Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

José Castello

‘Os primeiros versos, mesclando crítica ácida e delicada ironia, já definem uma estética: ‘Ergui pra mim, mais alto/ que o Empire State Building, menos/ biodegradável mesmo/ que o urânio, um monumento.’ Contra tal imagem eloqüente do poeta, herói acomodado sobre um pedestal de glória, Nelson Ascher pratica uma poesia que se deixa contagiar pelo mundo e que se interessa, sobretudo, por suas incertezas, baixezas e imprecisões.

A definição vem armada em versos: ‘O que é, o que é/ que edípico e antropófago/ bolina e morde, morde e/ bolina a própria língua/ materna até que doa/ com gosto?’ É a poesia, que, nas mãos de Ascher, se torna um instrumento inconstante, de que se deve mais desconfiar que glorificar. E que, desinteressada pelas boas idéias e palavras edificantes, não pretende livrar o homem do que ele carrega de pior. ‘Todos os trilhos/ vão dar no matadouro’, o poeta avisa, sem ilusões.

Poeta maduro, ao se comparar aos jovens que o sucedem Ascher termina por reduzir as diferenças entre eles a um fato prosaico e intransponível: o lugar que cada um ocupa na cronologia. ‘Eles escrevem (elas/ também) e têm metade/ da minha idade escrevem/ não sei se muito bem/ tampouco escrevo bem/ (eu sei) mas tenho o dobro/ da idade que eles têm.’ Não há medida que defina o fazer poético; quando se insiste nisso, se topa sempre com as repetições, que emergem da vida e da carne. Já dizia o velho: o corpo é o destino.

Ascher é um poeta que não se envergonha de se declarar ‘viciado’ nas palavras. Tal obsessão lhe confere a liberdade de experimentá-las como bem entende, em todos os sabores e estilos, sem a submissão a códigos, cânones, ou escolas. Por exemplo, escrevendo uma elegia – ‘elegiazinha’, como a chama – e nesse caso a musa do poeta é o gato. ‘Gatos não morrem: sua fictícia/ morte não passa de uma forma/ mais refinada de preguiça’, diz. ‘Gatos não morrem: rumo a um nível/ mais alto é que eles, galho a galho/ sobem numa árvore invisível.’

Dos gatos, Ascher pula, sem intermediações, para o atentado de 11 de setembro em Nova York, tragédia que lhe rende um poema, Mil Palavras, no qual constata – através das palavras – a inutilidade das palavras. Ou, pelo menos, sua flagrante inferioridade em relação ao real. ‘Parece que uma imagem/ (digamos, um avião/ rumo a um arranha-céu)/ vale por mil palavras’, ele escreve. Isso o conduz à constatação dolorosa, e antipoética, de que, quanto mais vê, menos tem a dizer e a escrever. Diante do real, a poesia quase nada é.

Poeta que, menos que agente, ou autor, se vê como vítima da poesia. ‘Como é que vim parar/ aqui quero dizer/ no meio da poesia/ quero dizer no meio/ agora deste poema’, ele se pergunta, com fraqueza. Sem saber exatamente onde está, sem saber para onde foi arrastado pela torrente de palavras, o poeta se limita a constatar uma dor de cabeça que não o abandona. Dor que, silenciosa, parece mais forte do que toda palavra brilhante.

Mesmo assim, passivo, trancafiado na palavra, o poeta reconhece que não lhe é permitido escrever qualquer coisa, ‘pois no vale/ tudo nada/ vale a pena’. É essa a questão que se oferece aos poetas de hoje e que Nelson Ascher, com seu Parte Alguma, se empenha corajosamente em enfrentar, ainda que sem conseguir chegar a uma resposta: o valor da poesia. Ele não se ilude com os partidários da novidade, até porque ‘quem chama algo de novo,/ se olha direito, vê/ que vem do tempo do onça’. Não se deixa envolver por miragens, a poesia vale muito pouco.

Até porque chegar a si – estar em seu próprio País, como Ascher diz – é o mais difícil. ‘Estar em meu País/ é deduzir num golpe/ de vista quem é o quê,/ se gay ou se opus dei’, ele escreve. Estar em casa não passa pelo reconhecimento, ou pela nomeação: ‘Estar em meu País/ é ser, desde o primário,/ íntimo de alguém antes/ de ser-lhe apresentado.’ Chegar a si é algo que se passa, a rigor, em um momento anterior às palavras e à própria poesia. Iludem-se então os poetas que julgam encontrar-se em seus versos; na verdade, ali eles apenas se perdem.

Por isso mesmo, Nelson Ascher não deixa de lado o humor, instrumento que pode ser a garantia de alguma lucidez. Por exemplo, no capítulo dedicado a inspirados epigramas e epitáfios. O poeta dá, em um dos poemas, a fórmula: ‘Fazer um epigrama não demora:/ compõe-se um Mahabharata e se joga,/ salvo as últimas linhas, tudo fora.’ A dubiedade das palavras, sua matéria escorregadia, é sempre lembrada por Ascher, que as vê, em particular, na figura feminina. ‘Mulheres se lançam usando/ seu não, não que, enfim, se degrada/ num sim, sim, porém, dito quando/ ninguém lhes pergunta mais nada.’

Há um pessimismo, um sentimento de descrédito, a percorrer seus poemas, sempre presididos, basicamente, pelo sentimento de desilusão. Em um intrigante poema sobre os princípios fundamentais do humanismo, Ascher se permite escrever: ‘Há liberdade, mas não tente/ sequer pôr em questão a crença/ no Estado; igualdade é somente/ pensar o que o vizinho pensa;/ fraternidade é ter em mente/ que nunca se mente na imprensa/ local.’ Mesmo o mais livre dos homens – dos poetas – é um prisioneiro.

Por fim, há uma seqüência de poemas que fazem um passeio pela Itália, Veneza, Milão, Verona, Amalfi. A que se segue um pequeno conjunto de poemas mais duros, entre eles alguns sonetos, em que Nelson Ascher exercita os lados mais antigos de seu estilo pluralista. Poemas que não chegam a despertar a simpatia do leitor, já que os sentimentos em jogo são outros, bem menos comportados. ‘Quero também que este soneto/ seja maçante, que o leitor sinta-o no estômago, no peito,/ no cérebro que nem torpor/ e o aprenda a contragosto, feito/ qualquer canção ruim, de cor.’

É uma espécie de maldição bem-humorada, que pode ser tomada também como um desafio para aqueles que, cheios de si e de seu papel de poetas, se esquecem da fragilidade, da imensa delicadeza do instrumento que têm nas mãos.

José Castello é escritor e jornalista, autor de Fantasma e Inventário das Sombras’



CONCEITO DE TECNOLOGIA
Gilberto Felisberto Vasconcellos

‘O computador e o analfabeto’, copyright Folha de S. Paulo, 21/08/05

‘‘O Conceito de Tecnologia’, sem sombra de exagero, – monumental não por ser copioso em número de páginas – é o maior acontecimento editorial brasileiro das últimas décadas, porque versa com engenho e estilo a respeito de uma coisa que pouquíssima gente sabe: tecnologia.

Karl Marx intentou escrever uma história crítica da tecnologia, só que não teve tempo de fazê-lo. Darcy Ribeiro deixou alguma coisa em seu ‘O Processo Civilizatório’ (Cia. das Letras), porém quem abordou a questão da tecnológica do ponto de vista filosófico foi Álvaro Vieira Pinto, uma das mais iluminadas inteligências do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), fundado em 1955 e extinto em 1964, que denunciou o mata-borrão de estrelas e medalhões estrangeiros: ‘Fulano de tal representa Derrida, sicrano vai de Wittgenstein, aquele outro responde por Adorno’; todavia é difícil encontrar alguém pensando com a sua própria cabeça, sozinho ou acompanhado. ‘No país subdesenvolvido, o filósofo, como só registra o que foi pensado e dito nos centros metropolitanos, pode ser chamado de tabelião das idéias. A cultura, em conjunto, constitui o cartório dos acontecimentos alheios.’

A pergunta foi por ele colocada: o que significa ser filósofo num país pobre e carente de soberania nacional? ‘No mundo subdesenvolvido e na maior extensão analfabeto, o filósofo, para pensar autenticamente a realidade, precisa ser analfabeto.’ O paradoxo de um filósofo ‘analfabeto alfabetizado’ não é provocação da parte de um autor que leu tantos livros quanto Hegel ou Mallarmé.

O editor César Benjamin teve a sorte de encontrar as 1.400 páginas datilografadas no Rio de Janeiro. Essas páginas inéditas poderiam ter sido perdidas, e o fato de serem editadas em livro agora é motivo de júbilo para os leitores. Depois da publicação deste livro a cultura brasileira tem de ser repensada em sua totalidade material e espiritual. As reflexões de Álvaro Vieira Pinto sobre a tecnologia, a técnica e a cibernética têm alcance universal. Ele rompe o preconceito de que a filosofia em sua essência é grega e que somente a Europa tem acesso à visão universal do pensamento filosófico.

O autor não demoniza a tecnologia, a ‘ciência da técnica’, como um dispositivo anti-humanista e anti-espiritual, tampouco embarca na mistificação, tão assídua nos dias de hoje, de achar que o computador seja o motor da história, que a técnica ou cibernética decida o destino da humanidade, como se houvesse um juízo final dirigido pelos computadores de Bill Gates.

Ideologia

Hegeliano-marxista, Álvaro Vieira Pinto acredita que a técnica é mediação, e que o homem é o verdadeiro autor de seu destino, e não a tecnologia. Ele nega que estaríamos atualmente vivendo numa prodigiosa ‘era tecnológica’, isso simplesmente porque toda época possui a tecnologia a que pode ter acesso. Esse deslumbramento traz embutida a falsa idéia de que a história é um produto da técnica; trata-se de uma ideologia das nações metropolitanas e imperialistas para deixar embasbacada a periferia do mundo, conforme se observa nos filmes norte-americanos das últimas décadas em que o computador é invariavelmente o principal protagonista dos enredos.

Merece destaque a reflexão sobre a clivagem entre metrópole e colônia, principalmente porque ela desapareceu do mapa mental contemporâneo. Ainda que exerça um raio de ação cada vez mais devastador e abrangente, o imperialismo paradoxalmente tornou-se invisível e inabordável. Acredita-se piamente que é a falta de técnica a causa da fome, de modo que chegou o momento de dar técnica a quem passa fome.

A alienação que traz o pacote tecnológico externo é completada pelo investimento do capital estrangeiro. A transferência de tecnologia é um engano, assim como a importação de tecnologia não leva ao desenvolvimento. ‘Tão importante quanto elaborar a teoria do atraso do povo pobre é elaborar a da superioridade das nações metropolitanas’, escreveu profeticamente Vieira Pinto.

Gilberto Felisberto Vasconcellos é professor de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora e autor de ‘A Salvação da Lavoura’ (Casa Amarela).

O Conceito de Tecnologia

532 págs. (vol. 1) e 796 págs. (vol. 2), R$ 60 (cada) de Álvaro Vieira Pinto. Ed. Contraponto (av. Franklin Roosevelt, 23, sala 1.405, CEP 20021-120, Centro, Rio de Janeiro, RJ, tel. 0/xx/21/2544-0206).’



MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro

‘Viva a concorrência!’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 17/08/05

‘O telejornalismo brasileiro voltou a ser sacudido por novos e bons ventos, com a estréia, nesta última segunda-feira (15/08), de Ana Paula Padrão no SBT Brasil. Ao lado dela, suaram frio, emudeceram, vibraram e choraram, ao final da primeira apresentação, as cerca de sessenta pessoas que para lá foram deixando (muitas delas) bons empregos para se associar a uma experiência até certo ponto de risco, dado o histórico do apresentador-empresário Sílvio Santos, cujo temperamento é de todos conhecido. Mas é inegável que essa é uma concorrência saudável e o saldo, ao menos pelo que se viu até agora, muito positivo.

Está aí o Jornal da Band, com Carlos Nascimento à frente e os Fernandos (Mitre e Vieira de Mello Filho) na retaguarda, reagindo, disposto a vender caro os difíceis pontos obtidos no Ibope nesses últimos meses. Que se cocem também as outras emissoras, as quais, se bobearem, vão realmente ‘contribuir’ com preciosos pontinhos para o bom telejornal que Ana Paula Padrão, Luiz Gonzaga Mineiro e cia criaram para o SBT. A Band, que não é boba nem nada, já mexeu no visual do seu principal jornal, turbinou o editorial e fez uma parceria das mais felizes e estratégicas com a BBC Brasil, com direito a usar, sem limites, todo o noticiário gerado pelo serviço brasileiro da emissora britânica (e também os demais) nos seus telejornais.

Vejam bem, estamos simplesmente falando de uma das maiores e mais bem sucedidas empresas de comunicação do mundo, que tem a maior rede de correspondentes de tevê e rádio do planeta, com mais de 250 profissionais e cerca de 50 sucursais. Não é pouco sobretudo se considerarmos que toda a equipe brasileria da BBC Brasil, que não é pequena, funcionará como extensão da Band nos cinco continentes.

Com tanto barulho, não chegaram a causar espécie os rumores de que também a Record estaria disposta a entrar de forma ainda mais ousada nesta briga, levando ninguém menos que o casal William Bonner e Fátima Bernardes para suas hostes – informação depois desmentida pela Globo e pelo próprio Bonner.

O ganho, nesse caso, não é só para o mercado profissional, mas também para o próprio jornalismo, que se vê desafiado a melhorar em qualidade, a ser ousado, a investir em equipe, em reportagem, em tecnologia.

No rastro dessa briga, surge agora a Cultura, de São Paulo, que acaba de anunciar o nome de seu novo diretor de Jornalismo, Pola Galé, atual secretário de Redação, que vai assumir interinamente também a Direção, substituindo Marco Antonio Coelho Filho, agora em cargo novo – diretor de Expansão. Galé recebeu do presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça, a expressa orientação de continuar a priorizar o chamado Jornalismo Público e também carta branca para criar dois novos jornalísticos diários, um telejornal que será alojado no final da grade noturna da programação, e um programa de debates, para abrir a programação vespertina, bem no começo da tarde.

E a Globo? Obviamente que a emissora da Vênus Platinada continua a reinar absoluta, mas é ela, sem dúvida alguma, o alvo principal. É de lá que podem sair – mais do que dos outros – os preciosos pontos do Ibope, até porque é ela quem lidera a audiência, com índices elevados. Foi lá que Band e Record foram beber para reforçar os respectivos telejornalismo, contratando figuras como Ana Paula Padrão, Carlos Nascimento e cia. E é lá certamente que também vai querer beber o bispo Edir Macedo, no caso de se abalar a reforçar efetivamente o jornalismo da Record.

Está, como se vê, muito interessante essa corrida pelo Ibope, pela informação, pelo melhor jornalismo, pelas melhores posições e, é claro, pelos melhores salários. Mas não é só na tevê que os bons ventos sopram. De São Paulo, pois, vamos ao Rio de Janeiro, que está iniciando um movimento parecido, porém na mídia impressa.

Nota dada em primeira mão pela edição impressa deste Jornalistas&Cia, na semana passada, informava que a empresária Ariane Carvalho – uma das herdeiras de Ari Carvalho, de O Dia – vai lançar ainda este ano um tablóide diário de nome provisório Que Notícia. Para o mercado carioca, não podia haver notícia melhor, visto que, após anos de reveses, finalmente chega uma boa notícia, na forma de investimento novo, e, o que é melhor, num jornal diário.

Dos R$ 5 milhões previstos para iniciar o projeto, R$ 1 milhão estão disponíveis e um fundo de investimentos está captando o restante, conforme informou Cristina Vaz de Carvalho, correspondente do informativo no Rio. Além de Ariane, há mais três sócios no empreendimento: a Mídia 1 Comunicação, consultoria de mídia do publicitário Antônio Jorge Pinheiro (ex-Rebouças & Associados), Paula Fernandes, que assume como diretora de Redação, e a empresa Foco Investimentos, de Pedro Arthur Pedras.

No comando da área editorial, como segundos de Paula, estão Laerte Rímoli, editor executivo de Conteúdo, e Teresa Karabtchevsky, editora executiva de Produção. Anabela Paiva e Liana Melo são editoras confirmadas. Marcelo Tabach responde pela Fotografia e tem na equipe Marcos André. O jornal terá todas as editorias convencionais e alguns responsáveis já foram definidos, mas só serão anunciados após se desligarem das funções atuais.

Com textos curtos, seguirá o modelo de jornal para ser lido em 20 minutos. Haverá versão online, como na maioria dos veículos, mas promete inovar fazendo uma conexão com a Rádio MPB FM, também pertencente a Ariane. Terá colunistas, cronistas, e pretende atrair para o papel blogueiros bem sucedidos na Web. Andréa Veiga, do programa Tô ligado, da Rádio Nativa FM, fará uma coluna semanal sobre crianças. Ela é autora do livro Mãe na Linha (em parceria com Cláudia Rodrigues), publicado em 2003 pela Editora Globo. A coluna, dirigida à família, pretende atingir não apenas as mães, mas também os pais e os filhos.

O prazo para o lançamento vai até o final do ano, mas a equipe trabalha para ter tudo pronto em outubro. Antes disso, procura novo endereço para a redação, no mesmo bairro.

Ao novo jornal – assim como para a Ana Paula Padrão e para o Carlos Nascimento (e respectivas equipes) – os votos de muita ‘saúde’ e vida longa.

E viva a concorrência!’



Comunique-se

‘Érika Palomino quer se dedicar agora ao seu projeto de vida’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/08/05

‘A jornalista Érika Palomino, que deixou a Folha de S. Paulo depois de mais de 17 anos de casa, comentou com o Comunique-se sua saída do jornal. Segundo ela, a despedida deve-se ao seu ‘projeto de vida’, House of Erik!a Palomino.

Para quem não sabe, House of Erik!a Palomino é um núcleo de comunicação instalado num galpão na Vila Madalena (rua Mourato Coelho, 790), onde funciona a redação do site www.erikapalomino.com.br, cujo editor é Sergio Amaral.

Dali, o departamento de Conteúdo (dirigido por Jackson Araujo, antes o editor) passará a produzir revistas, catálogos, folders, livros, sites, editoriais de moda, exposições e tudo o mais, incluindo trabalhos de pesquisa e consultoria, uma grande demanda do mercado, especialmente na área em que atuam. ‘Já temos três livros em produção. O novo departamento de Projetos Especiais é dirigido por André Hidalgo, que passa a integrar esta brava equipe. Outra sensacional aquisição é Francisco Navarrete, que assume como Diretor Comercial e Administrativo, e já arrasando’.

Érika conta que o grande xodó do projeto é a galeria que abre o galpão, com 185 metros quadrados. ‘Aqui vamos receber exposições de arte, moda, grafiti; vamos fazer performances e pocket-shows. O Sabadão Fashion, uma vez ao mês, vai convidar uma pessoa da moda para pirar e criar performances absurdas. No Sunday Jam, uma vez por mês, uma personalidade da música vem fazer alguma coisa bem lá em casa, entre almofadas e incenso. Tipo avonts. E muito, muito mais: festas, festas e mais festas. E como a galeria se pretende multimídia, muitas loucurinhas devem acontecer’. O espaço todo vai ficar aberto ao público, como um centro cultural, sete dias na semana.

No final do ano ou início do ano, será lançada uma revista de tendências, para sair apenas duas ou quatro vezes ao ano, periodicidade ainda indefinida. Nela virão as análises das temporadas nacionais e internacionais, sempre sob a ótica relevante ao mercado brasileiro.

A carreira na Folha de S. Paulo

Ela lembrou que entrou na Folha aos 20 anos de idade, através de concurso. Lá começou como redatora da Ilustrada, em 1988. Trabalhou como crítica de dança até 1992, quando passou a se dedicar à coluna Noite Ilustrada. Também foi editora-assistente do Folhateen, projeto implantado por ela ao lado de André Forastieri, e do Rede Folha e da Ilustrada.

Em 2000, criou o primeiro caderno de moda da Folha, chamado Moda, que se transformou, em 2002, na revista Moda.

‘Entrevistei muita gente, conheci mais gente ainda, vivi minha juventude e alguns de meus melhores anos dentro da empresa. Acho que fiz minha parte. Os tempos agora são outros: para o jornal e para mim’, disse.

Segundo Érika, o site abriu portas ‘inimagináveis’. ‘Me tornei uma empresária, emprego um número de pessoas que às vezes me dá medo e tenho cada vez menos tempo. Tudo isso para chegar neste momento: o de solicitar meu desligamento do jornal. Claro, deixo coisas para trás, mas vejo um novo horizonte diante de mim, o que me excita e me desafia. Sinto-me desapegada e tranqüila, feliz e realizada’.

Érika continuará colaborando com a Folha nas coberturas de moda sempre que solicitada. A sua última coluna no diário será publicada dia 26/08, quando volta de férias e dá início à nova fase de sua vida.’



DOs ELETRÔNICOS
Francisco Luz

‘Diários oficiais eletrônicos devem ser gratuitos’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/08/05

‘Os poderes públicos fazem a publicação obrigatória dos seus atos em veículos apropriados à comunicação burocrática, elaborados nas imprensas oficiais. Na União e nos Estados circulam os diários oficiais (Executivo), da justiça (Judiciário), e legislativos. Não têm opinião editorial, guardam o padrão tablóide e dispensam, por óbvio, atrativos gráficos elaborados.

Clientes até a Constituição de 1988 dos D.O. publicados nas capitais sob os auspícios das gráficas estatais, dezenas, talvez centenas de municípios brasileiros migraram suas publicações para jornais próprios, por complacência das suas leis orgânicas. Assim, não se sabe quantos D.O. existem por este Brasil afora.

Para quem não tem intimidade com estes periódicos, esclareçamos que seu conteúdo se distribui mais ou menos desta maneira:

União e Estados publicam leis, decretos, regulamentos etc, expedientes das secretarias de estado, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, sínteses dos processos licitatórios e outros.

O Judiciário oficializa os seus atos administrativos e os expedientes de secretarias e cartórios sobre tramitações processuais em geral, decisões, sentenças etc. Justiças federal, estadual e do trabalho têm em cada estado o seu jornal próprio, sendo poucos os que as mantêm reunidas num só título.

Quanto ao Legislativo, dá conhecimento também dos seus atos administrativos e atas integrais das sessões plenárias. Os municípios divulgam os expedientes executivos e legislativos.

Modestas gráficas montadas para edição de diários oficiais no começo da República agigantaram-se em tecnologia no correr do tempo, tornando-se fornecedoras monopolizantes dos papéis e formulários do serviço público, incentivadoras de edições de obras literárias e doutros empreendimentos de editoração.

Diários oficiais impressos têm suas tiragens vinculadas ao número de assinantes, sendo insignificante a venda avulsa. Quem quiser inteirar-se documentalmente do que ocorre nos poderes públicos obriga-se a adquirir os exemplares.

Como estes jornais cobram pela inserção obrigatória de todas as matérias do interesse da iniciativa privada (editais e atas de s.a.) e a própria administração pública subvenciona total ou parcialmente os custos de edição nas I.O., seria razoável que tivessem melhor divulgação, em repartições de governo e pontos de concentração do povo.

As folhas oficiais dos três poderes nos Estados também estão presentes no meio eletrônico, de forma individualizada, como leque da publicidade das suas editoras: algumas, imponentes portais; outras, modestas páginas. Não há uma política uniforme para acesso ao seu conteúdo. Uns são gratuitos e outros, pagos.

Para abrir discussão sobre inexplicáveis distâncias que às vezes os poderes públicos impõem aos cidadãos, tomo como exemplo o que ocorre no Ceará.

São de acesso integral e gratuito os D.O. do Poder Executivo, Legislativo, Diário da Justiça Federal e Diário da Justiça do Trabalho. Mas o Diário do Tribunal de Justiça é pago na variável de R$ 1,00 por acesso (até 100) a R$ 0,68 no limite de 401 a 500 acessos.

Todos os atos e expedientes formalizados pelos poderes públicos devem ser abertos ao conhecimento e exame do cidadão, em consagração ao princípio constitucional da publicidade.

Hermeneutas podem até apontar exceções. Entretanto, se a informação não pode nem deve ser negada, também não seria ético instituições públicas venderem assinaturas eletrônicas de jornais, que a sua pesada e integral manutenção já se faz por via do orçamento público, sem aludir às incômodas custas judiciais.

Precisa o poder público redimir-se destas omissões, consolidando o acesso a custo zero de todos os diários dos três poderes, no Brasil, através de linques, por exemplo, do portal Interlegis.’