Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sérgio Dávila

‘O Google, empresa de mídia mais valorizada na Bolsa de Valores de Nova York, abrirá filial no Brasil até o final de 2005. Quem fala é um dos fundadores e criador do mecanismo de busca mais utilizado da internet no mundo, o moscovita naturalizado norte-americano Sergey Brin, 31. ‘Vamos abrir uma filial do Google no Brasil em 2005, não posso lhe dizer a data específica por uma questão estratégica’, disse ele em resposta à Folha na sede da empresa, em Mountain View, no Vale do Silício californiano.

Segundo Brin, a empresa deve anunciar filiais em outros lugares da América Latina e da Ásia, ‘especialmente em países da dimensão do Brasil, que não podem ser ignorados como mercado’. Por enquanto, foi aberto apenas um escritório voltado para a venda de espaços publicitários, que já funciona em caráter provisório em São Paulo, com dois funcionários, sob o comando do gerente de vendas Emerson Calegaretti, ex-UOL. Mas a empresa procura um diretor-geral e já tem pelo menos mais 17 vagas para a operação brasileira, a maioria nas áreas técnica e de vendas.

Até agora, o único produto disponível é o AdWords, o carro-chefe de vendas do Google mundial, que vincula as palavras-chave das buscas a anúncios. É o mecanismo que faz com que anunciantes cujos produtos tenham a ver com os termos buscados pelo internauta apareçam no canto superior direito da tela de resultados. A Folha apurou que o plano para o Brasil, no entanto, é que serviços como o Google News, um organizador de notícias automático, ganhem versão em língua portuguesa e que produtos como o Google Enterprise, que realiza busca apenas na rede interna de uma empresa, venham a seguir.

O interesse pelo país faz sentido. Nos EUA, em que o mercado publicitário movimenta US$ 280 bilhões por ano, a publicidade on-line é o setor que mais cresce -aumentou 25% em 2004 em relação ao ano anterior, segundo o ‘Insider’s Report’, da Universal McCann, ante apenas 3% nas emissoras de TV aberta. Pois aquele país abocanha 50% de todo dólar gasto com publicidade on-line no mundo, enquanto o Brasil fica apenas com 7%, de acordo com estudos do próprio Google. A idéia é ampliar essa porcentagem a curto prazo.

Mercado para isso parece existir. De acordo com pesquisa Ibope/NetRatings divulgada anteontem, cresceu o número de internautas brasileiros domésticos ativos, de 11,37 milhões em abril para 11,51 milhões -os números excluem os usuários em empresas, internet cafés e telecentros comunitários. Aumentou também o número de horas que essa tropa passa on-line: média de 16 horas e 55 minutos por mês por usuário, ou 5% mais do que o tempo registrado em abril e recorde desde que essa medição é feita.

‘O Brasil é um dos maiores mercados mundiais em termos de tráfego no Google, é o país em que o [site de relacionamentos virtuais] Orkut é o mais popular, por exemplo’, disse à Folha o fundador, que não dá os números exatos ‘por motivos estratégicos’.

Brin criou o Google com seu ex-colega da Universidade Stanford Larry Page em 1998. Começou a empresa na garagem de um amigo, em Menlo Park, também no Vale do Silício. Hoje, ambos têm uma fortuna pessoal avaliada em US$ 7 bilhões cada um.

Na primeira semana de junho, o Google se tornou a empresa de mídia mais valiosa da Bolsa de Valores de Nova York. Naquele dia, as ações do site passaram de US$ 292, ou mais de três vezes o valor quando da abertura de capital da empresa, no ano passado, o que a deixou com um valor de mercado de US$ 80 bilhões, batendo a gigante Time Warner, então primeira colocada, com US$ 78 bilhões. Há dois poréns significativos: a Time Warner faturou US$ 42 bilhões em 2004, ante US$ 3,2 bilhões da atual campeã; e a Google não é uma empresa de mídia no sentido tradicional do termo, de vender conteúdo e cobrar por isso. Ou é?

Caminha para ser, a se levar em conta um dos produtos mais recentes anunciados por Eric Schmidt, o CEO da empresa, em entrevista coletiva em maio. Trata-se do GoogleFusion, que permite que o internauta personalize sua página inicial, colocando notícias providas pelo próprio Google News, além do jornal ‘The New York Times’ e o serviço britânico BBC News, mais o Gmail (o e-mail gratuito da empresa), a previsão do tempo de acordo com o código postal do usuário, cotações de ações, horários de cinema e outros atrativos.

Como já fazem nomes como AOL, Yahoo, MSN. Que não são mecanismos de busca, mas portais. A recíproca, porém, é verdadeira. Desde a explosão do Google, também esses portais investem cada vez mais nos mecanismos de busca. O Google é o líder inconteste, segundo levantamento do comScore Media Matrix, mas o Yahoo Search vem chegando perto, seguido do MSN Search, do Ask Jeeves e do AOL Search.

Num seminário no final de maio, Bill Gates, fundador da Microsoft, usou sua palestra para dar uma lambada em seus jovens concorrentes. ‘O Google ainda é perfeito, a bolha ainda está flutuando, e eles podem tudo’, disse, de maneira sarcástica. ‘Vocês deveriam comprar as ações deles a qualquer preço. Nós também tivemos um período de dez anos assim.’ Ninguém no Google fala sobre a competição ou mesmo comenta a movimentação em direção aos portais. ‘Nosso foco será sempre a busca’, desconversa Schmidt.

A partir deste ano, essa busca incluirá o mercado brasileiro.’



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‘Por dentro do Gooooooooooooooooogle’, copyright Folha de S. Paulo, 26/06/05

‘A cada vez que digita uma palavra ou expressão na caixinha da já clássica página branca do Google e clica ‘pesquisar’, o internauta sabe o que acontece com essa informação? Pouca gente sabe.

Em dezembro do ano passado, o engenheiro de tecnologia recém-formado Mark Jen, 22, teve realizado o sonho de 9 em cada 10 engenheiros de tecnologia recém-formados: foi contratado pelo Google. Ficou tão entusiasmado que começou no mesmo dia um blog (abreviação de ‘web log’, diário virtual) que batizou de ‘Ninetyninezeros – Life @ Google from the Inside’ (Noventa e Nove Zeros – Vida no Google Vista de Dentro). Foi seu primeiro e último erro na empresa. Foi demitido no dia 28 de janeiro.

Jen nem contou muito. Escreveu que havia um clima ‘diferente’ entre os trabalhadores da empresa, como se seguissem uma religião, estivessem todos tomando Prozac ou fizessem um esforço extraordinário para parecerem felizes. O que o levou à faca, no entanto, foi um texto em que dizia que o seguro-saúde oferecido era inferior ao de seu empregador anterior, a Microsoft. A direção da Google justificou sua atitude dizendo que o funcionário tinha sido avisado de que não podia falar sobre ‘assuntos sigilosos’.

O episódio mereceu mais atenção do que deveria, como aliás é regra no novo mundo dos blogs, mas serviu para tornar pública uma faceta até então não assumida pelo Google: a empresa zela por sua privacidade com o mesmo empenho que a Casa Branca de George Bush 2º. No dia da visita da reportagem da Folha à sede, um edifício modernoso em constante fase de expansão em Mountain View, no coração do Vale do Silício, mais de 90% da área era considerada ‘fora de limite’, como num tour no Pentágono.

Quando as perguntas envolviam números, como a misteriosa quantidade de máquinas (e a capacidade delas) de que dispõe a empresa para realizar suas buscas em 8 bilhões de páginas espalhadas pelo mundo inteiro em menos de um segundo, as respostas eram invariavelmente ‘os dados são sigilosos’ ou ‘não estou autorizado a responder’. Conversando com a Folha na condição de anonimato, porém, funcionários conseguiram desenhar um pouco melhor o que acontece no interior do ‘Googleplex’.

‘70%-20%-10%’

Para começar, o fundamento do que a empresa exige de seus mais de 3.400 empregados está na mesma regra que usa para definir sua atuação no mercado: ‘70%-20%-10%’, sendo que a primeira porcentagem é quanto o empregado deve dedicar de seu tempo no Google ao Google, a segunda, quanto deve se ocupar em pesquisas de seu interesse pessoal (foi nesse intervalo que Orkut Buyukkokten desenvolveu seu site de relacionamentos virtuais, por exemplo), e os 10% restantes, quanto deve usar para lazer.

Opções para o último item não faltam, de camas de massagem a quadras de areia de voleibol, máquinas de fliperama e mesas de pingue-pongue, todos os equipamentos sendo usados quando da visita da reportagem. Duas vezes por semana, há jogos de hóquei sobre patins no estacionamento. A regra de vestuário está na lista de ‘mandamentos da empresa’, segundo a qual ‘você pode ser sério sem usar um terno’ e ‘trabalhar deve ser um desafio, e um desafio deve ser divertido’.

Há mais de 30 ‘chefs de cuisine’ na preparação do almoço, que não é cobrado e é servido em cafés espalhados pela sede. São supervisionados pelo ‘superchef’, cuja vaga ainda está aberta desde que Charlie Ayers deixou a empresa, há algumas semanas, depois de trabalhar ali por cinco anos. Ex-cozinheiro da ex-banda hippie Grateful Dead, criou a política de competição entre os diversos ‘chefs’ dos cafés do Google, que devem disputar a preferência dos funcionários e ganham prêmios se servem mais pessoas.

Isso elevou a qualidade das refeições a tal ponto que pessoas de fora da empresa pedem para ser convidadas por um amigo funcionário para almoçar lá -e é preciso fazer reserva com pelo menos dois dias de antecedência, tal a procura. Além dos cafés, há as chamadas ‘salas de petiscos’, com máquinas de refrigerantes, doces e chocolates, todas de graça e divididas por temas -a ‘saudável’ serve iogurte natural, barras energéticas e sucos naturais. A empresa fecha ainda cinemas para exibir filmes ainda inéditos -levou funcionários e famílias a assistirem ao último ‘Star Wars’ antes dos mortais.

Como em várias pontocom do Vale do Silício, não há divisórias no andar principal da sede nem salas, nem mesmo para seus dois fundadores -duas décadas mais velho do que os chefes, o CEO Eric Schmidt disse que só aceitaria trabalhar na empresa, quando foi convidado em 2001, se tivesse uma sala. Conseguiu convencer Sergey Brin e Larry Page a ter pelo menos um cubículo de reuniões. É o único do complexo, mas a vitória do CEO foi parcial: a sala tem divisórias e porta, mas ele não conseguiu colocar teto.

A maior parte dos funcionários vem dos bancos da Universidade Stanford, cujo campus fica a poucos quilômetros dali. O recrutamento é ininterrupto e sui generis. Em alguns dias do mês, por exemplo, os alunos da faculdade de engenharia recebem seu exemplar do ‘Stanford Daily’, a publicação interna, com um encarte-proposta de emprego. O último era intitulado ‘O Cérebro de Alta Performance’ e trazia perguntas, charadas, propostas de equações e um pedido: ‘Divida seu cérebro com o resto do mundo. Se você conseguiu responder parte deste teste, mande seu currículo’.

Uma área da empresa, porém, é tratada com a seriedade: a segurança. Todo o ambiente festivo descrito acima é vigiado com câmeras de segurança interna. Há um gerente da divisão de segurança corporativa e geral e um especialista de proteção executiva que comandam uma grande equipe. Antes de a vaga do especialista ser preenchida, exigia-se alguém com experiência no Serviço Secreto. E discrição.

‘Memória do mundo’

O segredismo em torno do que é e como funciona o Google se torna mais relevante por se tratar de uma empresa que já foi chamada de ‘a memória do mundo’ e ‘o barômetro da humanidade’, por abrigar e ter acesso a tantas e tão íntimas informações de tantos internautas. Há um time que armazena e analisa as buscas feitas, como polaróides do que pensa a cada segundo os milhões de pessoas conectadas. Com só um algoritmo, um técnico pode determinar se um usuário casado freqüenta sites homossexuais, por exemplo.

A qualquer momento, é possível saber o que preocupa ou interessa não só um indivíduo mas países -’Daniela Cicarelli’ no Brasil, ‘golpe militar’ na Venezuela. E quase antecipar esse estado de espírito individual-geral. Em 2001, segundos depois de um tremor começar a atingir Seattle, no Estado de Washington, as buscas por ‘earthquake’ (terremoto) nos computadores da região pularam de zero para 250 por minuto, alertando a equipe.

Além disso, parte do que é digitado na janelinha depois de clicar ‘pesquisar’ vai parar num telão que enfeita a recepção do prédio (decorada com um piano e abajures de lava). Tal equipamento, semelhante aos letreiros eletrônicos noticiosos da Time Square, vai mostrando palavras e expressões desconexas que o mundo busca naquele momento. Censuram-se somente palavras ligadas a pornografia ou sexo -mas apenas se escritas em inglês, o que dá margem a situações inusitadas, como a de um visitante brasileiro observando a palavra chula que descreve o órgão sexual feminino passando em letras enormes lentamente à sua frente.

Como o Google lida com essas informações e o que faz com elas é objeto de restrições desde o ano zero da empresa, mas as críticas aumentam conforme a empresa cresce. Hoje, os ‘Google-haters’ (odiadores do Google) já comparam o mecanismo de busca do site à onipresente rede de cafeterias Starbucks, ao fast-food McDonald’s e mesmo ao gigante de supermercados Wal-Mart. ‘Acho que a empresa se tornou tão ‘mainstream’ e tão onipresente que perdeu de alguma maneira seu objetivo original’, disse o investidor Fred Wilson.

Outra semelhança com a Wal-Mart é o fato de o Google pagar salários abaixo do praticado pelo mercado. Um administrador de sistemas ganha menos de US$ 3.000 por mês, inferior à média para o mesmo cargo nas empresas pontocom do Vale do Silício e um valor quase irrisório para quem vive e mora na região, uma das mais caras do planeta.

A empresa cujo nome já virou verbete do ‘Webster’, tradicional dicionário da língua inglesa, como sinônimo de ‘busca’ começa a se acostumar às reações nem sempre elogiosas. Às vezes, de forma criativa. À polêmica causada pela demissão do engenheiro que ‘revelou’ segredos internos em seu blog, o Google reagiu na mesma moeda. Criou o GoogleBlog, em que funcionários podem fazer ‘entradas’ diárias de fotos e textos sobre o que acontece aqui dentro. Depois de liberados, claro. Está em googleblog. blogspot.com/.’



Juliana Vilas

‘Tribuna livre’, copyright IstoÉ, 28/06/05

‘A revolução não será televisionada.’ Essa frase é o nome de um movimento de mídia independente que nasceu por volta de 2000, pouco tempo antes de o primeiro brasileiro descobrir o significado da palavra blog. A julgar pelas mudanças que a explosão dessas páginas eletrônicas está causando nos meios de comunicação, esse movimento já começou. O ambiente da internet está dominado por esses sites pessoais que no início eram usados como diários – e muitos analistas apostaram que não passariam de modismo adolescente. Hoje, essas páginas com opiniões, relatos e fotos atraem a atenção de muitos internautas. Longe de ameaçar ou substituir os meios de comunicação tradicionais, trazem a possibilidade inédita e democrática de publicar artigos sem controle algum.

Não é necessário ter conhecimento profundo sobre informática para criar um blog. Basta ter um computador com acesso à internet. Como não há controle sobre o conteúdo divulgado, o internauta que visita a página pode publicar seus comentários. É a famigerada liberdade de expressão elevada à potência máxima. A novidade chegou ao Brasil por volta de 2002 e começa a chamar a atenção da opinião pública, das celebridades, de empresários e da classe política. Os blogs, enfim, parecem ter saído da adolescência e chegado à maturidade.

Assim como é impossível controlar o conteúdo dos weblogs, é difícil contabilizá-los e, portanto, dimensionar esse fenômeno. Estima-se que sejam mais de 11 milhões deles no mundo e que surjam 40 mil novos por dia, segundo a empresa Technorati, que rastreia esses endereços. O maior catálogo de blogs brasileiros, o www.blogs.com.br, da mineira Maysa Pereira, já registra mais de 30 mil páginas – embora se suspeite que o número seja ainda maior. É quase impossível traçar um perfil dos blogueiros brasileiros, que estão em todas as faixas etárias, regiões e profissões. Maysa arrisca um palpite: ‘Os diários pessoais são a maioria, sete em cada dez pessoas que têm blogs são mulheres entre 15 e 23 anos.’

A apresentadora de tevê Fernanda Lima ilustra bem essa estatística. Seu blog (www.fernandalima. com.br/blog.html) tem de tudo um pouco. Conversas com telespectadores de seu programa na MTV, detalhes de sua vida pessoal e comentários sobre o noticiário no mundo. ‘Às vezes, chego a acordar no meio da noite com idéias sobre algum assunto, mas já pela manhã penso que ele não tem relevância alguma para quem vai ler’, ela escreve. Seus leitores discordam, comentam seus textos, tecem elogios e trocam desabafos.

Assim como a VJ, a atriz Samara Felippo (www.samarafelippo.blogger. com.br) criou um blog para dialogar com seus fãs, contar novidades e ler comentários sobre seu trabalho. Sua página, porém, ficou maior, com iniciativas solidárias como a campanha para doação de medula óssea para salvar a vida de crianças com leucemia. Já a atriz e cantora Thalma de Freitas usa seu blog como ferramenta de marketing pessoal (www.afilhadomaestro.blogger.com.br). Ali, a carioca Thalma, filha do maestro Laércio de Freitas, divulga seus shows, bastidores de ensaios fotográficos, encontros com celebridades e muitas fotos.

Fama – Embora a maioria dos blogs ainda seja do tipo ‘diário pessoal’, são os endereços jornalísticos, como o do apresentador de tevê Marcelo Tas, e os políticos, como o do jornalista Ricardo Noblat, que ganharam notoriedade, prestígio e audiência. O blog de Noblat (http://noblat.blig.ig.com.br) protagonizou episódios que confirmam que a revolução da blogosfera já começou. Lido assiduamente pelos interessados em política, a página foi citada pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) em seu primeiro depoimento no Congresso. Semanas antes, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) resolveu assinar o pedido de abertura da CPI dos Correios, depois de ler os comentários dos leitores de Noblat.

No dia seguinte ao depoimento de Jefferson, Noblat registrou recorde de audiência. Num único dia foram 72.240 visitantes. ‘Os números desmoralizam a idéia de que as pessoas não se interessam em ler sobre o que já viram na televisão. Elas querem ver, escutar e ser ouvidas. Querem opinar’, diz. Noblat, que foi diretor de diversos jornais impressos, no momento não trabalha em veículo de comunicação de massa, mas criou um meio em que a massa se comunica com ele.

A idéia de que blogs são verdadeiras tribunas livres é que torna esse fenômeno revolucionário. A interatividade em tempo real é o diferencial inovador. O presidente da Associação Brasileira de Provedores de Acesso à Internet (Abranet), António Tavares, diz que na internet tudo nasceu para ser caótico, acessível e livre. ‘Antes o caos do que o cerceamento da liberdade’, diz, criticando o governo chinês por impor uma censura à sua blogosfera. ‘Nos blogs, o direito de resposta é natural e instantâneo. Isso aumenta a responsabilidade de quem escreve. Os temas são pautados pelos leitores e não o contrário, é uma inversão da hierarquia’, diz.

Há quem diga que liberdade em excesso tem seu lado negativo. É possível encontrar blogs de conteúdo nocivo aos olhares de crianças e jovens. Um exemplo é o ‘viciado carioca’, diário virtual de um cocainômano. Segundo especialistas, mesmo com o risco de desprevenidos se depararem com blogs como esse, nada justifica qualquer tipo de controle. ‘A rede é um espaço de expressão livre e quem está imbuído de ética sabe se comportar’, afirma Gilberto Lacerda, da Universidade de Brasília (UnB). ‘Vemos o surgimento de uma nova sociedade impulsionada pela explosão dos blogs. É tão novo que nem sabemos como lidar com essa liberdade inédita’, afirma.

Big Brother – O psicólogo paulista David Pereira, autor de tese sobre sociedades de informação, chamou o fenômeno de revolução anarquicultural. Ele analisa os blogs como ferramentas ‘com vocação para despertar polêmicas e paixões’. E ressalta que viver a comunicação em rede ameniza a solidão. Assim como nas salas de bate-papo (chats), a possibilidade de fazer contato e trocar idéias é o que move os blogueiros de plantão. Fabiana Komesu, especialista em lingüística da Universidade de Campinas (Unicamp), pesquisou 53 blogs do tipo ‘diário’ para sua tese de doutorado. ‘Muitos usam o computador para acessar o mundo e o universo do outro sem sair de casa. Não são diários íntimos, mas um fenômeno de comunicação social complexo’, atesta.

Apesar de toda essa reorganização social, ainda não se pode falar em cifras. Por enquanto, o serviço é oferecido gratuitamente pelos provedores de internet. Para os anunciantes de mídias tradicionais, os blogs praticamente não existem. Alguns blogueiros garantem que já é possível ganhar uns tostões. O escritor Alex Castro, criador do guia de páginas brasileiras SobreSites, diz que há pelo menos duas formas de se ganhar dinheiro com blogs. Uma delas é ser filiado a um shopping virtual, que paga comissão sobre as vendas aos que chegarem à loja a partir de sua página.

A outra forma de lucrar na blogosfera é com um braço do mecanismo de buscas Google, o Adsense, no qual as empresas oferecem produtos relacionados às palavras-chave mencionadas no blog. São modelos ainda incipientes. Por enquanto, a vantagem de manter um blog atraente e atualizado é ter uma ferramenta eficaz de marketing pessoal nas mãos. Que o digam as centenas de celebridades blogueiras, como a atriz Samara Felippo, a cantora Thalma de Freitas e a apresentadora Fernanda Lima.’



Mario Lima Cavalcanti

‘A curta vida de um editorial participativo’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 21/06/05

‘Tão pouco surgiu, logo sumiu. Menos de uma semana de vida. Assim foi com o ‘wikitorial’ do sítio LATimes.com, o braço virtual do diário Los Angeles Times. Talvez uma das primeiras tentativas de um jornal ‘mainstream’ absorver propriedades do jornalismo participativo, o wikitorial, lançado na última sexta-feira, 17, objetivava, como o nome sugere, ser um editorial em formato wiki e, portanto, ‘editável’ por qualquer leitor.

A idéia, segundo André Martinez, editor responsável pelos editoriais do Los Angeles Times, era criar uma maior aproximação entre os leitores e o sítio. O recurso foi noticiado em diversos veículos norte-americanos que cobrem mídia digital, incluindo o Cyberjournalist.net e o Poynter.org. Em mensagem enviada ao editor sênior do Instituto Poynter, Martinez explica que a nova seção, ainda em versão beta, permitiria aos leitores do LATimes.com escrever e reescrever um dos editoriais do sítio utilizando a filosofia da colaboração open source, na qual os leitores participam integral ou parcialmente dos processos de produção de um material jornalístico.

Mas, com menos de uma semana de existência, a seção foi desativada temporariamente devido, segundo o próprio sítio, ao excesso de material inapropriado postado por alguns leitores. A mensagem explicativa abaixo é o que sobrou da proposta:

‘Where is the wikitorial? Unfortunately, we have had to remove this feature, at least temporarily, because a few readers were flooding the site with inappropriate material. Thanks and apologies to the thousands of people who logged on in the right spirit.’

Aos que consideram a filosofia participativa uma utopia, cito como exemplo apenas o WikiNews, jornal online open source desenvolvido por nada mais nada menos que os mesmos criadores da WikiPedia – que, diga-se de passagem, já se consagrou e hoje é utilizada inclusive pela grande mídia quando é necessário explicar algum verbete. Uma obra-prima e um exemplo do poder da colaboração participativa, o WikiNews já passou por alguns apertos, é verdade, mas acredito que vai se tornar em pouco tempo um veículo sólido, formador de opinião. A Wikimedia, empresa que o desenvolveu, faz pesquisas e ministra eventos sobre comunicação open source e sabe exatamente onde está pisando. É uma empresa que já nasceu com o pensamento open source.

Quanto ao wikitorial do LATimes.com, imagino que o recurso tenha sido desativado por pura falta de planejamento. Trolls – num contexto cibernético, nome dado aos vândalos virtuais – existem em qualquer ponto do ciberespaço. O próprio WikiNews sofreu com ataques similares. A proposta do Los Angeles Times é bastante louvável – e é um caminho que, acredito, muitos veículos de vanguarda provavelmente seguirão a fim de, no mínimo, manter a fidelidade do público – mas, infelizmente, é preciso o mínimo de coordenação e de monitoração para lidar com um projeto open source, não só por causa de hooligans virtuais como os trolls, como também por causa da postagem de notícias falsas.

Espero que o recurso volte aprimorado, pois será interessante ver uma seção open source em uma edição virtual de um jornal clássico. Até a próxima!

Em tempo:

– Um artigo de autoria de Steve Outing feito exclusivamente para ajudar editores e redatores a entender o que é o jornalismo open source: The 11 Layers of Citizen Journalism (As 11 Camadas do Jornalismo Cidadão)

– Um projeto iniciado recentemente por Amy Gahran explicando, em inglês, como leitores devem agir em ambientes open source e ajudando veículos a entenderem como podem trabalhar com jornalistas cidadãos: I, Reporter (Eu, Repórter)

– Uma breve lista de sítios de jornalismo participativo que estão se destacando:

MyTown

NowPublic.com

Parla

Slashdot.org

WikiNews

YourHub.com’



TV DIGITAL

Antonio Brasil

‘TV com dúvidas digitais’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 21/06/05

‘A TV em todo o mundo enfrenta grandes desafios. Além dos avanços da Internet, tem que decidir nos próximos anos o seu próprio futuro: ‘Ser ou não ser digital. Eis a questão.’ Em debate: quando e como deve ser feita essa transição?

Nesta última sexta-feira, o Simpósio Internacional de TV Digital, organizado pelo Instituto de Estudos de TV, sob a direção do jornalista Nelson Hoineff, procurou esclarecer algumas dessas dúvidas. Cumprindo a promessa, esclareceu algumas, mas também criou outras tantas.

Em uma verdadeira maratona de palestras com especialistas de diversas áreas, pudemos refletir e avaliar algumas questões fundamentais para o meio televisivo.

Em relação ao Brasil, a boa notícia é que se depender da competência do atual governo para tocar projetos e da apresentação do seu representante no Simpósio, o tal Sistema Brasileiro de TV Digital, o Pal-M Digital não vinga. Menos mal. Na implantação da TV a cores no Brasil, enfrentamos um problema similar. Em tempos de ditadura militar, criamos um ‘mostrengo’ de engenharia televisiva que condenou a nossa produção independente à indigência e o país ao ridículo tecnológico.

Criamos um sistema de TV a cores somente para o Brasil. Um sistema Frankestein nada brasileiro. Metade americana e metade européia. Mas, como sempre, rendeu muito dinheiro para alguns poucos privilegiados. Em um mundo de grande competição e em busca de comunicação universal, ficamos mais uma vez isolados falando sozinhos.

Nem sequer economizamos divisas com a substituição da importação de equipamentos. Sem maiores investimentos ou planejamento adequado, criamos uma arapuca. Criamos o sistema, mas jamais instalamos um parque industrial para produção de equipamentos profissionais no famigerado sistema Pal-M. Ou seja, os pobres produtores brasileiros se viram obrigados a importar equipamentos profissionais no sistema único brasileiro de outros países como o Japão ou EUA, com limitações técnicas e custos altíssimos. Mais uma brincadeira de mau gosto de políticos oportunistas e governos irresponsáveis.

Mas, após o Simpósio Internacional de TV Digital, os produtores independentes brasileiros podem dormir bem mais tranqüilos. Ao declarar que mais de 70 instituições brasileiras estão participando e dividindo as poucas verbas de pesquisa, chega-se à conclusão que o SBTVD já virou mais um projeto ‘Fome Zero’. Não passa de mais um ‘delírio’ de ex-ministro que hoje se afastou do governo e prefere denunciar mensalões, o deputado Miro Teixeira. Além disso, o mais importante. No mesmo simpósio ficou evidente que o tal sistema de TV digital brasileiro não é apoiado porque decide TV e Comunicações no Brasil: a Rede Globo.

Novelas digitais

Em sua apresentação no Simpósio Internacional de TV Digital, os três (sic) representantes da emissora líder deixaram bem claro que apóiam o sistema japonês. Pelo menos, por enquanto. Ou seja, o sistema brasileiro de TV digital está morto. Não interessa à Globo.

Além de definir a sua preferência, os representantes da emissora líder deixaram bem claro as suas prioridades. Para eles, o mais importante na escolha de um sistema de TV digital para o Brasil é a capacidade de produção e transmissão em Alta Definição. A engenharia da Globo continua impondo o seu próprio padrão de qualidade. O conteúdo, a experimentação e a criatividade têm que ser submissos à ditadura da técnica, ou seja, da engenharia.

A apresentação da Globo no simpósio privilegiou as questões cosméticas na produção televisiva, principalmente, em relação às telenovelas. Foram mostradas as diferenças de qualidade na captação de imagens em alta definição na produção das mesmas novelas e minisséries de sempre.

Em vez de discutir o potencial da interatividade, mobilidade ou portabilidade no desenvolvimento de novas narrativas televisivas, fomos contemplados com a descrição de detalhes técnicos considerados ‘importantíssimos’ como produção de figurinos, cenários e maquiagem na era digital.

Como já era de se esperar em uma apresentação conduzida por engenheiros e economistas, a Globo mais uma vez não apresentou nenhum produto ou projeto televisivo novo. Para demonstrar as qualidades da captação em Alta Definição Digital, citou os custos, benefícios e utilizou aquela mesma minissérie esquisita, ‘Hoje é dia de Maria’, ou ‘Dorothy e o Mágico de Oz visitam o Agreste’. Nesse mundo, e, principalmente na Globo, nada se cria.

Visgraf Lab

Ainda no Simpósio Internacional de TV Digital, o segmento que discutiu os novos conteúdos deu um show de criatividade e ousadia. A começar pelo diretor do Laboratório VISGRAF e pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, IMPA, Prof. Dr. Luiz Velho. Apesar de não dispor dos recursos milionários de nossas emissoras de TV ou das benesses de projetos de interesse prioritário do governo, a equipe do Jardim Botânico – o IMPA só é vizinho da Globo – demonstrou a excelência da produção brasileira em pesquisa e produção de computação gráfica de última geração para uma TV digital realmente diferente.

Confesso que não tinha a menor idéia do trabalho conduzido pelo Laboratório VISGRAF do IMPA. Faço questão de recomendar o trabalho pioneiro de Luiz Velho e uma visita ao site (ver aqui). Podemos não inventar a roda ou a bola, mas sabemos muito bem como conduzi-la ou jogá-la.

Fictionlab da BBC

O melhor do simpósio, no entanto, estava reservado para o seu grand finale. Quem resistiu à longa maratona com tantas palestras foi brindado com uma apresentação única e inesquecível do representante da BBC. Mais uma vez, a rede britânica ousou e, como sempre, inovou. Ao invés de enviar como seu representante em um simpósio de TV digital mais um engenheiro, economista ou vendedor de produtos, a velha BBC selecionou um ator, melhor dizendo, um jovem e apaixonado diretor de dramaturgia para falar sobre a sua experiência de transição digital.

Richard Fell é diretor do FictionLab da BBC (ver aqui), um laboratório de novas narrativas para a dramaturgia televisiva em uma era digital. Falando com o coração, Richard emocionou a platéia e deu um banho de televisão. Não apresentou números ou gráficos confusos sobre o futuro incerto da TV na era digital. Trouxe, sim, diversos clips com os melhores momentos dos novos projetos desenvolvidos pela rede pública britânica, a velha BBC para o seu próprio futuro digital. A BBC acredita no futuro e na sua capacidade de produzir programas inovadores. Richard Fell apresentou projetos que privilegiam a inteligência do meio e a interatividade com o público. Não perdeu tempo com detalhes técnicos ou cosméticos da captação de imagens em alta ou baixa definição. No final, tanto faz mesmo. O importante é aproveitar a transição digital para criar novos conteúdos. A BBC acredita no futuro da TV.

TV digital na Internet

Apesar do clima de otimismo, procurei indagar sobre o futuro da própria BBC. Em tempos de caça às bruxas com cortes profundos de pessoal e recursos, Richard Fell fez questão de relembrar o passado da rede britânica: ‘Se há alguma coisa que aprendemos a fazer, não é, necessariamente, a produzir a melhor TV do mundo. Aprendemos a sobreviver.’ Tomara!

O Simpósio Internacional de TV Digital foi um sucesso. O auditório do Sesc-Flamengo aqui no Rio estava lotado e muitos participantes tiveram que assistir às palestras pela TV. No futuro, deveríamos disponibilizar eventos como esse pela própria Internet ao vivo via Webcasting. Ou, pelo menos, disponibilizar os melhores momentos em vídeo pela rede.

Ignorar os avanços da Internet pode ser um grande erro. A TV pode se tornar o rádio de hoje. Um meio líder do passado. Podemos apostar no cavalo ou na tecnologia errada e superada.

Continuo acreditando que, entre a TV analógica e a TV digital, o futuro pertence a uma TV digital… na Internet.’



AGRESSÃO À GLOBO

Comunique-se

‘PSTU repudia agressão à equipe da Globo’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 24/06/05

‘O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) emitiu nota à imprensa repudiando as agressões à equipe da TV Globo no dia 21/06, em frente à sede do PT, em São Paulo. A equipe fazia matéria sobre a crise no PT.

Leia a nota na íntegra:

‘Na noite do dia 21, três funcionários da Rede Globo foram covardemente agredidos enquanto faziam um plantão em frente à sede do PT, no Centro de São Paulo.

As investigações da polícia levaram a identificação de dois dos agressores, e, um deles estaria usando um adesivo da Chapa 2 – Oposição, que disputou as eleições para o Sindicato dos Bancários nesta semana, apoiada pelo PSTU.

Nosso partido repudia com todas as forças a agressão à equipe de tv e nos solidarizamos com os três trabalhadores. Nada, nem mesmo a trajetória da TV Globo de apoiar a ditadura e atacar os movimentos sociais, justificaria qualquer agressão aos seus funcionários que, assim como os bancários, estavam ali trabalhando e são explorados por seus patrões.

Nesta sexta-feira, o jornal ‘Agora’, de São Paulo, publicou uma matéria com o título ‘Agressor de equipe de TV é do PSTU’. Repudiamos esta tentativa intencional de estabelecer uma ligação entre um partido que está nas lutas dos trabalhadores contra o governo com uma agressão injustificada contra trabalhadores. Esclarecemos, mais uma vez, que nenhum militante ou filiado ao PSTU participou da agressão. E desafiamos a que se prove o contrário.

Lembramos ainda que, no dia seguinte, a Chapa 2 distribuiu uma nota informando que nenhum candidato da chapa participou da agressão e que não conhecia nenhum dos agressores. Na oportunidade, a chapa informou que mais de mil pessoas fizeram parte do processo eleitoral, entre apoiadores e mesários, nas 200 urnas que percorreram as agências.’

São Paulo, 24 de junho de 2005.

PARTIDO SOCIALISTA DOS TRABALHADORES UNIFICADO’