Se o segundo turno na eleição de São Paulo é o palco principal para a polarização entre PT e PSDB, protagonizada pelos candidatos Fernando Haddad e José Serra, nas coxias ocorre um duelo bem mais discreto. Longe dos holofotes, os jornalistas João Santana e Luiz Gonzalez, marqueteiros do petista e do tucano, respectivamente, se enfrentam pela quarta vez, num embate que se tornou um clássico eleitoral.
Nas últimas três eleições, as nacionais de 2006 e 2010 e a municipal de 2008, os marqueteiros estiveram à frente da propaganda petista e tucana no rádio e na TV. Santana levou as duas presidenciais. Gonzalez, a municipal. O novo enfrentamento se dará nos próximos 15 dias, em doze programas do horário eleitoral, que recomeça amanhã.
Santana terá de vender o candidato que apresenta como novo, mas que é atacado por pertencer a uma estrutura já conhecida do eleitor, o PT, num momento em que a cúpula do partido é condenada pela Justiça por participação no mensalão. Gonzalez, por sua vez, trabalhará com um candidato que disputou cinco das últimas seis eleições no País, que enfrenta alta taxa de rejeição e é ligado à atual administração, mal avaliada pelo eleitor.
“Patinhas” e “Espanhol”, como são conhecidos Santana e Gonzalez, têm em comum a crítica à mitificação dos marqueteiros. São mais reservados que os antecessores Duda Mendonça e Nizan Guanaes, que fizeram as campanhas do PT e do PSDB na eleição de 2002. Ex-repórteres – Santana é autor da reportagem com o motorista Eriberto França, que se tornou peça-chave no escândalo que derrubou o ex-presidente Fernando Collor –, conversam com os jornalistas nas campanhas apenas “em off”.
“Eles têm estilos diferentes. Mas os dois são muito eficientes”, afirma o empresário da área de comunicação Valdemir Garreta, amigo de ambos. Santana faz programas com estética apurada e apelo emocional. A propaganda de Gonzalez é sóbria, quase como uma reportagem.
Nesta campanha, os dois comandam estruturas com mais de 150 pessoas, de diretores de fotografia a assessores de imprensa. O embate alcançou o campo tecnológico: para filmar os candidatos, compraram as câmeras mais sofisticadas no mercado, usadas por cineastas europeus e americanos. Não é à toa que a comunicação se tornou responsável pela maior parte dos gastos na campanha – estimativas de petistas e tucanos apontam para orçamento de cerca de R$ 30 milhões.
Os dois dizem o que o candidato pode e o que não pode falar, além da forma como ele deve discursar. Dão palpites nas propostas de governo e até nas alianças. Santana batizou como “Arco do Futuro” o projeto urbanístico de Haddad. Aconselhou o candidato a substituir camisas listradas por lisas. Fez com que aparasse o topete e as laterais do cabelo para ficar com visual mais moderno. Gonzalez trocou o azul e amarelo do logo do PSDB pelo azul e laranja, cor considerada mais jovial. Foi determinante também na escolha do vice de Serra, Alexandre Schneider.
Santana se dividiu, nesta eleição, no comando de três campanhas presidenciais internacionais, entre as quais a da Venezuela, de Hugo Chávez, e petistas dizem que ele está pouco acessível. Gonzalez, que entrou em atrito com a cúpula do PSDB em 2006 e 2010, aumentou a abertura com a área política.
Os dois abastecem a coordenação das campanhas com os “trackings” diários, pesquisas que mostram oscilação no humor do eleitorado – a do PT é feita na rua e a do PSDB, por telefone. Invariavelmente, os resultados são mais positivos para seus candidatos que os dos institutos de pesquisas.
Campanhas
Nascido na cidade de Tucano, na Bahia, Santana, de 59 anos, começou a trabalhar com o PT em 2005, no auge do escândalo do mensalão. Foi chamado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto daquele ano, depois que Duda Mendonça, de quem foi sócio até 2001, admitiu ter recebido dinheiro de caixa 2 do PT.
Santana fez a campanha que reelegeu Lula em 2006 com o slogan “Deixa o homem trabalhar”. Logo que começou a assessorar o então presidente, encomendou pesquisas e concluiu que a saída da crise estava no apoio dos movimentos sociais. Foi aí que entrou em cena o mote “Mexeu com Lula, mexeu comigo”.
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[Julia Duailibi e Vera Rosa, do Estado de S.Paulo]