Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tom Zeller Jr.


‘‘Quer dirigir carros velozes?’, pergunta um anúncio em inglês ruim no site da web iaaca.com. ‘Quer morar em hotéis de luxo? Quer possuir lindas garotas? Isso é possível com ‘dumps’ da Zo0mer.’ Um ‘dump’ (literalmente descarregar, despejar) é um número de cartão de crédito no jargão do florescente mercado negro on-line. E o que a Zo0mer está vendendo é informação roubada de contas -nome, endereço de cobrança, telefone- de cartões Visa Gold e Mastercard, a US$ 100 (R$ 240) cada.


Não está claro se dados da processadora de pagamentos CardSystems Solutions, que divulgou na sexta-feira que 40 milhões de contas de cartões de crédito foram expostas a possível furto, entraram nesse mercado negro. Mas autoridades policiais e especialistas em segurança dizem que é quase certo que os dados acabarão sendo vendidos por sites como o iaaca.com -o nome é a abreviatura de International Association for the Advancement of Criminal Activity (Associação Internacional para o Progresso da Atividade Criminosa).


Apesar de anos de avanços na segurança e de iniciativas mais duras e coordenadas das autoridades policiais, a informação que os criminosos obtêm -números de contas bancárias e de cartões de crédito e montanhas de dados sobre consumidores- é anunciada ousadamente na internet.


O comércio na internet de números de cartões de crédito e de contas bancárias, assim como outras informações, é altamente estruturado. Há compradores, vendedores, intermediários e até indústrias de serviços.


Os ‘comerciantes’ logo obtêm títulos, classificações e reputação pela qualidade dos produtos que oferecem -o que também determina os preços.


A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos estima que aproximadamente 10 milhões de americanos por ano têm suas informações pessoais ‘saqueadas’ e utilizadas de maneira fraudulenta, o que custa aos consumidores US$ 5 bilhões e às empresas US$ 48 bilhões anuais.


Ninguém quer fazer uma estimativa de quantos números de cartões e de contas realmente entram nos leilões na internet, mas agentes policiais descrevem o mercado como ‘enorme’. Todos os dias, em sites como iaaca.com e carderportal.org, vendedores com pseudônimos fazem negócios em uma confusão de siglas.


Os ‘cobs’, ou mudanças de cobranças (‘changes of billings’), são uma mercadoria quente. Tipicamente, um vendedor de ‘cobs’ oferece novas contas de banco ou cartões de crédito, juntamente com a possibilidade de mudar o endereço de cobrança através de uma senha. Às vezes, o endereço é mudado para um local de entrega seguro (‘drop’), que pode ser um apartamento vazio ou outro endereço vigiado, onde produtos podem ser entregues.


Ladrões sofisticados


Extensos manuais de instruções publicados em fóruns on-line especializados indicam que a arte do ‘cob’ está altamente desenvolvida. Um criminoso paciente espera até o dia em que a vítima recebe a fatura. ‘Assim você terá provavelmente 30 dias’ antes que a vítima examine a conta, explica um manual obtido pelo FBI.


Um usuário com o nome de ‘mindtrip’ anunciava ‘cobs’ recentemente: ‘Estou vendendo ‘cobs’ neste momento somente dos bancos Discover e American Express, até novo aviso’. ‘Os ‘cobs’ vêm completos, incluindo o MMN [sigla em inglês para ‘nome de solteira da mãe’].’


As pessoas que compram lotes de números de contas podem tentar fazer compras on-line, mandando entregar os produtos em um local ‘seguro’ e então vendê-los em leilões on-line.


Ladrões mais sofisticados procuram um vendedor de dispositivos de codificação e outros que vendem ‘plástico’, ou cartões em branco, e ‘algos’ -algoritmos necessários para codificar adequadamente a faixa magnética e produzir um cartão utilizável.


Mark Rasch, ex-diretor de investigações cibernéticas do Departamento de Justiça dos EUA e hoje vice-presidente sênior da Solutionary, uma firma de segurança informática, disse que os números roubados do CardSystems -pelo menos 200 mil estariam em arquivos roubados- quase certamente acabarão em um desses entrepostos comerciais.


A CardSystems representava um pólo vital pelo qual passaram milhões de números de contas. A ChoicePoint, uma agregadora de dados, era outra mina de ouro. Ela anunciou, em fevereiro, que milhares de registros tinham sido extraídos de seu banco de dados por ladrões que fingiram ser clientes legítimos (sem necessidade de pirataria).


Em um site em língua russa, durante o fim de semana, um usuário chamado Lexus comemorou a quebra da CardSystems dizendo que ‘o dia do juízo final chegou para a burguesia’. Outro, Zer0, sugeriu no site que os números pirateados poderão representar novas oportunidades no submundo. ‘É uma boa ocasião para nós’, disse Zer0. ‘Boa caçada.’ Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves’



GOVERNO BUSH


O Estado de S. Paulo


‘Clinton pede fechamento de prisão ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 21/06/05


‘O ex-presidente americano Bill Clinton pediu, numa entrevista publicada ontem pelo jornal britânico Financial Times, que a prisão da base naval de Guantánamo seja ‘fechada ou limpa’. Clinton disse ao jornal que os relatos de abusos no centro de detenção para estrangeiros suspeitos de envolvimento com terrorismo ampliam o risco dos soldados americanos e britânicos no Iraque e no Afeganistão.


‘Temos de fechá-la ou limpá-la’, respondeu Clinton ao ser indagado sobre a prisão. Por ‘limpeza’, o ex-presidente defende a transparência nas práticas de interrogatório no centro de detenção e no tratamento dado aos detentos. ‘É hora de que não saiam mais de lá histórias de abusos. Se tivermos a reputação de abusar das pessoas, isso aumentará o risco de nossos soldados.’


Na defensiva, o presidente americano, George W. Bush, reagiu às novas críticas sobre Guantánamo convidando jornalistas para visitar a prisão. ‘Se vocês têm perguntas sobre Guantánamo, sugiro muito seriamente que vão até lá e constatem tudo o que se passa pessoalmente’, disse Bush a um jornalista europeu na entrevista coletiva que concedeu ontem sobre a reunião de cúpula anual entre EUA e União Européia.


Bush defendeu a necessidade de manter o centro de detenção, coincidindo com as declarações da semana passada do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, segundo as quais o fechamento da prisão está fora de cogitação enquanto a guerra contra o terror estiver em curso.


Nos últimos meses, relatos sobre tortura, más condições e profanações do Alcorão em Guantánamo têm proliferado na imprensa americana.


A voz de Clinton defendendo mudanças no tratamento dispensado aos detentos de Guantánamo soma-se à de outro ex-presidente americano, o também democrata Jimmy Carter, que no começo do mês pediu o fechamento do centro de detenção. Alguns congressistas americanos também têm exigido mudanças na prisão, localizada na base naval que os EUA mantêm em plena Ilha de Cuba.


Os cerca de 520 presos – de cerca de 40 nacionalidades diferentes – permanecem num limbo legal, detidos sem acusação formal . A administração Bush sustenta que eles não têm direito à proteção das Convenções de Genebra, mas recebem tratamento similar ao dispensado a prisioneiros de guerra. Associated Press, Reuters e France Presse’



ASSOCIATED PRESS


O Estado de S. Paulo


‘A AP busca o tempo perdido ‘, copyright O Estado de S. Paulo / International Herald Tribune , 21/06/05


‘Quando a agência americana de notícias The Associated Press promoveu uma reunião em Paris, este mês, o diretor-presidente Tom Curley enfrentou um pelotão de fuzilamento. Quatro jornalistas da AP se alternaram, submetendo o chefe a um interrogatório implacável sobre questões desde finanças até o roubo de propriedade intelectual.


O discurso de Curley foi um grito de alerta para a grande cooperativa que já tem 157 anos de idade e que está procurando aumentar sua relevância na era dos telefones celulares e notícias digitais. ‘Temos de recuperar o tempo perdido numa outra frente’, disse Curley.


‘A AP precisa criar estratégias de licenciamentos e receitas à medida que elas passam para distribuidores não tradicionais.’ As palavras dele foram gravadas em vídeo para a força de trabalho da agência, que conta com 3.700 funcionários em 242 sucursais.


A busca por leitores e clientes levaram a AP a mergulhar fundo na nova mídia e mover-se mais agressivamente além do seu saturado território nos Estados Unidos para injetar receita proveniente do exterior. Reestruturou suas operações globais, o que resultou em mais de uma dezena de aposentadorias compulsórias ou demissões de chefes de sucursais e jornalistas experientes, desde o Cairo até Paris.


A AP também ousou irritar alguns editores de jornais americanos com seu plano de cobrar pela reutilização das informações online, uma medida que poderá ser respaldada por uma unidade de vigilância para policiar o uso ilegal.


A campanha para tornar a AP mais competitiva em termos globais é realizada num momento em que os jornais da Europa Ocidental estão se confrontando com queda na circulação e reduzindo serviços noticiosos. E, nos EUA, alguns editores cautelosos estão reclamando de uma rebelião nas bases contra as novas cobranças, propondo a criação de um sistema de compartilhamento de arquivos no estilo Napster para os jornais.


‘As pessoas estão muito aborrecidas’, disse Michael Phillips, diretor-editorial do grupo E.W. Scripps, composto por 21 jornais. Phillips é co-autor de um instigante artigo divulgado pela Online Journalism Review que propõe um sistema de compartilhamento de arquivos e adverte que, com suas novas cobranças, a AP está ‘plantando as sementes da sua própria extinção’.


‘Cobre de nós uma vez, mas não é justo cobrar 2 vezes pelas notícias com as quais estamos lidando em 2 ou 3 plataformas’, disse Phillips. ‘Nosso público está se espalhando por várias mídias e nós estamos apenas acompanhando. O noticiário escrito está encolhendo enquanto o online está crescendo. A AP não está agindo como uma cooperativa.’’



RÁDIO


Laura Mattos


‘Bandnews FM usa vácuo da ‘Voz do Brasil’ contra CBN ‘, copyright Folha de S. Paulo, 22/06/05


‘Se na TV a Bandeirantes está longe de incomodar a Globo, no rádio a história é bem diferente.


Há um mês no ar, a Bandnews FM tirou da CBN -do grupo Globo- o status de única FM jornalística e, nesse novo Fla-Flu do dial, conta com ao menos três vantagens em relação à concorrente: permanece no ar durante ‘A Voz do Brasil’, anuncia seus destaques na TV e é veiculada apenas em FM, o que possibilita o uso de linguagem mais ‘jovem’.


No ar também em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio, a Bandnews é transmitida em São Paulo pelos 96,9 MHz, da antiga Sucesso. Com pagode, sertanejo e afins, foi número um no Ibope de 1996 (quando chamava-se Cidade) até 2001. No último ranking antes de ser vendida para a Band, estava em 8º lugar (a CBN, em 15º).


É numa liminar obtida pela Sucesso que a Bandnews se respalda para não levar ao ar a obrigatória ‘Voz do Brasil’. Não é o caso da CBN (90,5 MHz em SP), que retransmite o programa gerado pela Radiobrás (empresa de comunicação do governo). A Bandnews aproveita o vácuo, das 19h às 20h, para conquistar os ouvintes da CBN, principalmente com informações sobre trânsito.


Deita e rola também em dias ‘quentes’, como quando José Dirceu pediu demissão da Casa Civil. Livre da concorrente, mantém transmissões de discursos ao vivo e entrada de repórteres com as últimas informações políticas.


Outra arma da Bandnews FM é a utilização das demais mídias do grupo para anunciar sua programação. Há duas semanas, por exemplo, um programa da TV Bandeirantes divulgou debate entre governadores que seria realizado pela FM. Um outro embate entre governantes na rádio foi transmitido simultaneamente pelo canal pago de TV Bandnews.


Marcello D’Angelo, diretor-geral da Bandnews FM, afirma que há uma busca por ‘sinergia’ com os outros veículos da casa.


‘Prova disso é o fato de termos colocado o Carlos Nascimento [apresentador da TV Bandeirantes] no ar na FM das 7h às 9h, horário nobre do rádio’, diz.


Não é o caso da Globo, que resiste em inserir emissoras de rádio no chamado ‘cross media’.


Linguagem


D’Angelo encara o fato de a Bandnews não ser veiculada simultaneamente em AM, como é o caso da CBN, como uma vantagem. ‘Podemos utilizar uma linguagem própria da FM, mais arejada, dinâmica’, afirma.


Ele diz que a Bandnews utiliza um formato inovador no país, com jornais completos de 20 em 20 minutos. ‘É um conceito inspirado em uma rádio que faz muito sucesso em Nova York, a 10 10 Wins. A cada 20 minutos, um âncora diferente entra no ar.’


Segundo o diretor, é uma maneira de o ouvinte obter as principais informações do dia durante um trajeto de carro.


‘Temos pesquisas mostrando ser esse o tempo mínimo que uma pessoa permanece no veículo. Se ficar mais, não terá repetição, porque os três jornais de cada hora são diferentes.’


Ainda é cedo para dizer se a Bandnews já conseguiu ‘roubar’ ouvintes da concorrência.


Tão ágil no caso da TV -com audiência medida em tempo real, o Ibope ainda faz relatórios trimestrais para o rádio. Assim, só daqui a dois meses o mercado poderá saber como ficou a disputa após a estréia da Bandnews.


A favor da CBN pesam a tradição, a infra-estrutura das Organizações Globo e uma pesquisa que mostra resistência dos ouvintes em alterar as estações memorizadas nos aparelhos de rádio.’