No dia 19/11, o New York Times publicou matéria com o testemunho do pesquisador David Graham, da FDA (agência que fiscaliza alimentos e remédios nos EUA), segundo o qual o medicamento de combate ao colesterol Crestor e quatro outros ofereceriam sérios riscos à saúde. ‘Estamos diante do que pode ser a maior catástrofe isolada de segurança de saúde na história do país e do mundo’, declarou Graham a uma comissão do Senado dos EUA. Por mais sinistros que fossem os prognósticos do pesquisador, não chamavam tanta atenção no Times quanto o anúncio colorido de página inteira publicado na mesma edição pelo fabricante do Crestor, AstraZeneca, afirmando que a droga é um meio seguro de combater o colesterol, e um cupom para amostra gratuita. No verso da propaganda, um quadro com letras miúdas enumerava os efeitos colaterais do remédio.
O diretor de análise de publicidade do Times, Steph Jesperson, diz que é papel da FDA avaliar se uma propaganda de medicamento é enganosa. Mas os anúncios são enviados à agência no mesmo momento em que chegam aos jornais, ou seja, tarde demais para correções. Sidney Wolfe, diretor da Public Health Research Group (organização de saúde), escreveu à FDA pedindo a proibição da propaganda do Crestor. ‘Este anúncio era 100% falso’, disse ao repórter da Editor & Publisher [1 /1/05] Allan Wolper.
O estrago, porém, já estava feito. O anúncio foi publicado nos maiores jornais dos EUA –The New York Times, The Boston Globe, Chicago Tribune, Los Angeles Times, The Wall Street Journal, The Washington Post e USA Today – e ‘serviu a seu propósito’, segundo porta-voz da indústria química.
Cabe questionar a posição do Times, diz o repórter: a área comercial do jornal deveria ter contato com a editorial para resolver dúvidas quanto à idoneidade dos anunciantes? Para Carla Johnson, da diretoria da Associação de Jornalistas de Saúde dos EUA, a resposta é não. ‘É correto que os jornais façam uma verificação, mas ninguém da redação deve se envolver no processo’.