Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

‘‘Precisamos levar nossa luta à Europa. Já estamos em 60 países.’ Foi essa uma das confidências ouvidas de terroristas islâmicos pelos jornalistas franceses Christian Chesnot e Georges Malbrunot, seqüestrados entre agosto e dezembro do ano passado no Iraque.

Em entrevista ao programa ‘Hard Talk’, da BBC, eles relataram as convicções dos radicais que os mantiveram como reféns.

Contaram ter sido prisioneiros do Exército Islâmico do Iraque, um dos grupos vinculados à Al Qaeda e cujos dirigentes mantêm ou mantiveram contatos diretos com Osama bin Laden.

Segundo um dos terroristas, há uma ‘divisão de trabalho’ no Iraque entre a sua organização e outros grupos insurgentes, como o dirigido pelo jordaniano Abu Musab Al Zarqawi.

‘Quando Zarqawi está em dificuldades, mandamos nossos homens para ajudá-lo’, disse um dos terroristas. Havia entre eles sauditas e iemenitas.

Disseram ter por objetivo imediato derrubar os regimes do Egito e da Arábia Saudita, que consideram como traidores exemplares do islamismo.

Os dois jornalistas franceses disseram à BBC que foram salvos em razão de sua nacionalidade e por se comunicarem com os seqüestradores em árabe.

Em algumas ocasiões disseram-lhes que que, se fossem americanos ou britânicos -cujos países lideraram a invasão do Iraque– teriam sido mortos ‘como cães’, a exemplo de outros reféns.

Indagados se a França havia pago um resgate para que fossem libertados, Malbrunot respondeu laconicamente: ‘Creio que houve negociações.’’



Folha de S. Paulo

‘Grupo de Allawi paga propina a jornalistas’, copyright Folha de S. Paulo / Financial Times, 12/1/05

‘O grupo eleitoral liderado por Ayad Allawi, premiê interino iraquiano, deu dinheiro a jornalistas árabes em troca de uma cobertura extensiva de suas entrevistas coletivas, numa atitude que lembrou os tempos do ex-ditador Saddam Hussein e seu partido, o Baath.

Após uma reunião organizada em Bagdá, repórteres de veículos árabes receberam um ‘presente’ -uma cédula de US$ 100 dentro de um envelope.

Muitos jornalistas aceitaram a propina, que equivale à metade do salário de um jovem repórter iraquiano. Um deles relembrou, brincando, que o regime de Saddam também esbanjara dinheiro assim com seus repórteres favoritos.

Allawi não estava presente, mas Hussein al-Sadr, um clérigo xiita que disputará a eleição, usou o encontro para atacar os adversários da Aliança Unida Iraquiana -que conta com apoio de 27% dos eleitores de regiões de maioria xiita, contra 22% do grupo de Allawi, segundo pesquisa.

O grupo de Allawi, cuja campanha acentua a reconstrução das Forças Armadas, está explorando sua reputação de homem forte e do desejo de estabilidade.’



Jornal do Brasil

‘Propaganda rebelde’, copyright Jornal do Brasil, 13/1/05

‘Longe dos slogans islâmicos raivosos, guerrilheiros iraquianos lançaram ontem uma propaganda em inglês exigindo que os soldados americanos entreguem as armas e busquem refúgio em mesquitas e residências.

O vídeo, narrado em inglês fluente por, ao que parece, um iraquiano que estudou nos EUA ou na Grã-Bretanha, também faz piada do desafio do presidente George Bush aos rebeldes no começo da insurgência, quando lhes disse: ‘podem vir para cima’.

– George Bush, você nos pediu para irmos para cima. Então que Deus me ajude, nós iremos como você nunca imaginou. Tem algum outro desafio? – pergunta o narrador, antes de aparecerem imagens de explosões em volta de blindado do Exército americano.

As ameaças de desmoralização se mesclavam a convites à deserção.

– Esta não é sua guerra, vocês não estão lutando por uma causa verdadeira no Iraque – afirma, no vídeo, um guerrilheiro mascarado. – Entreguem as armas e busquem refúgio em nossas mesquitas, igrejas e residências. Vamos protegê-los.

Pelo menos 1.067 soldados americanos morreram em combate desde o início da guerra, em 2003.

Mais de 25 pessoas, entre elas um soldado americano, morreram desde terça-feira no Iraque.’



FUNDAMENTALISMO
O Estado de S. Paulo

‘Jornal fundamentalista é criticado por artigo’, copyright O Estado de S. Paulo, 12/1/05

‘A Organização Marroquina Contra o Ódio acusou ontem o jornal fundamentalista Attaydid de cometer ‘um crime moral contra a humanidade’ por publicar um artigo no qual considerava a recente catástrofe no Sudeste Asiático um ‘castigo divino’ contra o turismo sexual na Ásia. A organização divulgou um comunicado no qual adverte sobre os riscos de um ‘discurso bárbaro de inquisição e ódio’. Vários meios de comunicação do Marrocos criticaram o artigo, acusando os responsáveis de legitimar a violência.’



CHINA
Paulo Nassar

‘As marcas da China’, copyright Imprensa, janeiro de 2005

‘A imprensa mundial noticiou, no último 9 de dezembro, com pompa e circunstância a compra da divisão de computadores da IBM pela Lenovo, maior grupo chinês de equipamentos de informática. Se, até aquela data, a maior parte da humanidade conectada na internet, excluindo os chineses, não compraria do melhor amigo um Lenovo, agora, ela conseguiu pela quantia de US$ 1,75 bilhão, o valor da compra, um passaporte instantâneo e poderoso para chegar até as nossas mentes e bolsos, com as credenciais devidamente carimbadas pelo azul da IBM.

‘A força da grana que constrói e destrói coisas belas’, como diria o compositor baiano, injeta coisas como confiança em marcas muitas vezes solenemente desconhecidas pelos consumidores ou percebidas como paridas em fundos de quintais. Incorporar os valores da capitalista IBM significará para a comunista Lenovo o acesso às prateleiras das grandes lojas de departamentos e às vitrines das igrejas do capitalismo, os shoppings centers. Nada mal para os produtos chineses encontrados geralmente nos camelódromos, acompanhados das marcas paraguaias.

A compra de parte da IBM pelos chineses high-tecs faz parte de uma estratégia de um país, que há séculos se destaca por grandes empreendimentos e escalas – a grande Muralha, a grande Marcha, a sexta economia do mundo, 1/5 da população mundial, entre outras grandiosidades -, em ser percebido não como um produtor de commodities ou de esquadras de produtos piratas. Os empreendedores chineses já controlam, em parceria com a francesa Thomson, a divisão de televisão da icônica RCA, e por aqui, entre os fabricantes tupiniquins, estabeleceram alianças com marcas como Embraco, Companhia Vale do Rio Doce, Embraer, Petrobrás e Sadia. Na área da tecnologia espacial, os chineses e brasileiros são irmãozinhos no desenvolvimento de satélites voltados para o monitoramento de áreas agrícolas.

Para os comunicadores empresariais brasileiros e ocidentais a inserção inexorável da China em seus horizontes representa, como tudo o que é chinês, um monumental desafio de características interculturais e políticas. O pacote a ser desvendado passa pelo profundo entendimento do imaginário oriental. O que significa compreender os seus valores, crenças, ritmos, ritos, rituais, hábitos e culinária, a sua história e heróis, tudo isso expresso em seus símbolos. Um exemplo de trombada que os comunicadores ocidentais estão sujeitos, foi a proibição recente de um comercial de televisão da Nike, que brincava com o Long, o Dragão, que representa para os chineses a sabedoria, a criatividade, a sorte, a vida, tudo isso ligado ao país. O dragão fumou e a famosa fabricante de tênis recuou.

O aspecto político da relação com os chineses implica em ter como sócios os antigos comedores de criancinhas, representados em todas as negociações pelo Partido Comunista Chinês. O que significa discutir com esses sócios a implantação, dentro dos escritórios e das fábricas, de técnicas do moderno management ocidental e japonês. Ou seja, a necessidade de implantar processos de comunicação que conquistem os trabalhadores chineses, por exemplo, para as bandeiras da qualidade total e das certificações ambientais. As notícias que chegam da China nos revelam que as condições salariais, de trabalho e de higiene dentro das fábricas são péssimas, logo os comunicadores daqui, atualmente comprometidos de corpo e alma com o ideário da responsabilidade social, encontrarão um terreno monumental para propagandear suas bandeiras, oportunidade ímpar para uma filial do Instituto Ethos por aquelas bandas.

A compra da estelar IBM pela Lenovo é o começo de um processo que demanda um comunicador empresarial que entenda que informação não é sabedoria. A sabedoria é forjada pelo tempo, elemento que os ocidentais têm cada dia menos.’