‘Antes das despedidas que virão nas notas seguintes, abro espaço da última coluna com minha assinatura para uma nova manifestação do editor adjunto de Cotidiano, Paulo Rogério, sobre tema tratado domingo passado a partir de texto anterior dele: a relação entre torcedores apaixonados e O Povo. Segundo o jornalista, ‘a editoria de Esportes mantém uma comunicação constante com o torcedor através dos canais comuns da Redação, como telefones, internet, cartas, contato pessoal e até através do ombudsman’. O editor cita uma série de outras alternativas à disposição do leitor para este contato que ele diz permanente, negando, com isso, haver ‘menosprezo com qualquer tipo de opinião ou crítica, seja aos repórteres ou ao editor. A conduta é de respeito e bom atendimento. O que está dito no texto, de forma bem clara, é que alguns torcedores extrapolam no fanatismo, expondo opiniões baseadas em paixões, utilizando palavrões, intimidando profissionais e fazendo ameaças’. Paulo Rogério esclarece, diante de tudo isso, que ‘a esse tipo de discussão é que não há sentido em prosseguir. Felizmente, esse grupo de torcedor irracional faz parte de uma minoria em extinção’.
Fica claro, portanto, que levei à Redação a queixa de um tipo de torcedor e tive como resposta ataques do editor a um outro grupo. Fui procurado por simpatizantes do Ceará que se mostraram apaixonados, sim, que questionaram a parcialidade do jornal, evidentemente, mas que em nenhum momento utilizaram palavrões, intimidaram ou ameaçaram qualquer profissional do O Povo. No máximo, disseram-se dispostos a deixar de ler o jornal, direito que não lhes podemos tirar. Concordo com Paulo Rogério que precisamos deixar de lado a minoria que ameaça e sugiro que nos concentremos em responder àqueles torcedores que exigem de nós, tão somente, um noticiário esportivo equilibrado. Apenas isso.
O jornalista que os leitores melhoraram
A vivência que acumulo de 16 anos dentro de redações ganhou, a partir de agora, um contraponto importante no cotidiano que passo a obedecer depois da experiência, finalizada sexta-feira passada, dia 7, como ombudsman do O Povo. Considero impossível, praticamente, um profissional experimentar o desafio de ser ouvidor de uma empresa jornalística e dela sair igual ao que era antes. A mudança começa pela leitura, que ganha qualidade. O olho se torna mais crítico, permite ver o que nem sempre conseguimos enxergar quando absorvidos pelas deficiências de toda ordem que marcam uma redação, seja de qual jornal for, do maior ao menor. O público, pelo contato diário, nos permite posicionar de maneira conveniente a causa em relação ao efeito, ou seja, possibilita que apontemos os problemas na perspectiva de encaminhar uma solução. Nota-se que nem sempre o erro, editorial ou de qualquer outro gênero, está determinado pela falta de um carro, carência de pessoal, insatisfação salarial ou justificativas outras que muitas vezes se usa para simplificar a discussão. O ombudsman é importante, já que sua crítica diária circula por toda a empresa, não é dirigida apenas à Redação, ao proporcionar um debate mais qualificado sobre os erros e suas causas. Muitas vezes, cabe ressaltar, os motivos identificados acabam mesmo envolvendo carro, gente e salário.
Do erro à dívida, um canal sempre aberto
No retorno à Redação, que acontece já amanhã, segunda-feira, imagino estar levando uma postura nova, que agrega elementos importantes extraídos da convivência de um ano com os nossos problemas a partir dessa perspectiva diferente. Foram 350 críticas diárias, 53 colunas externas semanais e um sem número de contatos com o público – pessoais, via telefone ou e-mail. A nem todos se consegue agradar ou apresentar uma resposta que convença, muito embora seja tranqüilizador constatar que a grande maioria parece satisfeita com o fato de a empresa manter um canal institucionalizado de interlocução. É doloroso, muitas vezes, cortar a expectativa de quem nos procura acreditando que encontrará uma guarida passiva à sua queixa. Não é assim, nem poderia. O compromisso do qual não se pode abrir mão, em qualquer circunstância, é o de oferecer a todos a atenção que fazem por merecer. Entre 7 de janeiro do ano passado e a última sexta-feira, posso dizer que passaram pela minha mesa desde temáticas simples e fáceis de tratar, como os erros nossos de cada dia, até assuntos delicados, como a dívida da empresa e suas possíveis interferências na linha editorial e no noticiário do jornal. Fiz esforço no sentido de nada deixar sem retorno ou, pelo menos, sem o encaminhamento a quem de direito. Mesmo, repito, que muitas vezes sem oferecer as respostas desejadas.
Valor referencial de uma atitude prática
A experiência não está marcada apenas pelos seus aspectos positivos. Profissionais que vieram antes de mim enfrentaram parte dos mesmos problemas que me desafiaram ao longo do último ano e acredito que muitos deles ainda ocuparão o tempo e a paciência de quem me sucederá. Os erros gramaticais certamente permanecerão existindo em quantidade superior à aceitável, as colunas possivelmente continuarão dando dor de cabeça por um procedimento editorial próprio em muitos casos, o editorial e o comercial em vários momentos se confundirão, confundindo o leitor, enfim, creio que muitas histórias se repetirão ao longo de 2005. O fundamental, porém, é que o espaço para a sociedade se manifestar estará garantido, mantendo a disposição do O Povo de ser transparente na sua relação com o público. Esta é uma conquista de grande valor referencial, pois ainda são poucos os jornais e veículos de comunicação em geral do País que se dispõem a manter serviço do tipo. É trabalhoso, é oneroso, cria tensões e conflitos internos, e, ao contrário do que se costuma pensar, não funciona como instrumento de marketing. Ao contrário, pela natureza dos problemas que acarreta, até se pode dizer que comumente até pode atrapalhar a imagem de uma empresa e o investimento que se faz nela.
O escolhido garante o salto de qualidade
É tranqüilizador, diante do contexto, que o novo ombudsman seja um profissional com o perfil do escolhido Plínio Bortolotti. Quem o conhece há de confirmar o que digo e àqueles que ainda o desconhecem posso adiantar que assume o posto um jornalista que pensa a função de ombudsman mesmo sem ocupá-la, a estuda como um interessado, se preocupa em discutir questões relacionadas ao fazer jornalístico, ou seja, chega preparado para proporcionar os avanços e o salto de qualidade que o processo requer. Por falar no Plínio, um aviso que ele pede que eu faça: como foi convidado em meio ao cumprimento de férias, somente iniciará o atendimento ao público no próximo dia 24, uma segunda-feira. Já empossado desde a última sexta-feira, porém, aceitou interromper o descanso para produzir as colunas externas dos próximos dois domingos, respectivamente, dias 16 e 23. Um abraço a todos.’