Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Plínio Bortolotti

‘Em períodos de crise, ao tempo em que os ânimos políticos se acirram, uma boa quantidade de leitores passa da simples leitura ao exame minucioso do que se publica nos jornais. Isso parece despertar uma certa ansiedade pela informação: ‘Será que já chegamos ao fundo do poço?´, ‘quem será o próximo implicado?´ – são as interrogações que surgem. Os meios de comunicação não decepcionam: inundam-se de notícias, com a avalanche de informações sobrepondo-se umas às outras, de tal maneira que a ‘pólvora pura’ hoje, amanhã pode ser apenas um traque – sem que ninguém se preocupe em dar explicações mais conclusivas. É preciso correr atrás do próximo ‘documento’ que vai revelar, finalmente, quem está na lista do ‘mensalão’. As modorrentas sessões parlamentares transformam-se em eletrizantes salas de interrogatório, CPIs nas quais se misturam políticos, empresários, lobistas, espiões, secretárias e hierarcas partidários. Tudo parece virar uma novela (ou um thriller policial) da qual se espera ansiosamente o próximo capítulo.

Assim, parece já distante o dia em que veio à luz o vídeo principiador do escândalo, no qual um ex-chefe de departamento dos Correios aparece recebendo uma propina três mil reais, que hoje parece um inocente troco, frente aos milhões que circulam em contas bancárias e malas. É claro que nesse atropelo algumas vítimas vão ficando pelo caminho, mas é o preço que se paga – os ‘efeitos colaterais’ – na guerra entre os meios de comunicação para ver quem atira, quero dizer, publica primeiro aquela informação bombástica, produzida em cima na perna por algum político.

A imprensa não pode abdicar do seu papel de informar e investigar, mas é nesses momentos que tem de se cercar de mais cuidados. Inculpar inocentes não pode ser o preço de um ‘furo´ (notícia publicada com exclusividade). Tenho escrito em meus comentários internos à Redação que a fogueira já arde o bastante, não é preciso aumentá-la artificialmente.

De quem é a crise?

O Povo vem cobrindo a crise intensivamente. No levantamento das últimas dez capas do jornal (20/7 a 29/7), oito têm manchetes sobre o escândalo que galvaniza a atenção do país. Os jornais regionais trabalham quase que exclusivamente com o material produzido por agências de notícias. O trabalho do editor é escolher o mais importante, descartar o que pareça duvidoso e avaliar o destaque a dar a cada informação. É um trabalho complexo. No caso do O Povo, o material produzido pela Redação cinge-se quase exclusivamente à ramificação da crise que atingiu o PT cearense – e o jornal o faz bem.

Tenho recebido alguns e-mails e telefonemas reclamando de uma suposta ‘tendenciosidade’ do O Povo, acusando o jornal de fazer parte de uma ‘linha editorial da imprensa brasileira’ que teria o objetivo de ‘desqualificar o PT e o governo Lula’. Mas, na verdade, é insustentável a tese de uma ‘conspiração das elites’ – o próprio PT parece ter abandonado esses argumentos.

Vejamos: o escândalo começou com a fita na qual se revelava um propinoduto que seria comando por Roberto Jefferson, do PTB, partido da base aliada do governo. O fogo espalhou-se quando Jefferson, para se defender, trouxe ao conhecimento público o famigerado ‘mensalão’, atirando contra José Dirceu, Delúbio Soares e Sílvio Pereira – todos petistas de alto de escalão, sendo que os dois últimos já confessaram malfeitos. Obviamente os adversários e inimigos do PT se aproveitam da crise, mas isso faz parte do jogo político: quem vai para a cozinha não pode reclamar do calor. Também não se pode tachar de ‘tendencioso’ quem enxerga tais obviedades.

Certamente, ninguém será ingênuo de supor que a corrupção nasceu com o PT. O problema não é apenas dessa sigla, mas de um sistema que vigora há muito tempo, do qual já se beneficiaram quase todos os partidos: PFL, PSDB, PP, PTB, PL e sabe-se lá mais quantos. A gana de ‘pegar o PT’ talvez tenha levado a oposição a cometer um erro de cálculo: achar que seria possível circunscrever a crise a determinado período. Por isso a elite política não fez o habitual: declarações formais contra a corrupção e o acordo ‘por cima’, para tudo ficar como dantes. Assim, o escândalo se alastra, arrasta cada vez mais gente para o abismo, e um possível ‘acordão’ fica cada vez mais difícil.

O indicativo de uma possível distorção – mas tudo indica que não irá acontecer pelo que se vê até agora – seria os jornais comprarem a tese do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que o ‘foco’ do problema é a situação atual, uma forma de desqualificar a revelação que o presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, também utilizou os ‘serviços’ de Marcos Valério, em 1998. As investigações têm de ir a fundo para desmontar o sistema que permite tais ilegalidades – e a imprensa tem a obrigação de se manter vigilante, equilibrada e eqüidistante.

Exageros

Também recebi críticas à manchete de capa: ‘Crise política já afeta economia’ (26/7), indicativa, para um leitor, de que o jornal teria se ‘posicionado contra o governo Lula’. Eu também considero a manchete equivocada. Não se pode afirmar que a crise ‘já’ afeta a economia. Tanto é que três dias depois (edição de 29/7), a notícia principal da pág. 27 tinha o seguinte título: ‘Economia ignora crise política’. É exagero afirmar que a crise ‘já’ afeta a economia? Sim. É exagero dizer que isso indica tomada de posição do jornal contra o governo? Sim.

Ao pé da letra

A direção da Redação resolveu transferir a coluna ‘Ao Pé da Letra’, do professor Pasquale Cipro Neto, para as edições de sábado. A coluna era publicada aos domingos e, devido a mudanças editoriais, vem sendo publicada às segundas-feiras. Vários leitores com assinatura ‘ligth’ (recebem o jornal aos sábados e domingos), sentiram-se prejudicados; reclamaram com o ombudsman – e têm agora a demanda atendida. Devido a questões operacionais, a mudança ocorrerá a partir da edição de 6 de agosto.

No olhar

Por sugestão de um leitor, o portal No Olhar passou a publicar tabelas do campeonato cearense de futebol da segunda divisão. Há resultado de jogos, classificação, artilheiros, entre outras informações. O endereço é: (www.noolhar.com/esportes/futebol/497372.html).’