Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rubens Valente e Leila Suwwan

‘O publicitário mineiro Marcos Valério de Souza obteve, num período de 15 meses, três aditivos ao contrato que mantém com a Câmara dos Deputados. O valor saltou dos R$ 9 milhões iniciais para R$ 21,8 milhões até o fim de 2005.

Marcos Valério trabalhou, em 2003, para a campanha do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) à presidência da Câmara -e foi contratado no fim do mesmo ano na gestão de Cunha, após uma concorrência pública.

‘É um contrato baseado em termos absolutamente técnicos. A assinatura dos termos aditivos, nem sei a razão. Precisava conversar com o pessoal técnico. O que sei é que tenho plena confiança no setor técnico [da Câmara]’, disse João Paulo à Folha, anteontem.

Na entrevista, o deputado disse que se reuniu várias vezes com Valério em 2003. A licitação para a contratação da nova agência da Casa começou a ser organizada em março do mesmo ano.

Na gestão anterior, do deputado Aécio Neves (PSDB-MG), a agência da Casa era a Denison Brasil. Foi contratada em 2001 e o valor foi aumentado em 25% em 2002, passando dos originais R$ 4,5 milhões para R$ 5,62 milhões -o que contrariava um parecer da diretoria-geral da Secom (Secretaria de Comunicação) da própria Casa. Em 2002, o contrato com a agência também foi prorrogado até o fim de 2003.

O contrato de publicidade na gestão de João Paulo foi assinado pela Câmara no último dia de 2003 com a empresa SMPB Comunicação, sediada em Belo Horizonte, controlada por Marcos Valério e registrada em nome de sua mulher, a pedagoga Renilda Maria Fernandes de Souza.

O objetivo principal do contrato é a realização de campanhas institucionais e publicitárias da Câmara. Mas também incluía contratação de assessoria de imprensa para João Paulo, ‘planejamento de comunicação’ e ‘execução de estratégias de mídia para obtenção de espaços de ‘free media’.

Inicialmente, o contrato previa R$ 9 milhões por um período de 12 meses (até dezembro de 2004). Antes do fim, no entanto, o dinheiro acabou. Em 18 de novembro, a Casa promoveu o primeiro aditivo com a empresa de Valério, acrescentando R$ 1,9 milhão para ser gasto até o fim de 2004.

Doze dias depois, em 30 de dezembro de 2004, novo aditivo foi assinado entre a Câmara e a empresa de Valério. Desta vez, o contrato teve duração de três meses, até março, por R$ 2,74 milhões.

Duas semanas depois que Severino Cavalcanti (PP-PE) foi eleito presidente da Câmara, o contrato foi aditivado de novo, agora com o objetivo de prorrogá-lo por nove meses. O custo estimado é de R$ 8,16 milhões até o final do ano.

A SMPB venceu a licitação pelo quesito da melhor proposta técnica. A comissão de licitação, nomeada por João Paulo, abriu a concorrência em 31 de outubro de 2003. Oito empresas demonstraram interesse. A SMPB obteve uma nota final de 85,7 pontos para seu plano de comunicação, enquanto o segundo colocado, a DPTO, recebeu 84 pontos.

No quesito preço, a empresa ficou em terceiro lugar. O melhor foi o da Artplan. Recorrendo a um item do edital, a comissão indagou se a SMPB faria o mesmo serviço que sugerira com o preço da Artplan. Com a resposta positiva, foi declarada vencedora.’



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‘João Paulo afirma saber pouco do caso e responsabiliza área técnica ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/06/05

‘O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha atribuiu à área técnica da Casa a decisão de aditivar o contrato assinado com a SMPB Comunicação, de Marcos Valério. O publicitário não quis comentar o caso. (RV E LS)

Folha – O contrato da Câmara com a SMPB foi assinado em dezembro de 2003. Em novembro de 2004, houve o primeiro termo aditivo, e o valor saiu de R$ 9 milhões para R$ 10,9 milhões. Depois houve o segundo aditivo, em 30 de dezembro de 2004, e…

João Paulo Cunha – Quem assinou esses aditivos?

Folha – Todos na sua gestão. Quem assina é o diretor-geral.

João Paulo – Isso.

Folha – Mas é na sua gestão.

João Paulo – Esse contrato, eu sei pouco dele. Porque é um contrato baseado em termos absolutamente técnicos. A assinatura dos termos aditivos nem sei a razão. Precisava conversar com o pessoal técnico. O que eu sei é que eu tenho plena confiança no setor técnico de lá [da Câmara], que não tenho absolutamente nada a ver com ele. Se você analisou bem a comissão julgadora do processo licitatório, e depois o próprio contrato, vai ver que eu não tenho [nada com isso].

Folha – Marcos Valério trabalhou em sua campanha para a Câmara?

João Paulo – Trabalhou.

Folha – Com a DNA ou com a SMPB?

João Paulo – Olha, eu não sei, porque foi através do PT.

Folha – Ele trabalhou na campanha de Osasco?

João Paulo – Trabalhou. Com [o candidato petista] Emídio [de Souza].

Folha – O sr. conhecia Marcos Valério antes de 2003?

João Paulo – Não. Eu o conheci no final de 2002 e início de 2003, quando ele ajudou, ele não, a agência, inclusive ajudou a fazer a minha campanha à presidência da Câmara.

Folha – O sr. se recorda do valor da campanha?

João Paulo – Não, porque foi o PT que pagou.

Folha – O sr. leu as declarações da ex-secretária de Marcos Valério na revista ‘IstoÉ Dinheiro’. Ela mencionou encontro que o sr. teve com ele no final de 2003. O sr. se recorda desse encontro?

João Paulo – Devo ter, porque tive vários encontros com ele.

Folha – Em que época?

João Paulo – Não lembro.

Folha – Nesses encontros, o tesoureiro Delúbio Soares esteve?

João Paulo – Nunca.

Folha – E o secretário-geral Sílvio Pereira?

João Paulo – Também nunca. [Corrigindo] Não, teve uma vez comigo, no final de 2003, em que nós discutimos campanhas, situação eleitoral de 2004.

Folha – Qual sua opinião sobre o esquema do ‘mensalão’ denunciado por Roberto Jefferson?

João Paulo – Eu acho que isso é um escândalo. A única vez que ouvi falar, eu acabei pedindo a abertura de um processo.’



Chico de Gois

‘Agência de Valério fez campanhas de petistas em SP ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/06/05

‘Criada em fevereiro de 2004, a Estratégia Marketing e Promoção Ltda., que tem Marcos Valério Fernandes de Souza como sócio, trabalhou em pelo menos duas campanhas de candidatos petistas a prefeito: Osasco e São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

O outro sócio é Marcio Hiran Guimarães Novas. Ele representou a DNA Propaganda na concorrência do Banco do Brasil que, em 2003, escolheu três agências para um contrato de R$ 142 milhões por ano. A DNA foi uma das vencedoras.

A assessoria de Marcos Valério confirmou que ele é sócio minoritário da Estratégia Marketing, mas disse que ele não se pronunciaria.

Em Osasco, o candidato do PT à prefeitura foi Emídio de Souza, que venceu as eleições. Ele foi apoiado pelo então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT).

João Paulo apresentou a Estratégia Marketing para Souza, como confirmaram o deputado e o secretário de Governo de Osasco, Gelso Aparecido de Lima, responsável pela coordenação de comunicação da campanha.

Em 31 de dezembro de 2003, a SMPB foi contratada para cuidar da publicidade da Câmara. A agência também tem como sócio Marcos Valério. João Paulo disse que discutiu com o publicitário a possibilidade de ele fazer a campanha em Osasco.

A prestação de contas de Emídio de Souza aponta que ele gastou R$ 140 mil com a agência. Gelso Aparecido de Lima disse que Marcos Valério não participou da campanha. Os contatos foram feitos com Guimarães Novas. Foi ele também quem trabalhou na campanha de Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, à Prefeitura de São Bernardo. A Folha procurou o deputado, mas não o localizou. (CG)’



Mário Simas Filho, Luiza Villaméa e Alan Rodrigues

‘Testemunha sob pressão’, copyright IstoÉ, 21/06/05

‘A secretária Fernanda Karina Somaggio está assustada. Na tarde da terça-feira 14, ela deixou de ser uma cidadã comum para se tornar personagem conhecida nacionalmente. Karina foi apresentada para todo o País em uma reportagem de dez páginas da revista ISTOÉ Dinheiro, que a colocou na condição de primeira testemunha capaz de apontar parte da origem do dinheiro usado no mensalão parlamentar denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). ‘Minha vida virou um inferno’, disse Karina ao jornalista Leonardo Attuch horas depois de a revista circular. Na conversa, gravada, Karina não se referia apenas ao previsível assédio que passou a sofrer, mas basicamente às pressões que enfrenta desde setembro do ano passado, quando concedeu uma primeira entrevista a ISTOÉ Dinheiro.

Na ocasião, muito antes de Roberto Jefferson trajar a beca de paladino da moralidade, essa mineira de 32 anos, moradora de um bairro de classe média em Belo Horizonte, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, posou para fotografias e afirmou com todas as letras, entre outras coisas, que:

1) O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, fazia negociatas em parceria com Valério e que da agência SMP&B saíam malas de dinheiro.

2) No final de 2003, R$ 100 mil foram entregues ao irmão do então ministro dos Transportes, Anderson Adauto.

3) Delúbio e o deputado José Mentor (PT-SP) usavam jatinhos do Banco Rural, que foi poupado no relatório da CPI do Banestado, cujo responsável era o próprio Mentor.

4) Eram constantes as reuniões de Valério com a cúpula do PT em diversos hotéis de São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.

5) Valério pagou viagem aérea e hospedagem para a secretária do ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP).

6) Um boy da empresa chegou a sacar R$ 1 milhão do Banco Rural para que Delúbio e Valério fizessem vários pagamentos em Brasília.

7) Houve um pagamento de R$ 150 mil para Pimenta da Veiga, ex-ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso, divididos em duas contas.

Na ocasião da entrevista, o publicitário Valério era tão anônimo quanto Karina e as denúncias feitas por ela passaram a ser investigadas pela revista, antes de qualquer publicação. Mesmo assim, o publicitário tomou conhecimento do que fora narrado pela secretária e partiu para o ataque. ‘Ele teve acesso a e-mails meus’, disse a secretária. Karina, então, recebeu telefonemas ameaçadores e em outubro Valério foi à Justiça mover um processo contra a ex-secretária, dizendo-se vítima de extorsão, em processo que tramita na 6ª Vara Criminal de Belo Horizonte. Assustada com a possibilidade de vir a ser condenada, Karina depôs em 20 de maio último e disse não saber de nada desabonador sobre o ex-patrão.

Quando as denúncias de Roberto Jefferson se tornaram públicas, Karina voltou a procurar a reportagem de ISTOÉ Dinheiro. Em nova entrevista, também gravada, ela reafirmou tudo o que dissera em setembro e acrescentou detalhes, como os nomes dos hotéis onde o ex-patrão costumava se reunir com a cúpula petista e datas desses encontros. Para comprovar o que dizia, encaminhou via fax algumas páginas de uma agenda na qual registrava os encontros do patrão.

Novas pressões – Na terça-feira 14, quando o deputado Roberto Jefferson anunciou na Comissão de Ética da Câmara que a entrevista seria publicada, Karina voltou a sofrer pressões. Quando a revista estava sendo impressa, ela entrou em contato com a redação de ISTOÉ Dinheiro tentando impedir a publicação. ‘Eu não tenho provas, só a agenda’, disse. ‘Eles vão vir com os dois pés no meu peito. Todo mundo virá atrás de mim. A gente vive em um país onde quem manda é quem tem dinheiro e eu vou passar por mentirosa, pois tive que dizer ao juiz que não tinha nada contra o Valério.’ Após a publicação da reportagem, a pressão ficou ainda mais forte. Na quarta-feira 15, Karina foi à Polícia Federal em Belo Horizonte e prestou um depoimento de aproximadamente três horas, sem a presença de procuradores da República.

No depoimento, Karina acabou negando parte do que dissera à revista. Negou, por exemplo, ter visto malas de dinheiro saírem da agência. Mesmo assim, apresentou sua agenda. Ela saiu do depoimento sem falar com os jornalistas que a aguardavam, mas o delegado Ricardo Amaro, assessor de imprensa da PF em Minas Gerais, declarou que a agenda nada comprovava e que não haveria motivos para iniciar uma investigação. Não é verdade. Na agenda entregue pela secretária estão as cópias de alguns fac-símiles, entre eles uma ordem de pagamento ao BMG em que a agência de Valério pede que seja feito depósito de R$ 150 mil para Pimenta da Veiga, R$ 100 mil em uma conta no Bradesco e R$ 50 mil em outra conta no Banco Rural. Depois do depoimento, Karina voltou a fazer contato com o jornalista Leonardo Attuch: ‘Estou com medo. A porta de casa está cheia de gente e vou passar a ser vista como mentirosa.’

Estratégia de defesa – Karina, que atualmente é secretária da Geosol – Geologia e Sondagens, em Belo Horizonte, tem medo de ser condenada no processo de extorsão e negar parece fazer parte do que declarou à revista faz parte de sua estratégia de defesa. Para se manter fiel ao que disse em maio na 6ª Vara Criminal, é possível que ela mantenha essa mesma estratégia na CPI e na Comissão de Ética da Câmara. Mas tudo o que ela disse nas entrevistas concedidas a ISTOÉ Dinheiro vem sendo confirmado.

A secretária de João Paulo Cunha (PT-SP), Silvana Japiassú, afirmou, na tarde da quarta-feira 15, que recebeu, de Marcos Valério, para ela e para sua filha, passagens aéreas e hospedagem no Rio de Janeiro. O Banco Rural confirma os saques em dinheiro, mas não pode informar a destinação dada aos recursos. O ex-ministro Pimenta da Veiga também não negou ter recebido recursos da SMP&B, embora tenha explicado que o dinheiro era referente a prestação de serviços de advocacia realizados depois de ter deixado o

Ministério das Comunicações. Por fim, a assessoria de imprensa do ex-ministro Anderson Adauto também confirmou o pagamento. Explicou que se tratava de um acerto de contas, uma vez que a SMP&B trabalhou na campanha de Adauto à Prefeitura de Uberada em 2004.’



Regina Alvarez

‘Um publicitário com tentáculos espalhados por mais de 10 empresas’, copyright O Globo, 19/06/05

‘O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza ganhou destaque no noticiário nacional depois de ser apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos principais operadores do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, no pagamento de propina a parlamentares. Ex-funcionário do Banco Central, Valério é sócio de pelo menos dez empresas, nas quais montou um emaranhado de participações acionárias que, ao serem cruzadas, permitem que sua atuação se estenda de forma indireta a outras empresas.

Nos principais negócios – as agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda, que têm contas milionárias com o governo federal – a participação de Marcos Valério se dá por intermédio de sua mulher, Renilda Fernandes de Souza. Ela detém um terço do capital da SMP&B, mesma proporção de Cristiano Paz e Ramon Cardoso, os outros dois sócios, que exercem as funções de presidente e vice-presidente da SMP&B.

Já na DNA, a mulher de Marcos Valério entra na sociedade com 50% por intermédio da Graffiti Participações, da qual tem 66,6%, tendo como sócio Ramon Cardoso, dono dos outros 33,3%. Os outros proprietários da DNA são Francisco Castilho, com 25%, e Margareth Freitas, com os 25% restantes.

Contratos mostram ligação estreita com sócios

Na semana passada, depois que Marcos Valério foi mencionado por Jefferson como o homem que teria entregue ao PTB R$ 4 milhões em dinheiro a mando do PT, a DNA e a SMP&B divulgaram notas afirmando que ele não participa da administração das agências. Na nota da DNA, Valério é apresentado apenas como um representante da Graffiti. Contratos obtidos pelo GLOBO, contudo, mostram ligações estreitas entre o publicitário e seus sócios e a presença marcante de Renilda em outras sociedades.

Em Minas, Marcos Valério é um homem conhecido na alta roda pelas posses, a paixão pelo hipismo e a versatilidade na área empresarial. Depois que passou a ser apontado como o ‘homem da mala’ de Delúbio Soares, foi montada uma força-tarefa para tentar descolar sua imagem das duas agências. Mas as digitais de Marcos Valério estão em toda parte.

A DNA divulgou junto com a nota a cópia de uma procuração onde Marcos Valério dá amplos poderes a Francisco Castilho e Margareth Freitas para representá-lo na administração da DNA Propaganda. O publicitário se afastou do cargo de vice-presidente administrativo financeiro em março de 2003, mas os 66% da esposa no capital da Graffiti ainda asseguram ao casal a maior fatia da sociedade.

Valério é conhecido como empresário ousado

É numa quarta empresa, a Multiaction, uma agência de eventos que presta serviços para o Banco do Brasil, que a relação dos sócios surge de forma explicita. No contrato da Multiaction, o nome de Marcos Valério aparece na companhia de Francisco Castilho e Margareth Freitas, da DNA; e de Ramon Cardoso, da SMP&B. O registro da empresa diz que Marcos Valério é o administrador.

Segundo o BB, a Multiaction presta serviços para a instituição através da DNA, que tem a conta do banco. Já o publicitário Francisco Castilho disse que ele e os demais proprietários da agência são sócios capitalistas e que indicaram para administrar a Multiaction o executivo Renato Vila Marin.

A Multiaction foi citada por Fernanda Karina Somaggio, a ex-secretária de Marcos Valério na SMP&B que confirmou em entrevista à revista ‘IstoÉ Dinheiro’ parte das denúncias de Roberto Jefferson contra o publicitário e depois voltou atrás. Segundo a ex-secretária, Marcos Valério usaria a empresa para desviar recursos públicos e parte desse dinheiro voltaria para o PT. O publicitário tratou de desqualificar as declarações da ex-secretária, divulgando que Karina estava sendo processada por ele por tentativa de extorsão desde o ano passado.

Nos negócios, Valério é conhecido pela ousadia. Atua em vários ramos, como mostram os registros de suas empresas. Valério e Renilda estão juntos na JVN Participações, que não tem objetivo específico. No contrato, o objetivo é descrito como a participação, como quotista ou acionista, em outras sociedades. Esta é a mesma função declarada da Nova Mundo Participações, empresa onde Valério divide a sociedade com o economista Renee Pinheiro Anunciação.

Um advogado especialista em direito comercial consultado pelo GLOBO explica que empresas deste tipo normalmente são criadas para que seus sócios recebam pagamentos por serviços prestados como pessoa jurídica. O imposto é menor do que o cobrado da pessoa física.

Os tentáculos de Marcos Valério vão além do mercado publicitário. Através da Target Representações e Intermediação de Negócios, Marcos Valério expandiu os negócios para o comércio. O objetivo declarado: ‘representações em geral: nas áreas alimentícias e não alimentícias’. Na S.F. Assessoria Empresarial, o publicitário oferece assessoria financeira, tributária e intermediação de negócios e sociedade com o administrador Humberto Santiago.

O publicitário tem ainda um terço do capital da empresa Tolentino & Melo Assessoria empresarial, que realiza serviços de assessoria e consultoria nas áreas comercial, fiscal e tributária.’



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‘Duas secretárias e nenhum segredo’, copyright O Globo, 19/06/05

‘Em julho de 2002, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza quis expandir seus negócios, mas enfrentava problemas com o Fisco. Pediu que a secretária de um de seus sócios na agência SMP&B abrisse uma empresa em seu nome. Adriana Fantini fundou então a 2S Participações Ltda., que em setembro do mesmo ano foi transferida ao publicitário e à sua mulher, Renilda Fernandes de Souza. Dois anos mais tarde, em 2004, Adriana voltou a prestar um favor a Valério ao informar-lhe que a ex-secretária Fernanda Karina Somaggio estava tentando chantageá-lo. Adriana é a principal testemunha no processo por tentativa de extorsão que o publicitário move contra Karina na Justiça de Minas.

Na semana passada, Fernanda Karina apareceu na revista ‘IstoÉ Dinheiro’ confirmando parte das denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento de mesadas a parlamentares. Um dia depois de a revista ter chegado às bancas, a ex-secretária depôs na Polícia Federal e desmentiu as partes mais comprometedoras da entrevista, dizendo que não tinha nada contra o ex-patrão. À Justiça, Karina afirmou que nunca pediu dinheiro ao publicitário, nem tentou prejudicá-lo.

O processo movido contra Karina na Justiça contém documentos que podem reforçar a denúncia de Valério, de que a ex-secretária tentou de fato, extorqui-lo. Mas, a documentação também oferece indícios de que a ex-secretária poderia ter servido de laranja para o publicitário. É isso que ela sugere num dos bilhetes que deixou para Marcos Valério na sede da DNA.

‘Descobri que conseguiram entrar com a minha senha no meu banco e viram o meu saldo, etc. Acho que você deveria saber. Qualquer dúvida me liga que eu te explico melhor, ok. Obrigada’, diz o bilhete de Karina a Marcos Valério.

Alguns meses depois de ser demitida da SMP&B e receber, além dos direitos trabalhistas, R$ 5 mil por ‘serviços prestados’, segundo declarou à Justiça, Karina resolveu procurar o publicitário com a história de que estaria sendo assediada para revelar informações sigilosas e comprometedoras sobre ele e a SMP&B. Karina procurou Valério na DNA Propaganda e como não o encontrou, deixou bilhetes, usados no processo contra ela.

Karina teria telefonado para Adriana várias vezes, na mesma ocasião, e Adriana resolveu denunciar a ex-colega para o chefe. Ela declarou à Justiça que, logo depois da saída de Karina da SMP&B, sumiu da empresa uma caderneta de anotações e insinuou que a ex-secretária poderia ter levado outros documentos. Já Karina disse em seu depoimento à PF e à Justiça que Adriana era sua amiga e que por isso se falavam por telefone freqüentemente.

Karina deve depor em agosto no processo que corre na 6 Vara Criminal de Belo Horizonte e depois da entrevista à ‘IstoÉ Dinheiro’ não quer mais falar com a imprensa. O advogado de Karina disse que a imprensa não está entende o que está acontecendo.’