Alguns dos melhores professores que tive durante meu curso de Jornalismo são totalmente contra o furo jornalístico. Tal opinião é um mal dos teóricos academicistas, visto que o furo – na prática das redações – é um diamante precioso que, ao ser lapidado, pode, sim, se tornar uma matéria de qualidade tão ou superior às reportagens especiais mais elaboradas. Acredito que é mito dizer que uma pauta quente jamais será tão bem escrita quanto uma pauta fria – em que há um tempo maior para construir o texto. Na minha concepção, tal premissa pode ser desconsiderada quando pensamos em todo o maquinário tecnológico que temos hoje em dia.
O furo no webjornalismo, por exemplo. Não vejo duas coisas que possam se encaixar melhor que o furo e o jornalismo para web. É óbvio que o questionamento do título é facilmente respondido quando lembramos que o webjornalismo surgiu apenas como ferramenta de arquivamento do conteúdo do impresso na internet e só depois se tornou um meio de comunicação independente e com conteúdo próprio. Então, observa-se que a celeridade do meio abarcou o furo, tornando mais fácil e rápida a sua propagação.
Hoje em dia é difícil imaginar um furo voltado para o impresso. Lembro-me de uma conversa, entre uma garfada e outra, com um colega de trabalho e ele me relatava da crise que o impresso está sofrendo, que talvez o caminho do jornal fosse seguir uma linha mais literária visto que, ao chegar nas bancas, ele já nasce “frio”. Pois, claro, suas mesmas notícias já estão há horas no meio digital e já foram visualizadas e comentadas por centenas de pessoas antes mesmo de ser comercializado.
É fácil errar na web
Porém, alguns insistem em deixar certos “furos” para o impresso. Mas, para mim, é perda de tempo e um esforço desnecessário “segurar” a informação pelo mero diletantismo dele sair ainda quente nas páginas acinzentadas. Hoje em dia é fato que os MCM virtuais lucram tão ou mais que os jornais impressos – que se tornaram meros artigos de repartições públicas e de residências de senhores/as de terceira idade. Então para que essa futilidade?
Agora chega outra questão: e a qualidade do conteúdo de um “furo” que chega aos webjornalistas por telefone? É claro que a rapidez com que se tenta passar tal informação acaba gerando ruídos na matéria, provocando erros talvez crassos – tanto acerca dos fatos quando nas questões gramaticais e ortográficas. Mas talvez tais erros sejam necessários. Afinal, nos dias de hoje, o que importa é a informação em primeira mão, não importa de que maneira ela esteja sendo passada. Correto? Correto. Se o conteúdo do furo for entendido pelo espectador, por que não repassá-lo não importando de que maneira?
E a qualidade x furo jornalístico? A informação, no primeiro momento, pode até ser rústica. Retomando a metáfora anterior, pode até ser o diamante bruto que acabou de chegar no editor de textos do jornalista, mas de nada custa existir um “editor-pessoa” para trabalhar o texto recém elaborado às pressas – o tal editor pode ser até o próprio jornalista que passou a matéria depois de um café e um cigarro. Tornar-se-á o texto melhor e a qualidade jornalística estará em um padrão mais elevado.
Diferente do impresso, que só poderá corrigir uma informação incorreta ou um erro gramatical na edição seguinte, o webjornalismo nasceu para o erro. Porque a verdade é que é muito fácil errar na web. Qualquer empecilho que possa vir a surgir poderá ser remediado segundos depois de descoberto. Sendo assim, reafirmo: o furo jornalístico e o jornalismo para a web nasceram um para o outro.
Lembrando a todos que esse é apenas um estudo de caso cotidiano – até pretendo aprofundar o assunto em um artigo científico, mas isso é para o por vir.
Por enquanto é só uma opinião solta mesmo.
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[Lucrécio Arrais é estudante de Jornalismo, Teresina, PI]