O Estado de S. Paulo e o Globo tentam animar o mercado durante a 68ª. Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa, que se encerra na terça-feira, dia 16, com o lançamento conjunto de uma série de cadernos especiais que deverão circular nos meses de outubro e novembro deste ano.
A parceria, inédita entre dois grandes jornais brasileiros, resulta num produto editorial a ser distribuído conjuntamente e que deve alcançar um total calculado em 2,5 milhões de leitores, segundo as duas empresas. O conteúdo editorial é único, produzido por quase trinta jornalistas a partir de uma pauta comum.
A primeira edição foi distribuída na segunda-feira (15/10), e as seguintes estão anunciadas para os dias 22 de outubro e 5 de novembro.
Atraso histórico
Um dos objetivos do projeto é juntar as forças dos dois jornais para conquistar a fidelidade de formadores de opinião, fatia muito valorizada no mercado publicitário e um dos campos sociais nos quais a imprensa tradicional tem perdido influência.
A escolha dos temas, sempre questões de fundo que os jornais não conseguem analisar com muita amplitude nas edições cotidianas, também marca um posicionamento diante das assuntos que são consideradas os principais desafios para o desenvolvimento do Brasil.
Nesta primeira edição, o caderno especial, que receberá sempre o título geral “Desafios brasileiros”, traz o tema “Competitividade”. Empresários, economistas e agentes públicos foram convidados a desenhar um painel das qualidades e das fragilidades da economia nacional diante da economia globalizada.
O ponto de partida é a celebração do fato de que, pela primeira vez, o Brasil passa a figurar na lista dos 50 países mais competitivos, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial. No entanto, as históricas deficiências na infraestrutura e atrasos na corrida da inovação exigem um esforço organizado para fazer o país avançar. Isso é o que diz, de maneira geral, o material publicado nessa primeira edição conjunta.
Além de representar uma iniciativa jornalística que junta duas das principais forças da imprensa tradicional, a iniciativa do Estadão e do Globo pode simbolizar um aceno da imprensa para o governo federal, à margem as disputas ideológicas que colocaram a imprensa no campo oposicionista.
As reportagens sobre os esforços do governo para superar o atraso histórico de setores que afetam a competitividade são generosas em propostas de especialistas e econômicas em críticas, defendendo explicitamente um esforço nacional por reformas que até aqui não têm sido possíveis.
Mais concorrência
Outro aspecto interessante é o fato de o Globo, com essa parceria, estar ampliando o antigo projeto de se consolidar no mercado paulista, o maior do país, dez anos depois de haver criado com a Folha de S. Paulo o projeto conjunto do jornal Valor Econômico.
Com o fim da Gazeta Mercantil, as limitações do Diário Comércio e Indústria e as dificuldades do ainda novato Brasil Econômico para se tornar um competidor relevante, o Valor se tornou hegemônico no jornalismo de economia e negócios, competindo diretamente apenas com o caderno especializado do Estadão. Portanto, o negócio parece bom para os dois parceiros, mas é melhor ainda para o Globo.
Embora represente uma parceria inédita, a iniciativa conjunta Estadão-Globo não representa exatamente uma inovação. É mais do mesmo em termos de cadernos setoriais, e mesmo assim pode produzir bons resultados financeiros no futuro, embora a primeira edição tenha atraído apenas dois anunciantes: o Banco do Brasil e a Confederação Nacional da Indústria.
O esforço da duas organizações se insere no cenário de dificuldades em que se encontra a imprensa tradicional, pressionada, por um lado, pelos custos elevados do jornalismo de qualidade e, por outro, pela ampliação da concorrência através dos meios digitais.
Quanto a esses desafios, eles continuam a se ampliar: ainda na segunda-feira (15), a Folha de S. Paulo informa que a empresa que edita o New York Times confirmou que vai publicar um site em português a partir do ano que vem.
Em comunicado oficial, a New York Times Company afirma que pretende atrair os leitores brasileiros que são “educados, bem-sucedidos e conectados com o resto do mundo”, ou seja, o mesmo público que os jornais brasileiros tentam preservar.
Como se vê, a vida não é fácil na imprensa tradicional.