Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Álcool demais

Na quarta-feira, dia 3, nossos jornais, nossas rádios, nossas TVs informavam que a compra da AmBev pela Interbrew criava a segunda cervejaria do mundo.

No dia 4, nossos jornais, nossas rádios, nossas TVs informavam que a compra da AmBev pela Interbrew criava a maior cervejaria do mundo.

No texto das reportagens, falava-se em fusão. Nas colunas (em que o responsável tem de assinar o nome), falava-se em compra. Bem, se os belgas têm 53% das ações com direito a voto, têm o controle – compraram, pois. E é dos belgas a opção para comprar as ações dos minoritários, o que pode levá-los a 85% do capital votante.

No dia 3, o empresário Vittorio de Marchi, da AmBev, informava que a sede da nova empresa ficaria em São Paulo.

No dia 4, a imprensa informava que a sede da nova empresa ficaria na Bélgica.

Em 2000, Marcel Telles, da AmBev, informava que a jovem empresa assumia o compromisso de não vender o controle a estrangeiros durante dez anos.

Aprendam, colegas jornalistas: 2004 menos 2000 é igual a dez.



Português…

Atenção: ‘jovial’ não tem nada a ver com idade. Significa ‘alegre’; ‘engraçado’. ‘Jovem’ é outra coisa.

A propósito, alguém ‘o’ ajuda. Alguém ‘lhe’ ajuda pode ser usado em linguagem regional (é tipicamente nordestino). Mas, aí, é preciso ter um pouco de sotaque. Sem sotaque, deixa de ser regionalismo e passar a ser erro.

Gente, o que se erra em regência de verbos! Um bom dicionário de regência ajuda muito (os manuais de Redação, se o pessoal que comete esses erros os lesse, também ajudariam).

Segundo um jornal, a Polícia jogou ‘gás lacrimejante’ nos manifestantes. Seria o gás tão chorão como a notícia nos informa, ou estaria o jornal se referindo a gás lacrimogêneo?



…para brasileiros

Uma empresária e professora de línguas de São Paulo acaba de criar um novo curso: Português para Brasileiros. Seu público-alvo é formado por empresários que ascenderam socialmente mas que, na época de estudantes, não chegaram a se esforçar muito para aprender (e agora pode pegar mal falar errado, ou soltar memorandos cheios de erros). O curso está indo bem, obrigado, e se alguém se interessar é só pedir a este colunista que receberá o endereço. Mas, considerando-se as notas acima, não seria o caso de sugerir um curso de Português para Jornalistas Brasileiros?



Luxo para todos

A notícia saiu meio seca: o deputado federal Robson Tuma estacionou seu carro na área reservada a deficientes. Foi advertido, brigou com o segurança etc. etc. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas pela notícia ficamos sabendo que Sua Excelência dirigia um Mercedes-Benz (a notícia, lamentavelmente, não informava o ano do carro). Mas este colunista, chato e mal-humorado, gostaria de mais informações: como é possível, com o salário de deputado, sendo um dos três filhos de um funcionário público exemplar, ter um Mercedes. Valeria um box extra, bem ao lado da notícia, tratando da acessibilidade do luxo.



Como é mesmo?

Deu no jornal: como parte das notícias positivas geradas para abafar o caso Waldomiro, o Governo Federal liberou verbas para a duplicação da Rodovia Fernão Dias. O texto esclarece que a rodovia será inteiramente duplicada, com exceção do trecho entre Miracatu e Juquitiba.

Dois problemas:

1. A Fernão Dias já está duplicada. O que é preciso é iniciar com urgência um trabalho de manutenção, para que a estrada – que liga São Paulo a Minas, as duas maiores economias do país – não fique na triste situação de esburacamento em que se encontra;

2. O trecho entre Miracatu e Juquitiba não será duplicado porque, entre outros motivos, a Fernão Dias não passa por lá. Aliás, não passa nem perto. Aliás, é do outro lado.



Brindes, sim ou não

Há um interessante duelo público no endereço eletrônico no portal Comunique-se (www.comuniquese.com.br) entre uma assessora de imprensa e o redator de uma rádio. A assessora mandou uma pauta para o veículo, divulgando produtos de seu cliente, e foi informada de que, se não mandasse os produtos de presente para a Redação, a notícia não sairia.

À primeira vista, a assessora tem razão: ninguém deve exigir nada para divulgar notícias que interessem a seu público. Mas é preciso balancear bem as coisas: eventualmente, é preciso enviar o produto para as redações, para avaliação. Não em quantidade que configure suborno, mas que seja suficiente para experimentá-lo. Imagine que uma empresa queira divulgar o novo bolo de fubá que está lançando no mercado. Não há mal algum em mandar bolos para as redações. Não é aí que se configura o jabá.

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Jornalista, e-mail (carlos@brickmann.com.br)