As Organizações Globo anunciaram nesta semana [passada] mudanças em sua governança corporativa, destacando três novas “regras de gestão” definidas pelos acionistas: a família Marinho permanece no controle; ações com direito a voto passarão de pai para filho; e acionistas que queiram participar da gestão deverão ter formação profissional para a função.
Em comunicado, o presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, acrescenta que seguirá “acumulando a presidência do Conselho com a presidência-executiva do grupo”.
E que as mudanças, que incluem a ampliação do conselho, se devem ao número de acionistas, que vai crescer “rapidamente quando os demais membros das próximas gerações atingirem 21 anos”.
Executivos de mídia e publicidade, falando sob condição de anonimato, vinculam as decisões a outro movimento no grupo, dois dias antes.
Roberto Marinho Neto, da terceira geração, assumiu a diretoria de Projetos Esportivos Especiais da Rede Globo, para atuar no planejamento de eventos como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.
Marinho Neto, filho de Roberto Irineu, é formado pelo Ibmec-RJ e acaba de cursar mestrado em administração na área de “entretenimento, mídia e tecnologia” na New York University. Segundo a Central Globo de Comunicação, ele vai agora “integrar o quadro de executivos da TV”.
Reflexos positivos
Entre as mudanças na governança, a Globo anunciou que o diretor-geral da Rede Globo, Octávio Florisbal, dará lugar em janeiro a Carlos Henrique Schroder, hoje diretor-geral de Jornalismo e Esporte. Este será, por sua vez, substituído por Ali Kamel, hoje diretor-geral de Jornalismo. Para o lugar de Kamel vai Silvia Faria.
A saída de Florisbal foi vista, no mercado de mídia e publicidade, como surpreendente. Ele comentou a interlocutores, semanas antes, que poderia ficar até os Jogos de 2016 ou, pelo menos, a Copa de 2014, grandes eventos cujos direitos de transmissão são exclusivos da Globo.
Mas sua saída já era preparada há pelo menos cinco anos. Aos 72, ele próprio comentou publicamente, meses atrás, que havia quatro ou cinco candidatos para a vaga entre os executivos da rede. A Folhaapurou que, além de Schroder, outros nomes em consideração foram Alberto Pecegueiro, da Globosat, e Willy Haas, da área comercial da Globo.
De acordo com a agência de avaliação de risco Fitch, o salto de 47% na publicidade da rede americana NBC com os Jogos de 2012 sinaliza resultado semelhante para a Globo, com a Copa e os Jogos no Brasil. E já tem reflexos positivos nos papéis do grupo no mercado financeiro.
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No meio publicitário, equilíbrio de Florisbal “vai fazer falta”
A saída de Octávio Florisbal da direção geral da Globo, onde estava desde 2002, causou consternação no mercado publicitário. “É uma voz de equilíbrio, que vai fazer falta”, diz Fernando Barros, da agência Propeg, acrescentando que, oriundo do meio, ele é muito bem visto pelos publicitários brasileiros.
Outros executivos dizem que a troca de um nome da área comercial, como Florisbal, por outro do jornalismo, como Carlos Henrique Schroder, surpreendeu por romper uma tradição da Globo.
Mas sublinham a ascensão de Willy Haas, hoje diretor-geral de Comercialização.
A partir de janeiro, Haas será o substituto imediato de Schroder e terá seu setor renomeado para Negócios e Comercialização, “com a ampliação da atuação para as diversas áreas da empresa”, segundo o presidente do grupo, Roberto Irineu Marinho.
Já um executivo de mídia, que pediu para não ser identificado, diz que a troca de Florisbal por Schroder confirma que a Globo passou a priorizar a produção de conteúdo, como já sinalizava em episódios como o estabelecimento dos Princípios Editoriais, há cerca de um ano. (NS)
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[Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo]