A revista americana de tendência esquerdista Mother Jones, fundada há 36 anos, viu-se recentemente diante dos holofotes como geralmente acontece com grandes veículos de mídia. Para uma publicação sem fins lucrativos, com uma tiragem de apenas 200 mil cópias e um modelo de negócios parcialmente dependente da generosidade dos leitores, não foi uma situação ruim, comenta Christine Haughney [The New York Times, 20/9/12].
Depois que a revista divulgou um vídeo do candidato republicano Mitt Romney em um evento de arrecadação de recursos, em maio, alegando que 47% dos americanos eram dependentes do governo e se acham vítimas, muitos leitores novos e antigos acessarem o site da publicação.
Clara Jeffery, coeditora da Mother Jones, disse que depois da publicação do vídeo, na segunda (17/9), o site registrou quase dois milhões de páginas vistas nas primeiras 12 horas, o dobro das 24 horas anteriores, e 6,1 milhões até quarta (19/9). Ela estima que o vídeo tenha tido 5 milhões de visitas no YouTube 24 horas após a matéria ter entrado no ar e que 348 mil tuítes tenham se referido ao episódio no mesmo período.
Markos Moulitsas, fundador do blog liberal Daily Kos, observou que partes do vídeo já haviam sido postadas online, mas sem contexto e informação. AMother Jones, no entanto, conseguiu que a fonte divulgasse o vídeo inteiro, que mostrava o rosto do candidato. O vídeo foi obtido por David Corn, chefe do escritório da revista em Washington.
Para Nicholas Lemann, reitor da Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, a revista beneficiou-se em parte pelo momento em que a imprensa toda está cobrindo a campanha. Além disso, a imagem encaixou-se na linha narrativa da campanha de Romney. “A revista é obviamente ideológica, mas é respeitada”, concluiu.
Viés investigativo
A revista foi fundada com os vestígios dos anos 1960 e do impacto do escândalo Watergate. O nome foi inspirado em Mary Harris Jones, imigrante irlandesa e organizadora conhecida de sindicatos no século passado. O viés investigativo começou nos anos 1970, quando expôs os perigos do carro Ford Pinto e continuou com uma cobertura agressiva de financiamento de campanha política. Nos anos 80, a revista investiu muito para se defender de uma investigação do serviço de receita do governo federal dos EUA, que foi interrompida posteriormente. Apesar dos desafios econômicos e das pressões políticas, a publicação conseguiu sobreviver: venceu seis National Magazine Awards, prêmio para as melhores matérias publicadas nas revistas americanas, e fez uma boa transição para o digital.