A americana Corporation for Public Broadcasting passa por um processo de investigação interna para averiguar pagamentos irregulares a dois lobistas republicanos, informa Stephen Labaton, do New York Times [16/6/05]. A instituição governamental é responsável pelo financiamento do rádio e da TV públicos nos EUA, o qual centraliza com o objetivo de evitar interferência política nesses meios.
A investigação visa esclarecer em que circunstâncias o presidente da CPB, Kenneth Tomlinson, pagou US$ 10 mil e US$ 5 mil aos lobistas Brian Darling e Mark Buse, respectivamente. Eles teriam trabalhado para ajudar a enterrar um projeto de lei que daria mais poder às estações públicas dentro do quadro diretivo da corporação. Tomlinson, bem como a Casa Branca, era contra o projeto, que acabou não passando. Também é investigado o pagamento de US$ 14 mil a um homem que produzia relatórios sobre a orientação política dos convidados do programa do apresentador Bill Moyers.
Todos esses valores foram pagos diretamente por Tomlinson, sem conhecimento da diretoria. Eles não são altos, mas, para a inspetoria geral da CPB, que realiza a averiguação, são importantes no contexto de uma análise mais ampla sobre como tem procedido Tomlinson em seu anunciado esforço para tornar a comunicação pública mais imparcial politicamente. Ele já declarou que a considera favorável em demasia aos liberais e democratas.
Ultimamente, o presidente vem sendo acusado por funcionários insatisfeitos de tentar interferir politicamente no conteúdo das estações. A conselheira-geral da corporação, Donna Gregg, acaba de deixar o cargo por discordar da postura do Tomlinson. A vice-presidente sênior para assuntos públicos e corporativos, Nancy Rohrbach, também apresentou pedido de demissão. Ela, bem como outros diretores, está insatisfeita porque Tomlinson se recusou a assinar uma carta repudiando o projeto de um subcomitê do congresso, aprovado na última semana, que implica no corte de 25% da verba da CPB. O projeto acabaria, entre outras coisas, com todo o apoio à produção de programação educativa infantil.
O presidente da corporação foi indicado ao cargo por Bill Clinton, em 2000, mas é republicano. A investigação foi aberta a pedido de dois deputados democratas. Ele nega ter cometido qualquer irregularidade.
Mudanças
Para tentar reduzir o que Tomlinson vê como parcialidade política, as redes públicas NPR (rádio) e PBS (TV) terão quatro ombudsmen monitorando sua programação. Dois deles ficarão na CPB. A PBS criou, no ano passado, uma comissão de especialistas para revisar seu código de política editorial, criado em 1987. O novo código ainda está pendente de ser aprovado pela corporação. Caso ela não esteja de acordo, pode prejudicar a emissora reduzindo suas verbas. Entre as poucas mudanças introduzidas no código está o compromisso de que os jornalistas da emissora colocarão à disposição do público mais informações sobre seus métodos de reportagem e suas conclusões, numa espécie de ‘transparência adicional’. O próprio diretor do Projeto para a Excelência do Jornalismo, Tom Rosenstiel, que fez o rascunho da versão final do novo código, comentou em entrevista a Paul Farhi, do Washington Post [15/6/05], que ficaria muito surpreso se isso mudasse substancialmente a forma de trabalho dos jornalistas.