Os editores do Jornal Nacional (Rede Globo) na quinta-feira (26/1) não vacilaram: os 250 anos de nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart, que se comemoravam no dia seguinte, valiam algo ousado. E no fechamento da edição sapecaram uma versão do célebre ‘Pequeno sarau musical’ sob a batuta de Isaac Karabchevsky com a Orquestra Petrobras e… uma bateria de escola de samba. Puristas tiveram chiliques, mas só assim Mozart pôde entrar em pleno verão no país do Carnaval.
Já os comissários de cultura do jornal co-irmão (um dos três considerados de ‘referência nacional’ e cujos fundadores, os irmãos Roberto, Rogério e Ricardo Marinho, foram grandes melómanos), torceram o nariz. Decidiram que o leitor do Globo, sobretudo o carioca, não precisa saber dessas coisas.
Nem uma linha nas edições do jornal do fim de semana anterior (22 e 23/1), no dia do niver (27/1) e nos dias seguintes (28 e 29/1). O Globo decidiu que Mozart não é gente boa. As tatuagens do Posto 9, o show dos Rolling Stones dentro de duas semanas e um livro sobre Proust que sequer saiu no Brasil são mais importantes para a cidade que já foi capital da música erudita do Brasil.
Rembrandt Hermans van Rijn (1606-1669)
O problema do Rio não é o narcotráfico, nem as milícias da periferia comandadas por policiais da ativa. A degradação de uma cidade nota-se quando a sua elite abre mão de ser elite.
Quem salvou The Globe foi a excelente entrevista telefônica com Woody Allen (domingo, 29/1, capa do ‘Segundo Caderno’), que na última linha lembrou Rembrandt.
Woody Allen, o boa-praça, sabe das coisas: neste ano comemoram-se os 400 anos de nascimento do pintor holandês que, com a sua luz, até hoje inspira fotógrafos e cineastas.
Efeméride não ofende.