O relatório final das investigações do jornalista Louis Boccardi e do ex-ministro da Justiça Dick Thornburgh a respeito da reportagem do 60 Minutes sobre o serviço militar de George W. Bush não foi suficiente para esclarecer a questão. Artigo de Mark Lasswell [Broadcasting and Cable, 17/1/05] destaca que pontos da matéria ficaram ainda mais nebulosos após a apresentação do relatório.
Por exemplo, Boccardi e Thornburgh não fizeram nenhum esforço, ao que parece, para encontrar o verdadeiro autor dos documentos apresentados como sendo do ex-superior de Bush na Guarda Nacional. O autor e a motivação da farsa seguem desconhecidos.
Tampouco há no relatório elementos que permitam compreender por que Betsy West, responsável pela programação do horário nobre da CBS, foi levada a se demitir, enquanto o presidente de jornalismo, Andrew Heyward, foi poupado. Ao que tudo indica, ambos tiveram a mesma responsabilidade na transmissão da reportagem.
Por sinal, como informa matéria de Joe Hagan [The New York Observer, 24/1/05], Betsy continua na empresa, assim como o produtor-executivo Josh Howard e sua vice, Mary Murphy (todos ‘convidados’ a se demitir). A reportagem especula: eles estariam consultando advogados sobre um processo contra a CBS, e hesitam entre resgatar a dignidade profissional, dividindo a responsabilidade com outros executivos que, por algum motivo, não foram considerados culpados, ou ficar em silêncio e negociar polpuda rescisão de contrato.
Mary Mapes, a produtora que conseguiu os documentos e brigou para levar a denúncia contra Bush ao ar pouco antes da eleição presidencial, já publicou nota afirmando que não tem culpa. O relatório não aponta ‘motivação política’ para o erro do 60 Minutes Wednesday de 8/9/04, mas sabe-se que a produtora já investigava desde 1999 o serviço militar de Bush: Dan Rather gravou entrevistas que nunca puderam ser costuradas numa matéria aproveitável.
Os republicanos conservadores consideram Dan Rather seu desafeto, graças a escaramuças com George Bush pai e Richard Nixon. Sentindo-se prejudicado no episódio, marcou sua aposentadoria para março. Steve Gorman, da Reuters [19/1/05], diz que o último grande momento do grande jornalista na rede poderá ser a cobertura das eleições no Iraque, para a qual foi escalado.
Mudanças
A saída de Rather da função de âncora do telejornal CBS Evening News deve dar partida a grandes mudanças de formato do noticiário. O chefão da CBS, Leslie Moonves, em entrevista a Bill Carter e Jacques Steinberg [The New York Times, 19/1/05], anunciou que estuda modelo semelhante ao do ABC News do início dos anos 1970, com três âncoras em locações distintas [aqui, o telejornal da Globo Bom dia, Brasil, por exemplo, mantém o formato, com apresentador em Brasília, São Paulo e Rio].
Moonves disse que o humorista político Jon Stewart, do canal Comedy Central, poderá aparecer no Evening News. A idéia é ‘trocar essa coisa de um cara discursando atrás de uma mesa por algo mais jovem, mais teatral’. Há uns 10 anos a CBS tentou um ‘casal’, com a apresentadora Connie Chung ao lado de Dan Rather, mas não deu certo.
Blogueiros irados
O New York Times [17/1/05] também informa que blogueiros continuaram na semana passada protestando contra a decisão da CBS de desativar em seu site a função ‘copiar’ no arquivo do relatório (de 234 páginas) sobre o caso, o que obriga o interessado a digitar a citação.
O escritório de advocacia que assessora a CBS ‘teria recomendado’ o bloqueio das cópias do documento para tentar evitar que, podendo ser reproduzido integralmente, alguém maldosamente o altere e depois o distribua novamente na internet. No entanto, sítios pró-Bush e anti-Rather, como o Rathergate.com, já frustraram a iniciativa da emissora, oferecendo aos internautas a versão original do arquivo, que permite cópia.