Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Câncer derrota âncora da ABC

Morreu no domingo (7/8) o jornalista americano Peter Jennings, âncora da rede de televisão ABC. Ele tinha 67 anos e vivia em Nova York. A causa da morte foi câncer de pulmão. Jennings revelou publicamente a doença no início de abril deste ano, em um comunicado no World News Tonight, noticiário que comandava desde 1983.

Orgulhoso de raramente ter precisado faltar ao trabalho nos últimos 40 anos, Jennings sofreu com o afastamento do posto de âncora, afirma Jacques Steinberg [The New York Times, 8/8/05]. O tratamento a que foi submetido, entretanto, não o permitia voltar às suas atividades. Em uma carta postada no sítio de internet da ABC em 29/4, Jennings contava como o tratamento para o câncer havia se mostrado pior do que ele esperava. ‘Ontem, eu decidi ir ao escritório. Moro a apenas alguns quarteirões. Mal consegui chegar à porta. A quimioterapia golpeia’, escreveu ele. Nestes meses recentes, Jennings foi substituído por alguns jornalistas – entre eles Charles Gibson, que ontem anunciou a morte do âncora em um comunicado especial.

Fim de uma era

Jennings foi um dos mais importantes jornalistas da televisão dos EUA. Junto com Tom Brokaw, da NBC, e Dan Rather, da CBS, ele formou a base do telejornalismo americano na década de 1980. A saída de Brokaw de seu posto, em dezembro do ano passado, seguida pela aposentadoria de Rather e, agora, pela morte de Jennings representa o fim de uma era. Por mais de duas décadas, a magnitude de uma notícia podia ser medida, em parte, pela presença dos três âncoras no local do fato. Logo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, Jennings ancorou a programação noticiosa da ABC por mais de 60 horas. A longa e completa cobertura lhe rendeu elogios e prêmios. Na ocasião, a revista TV Guide o chamou de ‘centro de gravidade’.

No topo de sua popularidade televisiva, no início da década de 1990, Jennings abocanhava uma audiência de 14 milhões de pessoas por noite, segundo dados do Nielsen Media Research. Mesmo com a recente queda do sucesso dos noticiários na TV aberta – em razão da competição com a internet e com os canais de notícias a cabo –, os três âncoras conseguiram obter, juntos, uma audiência de 25 milhões de telespectadores por noite no ano passado. E ainda que a idade de seu público tivesse aumentado – segundo o Nielsen, a média era de 60 anos nos últimos meses –, anunciantes gastavam US$ 100 milhões anualmente em cada um dos três programas.

Tom Bettag, que competiu com Jennings como produtor-executivo do CBS Evening News with Dan Rather e depois tornou-se seu colega de trabalho em Nightline, disse que ‘ele era um homem que chegou à cadeira de âncora completamente preparado para o trabalho, depois de anos e anos de reportagem de campo, o que é precioso’. Bettag ressaltou que Jennings conseguiu estabelecer um nível de confiança tão alto com os telespectadores que seria difícil de ser copiado. O âncora dizia que, como não teve educação formal no jornalismo, a ABC foi sua educação.

Talento precoce

Mas seu aprendizado na profissão começou bem antes e foi, no mínimo, curioso. Jennings nasceu em 1938 em Toronto, no Canadá. Seu pai, Peter Charles Jennings, era um executivo sênior da rede pública de TV e rádio Canadian Broadcasting Corporation. Desde pequeno, Jennings tinha sua capacidade de observação testada e instigada pelo pai, que o submetia a exercícios como observar e descrever o céu em detalhes.

Aos nove anos de idade, ele tinha seu próprio programa no rádio canadense, Peter’s Program. Aos 20, apresentava um programa de dança chamado Club Thirteen. Com 24 anos, foi nomeado co-âncora do noticiário nacional da CTV, rival da emissora de seu pai. Dois anos depois, mudou-se para os EUA e começou a trabalhar como correspondente para a ABC. Em pouco tempo foi nomeado âncora do Peter Jennings With the News, um noticiário com duração de 15 minutos. Muito jovem, largou o posto três anos depois para se dedicar ao cargo de correspondente internacional na rede. Por dez anos, viajou exaustivamente e cobriu os principais eventos mundiais. Esteve no Vietnã, nas Olimpíadas de 1972 em Munique, quando atletas israelenses foram mantidos reféns e mortos por um grupo palestino, e em Beirute, onde inaugurou a primeira sucursal da ABC no Mundo Árabe.

Em 1978, voltou à cadeira de âncora, desta vez em conjunto com Frank Reynolds e Max Robinson no World News Tonight. Jennings era o âncora estrangeiro e reportava de Londres. Semanas após a morte de Reynolds, em 1983, ele foi nomeado o único âncora e editor sênior da rede, títulos que manteve até sua morte. Com informações de Cal Mankowski [Reuters, 8/8/05].