos precisam operar todos os dias – o FBI, a CIA, as Forças Armadas. O Mundo Oculto, por natureza, não tem rosto, mas é permanente. Governos vêm e vão; as grandes organizações permanecem. Normalmente, o Mundo Oculto segue diretivas, mas às vezes contraria, subverte e mina (bem antes da invasão de Watergate, Felt não gostava do que o governo Nixon pedia que o FBI fizesse). Os líderes políticos podem menosprezar o Mundo Oculto, mas freqüentemente não têm escolha a não ser trabalhar com ele e por meio dele. Os presidentes e partidos políticos americanos não têm pessoal próprio disponível 24 horas por dia em Jacarta ou Dubuque; a CIA e o FBI têm.

Woodward teve, desde o início de sua carreira de repórter, uma compreensão magnífica (mesmo que intuitiva) do Mundo Oculto. Ele servira na Marinha em Washington; segundo o próprio relato no Washington Post na quinta-feira da semana retrasada, seus deveres militares incluíram tarefas na Casa Branca. Foi lá que, num encontro casual, ele conheceu Felt.

Repórteres demais caem na armadilha de acreditar que o Mundo do Talk Show é o centro das coisas. Desde os anos 70, a especulação infindável sobre a identidade do Garganta Profunda se concentrou repetida e perdidamente em rostos famosos da era Nixon, como Gergen, o estrategista político John Sears, o autor de discursos presidenciais Pat Buchanan, o presidente do Comitê Nacional Republicano George H. W. Bush, a assessora de Imprensa da Casa Branca Diane Sawyer – pessoas que tinham pouco ou nenhum acesso às informações ocultas sobre o poder que o Garganta Profunda fornecia. Nem mesmo Alexander Haig, que em 1972 era um alto assessor do conselheiro de Segurança Nacional Henry Kissinger e mais tarde foi objeto de alguma especulação sobre o Garganta Profunda, tinha esse tipo de informação (Haig tinha conexões com o Mundo Oculto, mas neste caso era a burocracia errada – a segurança nacional, não o poder).

Mesmo depois de Felt e sua família terem se apresentado na semana retrasada, alguns jornalistas pareceram agarrar-se a suas velhas ilusões de que os rostos que eles já conheciam são os mais importantes. Como o Garganta Profunda poderia saber alguma coisa se não freqüentava o Gridiron Club? O colunista Robert D. Novak, ele próprio um habitué do Talk Show, escreveu na semana retrasada sobre a ‘sensação geral dentro de Washington’ de que o Garganta Profunda tinha de ser alguém ‘mais próximo do escândalo que um alto burocrata do FBI’. Pessoas como Haig ou Gergen ‘pareceriam mais dramáticas’ que Felt, afirmou Novak.

Mas é a qualidade monótona, quase enfadonha, de Felt e outros no Mundo Oculto que define sua essência e seu significado. Para eles, a instituição conta mais que o talento ou a fama individuais. Isto é o que eu tentava dizer num artigo de 1992 na revista Atlantic Monthly (que mencionou Felt entre alguns candidatos ao Garganta Profunda). O artigo dizia que a identidade do Garganta Profunda estava longe de ser tão importante quanto o lugar onde ele trabalhava, a saber, o FBI.

Como estes dois mundos, o Oculto e o do Talk Show, se conectam? No nível do dia-a-dia, eles não se conectam. Os membros do Mundo do Talk Show tendem a negar a existência do Mundo Oculto. O reconhecimento minaria a mitologia reinante segundo a qual alguns poucos rostos famosos tomam todas as decisões importantes, as levam a cabo e vão à televisão explicá-las. Não se pode pôr uma burocracia no ar ou fazê-la escrever um livro.

Enquanto isso, os habitantes do Mundo Oculto observam o Mundo do Talk Show com uma mescla de medo, reverência e fascínio. Ao longo da semana retrasada, houve considerável especulação sobre o que levou Felt, mesmo numa idade avançada, a manter o segredo.

A resposta, acredito, é que, como prisioneiro perpétuo do Mundo Oculto, ele considerava o Mundo do Talk Show uma força incontrolável, capaz de perturbar sua tranqüila existência. Os que operam com grande poder nas sombras desconfiam do clarão dos holofotes.

É claro que o Mundo do Talk Show e o Mundo Oculto se conectam – não nos níveis operacionais, mas bem no topo. O presidente, seu gabinete e os mais altos líderes de qualquer governo desempenham um papel em ambas as esferas. Por um lado, eles aparecem em público para explicar suas políticas. Por outro, eles também dirigem – ou, mais exatamente, tentam dirigir – a burocracia do Mundo Oculto.

E é isto que leva ao conflito interminável do tipo que estava em curso em 1972, quando o diretor do FBI J. Edgar Hoover morreu e Nixon tentou tomar o controle do órgão – o FBI de Mark Felt – para seus próprios desígnios.

Em muitos aspectos, aquela luta foi única. Hoover não só dirigira o FBI por décadas; ele praticamente o havia criado, e alcançara uma posição na qual podia desafiar ou até mesmo chantagear presidentes. Ninguém (espera-se) jamais terá esse tipo de poder novamente. Além do mais, é possível que nunca mais haja um governo tão decidido a fazer mau uso do FBI quanto o de Nixon – por causa da personalidade paranóica de Nixon e também porque as revelações de Watergate e a humilhante resignação de Nixon dissuadiram qualquer sucessor de seguir o mesmo caminho. Seria um erro desprezar as lutas burocráticas de 1972 como história antiga. Hoje, como em praticamente qualquer governo, pode-se encontrar batalhas comparáveis, mesmo que menores, pelo controle das burocracias. De fato, a observação desta guerra burocrática é muitas vezes a chave para a compreensão das dinâmicas do funcionamento de qualquer governo.

James Mann, ex-repórter dos jornais ‘Los Angeles Times’ e ‘The Washington Post’, é autor residente na Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins’



MÍDIA & CELEBRIDADES

Louise Story

‘Revistas de fofoca ampliam vendas e têm mais propagandas’, copyright Último Segundo (http://ultimosegundo.ig.com.br) / The New York Times, 13/06/2005

‘Você está cansado da cobertura dada às celebridades? Milhões de leitores não se cansam dela – nem mesmo de suas propagandas.

O rendimento das editoras de revistas de celebridade, que uma vez dependeu das vendas em bancas de jornais e salas de espera, agora passa por uma explosão de assinaturas e vendas de anúncios.

As páginas de propagandas da Us Weekly aumentaram cerca de 25% no ano passado, e na Star Magazine, a publicidade cresceu quase 17%, de acordo com o Publishers Information Bureau. Na Touck Weekly, o percentual de aumento foi de 22%.

Os anunciantes começaram a perceber que revistas sobre estrelas são um ambiente favorável à publicidade. ‘Geralmente as pessoas lêem essas revistas desde a primeira capa até as costas da última, e essa é sempre uma boa coisa para os publicitários’, disse Bill Koenigsberg, chefe-executivo da Horizon Media, agência de Nova York.

Koenigsberg afirmou que houve um aumento no número de anunciantes interessados em atingir mulheres, que constituem a maior parte dos leitores das revistas de celebridades. Tradicionalmente, a maior parte das propagandas nessas revistas era de, entre outros, produtos de beleza para mulheres. Atualmente, uma maior quantidade de anunciantes quer aparecer, disseram editores.

A American Media Inc., que publica a Star, e a Bauer Publishing Co., proprietária da Life and Style Weekly e a In Touch, registram aumento em propagandas de carros, produtos farmacêuticos e aparelhos eletrônicos.

A editora da Us Weekly, Vicci Lasdon Rose, disse ter notado uma mudança de interesse entre as empresas de carro e fabricantes de eletrônicos. ‘Há cinco anos, eu me lembro deles me dizendo que gostavam da idéia de consumidoras femininas, mas que prefeririam não direcionar suas vendas a elas’, disse Rose.

Os anunciantes estão respondendo, em parte, a uma circulação crescente. A média total de aumento das vendas da Star, People, Us Weekly e In Touch juntas foi de 22,6% do ano de 2003 até o final do ano passado, com as vendas da Star e da In Touch crescendo cerca de 80%, de acordo com os registros do Audit Bureau of Circulations.

Outros anunciantes dizem pretender mergulhar no movimento. A Northern and Shell, editora da lustrosa britânica OK! planeja apresentar uma edição norte-americana da revista, a OK! USA, no próximo verão.

Editoras de revistas de celebridades dizem não se preocupar com o aumento da concorrência. ‘Achamos que o mercado possui muito espaço’, disse Bob Davidowitz, editor da In Touch.’



ARGENTINA

Denise Mota

‘Um fenômeno da TV argentina’, copyright Trópico (http://p.php.uol.com.br/tropico/html/index.shl), 13/06/2005

‘Há quase 20 anos, a ex-vedete Susana Giménez tem a maior audiência do país com seu programa de variedades

A loura platinada de 60 anos, retocada por intervenções cirúrgicas e vestida invariavelmente com um Versace ou um Armani ou um Dolce & Gabbana -desde que decotados e justos- abre alguns minutos de seu programa, em pleno horário nobre, para divulgar uma exibição de amostras de dinossauros recentemente encontrados. ‘Vivos?’, pergunta ela com entusiasmo, para constrangimento da paleontóloga entrevistada e o deleite da platéia.

Não se assuste e ‘não se afaste da TV’ -como recomenda o jingle, em ritmo de musical da Broadway-, este é só mais um minuto ao lado de Susana Giménez, a apresentadora de televisão mais bem paga da Argentina. Todo dia ela faz tudo sempre igual, de segunda a sexta-feira. No topo da audiência há 17 anos, Giménez sorri um sorriso pontual às 21h, do alto do casting da emissora Telefe, e não precisa inovar para atrair a maior massa de telespectadores de seu país.

Na temporada deste ano, ela figura em primeiro lugar entre as atrações noturnas mais vistas num momento particularmente desafiador: seu principal oponente, Marcelo Tinelli, é um ex-colega de emissora, peso-pesado que migrou para o rival Canal 9 com o besteirol ‘Show Match’. Ocupando a mesma faixa horária, a estréia dos dois programas, em 4 de abril, registrou a maior porcentagem de televisores ligados no país em 2005, até o momento: 80%, de acordo com o Ibope.

Até 1989, só havia uma emissora privada na Argentina, o Canal 9, cuja programação se destacava por entrevistas com celebridades e pela participação recorrente de nomes do teatro de revista. Nada mais natural que fosse aí que Susana Giménez explodisse em popularidade, após a passagem, com seu ‘Hola Susana’, pelo canal estatal ATC. Nessa emissora aconteceu a estréia da estrela à frente de um ‘talk show’ (já com prêmios), quando congestionava as linhas telefônicas do país, à época sob controle total do Estado.

Com a ascensão do governo de Carlos Menem, a televisão é privatizada e, nesse contexto, surgem emissoras como a Telefe (Televisión Federal) e o Canal 13, que, com o 9, hoje representam as três maiores audiências da Argentina: em março, o Telefe manteve sua liderança, com média de 14.4 pontos; o Canal 13 ficou em segundo lugar, com 9.3, e o Canal 9 alcançou 7.4 no rating do país.

Além dos astros Susana Giménez e Marcelo Tinelli, as novelas e séries são outro ponto forte da TV. Produtos como o folhetim juvenil ‘Floricienta’, a comédia Los Roldán ou o drama ‘Hombres de Honor’ -espécie de ‘Romeu e Julieta’ transportado para duas famílias mafiosas instaladas na Argentina em meados do século passado- ocupam os primeiros lugares em seus horários (à tarde, no início e no final da noite, respectivamente). Os magos desses folhetins são Adrián Suar, dono da Pol-Ka, e, novamente, Marcelo Tinelli, proprietário da Ideas del Sur, as duas principais produtoras independentes argentinas.

Com menor audiência, ainda são muito comuns na TV do país os programas de fofoca. Nessas atrações, revezam-se escândalos da vida íntima de celebridades e de outros não tão famosos assim, como modelos e vedetes reconhecidos apenas localmente. Em jogo, quase sempre, a movimentação afetiva dessas estrelas e os petardos que soltam entre si, sejam pelas desventuras amorosas das quais são protagonistas, seja por competitividade profissional. Desnecessário dizer que qualquer novo evento relacionado à vida de Giménez transforma-se imediatamente em assunto principal desses programas.

Em meio a esse cardápio, a disputa entre Giménez e Tinelli foi o maior espetáculo deste primeiro semestre e começou renhida: a apresentadora obteve 28.5 pontos em sua estréia (o equivalente a 2,85 milhões de TVs ligadas em seu show), e Tinelli, 27.7. Para o primeiro programa da nova temporada, os trunfos de Giménez foram o galã Diego Torres, o mais festejado cantor do país no momento, e o próprio ex-marido da artista, Humberto Roviralta -de quem a ex-vedete se separou, nos anos 90, depois de pagar uma comentadíssima indenização de US$ 1 milhão por ano de casamento (foram dez)- e que surgiu numa pretensa aparição-surpresa. Vale tudo.

De acordo com o Infobae (www.infobae.com), site vinculado ao Canal 9 que computa as audiências alcançadas por programas da TV aberta e paga da Argentina, durante a primeira semana de exibição os programas rivalizaram por não mais do que um ponto, em média, com Tinelli em primeiro lugar em três dos cinco dias iniciais das atrações, situação que se reverteu na segunda semana, quando ‘Susana’ retomou a dianteira com média de cinco pontos à frente de ‘Show Match’, posição que vem se mantendo.

Susana Giménez nasceu numa família conturbada e emergiu no showbizz como modelo, catapultada pela propaganda de um sabonete nos anos 60. Na década seguinte, apareceria em filmes e espetáculos de sucesso e, nos anos 80, daria início a programas de TV populares, como ‘Hola Susana’, de 1987, inspirador de modelos que ultrapassaram fronteiras (alguém se lembra do brasileiro ‘Alô, Cristina!’?).

Como toda entrevistadora de êxito à frente de um ‘talk show’ de entretenimento, a mágica de Giménez -’Susana’ (na versão dos argentinos mais contidos) ou ‘Su’ (como é citada carinhosamente por seus telespectadores)- consiste em tirar proveito de suas forças e fraquezas (privadas ou públicas) e investir na exacerbação do lado humano de seus entrevistados, acolhidos num sofá generoso e que serve de cúmplice para a tão comum atmosfera de intimidade e confidencialidade que se instala artificialmente nesses programas destinados a deixar falar, ao final do dia, ricos e famosos.

Se ainda faltava entretenimento, esquetes em que ela encarna uma mulher escandalosa que despreza o marido numa ilha deserta; diálogos, também humorísticos, com o comediante top argentino Antonio Gasalla no papel de uma velhinha entre gagá e perspicaz; jogos (de perguntas e respostas, de mímica entre celebridades, de sorteio de números telefônicos dos telespectadores) e concursos de talentos infantis são outros dos carros-chefe de seu parque de diversões eletrônico.

Foi nesse ambiente feérico que se estendeu um divã para Maradona -eleito recentemente a personalidade-símbolo da Argentina, numa enquete nacional- ‘desabafar’ sobre sua dependência da cocaína e o tratamento a que estava sendo submetido. Foi aí que a atriz Leticia Brédice (de ‘Nove Rainhas’) falou da gravidez solitária que leva, após separar-se do pai do bebê. Daí que Giménez seja não só a mais bem cotada como também a apresentadora mais querida do país, como atesta pesquisa realizada em Buenos Aires.

É o que Oprah Winfrey, bem-sucedida na TV americana há 18 temporadas -e com tempo de carreira televisiva semelhante ao de Giménez, portanto-, faz, quando pede que Tom Cruise ensine sua receita de macarrão à carbonara ou quando prepara o cenário para Julia Roberts comentar a mudança que lhe causou o nascimento de seus filhos gêmeos.

Claro, Winfrey está às voltas com personalidades de alta voltagem financeira, projetadas internacionalmente pela máquina hollywoodiana, além de manejar um orçamento muito mais opulento, perceptível por ‘surpresas’ como sorteio de carros entre a platéia, por exemplo. Além disso, Winfrey fez carreira como jornalista enquanto Giménez ascendeu como vedete no teatro de revista, o que marca uma diferença indelével de estilo e abordagem.

Guardadas, porém, as devidas proporções, a bilionária Oprah e a milionária Su se movem no mesmo universo em que se encontram as verde-amarelas Hebe e Luciana Gimenez, ao garantir espaço para que celebridades e, principalmente, ex-celebridades destilem fúrias e mágoas, ao mesmo tempo em que ri de si mesma, transita pelo universo da fama e fatura com uma propalada ‘burrice’.

Se Oprah sorteia carros, Susana joga com os telespectadores por 150 mil pesos (cerca de R$ 126 mil). Se Hebe gosta de atacar autoridades públicas, Susana afirma que a ‘Argentina ficou muito política’ e não renega a amizade de anos com execrados como Carlos Menem (‘Era o governo que estava no poder, eu não estava nem mais nem menos próxima dele do que todo mundo, na época’). Se Luciana tem um filho com Mick Jagger, Giménez flerta há anos, entre divertida e misteriosa, com Julio Iglesias e pode mudar de namorado a cada fase da lua (de jogadores de basquete e campeões de boxe a empresários e atores -com Ricardo Darín, por exemplo, teve um romance de quase uma década), para alegria dos editores das revistas e programas de fofoca.

A apresentadora sabe canalizar escândalos a seu favor e, com isso, habita a confortável suíte instalada acima do bem e do mal no que diz respeito aos todo-poderosos níveis de audiência, inabaláveis mesmo quando Giménez protagoniza episódios pouco honrosos -como esconder um carro comprado com subsídios reservados a portadores de deficiência ou destinar a uma entidade filantrópica recursos em porcentagem menor do que a legislação lhe ordenara, por realizar jogos com prêmios em dinheiro. Denunciada pelo padre à frente da organização, que se dedicava a construir um abrigo para crianças de rua, rebateu: ‘Mas o senhor quer construir o quê? Um Sheraton?’.

Longe de chocar, a apresentadora provoca risos. Afinal, como relembraria o famoso musical de Bob Fosse, desses no qual Giménez tanto se inspira, ‘a vida é um cabaré, amigo, venha para o cabaré’.’