Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

E as armas nucleares de Israel?

Com algumas variações, os leitores perguntam periodicamente a mesma questão: “Por que a imprensa acompanha qualquer nota ou título sobre o programa nuclear do Irã, mas nunca vemos matérias sobre o potencial das armas nucleares de Israel?”. É uma pergunta razoável, comenta o ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton [2/9/12]. Pesquisando 10 anos de jornal, ele não encontrou no Post qualquer reportagem que analisasse em profundidade a capacidade nuclear de Israel, embora o autor da coluna sobre segurança nacional, Walter Pincus, tenha muitas vezes no assunto em seus artigos e colunas.

Pexton conversou com vários especialistas nos campos nuclear e de não-proliferação, e eles dizem que a ausência de reportagens sobre as armas nucleares de Israel é real – e frustrante. Há alguns motivos óbvios para isso, e outros não tão óbvios. Em primeiro lugar, Israel recusa-se a admitir publicamente que tenha armas nucleares. Oficialmente, o governo dos EUA também não reconhece a existência desse programa. A posição oficial de Israel, repetida por Aaron Sagui, porta-voz da embaixada israelense em Washington, é de que “Israel não será o primeiro país a introduzir armas nucleares no Oriente Médio. Israel apoia um Oriente Médio livre de qualquer tipo de armamento de destruição em massa depois que a paz seja alcançada”. O uso do verbo “introduzir” é deliberadamente vago, mas os especialistas dizem que significa que Israel não irá fazer um teste nuclear nem irá declarar publicamente que tem tal armamento.

Segundo Avner Cohen, professor no Instituto de Estudos Internacionais em Monterrey, na Califórnia – e que escreveu dois livros sobre este assunto – essa questão nasceu em Israel, em meados da década de 60, por ocasião de um acordo entre a primeira-ministra Golda Meir e o presidente Richard Nixon, alcançado em 1969, quando os EUA passaram a ter certeza de que Israel possuía bombas nucleares.

O último vazamento

O presidente John Kennedy tentou, energicamente, impedir que Israel obtivesse a bomba; em menor escala, o presidente Lyndon Johnson fez o mesmo. Mas como se tratava de um acordo, nem Nixon nem os presidentes que o sucederam pressionaram Israel para divulgar oficialmente seu potencial nuclear ou assinar o Tratado de Não-Proliferação. Israel, por seu lado, concorda em manter suas armas nucleares não divulgadas e discretas.

Por não ter assinado o tratado, Israel não tem a obrigação legal de submeter sua principal usina nuclear, em Dimona, à inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês). O Irã, por seu lado, assinou o tratado e concorda com inspeções periódicas. Os inspetores da IAEA vão periodicamente ao Irã, mas o centro da atual disputa é que Teerã não permite acesso irrestrito às suas instalações nucleares. Além disso, embora Israel tenha uma imprensa agressiva, tem também censores militares que impedem a publicação de informações sobre as forças nucleares do país. A censura também se aplica a correspondentes estrangeiros.

Um outro problema, segundo Cohen, é que relativamente poucas pessoas têm um conhecimento abrangente do programa israelense e não há vazamentos. Os que participam do programa, obviamente nada divulgam; é considerado crime. Da última vez que ocorreu um vazamento, em 1986, o técnico nuclear Mordechai Vanunu foi sequestrado por agentes israelenses na Itália, levado de volta a Israel para julgamento e condenado a 18 anos de prisão, grande parte deles em solitária.

Alternativa dissuasiva

E, talvez o mais importante, os americanos também não deixam vazar informações sobre o programa nuclear israelense. Cohen diz que informações sobre o potencial nuclear de Israel são das mais sigilosas que o governo americano dispõe – muito mais sigilosas que as informações sobre o Irã, por exemplo. Pesquisadores americanos foram repreendidos por suas agências por falarem abertamente sobre o assunto.

George Perkovich, diretor do programa de políticas nucleares da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, disse que há razões benignas, e não tão benignas, para as autoridades americanas serem tão fechadas. Os EUA e Israel são aliados e amigos. “Você entrega seus amigos?”, perguntou Perkovich. E não ser aberto sobre o armamento nuclear de Israel serve aos interesses de ambos os países, acrescentou. Se Israel divulgasse publicamente informações sobre suas bombas nucleares, ou ameaçasse com seu programa de maneira irresponsável – como faz a Coreia do Norte sempre que quer alguma coisa –, estaria pressionando os países árabes a obterem sua própria bomba.

Entre as razões menos benignas para que as fontes americanas não vazem informações está o fato de que podem afetar suas carreiras. “É como todas as coisas que digam respeito a Israel e os EUA. Se você quer seguir em frente, não fala; não criticando Israel, você protege Israel. Ninguém fala sobre os assentamentos ilegais na Margem Ocidental, mas todo mundo sabe que estão ali”, diz George Perkovich.

O ombudsman acredita que muita gente não culpa Israel por ter armamento nuclear. “Se fosse filho do Holocausto, também iria querer uma alternativa dissuasiva ao aniquilamento. Mas isso não significa que a imprensa não deva escrever sobre como as armas catastróficas de Israel afetam a equação do Oriente Médio. Só por que uma matéria é difícil de fazer não significa que ela não seja feita”, conclui.