Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Timothy L. O’Brien

‘Um jogador da liga juvenil desta cidade de cerca de 85 mil habitantes pode ser um astro. Não importa como ele ou ela atue, qualquer adolescente tem direito a um cartão eletrônico personalizado, com foto, biografia, estatísticas e um clipe de áudio do jogador filosofando sobre o esporte, que pode ser publicado no site na internet do jornal local, ‘The Lawrence Journal-World’.

Os moradores que compram ingressos para os jogos de futebol da Universidade do Kansas podem visitar o mesmo site, ljworld.com, e encontrar fotos mostrando a visão de cada um dos 50 mil lugares do Estádio Memorial. Os aficionados por julgamentos podem encontrar transcrições completas dos casos importantes publicados no site e participar de bate-papos ao vivo sobre os prós e contras de alguns casos – às vezes com especialistas que participam dos processos.

Um site relacionado, o lawrence.com, destina-se ao público universitário. Ele permite que os visitantes baixem canções do Festival de Música Wakarusa, encontrem resenhas espirituosas sobre bares e restaurantes locais e mergulhem numa grande variedade de blogs, incluindo um do Natural de Kansas Gay na China, que recentemente teve sua primeira experiência ‘revoltante’ com uma mulher, ao Cristão Renascido, que oferece palavras de encorajamento em vídeo, até a lenda do automobilismo Dale Earnhardt Sr.

O capitão dessa variedade de assuntos na rede é Dolph C. Simons Jr., um homem politicamente conservador de 75 anos que se corresponde por meio de uma antiga máquina de escrever Royal e lápis vermelho, e detesta e-mails e computadores.

‘Não nos considero parte do setor jornalístico’, disse Simons, editor-chefe do ‘The Journal-World’ e presidente da World Company, sua empresa matriz. ‘Nosso negócio é informação, e estamos tentando oferecer informação de uma forma ou de outra, do jeito que o consumidor quiser e onde quiser, da maneira mais completa e útil possível.’

Propriedade da família Simons desde 1891, ‘The Journal-World’ é um jornal de cidade pequena que destaca notícias de cidade pequena, mas de modo algum é restrito por uma mentalidade pequena. De fato, numa época em que os jornais, grandes e pequenos, enfrentam encruzilhadas jornalísticas e financeiras, analistas da mídia dizem que ‘The Journal-World’, com uma circulação de apenas 20 mil exemplares, oferece diretrizes para o progresso.

A família Simons, através da World Company, goza de um monopólio local da mídia que é muito criticado em Lawrence. Mas a família usou essa vantagem para diversificar suas propriedades, que vão de TV a cabo e telefonia a jornal e publicação online, e assumiu riscos tecnológicos e financeiros que outros proprietários prefeririam evitar.

Simons e seus associados descrevem seus objetivos gerais como uma crença comum na qualidade, uma profunda ligação com a comunidade de Lawrence e uma constante reinvenção da relação entre suas empresas e os leitores, espectadores e anunciantes.

‘Acreditamos que o jornalismo tem sido um monólogo há muito tempo, e este é o momento perfeito para que se torne um diálogo com nossos leitores’, disse Rob Curley, 34, diretor de novas mídias da World Company. ‘Queremos que os leitores pensem que o jornal é deles, e não nosso.’

Lawrence tem uma longa história como cidade independente e corajosa. Fundada em 1854 pelos abolicionistas da Nova Inglaterra, tornou-se um dos campos de batalha mais violentos e sangrentos nos conflitos da escravidão e foi totalmente incendiada pelas milícias pró-escravidão em 1861.

A Universidade do Kansas abriu suas portas em Lawrence depois da Guerra Civil; as mulheres formavam quase a metade de sua primeira turma. A Universidade das Nações Indígenas Haskell, uma faculdade para indígenas norte-americanos, foi inaugurada duas décadas depois. Quando o avô de Simons chegou à cidade, há mais de um século, comprou o jornal local por US$ 50.

Hoje Lawrence é uma anomalia regional: um município democrata num Estado solidamente republicano. Sua grande população estudantil lhe dá animação, a universidade acrescenta sofisticação acadêmica e fanatismo esportivo, e a cidade, cheia de restaurantes e butiques originais, tornou-se um lugar favorito de artistas e ativistas.

Lawrence também é salpicada de belas casas e escolas, que atraem famílias de classe média e alta de profissionais que trabalham em Topeka e Kansas City. ‘É uma cidade de verdade com uma alma de verdade, cujos moradores gostam de participar’, disse Paul Carttar, um nativo de Lawrence que é vice-chanceler executivo para assuntos externos da Universidade do Kansas. ‘As pessoas aqui se importam sobre o que Lawrence vai ser no futuro.’

Simons diz que sua família leva muito a sério as raízes locais. ‘Meu pai me disse: se você cuidar de Lawrence, Lawrence vai cuidar de você’.

Com esse objetivo, Simons tem sido um agressivo consolidador de serviços locais de notícias e informações, enquanto resistiu, como diz, a diversas ofertas ao longo dos anos de grandes companhias que quiseram comprá-lo. Também foi um dos primeiros a adotar as novas tecnologias. A World Company começou a implantar cabos em 1968 e ofereceu a programação de TV a cabo para os residentes em 1971, pagando pela expansão com os lucros do ‘The Journal-World’, muito antes que a maioria das grandes empresas de mídia adotassem a tecnologia.

Hoje, cerca de 80% das casas de Lawrence têm conexão a cabo. O ‘Journal-World’ começou a publicar na internet em 1995, mesmo ano em que a Sunflower, subsidiária de banda larga da World Company, ofereceu modems a cabo a seus clientes. Em 1999 o jornal e seu canal de TV começaram a compartilhar talentos, usando os repórteres para escrever para o ‘Journal-World’ e aparecer nos canais de notícias da empresa.

‘Não temos medo de ultrapassar os limites, isso por causa de quem são nossos donos’, disse Patrick Knorr, 32, diretor-geral da Sunflower, que também é supervisor de planejamento estratégico da World Company. ‘Eles estão decididos a não perder por terem dormido no ponto.’

Knorr comentou que a World, que emprega cerca de 600 pessoas, não tentou oferecer novo conteúdo para os assinantes de banda larga enquanto não teve sólidas relações com seus clientes e um canal robusto através do qual bombear as ofertas de mídia. ‘O conteúdo é absolutamente crítico e reina’, disse Knorr. ‘Mas os consumidores têm mais poder que nunca sobre o que é coroado.’

Em uma manhã de verão escaldante em 2001, Simons reuniu a maior parte de sua equipe de mídia no porão de uma antiga agência de correios restaurada, na esquina das ruas New Hampshire e Seventh. O edifício era o novo ‘centro convergente de notícias’ que abrigaria as equipes de televisão, jornal e online da World Company.

Simons disse a seus editores e repórteres que eles fariam mais que simplesmente trabalhar ombro a ombro; compartilhariam pautas, investigações e tarefas, gostassem ou não.

Muitos realmente não gostaram, e alguns repórteres da World disseram que às vezes ainda se sentem explorados quando lhes pedem para combinar tarefas da mídia impressa, televisiva e online num mesmo dia. Os repórteres e editores do jornal às vezes relutam em dividir pautas ou idéias com seus colegas da televisão, e a equipe da TV exibe uma relutância recíproca. Mas muitos repórteres também disseram que com o tempo se adaptaram.

‘Você pode realmente hesitar entre ‘Não estou gostando disso e não é justo’ a ‘Isto é uma das coisas mais bacanas que já fiz’, disse Deanna Richards, uma repórter de televisão que trabalha na redação convergente da World.

Em 1993 Simons recrutou Bill Snead, um fotógrafo premiado de ‘The Washington Post’, para supervisionar a redação do ‘Journal-World’. Hoje um editor sênior, Snead, 67, escreveu, fotografou e gravou vídeos para matérias especiais sobre temas como a labuta agrícola, líderes de torcida e caubóis. Ele disse que nunca tinha feito um vídeo antes de chegar ao ‘Journal-World’, mas não teve dificuldades para se adaptar.

‘A tecnologia está a nosso serviço, coloca nosso material lá fora – mas o principal ainda é o conteúdo’, ele disse, acrescentando que as operações de cabo e online da empresa ajudaram a forjar uma relação mais íntima com os leitores. ‘Se você demonstrar respeito pelas pessoas e não as tratar como uma mercadoria, você tem rédeas livres. É o que estamos fazendo aqui.’

Por mais ambiciosa e criativa que seja a equipe do ‘Journal-World’, o jornal ainda oferece um cardápio de matérias totalmente local. Meteorologia, julgamentos, esportes e outras minúcias locais dominam. Alguns críticos dizem que o monopólio da família Simons também garante que temas polêmicos, como diferenças políticas ou debates sobre o uso da terra, são atenuados nas páginas do jornal, críticas que Simons e sua equipe jornalística refutam veementemente.

‘Eles controlam o diálogo no noticiário local’, disse Charles Goff III, 46, um ativista político e artista de Lawrence. ‘Todo ponto de vista passa por seu filtro e está ligado à Câmara do Comércio e à elite rica.’

Mas Goff admitiu que não sabia da profundidade de ofertas do site do ‘Journal-World’. Ele também disse que, embora ache as páginas editoriais e de opinião do jornal excessivamente conservadoras, as páginas de notícias geralmente oferecem perspectivas mais equilibradas.

E enquanto alguns moradores se queixam da visão voltada para o próprio umbigo do jornal, os que dirigem a publicação são entusiastas por tudo o que acontece em Lawrence. ‘Quando o ônibus espacial explodiu, não publicamos na nossa homepage; quando começou a guerra no Iraque, não publicamos na homepage’, disse Curley. ‘Nos concentramos totalmente em matérias locais, e acho que isso fez nosso tráfego na web enlouquecer.’

Simons recrutou Curley para a World Company três anos atrás, quando o site do ‘Journal-World’ chegou perto de 500 mil páginas vistas por mês. Curley diz que hoje o número é de aproximadamente 7 milhões. Diretores da companhia disseram que sua operação online estava tendo um prejuízo mensal de cerca de US$ 15 mil quando Curley chegou, e esperam que o negócio se torne rentável este ano.

Ralph Gage, principal diretor operacional da World, foi encarregado por Simons de fazer os trens da empresa circularem no horário. A receita online inclui cerca de 1,5% da receita total da World Company, ele disse, enquanto o grosso das vendas vem da banda larga, com 53%, e do jornal, com 37%.

Mas Gage disse que a companhia prevê que a receita do jornal diminuirá com o tempo, e os empreendimentos online serão uma fonte de vendas muito mais importante. Por isso a World tem usado os fundos da banda larga para financiar os empreendimentos online, até que os lucros na rede se tornem mais significativos, provavelmente no final desta década.

Segundo uma pesquisa recente da Nielsen/NetRatings, os sites de jornais de todo os Estados Unidos tiveram um aumento de 12% em visitantes únicos de maio de 2004 a maio de 2005, com uma porção significativa de leitores de 35 a 44 anos mudando do jornal impresso para sua edição eletrônica.

‘A circulação de jornais vem encolhendo desde os anos 60, e hoje finalmente estamos aumentando nossa audiência online, por isso quando ouço alguém se queixar de oferecer seu conteúdo de graça na internet acho que simplesmente não está entendendo’, disse Curley. ‘Sou um capitalista e respeito as pessoas que querem ganhar muito dinheiro, mas sou jornalista e quero construir coisas bacanas.’

É claro que construir coisas bacanas simplesmente por prazer sofreu um baque nacional durante o estouro das pontocom. Mas as iniciativas de novas mídias da World Company demonstram que até os menores lugares podem ser interessantes quando examinados e tratados de perto.

Através do site do ‘Journal-World’ e do lawrence.com, que também é publicado como edição impressa semanal, Lawrence ganha vida de uma maneira rara para uma cidade de seu porte. A cidade, que já abrigou o poeta Langston Hughes e o romancista William S. Burroughs, tem uma rica tradição literária. Os jornalistas da World estão montando um site elaborado sobre Burroughs, que inclui cartas, fotografias e materiais de arquivo raros.

Durante uma eleição local, os sites do jornal mostraram aos leitores as perguntas que os repórteres fizeram aos candidatos como parte do guia do eleitor; os eleitores podiam responder às mesmas perguntas e depois usar uma ferramenta online para encontrar os candidatos cujas respostas mais combinassem com as deles – um exemplo de jornalismo cívico.

O site do jornal também costuma publicar pedidos de liberdade de informação e pilhas de registros públicos. Em 2003, a World instalou cerca de 30 pontos de conexão sem fio pela cidade. No mesmo ano começou a enviar conteúdo diário para telefones celulares através de um serviço SMS. Por exemplo, os assinantes podem receber resultados de jogos e estatísticas sob demanda.

A companhia começou a oferecer ‘podcasts’ diários de notícias e outras informações para proprietários de iPod ou qualquer usuário de tocador de MP3. Ela pretende oferecer um serviço que envia informações automaticamente a um tocador de MP3 conectado no início da manhã.

Cerca de um terço dos 18 funcionários da operação online são estagiários e permitem que Curley tenha dados, vídeos, fotos e outros materiais reunidos e publicados por baixo custo, um processo que ele chama, sorrindo, de ‘estagiologia’.

‘As pessoas vêm para cá de milhares de quilômetros de distância esperando ver algo muito ‘high-tech’ e caro, mas muito do que fazemos aqui é barato’, disse Curley. ‘Por isso fico surpreso quando dizem que não conseguem fazer o mesmo porque não têm recursos.’

Mas são os recursos financeiros e não o conteúdo que estão por trás das dificuldades nos círculos jornalísticos. Os anúncios impressos ficam estagnados ou diminuem, e ainda não estão sendo substituídos de maneira significativa pela receita de anúncios online – especialmente em companhias que não têm uma fonte de financiamento como a operação de banda larga da World. Embora alguns jornalistas detestem ouvir isso, a batalha em curto prazo pela sobrevivência empresarial provavelmente será lutada e vencida principalmente por equipes criativas de publicidade e negócios nas companhias de mídia.

O departamento de publicidade da World Company disse que sua equipe de vendas adotou a convergência com entusiasmo, e que oferecer aos consumidores diversos níveis de publicidade – na TV, na internet e no jornal – tornou-se um forte atrativo promocional. Mas a companhia ainda está achando difícil convencer os leitores a interagir com anúncios online. E, enquanto deseja se adaptar às novas exigências de publicidade, a World se recusa a transformar seus sites em um painel de anúncios, acreditando que a confusão prejudicaria a qualidade e a integridade de seu jornalismo.

‘Acho que assim como convergimos o conteúdo, vamos convergir a publicidade’, disse Dan Simons, presidente de operações de banda larga da empresa. ‘Acho que é preciso adaptar-se ao modo como os vendedores querem transmitir suas mensagens, de modo que não somos apenas vendedores de espaço e tempo. Temos de ser ao mesmo tempo anunciantes e assessores de relações-públicas para ajudar as empresas a criar suas mensagens.’

Apesar da efervescência da mídia noticiosa em Lawrence, os analistas hesitam em fazer grandes extrapolações das iniciativas da World Company.

‘É um mercado dominado por uma única companhia, por isso é preciso tomar muito cuidado ao usá-la como paradigma’, disse Howard Finberg, diretor de aprendizado interativo no Instituto Poynter, um grupo de pensadores sobre mídia. ‘Eles são criativos? Sem dúvida, mas sou cauteloso sobre considerá-la uma solução única ou um modelo.’

Outros são mais elogiosos, mas igualmente cautelosos sobre as inovações online de Lawrence. ‘Ninguém mais chegou perto de fazer o que eles fizeram’, disse David Card, um analista de novas mídias da Jupiter Research. ‘Mas também não seria obrigatoriamente necessário imitar o que eles estão fazendo em cidades como San Francisco ou Nova York.’

Dolph Simons, autor de uma coluna polêmica aos sábados que atrai críticas dos liberais de Lawrence, é um homem delicado e contido que ainda serve peru aos funcionários da redação no dia de Ação de Graças. Ele diz que se considera ‘um peixinho num grande lago’ e reluta em ser visto como um sabe-tudo por seus colegas e concorrentes no setor de notícias.

Mesmo assim, sua opinião sobre o futuro do jornalismo é clara: ‘Estou terrivelmente preocupado com o leitorado neste país e acho que todos precisamos aprender coisas novas o mais rápido possível – ou outras pessoas vão nos superar’, ele disse. ‘Precisamos conduzir com o farol alto, porque se conduzirmos com a lanterna alguém vai surgir do acostamento e nos empurrar para fora da estrada.’ Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves’



MÍDIA & MERCADO

Tim Burt e Joshua Chafin

‘Mídia dos EUA quer crescer no exterior’, copyright Folha de S. Paulo / Financial Times, 26/06/05

‘Por anos, as fortunas do setor de mídia dos Estados Unidos vêm dependendo das demandas de um mercado doméstico que movimenta mais de US$ 500 bilhões ao ano em faturamento. Mas os executivos nas sedes da News Corporation, da Time Warner e de outros gigantes da mídia cada vez mais mapeiam um futuro em novos territórios.

O conselho da News Corp., presidido por Rupert Murdoch, foi informado na semana passada sobre as mais recentes iniciativas da empresa para explorar os altos índices de crescimento e margens de lucros oferecidos pelos mercados emergentes. A empresa acaba de concluir duas aquisições no segmento de publicidade exterior na Turquia e na Ucrânia, ampliando sua presença pequena mas de crescimento acelerado em publicidade em outdoors.

A News Corp. já é mais internacional do que qualquer uma de suas rivais americanas, com uma carteira de propriedades que inclui a StarTV, na Ásia, jornais no Reino Unido e na Austrália, o grupo de TV por assinatura Sky Italia e a maior empresa de publicidade exterior da Rússia. Mas, ainda assim, depende dos EUA para 75% de suas receitas e isso pode ser causa de preocupação.

‘Existe uma compreensão de que, quando você observa os nossos negócios, estamos em um monte de áreas maduras: jornais, estações de TV. São nossa principal fonte de renda, mas não geram crescimento da ordem de dois dígitos’, disse um executivo da News Corp. ‘Planejamos usar a internet e os videogames, nos Estados Unidos, e investimentos internacionais para procurar por um melhor equilíbrio.’

Essas aspirações internacionais são compartilhadas, de maneira cada vez mais urgente, por outros grupos norte-americanos.

Bob Wright, presidente do conselho da NBC Universal, deve indicar movimentos semelhantes na semana que vem, quando conversar com seus executivos na Europa, tentando emular a presença mundial de que desfrutam empresas como a Walt Disney. ‘Presença internacional está ganhando importância é o assunto do dia entre as empresas de mídia’, disse Andy Bird, presidente da divisão internacional da Disney.

Os gastos dos norte-americanos com mídia, que crescem em ritmo composto de 5,4% ao ano, podem ser causa de inveja para diversos outros setores, mas ficam atrás dos 10% da Ásia e dos cerca de 7% da América Latina.

O sinal possivelmente mais claro quanto à importância do mercado internacional chega de Hollywood: os estúdios colhem a maior parte de seu faturamento em bilheteria no exterior.

O crescimento internacional não sinaliza um êxodo das grandes empresas de mídia atualmente posicionadas no mercado dos Estados Unidos. Mesmo em 2008, o mercado de mídia norte-americano continuará dominante, respondendo por US$ 680 bilhões do US$ 1,67 trilhão de gastos e investimento estimados. ‘Mesmo que o mercado norte-americano talvez perca velocidade nos próximos cinco anos, são precisos os próximos 10 ou 12 países do mundo combinados para que cheguemos perto do montante agregado que representa o mercado dos Estados Unidos’, diz Jeff Bewkes, presidente do conselho das operações de entretenimento da Time Warner.

Mas Bewkes, que supervisiona a Warner Bros., New Line Cinema, HBO, CNN e Cartoon Network, admite que o mercado norte-americano não é capaz de sustentar o negócio sem ajuda. ‘A longo prazo, todos nós precisamos estar nos mercados de crescimento. No período 2010-2020, imensa porcentagem do crescimento e do valor agregado virá dos mercados menos desenvolvidos na Europa Oriental, no Sudeste Asiático e na América Latina.’

Essas empresas também estão de olho no mercado internacional porque existem menos oportunidades de aquisição disponíveis no mercado interno. As avaliações das empresas passíveis de compra são elevadas demais. Um veterano investidor em mídia diz que ‘nos EUA, a menos que você tenha a capacidade de levantar e bancar um total de US$ 20 bilhões, é impossível adquirir qualquer coisa significativa. Trata-se de um mercado de gigantes’.

O desafio para as empresas de mídia norte-americanas não é simplesmente ampliar sua participação de mercado no exterior, mas fazê-lo de maneira lucrativa. Mas uma presença em um novo território não necessariamente quer dizer lucros, ou até mesmo uma grande contribuição para a receita, compensando qualquer fraqueza que venha a surgir no mercado norte-americano.

A Viacom, gigante da mídia norte-americana que está preparando uma cisão em duas empresas, está enfrentando esse dilema. Sua divisão MTV Networks vem registrando crescimento mais rápido fora dos Estados Unidos. Mas, mesmo com operações em 170 países e 40 lançamentos de produtos só no ano passado, as vendas internacionais da MTV respondem por menos de 20% do faturamento total da divisão.

Exportações

Os executivos concordam que as exportações de mídia norte-americanas, especialmente se o clima geopolítico atual persistir, não servirão como propulsor de crescimento a longo prazo. Em lugar disso, as empresas terão de tomar seus modelos de negócios e, em termos práticos, vesti-los com roupas locais.

A Time Warner, por exemplo, está aumentando o número de filmes em idiomas que não o inglês em sua lista de produções de 32 este ano a 44 em 2006.

Bewkes insiste em que, se os grupos norte-americanos não vierem a refletir as culturas e gostos locais, empresas locais vão explorá-los. ‘Para nós, a idéia de que é possível criar produtos de mídia que sirvam a todos os mercados e consumidores é questionável’, diz.

À medida que os grupos de mídia norte-americanos enfrentam esse problema, também se deparam com a ascensão de empresas locais de mídia fortes e menos avessas a riscos.

A News Corp. já teve de enfrentar essa ameaça na Itália, onde a sua divisão de TV por assinatura Sky Italia enfrenta competição de um serviço de TV digital a cabo. A News Corp. acredita que essas ameaças possam ser superadas porque oferece melhores programas e marcas que os telespectadores consideram como líderes.

A Disney também acredita que marcas façam a diferença entre o reconhecimento internacional e ser apenas mais uma empresa chegando ao mercado de mídia. ‘Posso ir a praticamente qualquer lugar do mundo, distribuir meu cartão e todo mundo conhece a Disney’, diz Bird. Os benefícios para a Disney são claros, e a empresa obteve 35% dos seus lucros operacionais no mercado internacional em 2004.

Bird diz que a estratégia reflete a crescente consciência, entre as empresas norte-americanas, de que elas precisam adotar uma estratégia de marca mais sofisticada, com mais produção local, e usar novas plataformas tecnológicas para explorar o potencial dos mercados externos.

A NBC Universal está implementando uma estratégia tripla para solucionar os problemas em suas áreas sensíveis e explorar novos mercados. Quer expandir os canais de TV a cabo que já controla, puxados por marcas como o canal Sci-Fi. A empresa espera crescer em mercados de expansão mais rápida, como a Europa Central e a Europa Oriental.

Essas oportunidades podem equilibrar a situação das operações norte-americanas. Como afirma um executivo da NBC, a expansão internacional ‘deixou de ser um luxo. Tornou-se uma obrigação’.’



WATERGATE

David Johnston

‘Ex-diretor do FBI: ‘Garganta Profunda’ me traiu’, copyright O Globo / The New York Times, 27/06/05

‘Atingido por um martelo. Foi como L. Patrick Gray, diretor do FBI durante o escândalo de Watergate, disse ter ficado após descobrir que W. Mark Felt, que considerava seu braço direito, era o Deep Throat (Garganta Profunda). Graças às informações passadas por Felt que os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do ‘Washington Post’, fizeram a série de reportagens que levaram à renúncia do presidente americano Richard Nixon, em 1974.

Aos 88 anos, Gray falou ao programa de televisão ‘This week’, rompendo um silêncio sobre o assunto que durou quase três décadas. Ele disse que se sentiu traído por Felt.

– Ele me garantiu, por diversas vezes, que não era o Deep Throat – queixou-se Gray, que teve que renunciar ao cargo no FBI em 1973.

Gray disse que agora entende por que nunca conseguiu pistas sobre o vazamento das informações dentro do FBI. É que Felt era o encarregado de contê-las.

– Ele sempre foi um funcionário exemplar. Por isso, fiquei chocado ao saber que ele era o Garganta Profunda.

Durante o escândalo de Watergate, Gray foi descrito como um ingênuo e dócil advogado, colocado temporariamente no cargo por indicação de Nixon, após a morte de J. Edgar Hoover, em 1972. Em seu livro, ‘The FBI Pyramid From the Inside’, lançado em 1979, Felt descreve Gray como um diretor ausente.

– Não entendo como Felt fez isso comigo. Confiava muito nele – reclamou Gray.’



Folha de S. Paulo

‘Ex-chefe do FBI se diz traído por ‘Garganta’’, copyright Folha de S. Paulo, 27/06/05

‘L. Patrick Gray, 88, diretor do FBI na época em que estourou o escândalo Watergate, pôs fim a mais de três décadas de silêncio e afirmou ontem que se sentiu chocado e traído com a divulgação de que seu vice na ocasião, W. Mark Felt, era o ‘Garganta Profunda’ -a fonte secreta dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, do ‘Washington Post’. O escândalo derrubou o então presidente Richard Nixon. ‘Ele me havia dito repetidas vezes que não era o ‘Garganta Profunda’, disse Gray em entrevista à TV ABC. ‘Acho que ele me enganou. Eu confiava nele. Não posso dizer o quão profundo foi meu choque e minha dor quando descobri que era Mark Felt.’’