Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Primeiro amordaçados, agora surdos

Amordaçados já estamos. Agora querem nos deixar surdos. A condição dos jornalistas brasileiros é mundialmente vergonhosa. Por carência de uma lei que crie uma instância reguladora (Ordem ou Conselho) da categoria, os profissionais da imprensa nacional ficam a mercê de atos jurídicos questionáveis – como a decisão da juíza Carla Rister, da 16ª Vara Cível da Justiça Federal, que por longos quatro anos permitiu a qualquer pessoa, mesmo sem diploma, o exercício da profissão.

Nestes últimos anos, a categoria profissional ainda esteve no meio do fogo cruzado entre oposição e governo, numa tentativa desastrada e inoportuna deste último de forçar esta regulamentação.

Não há dúvida quanto à necessidade de uma Ordem dos Jornalistas ou de um Conselho Federal de Jornalismo. Mas uma instância como esta jamais deve estar atrelada a tentativas do governo de intimidar os meios de comunicação. De oposição ou não, a imprensa têm o dever de denunciar irregularidades públicas, esteja quem estiver no poder. A denúncia faz parte da característica do jornalismo. O meio de comunicação que foge a este princípio é chapa-branca, mera extensão dos poderes políticos de um ou outro figurão.

Agora, num ato digno das ditaduras militares, o Planalto envia ao Congresso um projeto de lei que proíbe – sob pena de prisão – os meios de comunicação de veicular informações obtidas através de grampos e escutas telefônicas.

Resta aos jornalistas brasileiros a alternativa de confiar nas ações dos Sindicatos de Jornalistas – os quais, deve-se destacar, têm importância fundamental na defesa dos valores da profissão. Talvez essas instituições sejam ainda as únicas vias reais e confiáveis de amparo aos profissionais de comunicação brasileiros.

Faz falta, num momento como este, uma representação enfática dos Repórteres Sem Fronteiras e dos grupos de defesa da liberdade de expressão, uma vez que – com o perdão do trocadilho alusivo a outra indigesta lei brasileira – os jornalistas estão ‘amordaçados’. Mas o governo não está mais tentando amarrar os jornalistas. Isto ele já conseguiu. Agora ele quer é jogá-los no rio.

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Jornalista, Santa Catarina