Pesquisa eleitoral é mais do que a fotografia do momento. Pesquisa eleitoral é filme. Só a sequência de fotogramas de uma eleição é capaz de contar a sua história e apontar tendências. Quem acompanhou as eleições pelas pesquisas do Ibope e da Datafolha foi capaz de entender as idas e vindas do eleitor e até projetar o final do filme, especialmente em São Paulo.
Não fossem as pesquisas, o fenômeno Celso Russomanno (PRB) não seria conhecido. Só saberíamos, ao final da apuração, que o candidato de um partido nanico “surpreendeu” e teve 22% dos votos válidos. Não saberíamos que ele saiu do nada, cresceu, liderou durante mais de um mês, caiu e morreu na praia. Sem as pesquisas, os adversários de Russomanno não teriam virado sua artilharia contra ele na reta final da campanha – e, talvez, o candidato do PRB não tivesse despencado na intenção de voto dos paulistanos e hoje tivéssemos um segundo turno de Russomanno contra José Serra (PSDB) ou Fernando Haddad (PT).
A pesquisa influencia o resultado da eleição? Obviamente, sim. As pesquisas balizam a cobertura pela imprensa e dimensionam o espaço que cada candidato recebe nos meios de comunicação. É uma razão objetiva de por que Levy Fidélix (PRTB) não tem a mesma visibilidade dos líderes. Pesquisa eleitoral é informação democratizada para o eleitor saber – e não só os políticos – o que acontece e tomar decisões informadas de apoio e rejeição.
Dentro do previsto
Não houvesse pesquisas, não saberíamos quem são os prefeitos populares e impopulares e, portanto, não saberíamos explicar por que alguns deles se reelegem e outros não. Tampouco saberíamos que essa é a principal razão do voto nos municípios, o desejo de mudança ou de continuidade dos incumbentes. Não houvesse pesquisas, não conheceríamos o enredo da eleição. As disputas eleitorais seriam um roteiro sem começo e meio, só fim. As histórias seriam muito menos interessantes, e seria ainda mais difícil que o eleitor prestasse atenção nelas.
Não bastassem todas essas razões, as pesquisas ainda têm um alto índice de acerto. Tanto Ibope quanto Datafolha apontaram a queda abrupta de Russomanno e a tendência de crescimento de Serra e Haddad e que isso se intensificava na última hora. O empate era o instantâneo da véspera, mas quem olhou os fotogramas em movimento anteviu o que ocorreria no dia da eleição.
O Ibope fez uma autoavaliação, comparando 22 pesquisas de antevéspera, 27 de véspera e 13 bocas de urna ao resultado final da eleição. As taxas de votos válidos de centenas de candidatos foram comparadas a seus índices nas pesquisas mais próximas da data da eleição. Os desvios foram somados (descartando-se as redundâncias) para calcular a média de acerto em cada cidade. A média das médias foi de 95%. Não por coincidência, 95% é o intervalo de confiança previsto para as pesquisas de intenção de voto do Ibope. Há erro? Há, mas ele é baixo, de 5% em média, e está dentro do previsto.
Erros sempre sobressaem aos acertos
A maior taxa de acerto do Ibope foi em Belo Horizonte, onde a soma dos valores superestimados na boca de urna foi de 2,4% (logo, os subestimados foram -2,4%) e o índice de acerto chegou a 97,6%. Em São Paulo, o índice foi de 97,2%. O maior erro foi em Manaus, onde o Ibope superestimou a taxa de Vanessa Grazziotin e o índice geral de acerto foi de apenas 91,8%.
O erro em Manaus talvez se explique por uma taxa de abstenção maior nos bairros pobres onde a candidata do PCdoB é mais votada, talvez não. Obviamente o erro importa, e muito, para os eleitores de Manaus, mas no agregado das 62 pesquisas avaliadas, está dentro do previsto. Mas os erros sempre sobressaem aos acertos. É a história do filme e da foto.
***
[José Roberto de Toledo é jornalista]