Noel Rosa dizia que o samba não se aprende no colégio. E o samba da época dele, sem vir nem do morro nem da cidade, consistia em cantar com o coração dentro da melodia. Da mesma forma, o jornalismo nasceu no Brasil sem escola, prestando-se mais a torneios de retórica que chegaram a opor personalidades como Dom Pedro I, José Bonifácio e José do Patrocínio. É impossível saber se Noel Rosa entraria numa escola de samba caso tivesse oportunidade – as escolas de samba só passaram a existir um pouco depois de Noel. Mas Tom Jobim o fez pouco antes de sua morte. E o cineasta Steven Spielberg resolveu fazer uma faculdade de cinema mesmo depois de já ter filmado Tubarão e ET. Diplomado, filmou A Lista de Schindler e Resgate do soldado Ryan.
Da argumentação acima, pode-se deduzir que grandes artistas e profissionais não dispensam o aprendizado, o que já não acontece com arrivistas, sendo que os últimos tendem a ocupar todo espaço para não serem desmascarados. O grande argumento contra a exigência do diploma de jornalista é a liberdade de expressão. Entretanto, bem dizia Kirkegaard, “os maiores defensores da liberdade de expressão costumam ser os que nada tem a expressar”. Além disto, é bom lembrar: a contratação de jornalistas diplomados não impede a de pretensos não diplomados pelo meio de comunicação; assim como uma farmácia ou um prédio não precisa funcionar ou ser construído exclusivamente por farmacêuticos e engenheiros. No debate do Senado que aprovou a volta da exigência do diploma, o senador Antonio Carlos Valadares defendeu a proposta afirmando que uma profissão não pode ficar à margem da lei. E, de fato, para que existiriam sindicatos de jornalistas se o jornalista pode ser qualquer um? Naturalmente, empresários de comunicação, como aliás todos, não veem necessidade alguma de sindicatos, assim como estes mal conseguem proteger os pisos salariais e os estágios não remunerados, que continuam acontecendo ilegalmente mesmo nos grandes jornais. Além de ser impossível eliminar profissionais despreparados que parecem ter comprado seu diploma como barbeiros compram carteiras de motorista.
Escrever um texto, fazer uma reportagem, qualquer um é capaz de fazer; da mesma forma que se eleger deputado até o Tiririca conseguiu. O problema é quando qualquer um sai vendendo linguiça tomando conta e envenenando toda a freguesia. Mas diploma de jornalista só chegou a ser exigido, e ainda é, parece que no Brasil e no Paquistão. Isto, segundo alguns arcanos de nossa imprensa, como Boris Casoy, que não se deram, porém, ao trabalho de saber como são os jornalistas em países comunistas como a China e Cuba; ou na Alemanha, para rebater a falta de liberdade de expressão dos primeiros, que, aliás, é na verdade proibição de empresa privada. Para não dizer que nos Estados Unidos Jornalismo é curso de pós-graduação que Carl Bernstein e Bob Woodward não se dispensaram fazer. No final das contas, o projeto está parado na Câmara. Mesmo porque o lobby patronal já está de armas e bagagens na rua e nos próprios meios de comunicação. E só nos resta saber o que pensam Bolsonaro e Romário – o último, jornalista esportivo não diplomado (Zulcy Borges de Souza, jornalista, Itajubá, MG)
Crítica ao OI na TV
Acompanho o programa do OI na TV há muitos anos e o considero excelente, útil e indispensável à sociedade brasileira. Contudo, gostaria de registrar aqui duas críticas: 1) por ocasião da aprovação no STF do aborto de anencéfalo, este programa, que tanto defende a necessidade do debate plural, criticou a posição católica, mas não trouxe ninguém da igreja para tomar parte no debate e ainda assim insistiu na necessidade do debate imparcial no mesmo programa em que defendia isso – trouxe três pessoas de posições contrárias às do catolicismo e nenhum contraditório sequer; 2) ontem, sim, convidaram o bispo Orani, mas fiquei questionando a posição do programa: então, uma pessoa, pelo simples fato de ser católico (e bispo, no caso), deixa de ser cidadão automaticamente? Todos os cargos na esfera pública não são acessíveis a qualquer cidadão? Orani não pode estar ali na condição de cidadão apenas? Fora essas críticas e questionamentos, sigo admirador do programa que muito ajuda à formação do senso crítico das pessoas (Geraldo de Oliveira Costa, pedagogo, Brasília, DF)
Marcha “Fora Lacerda” em BH
É incrível o desserviço da imprensa mineira. Ontem (1/9) houve em BH, no centro do poder da cidade, a Praça da Liberdade, uma grande marcha contra o prefeito atual, Márcio Lacerda, e candidato à reeleição. Trata-se de um movimento anterior ao processo eleitoral, iniciado em 2010, que reúne jovens, pessoas ligadas à cultura e aos sem-teto, que se uniram para contrapor as decisões arbitrárias e antipáticas do prefeito de proibir ou limitar o uso de espaços públicos, sentar na grama, pipoqueiros e outros ambulantes – patrimônio histórico e cultural da cidade nas ruas e parques –, além de outras tantas medidas autoritárias: diminuição do poder dos diversos conselhos, diminuição da força do orçamento participativo, uso da força na retirada das famílias de vários bairros da cidade (tampouco divulgado na mídia, das “pedras anti-mendigo debaixo dos viadutos da cidade”). A terceira marcha Fora Lacerda reuniu ontem cerca de 3.000 pessoas, segundo a polícia militar, e se tornou o movimento social mais interessante dos últimos tempos em BH: jovem, criativo, pacífico, limpo (as pessoas carregam sacos de lixo e vão catando ao longo do caminho, uma atitude solidária e responsável com o espaço público) e não teve sequer uma linha registrada nos jornais ou outras mídias locais. Parece que ainda vivemos em tempos muitos sombrios com bloqueio político da mídia que se desresponsabiliza de sua função primeira de divulgar fatos local de relevância. Ou realmente esse movimento não tem importância alguma para a cidade? (Sonia Lansky, médica, Belo Horizonte, MG)
Jornalistas fazendo campanha na TV
Vi outro dia que algumas pessoas que trabalham na TV TEM, de Sorocaba, estão fazendo campanha para o candidato do PSDB. A minha pergunta é se isso não é contra o código de conduta da classe (Paulo Oliveira, técnico de Segurança do Trabalho, Mogi Mirim, SP)
Subserviência dos meios de comunicação
Observa-se um quadro preocupante de crescente ingerência do poder político e econômico sobre os meios de comunicação, censurando conteúdos e matérias, a ponto de afetar o direito à informação que todos nós temos, ou deveríamos ter. Até o conteúdo editorial e a extinção de programas (vide Casseta e Planeta) são determinados por tais poderes. É um tema que gostaria de ver dissecado e debatido neste respeitado programa (Roque José Stenert, advogado, Novo Hamburgo, RS)