Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marcelo Beraba

‘Os números que selecionei e estão editados neste quadro ao lado [não disponível nesta edição do OI] revelam um pouco o que foi a Folha ao longo de 2004 e as principais preocupações de seus leitores. Não é um retrato acabado do desempenho do jornal, apenas flashes.

Aí estão informações que se completam: os principais assuntos elegidos pelo jornal na cobertura diária e nos artigos que publica; os erros que cometeu e corrigiu; e as reclamações e contribuições dos leitores.

O interesse do jornal

A Folha publicou, entre 1º de janeiro e 30 de novembro, cerca de 81 mil textos na edição SP. Os textos jornalísticos (reportagens, entrevistas e notas) somam, aproximadamente, 57 mil. A diferença é constituída de colunas de opinião e de notas, artigos, cartas dos leitores e capa.

O Banco de Dados fez um levantamento dos principais assuntos tratados pela Folha no período. O resultado não contém grandes surpresas para quem acompanha o jornal, mas permite alguma reflexões.

Três temas podem ser considerados permanentes: futebol, a cidade de São Paulo e o governo Lula, cada um representando aproximadamente 10% do material jornalístico publicado.

Um foco nos assuntos políticos mostra que, além do governo federal, o jornal deu bastante espaço neste ano para as eleições municipais (2.297 textos noticiosos em que aparecem como assunto principal). O partido mais acompanhado é o PT (1.497), seguido de longe pelo PSDB (739).

Depois de Lula, o personagem que o jornal mais reportou foi Marta Suplicy (1.092), prefeita até anteontem e candidata derrotada à reeleição. Para efeito de comparação, seus principais adversários em São Paulo, José Serra (753) e Geraldo Alckmin (239), mereceram bem menos atenção.

São Paulo e Rio

Há um outro aspecto relevante que o levantamento do Banco de Dados expõe: fora Brasília (administração federal), o interesse principal do jornal está concentrado em dois Estados -São Paulo e Rio de Janeiro. Os assuntos dos outros Estados são cobertos sem regularidade, e alguns Estados nordestinos são praticamente ignorados.

Exemplos: no período, somadas as edições SP e nacional, foram publicadas 921 reportagens sobre o Estado de São Paulo e 472 sobre o Estado do Rio. Depois, vêm Paraná (154), Minas Gerais (141) e Rio Grande do Sul (129). Rondônia (97) e Roraima (81) ainda têm uma boa cobertura por conta dos conflitos indígenas e dos escândalos políticos. Mas Rio Grande do Norte (11), Paraíba (8) e Sergipe (8) não são cobertos.

Algumas curiosidades: os clubes de futebol mais noticiados, sem os números de dezembro do final do Campeonato Brasileiro, são São Paulo (741), Corinthians (712), Palmeiras (663) e Santos (621); a Ilustrada publica mais reportagens sobre lançamentos de livros (432) que de CDs (350) ou filmes (296); em Mundo, o terrorismo foi o assunto que teve mais atenção (1.146); e alguns assuntos quase não foram tratados pelo jornal, como desmatamento (43) ou racismo (56).

Há um outro indicador do interesse editorial do jornal, que são os artigos publicados na página A3 (‘Tendências/Debates’). Foram editados neste ano, segundo a Coordenação de Artigos e Eventos, 721 artigos. Quase 25% deles discutiu o governo Lula e o PT: 103 (14%) contra e 71 (10%) a favor. Há um desequilíbrio, também, na discussão sobre a política econômica: 54 artigos contrários (7%) e 22 favoráveis (3%). E o articulista mais freqüente é um crítico da administração PT, Jorge Bornhausen, presidente do PFL, com 15 artigos publicados.

Os erros cometidos

Ao longo de 2004 o jornal reconheceu e corrigiu 1.130 erros de informação na seção ‘Erramos’ (página A3). Em 2003 foram publicadas 1.125 correções.

A Folha não é, seguramente, o jornal que mais comete erros, mas é o que mais os reconhece publicamente, o que é um mérito. Neste ano, além das correções publicadas na página A3, o jornal em duas ocasiões fez reportagens em que reconhecia que cometera erros importantes na sua primeira página: em 18 de junho (‘Dados sobre escravidão de crianças estava errado’) e 21 de setembro (‘Folha publicou dados errados sobre publicidade’).

O problema do jornal é o tempo que leva para fazer a correção, uma média de oito dias. Em algumas editorias, como Dinheiro, a média do ano foi de dez dias entre a publicação de um erro e sua correção.

Os interesses dos leitores

E o leitor, está satisfeito com a Folha? O que escreve para o ombudsman, raramente. Um pouco mais da metade (2.987) das mensagens recebidas neste ano (5.881) continham críticas ao jornal, principalmente relativas à cobertura das eleições municipais em São Paulo (330).

Pouquíssimos escreveram ou ligaram para elogiar (227), o que é normal porque o ombudsman é um canal de defesa para os leitores que se sentem prejudicados ou frustrados. Mesmo assim, 665 enviaram sugestões e 407 apontaram erros que tinham como objetivo melhorar o jornal.

O outro canal de participação do leitor é a seção de cartas. Neste ano, o ‘Painel do Leitor’ recebeu 31.455 correspondências e só teve espaço para publicar 2.885, menos de 10%. Há muita reclamação por parte dos leitores. Eles acham, e o ombudsman concorda, que a Folha deveria destinar mais espaço para os seus comentários e suas opiniões. É um caminho para aproximar mais o jornal dos que lhe dão sustentação.’