Leia abaixo os textos desta terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Terça-feira, 14 de fevereiro de 2006
CRISE DAS CHARGES
A pior caricatura
‘Mais do que todos os outros, temo os fundamentalistas ocidentais -principalmente aqueles que, empregando o discurso iluminista, se aproveitam dos tumultos provocados pelas caricaturas de Maomé para propor medidas que restrinjam nossas liberdades de expressão.
Lamento profundamente as mortes que têm ocorrido durante os protestos contra a publicação das charges dinamarquesas. Entretanto basta examinar o mapa dos lugares mais revoltados para que se perceba que eles já tinham sido esquentados pela intervenção cada vez mais dura das potências ocidentais. Não creio que um Afeganistão pacificado reagisse com tal violência a uma provocação. Por todos os lados, as charges estão servindo para incitar as massas com fins políticos.
O que mais preocupa é a propaganda pela autocensura da imprensa, os sermões sobre os limites da liberdade -enfim, toda essa ladainha em torno da responsabilidade da imprensa livre, que não deve cair na tentação de extravasar limites ofendendo sentimentos religiosos, símbolos coletivos e a honra pessoal.
No final das contas, quem estabelece quais são tais limites? Em um Estado de Direito, é a própria legislação que deve estar aparelhada para separar a injúria da crítica sarcástica ou brincalhona. Desse modo, já que em Roma se faz como os romanos, cabe às organizações muçulmanas reconhecer outros direitos e devidamente processar os desenhistas e a revista.
Porém, não só não o fazem mas, exibindo os pobres diabos que foram levados ao Holocausto, se aliam às correntes ocidentais que, por todos os meios, tentam garrotear a imprensa e controlar o ensino para que não veiculem teses esdrúxulas como aquela pregada pela teoria da evolução das espécies.
A propaganda que está sendo feita para que a imprensa e os escritores se censurem eles próprios quebra uma das colunas do espaço público do Ocidente.
Entre nós, o artista ou o escritor se exprime até onde achar conveniente, e aqueles que se sentirem insultados que recorram aos tribunais competentes. E se a maioria é contra uma lei relaxada, que trate de mudá-la.
Entristece-me a morte de tantos muçulmanos que, em praça pública, manifestam sua ira, mas também nós tivemos nossas perdas na batalha pela liberdade de expressão: Sócrates foi morto porque pretendia ensinar os jovens atenienses à sua maneira; cristãos foram massacrados porque se recusaram a honrar os deuses de Roma, embora esse ritual fosse apenas cívico, nada importando a crença de cada um; desde 1.199 d.C., a Inquisição reprimiu, prendeu e queimou hereges; e assim por diante.
Foi, portanto, à custa de muito sofrimento, de muito sangue que se conseguiu aquela liberdade de opinião cujos limites somente podem ser regulados pelo próprio debate no contexto de ordenamentos jurídicos particulares.
Que cada religião, que cada Estado nacional tenha o seu, sem querer impô-lo aos outros. A partir da luta e da tolerância alcançada é que se pode assistir em São Paulo ou em Meca a um filme de Buñuel no qual se vê Cristo sair de um bordel santificado por uma grande farra. Até mesmo no provinciano Brasil não foi possível uma campanha pelo Estado leigo que, para desmoralizar a Igreja Católica, lançou mão das caricaturas mais cruéis?
Se o perigo é o fanatismo daqui e dali, não queiram me convencer de que se trata de um confronto entre o Ocidente e o Oriente, que precisaria ser prevenido por uma política prudente. A questão, a disputa é moral, e, nesse plano, só se pode conviver com ela se houver tolerância de ambas as partes.
José Arthur Giannotti, filósofo, é professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e coordenador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). É autor de, entre outras obras, ‘Certa Herança Marxista’ (Companhia das Letras) e escreve mensalmente para o caderno Mais!.’
Folha de S. Paulo
Irã inicia operação de charges contra judeus
‘No que afirma ser um ‘teste sobre os limites da liberdade de expressão no Ocidente’, um site iraniano da internet, associado ao jornal ‘Hamshahri’, publicou ontem uma charge de conteúdo depreciativo aos judeus.
A publicação foi anunciada como represália às charges sobre o profeta Muhammad que saíram em setembro no jornal dinamarquês ‘Jyllands-Posten’.
Nas últimas três semanas, uma onda de manifestações de protestos no mundo islâmico foi acompanhada de depredações de embaixadas dinamarquesas e violência, que provocou ao menos 12 mortes no Afeganistão.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse ontem que a Síria. o Irã e outros países onde os protestos foram realizados -e, acusa-se, incentivados- devem pagar pelo dano. ‘Por não impedirem, acho que deveriam pagar a conta pela destruição causada a todos os países estrangeiros’, disse Annan em entrevista à rede de TV CNN.
O ‘Hamshahri’ havia anunciado de início um concurso de charges a respeito do Holocausto. No Irã, onde a mídia é submetida à censura pelo regime xiita, o presidente Mahmoud Ahmadinejad já qualificou duas vezes de ‘mito’ o extermínio de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra.
A primeira charge apresentada, divulgada ontem pelo site iraniano Casa da Caricatura, que atua em conjunto com o jornal ‘Hamshahri’, é do australiano Michael Leunig. Hoje, Leunig declarou que as charges, desenhadas anos atrás, foram apresentadas sem sua autorização, no que ele considerou uma ‘armação’.
O desenho apresenta dois episódios. No primeiro, um judeu está diante do portão de entrada do campo de concentração de Auschwitz, encimado pela infame conclamação ‘o trabalho liberta’. O segundo desenho traz o mesmo portão, desta vez com a inscrição ‘a guerra traz a paz’.
Mais tarde, o site apresentou novas charges, sendo encimado por um desenho atribuído a um brasileiro. O desenho representa um árabe prisioneiro, como num campo de concentração. Em seu uniforme, ao invés da Estrela de Davi, há uma lua crescente.
O jornal ‘Hamshahri’, ao lançar seu concurso, afirmou que o Holocausto ‘é um acontecimento cuja veracidade é posta em dúvida por numerosos intelectuais’, referência, em verdade, aos negacionistas de extrema direita.
O concurso e sua primeira charge foram qualificados de ‘uma reação negativa a uma ação também negativa’ por Nik Kosar, ex-caricaturista do ‘Hamshahri’. Sua opinião, relatada pela BBC, demonstra que a campanha não é uma unanimidade no Irã.
O vice-presidente do Congresso Mundial Judaico, Greville Janer, qualificou a charge de ‘absolutamente horrível’. Disse à BBC que ela correspondia a um ‘lamentável’ modo de convivência ‘dentro de um mundo decente’.
O Ministério das Relações Exteriores da Áustria, cujo país exerce a Presidência rotativa da União Européia, qualificou a charge de ‘mau uso dos símbolos’. Disse que ‘a violação dos tabus como o Holocausto deve ser condenada’.
Na Arábia Saudita, reunido com Ekmelettin Ihsanoglu, secretário-geral da Organização da Conferência Islâmica -formada por 57 países-, o chefe da diplomacia da União Européia, Javier Solana, apoiou o envio às Nações Unidas de um projeto para deter ‘a difamação da religião’.
Na Jordânia, a Justiça libertou um jornalista local que havia publicado charges sobre o profeta. Com agências internacionais’
TODA MÍDIA
Sem notícia
‘Foram ‘mais de 18 horas’ entre o vice-presidente dos EUA atirar num homem e a notícia emergir.
Pior, o presidente George W. Bush foi informado do acidente, mas não, de início, da participação do vice Dick Cheney.
Do princípio. A notícia apareceu com o mencionado atraso no site de um jornal da cidade de Corpus Christi, Texas. Ainda assim, só depois que a dona do rancho, onde ocorreu o acidente, ligou para a redação, domingo de manhã.
O tiro e a hospitalização da vítima de 78 anos, em UTI, foram na tarde de sábado.
Até o telefonema da dona do rancho, nada de informação da parte do vice e seus assessores, também nada da parte de Bush e seus assessores.
A revolta com a manipulação começou já no domingo à tarde, no site Editor & Publisher, ao abordar o atraso.
Logo entrou o site do ‘Chicago Tribune’ e, ontem, os demais sites de jornais, do ‘New York Times’ ao ‘Washington Post’ e ao ‘Financial Times’.
Antes deles, os blogs, a começar do Huffington Post.
E o melhor eram as desculpas. O porta-voz do presidente disse que deixou para o porta-voz do vice. E o porta-voz do vice disse que deixou para a então célebre dona do rancho.
À noite, uma nota da Casa Branca ainda buscava remendar a história. Sem sucesso.
GA-GA
Da visita dos dois fundadores do Google ao Brasil, o que ecoou de notícia, dos blogs da Califórnia aos jornais britânicos, foi que um restaurante carioca recusou o cartão de crédito de um deles. Agora, na capa da ‘Time’, lá estão eles de novo, em texto que beira a idolatria. É o que se costuma chamar de cobertura ‘ga-ga’, acrítica e abobada, que marca a gigante de busca.
Mas nem todos agem assim. Na capa do tablóide dominical do ‘Wall Street Journal’, de nome ‘Barron’s’ (imagem acima), uma análise devastadora das perspectivas para o Google, com a manchete ‘Gurgle’ ou ‘golfada’. O futuro reserva uma queda de mais 50% nas ações, prenunciou o ‘Barron’s’ -e ecoaram as agências. Na home page do ‘Financial Times’, ontem, o enunciado já era ‘Wall Street cai com notícia do Google’.
Se não bastasse, a Electronic Frontier Foundation denunciou no final da semana, ecoando do blog de Dan Gillmor ao site brasileiro IDG Now, da BBC ao editorial do ‘San Francisco Chronicle’, que o Google Desktop é série ameaça à privacidade dos usuários.
Tem mais. O site News.com, de tecnologia, deu que ‘executivos de Google, Yahoo e Microsoft’ encaram amanhã ‘um duro questionamento’ parlamentar por causa das concessões à censura na China.
Elite nuclear
Deu no ‘Miami Herald’ e outros jornais dos EUA:
– Brasil está pronto para se unir à elite nuclear.
Era uma longa reportagem do correspondente da rede Knight Ridder, sobre o ‘passo polêmico’ que o país dá ‘em semanas’ -acionar a fábrica de enriquecimento de urânio.
No texto, defendem a posição brasileira o presidente da Comissão de Energia Nuclear, Odair Dias Gonçalves, e o físico Rogério Cezar Cerqueira Leite. Contra, o ‘ex-funcionário de controle de armas dos EUA’ Lawrence Scheinman.
Resposta robusta
O texto chega a comparar o Brasil ao Irã.
Mas a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, não parece preocupada. Em entrevista ao ‘Face the Nation’, da CBS, pelo contrário, louvou o Brasil por apoiar os EUA na ‘robusta resposta internacional’ ao Irã -que quer romper com o monitoramento da ONU.
Uma bênção
A Petrobras, diz o ‘Financial Times’, com tradução no UOL e na BBC Brasil, vai investir US$ 5 bilhões no setor de gás da Bolívia, ‘por meio de joint ventures com a estatal YPFB’.
Na prática, as duas refinarias da Petrobras no país passam a ser também da estatal boliviana -o que, no entender do ‘FT’, é ‘uma bênção’ para o presidente Evo Morales, amigo de Lula e que foi eleito com a promessa de nacionalizar o setor.
Protesto
Se conseguiu alívio na Bolívia, o Brasil enfrentou manifestação diante de sua embaixada na Colômbia, ontem.
Segundo despacho da agência EFE, em sites sul-americanos, a representação em Bogotá foi cercada por ‘meia centena’ de parentes de policiais e militares. Cobram que Lula não dê asilo político a Antonio Collazos, membro das Farc detido no país desde agosto.’
TV DIGITAL
Virgin, Microsoft e BT lançam TV digital em celular no Reino Unido
‘A Microsoft, a operadora British Telecom e a Virgin Mobile devem lançar o primeiro serviço nacional de TV digital para celular da Europa no Reino Unido, de acordo com a agência Reuters. O plano deve ser anunciado hoje na feira de telefonia celular 3GSM em Barcelona, na Espanha.
A Virgin Mobile deve começar a oferecer o serviço a seus assinantes no meio deste ano, após quatro meses de testes em 2005. O usuário poderá assistir a cinco canais de televisão e ouvir várias estações de rádio usando o telefone.
O serviço será vendido à Virgin Mobile no atacado pela British Telecom, que desenvolveu a tecnologia com a Microsoft. Na Inglaterra, a iniciativa é apoiada pelas redes de televisão, como a BBC e a British Sky Broadcasting, que buscam aumentar sua audiência e sua renda com publicidade.
Outras operadoras já oferecem alguns serviços de TV digital na Europa, mas os dados são transmitidos pela própria rede da operadora de celular. O problema é que a rede pode ‘cair’ caso muitos usuários queiram assistir à TV ao mesmo tempo.
Já o serviço da Virgin Mobile usa a rede digital de transmissão de televisão e rádio já implementada no Reino Unido.
No Brasil, o governo ainda está decidindo qual padrão de TV digital adotar. As redes de televisão aberta defendem o padrão japonês, que abre menos espaço para a participação das operadoras de telefonia no setor.
Já as operadoras de telefonia que atuam no Brasil querem ter o direito de distribuir conteúdo audiovisual, de acordo com a Telebrasil, entidade que representa as teles fixas e móveis e fabricantes de equipamentos de telefonia. Por isso, elas defendem um padrão para a TV digital que permita a convergência de tecnologias, e não o padrão japonês.’
TELEVISÃO
À Band, âncora diz que pode fazer ‘SBT Brasil’
‘Contratado por Silvio Santos para ganhar cerca de R$ 500 mil, Carlos Nascimento deu indicações na Band de que pode ocupar o horário nobre no SBT.
Ao se despedir de sua equipe no ‘Jornal da Band’, sexta à noite, Nascimento deu duas pistas sobre seu futuro: 1) contou que Silvio Santos lhe disse que acha o ‘Jornal da Band’ o melhor telejornal; 2) num ato falho, pediu aos colegas para ‘não capricharem muito [no ‘Jornal da Band’] porque a gente agora vai ser concorrente’.
A contratação surpreendeu a Band e os principais executivos do SBT. A Band teve que improvisar com Ricardo Boechat. No SBT, só Silvio Santos e seu sobrinho Guilherme Stoliar participaram da negociação _que foi fechada quinta à noite na casa do empresário, no Morumbi (SP).
Até o início da tarde de ontem, o SBT não havia se manifestado oficialmente. Luiz Gonzaga Mineiro, diretor de jornalismo, negou que Nascimento vá para o ‘SBT Brasil’, apresentado por Ana Paula Padrão. ‘Há vários projetos para ele. Pode ser um jornal de rede na hora do almoço [às 13h15] ou o ‘Jornal do SBT’ [exibido por volta de 0h30]’. Mineiro elogiou a contratação. ‘O Nascimento é amigo da Ana Paula. Silvio Santos nos pediu sugestões’, disse.
Ontem, Nascimento também negou: ‘Não sei o que vou fazer ainda. Só sei o que não vou fazer, que é qualquer coisa relacionada ao jornal da Ana Paula’.
OUTRO CANAL
Vai mudar 1 A Record está apresentando chamadas de ‘Cidadão Brasileiro’, que inaugura em março seu segundo horário de novelas, anunciando sua exibição para as 20h30 (e não 21h).
Vai mudar 2 A direção da emissora trabalha com duas possibilidades: antecipa a atual grade (e exibe ‘Prova de Amor’ e ‘Jornal da Record’ mais cedo) ou ‘cola’ ‘Cidadão’ em ‘Prova’, transferindo o ‘JR’ para as 21h30. O sonho da Record é fazer o sanduíche ‘novela-jornal-novela’, mas teme que isso prejudique ‘Cidadão Brasileiro’ no Ibope.
Diferencial 1 A Globo passou a exibir o logotipo totalmente colorido (e não transparente) no canto direito da tela durante todo o ‘SP TV – 2ª Edição’. A emissora só faz isso para valorizar imagens exclusivas. No caso do ‘SP TV’, é para diferenciá-lo do ‘SP Record’, o ‘clone’ de jornal local da Record no mesmo horário.
Diferencial 2 Também para diferenciar do conteúdo editorial do ‘Fantástico’, a Globo mandou a Nike colocar a expressão ‘informe comercial’ em anúncio da nova campanha mundial da marca, com craques brasileiros e que estreou domingo à noite.
Geografia Leitores da coluna viram no capítulo de sexta-feira ‘JK’ um mapa do Brasil que já tinha o Mato Grosso do Sul, Estado que só viria a ser criado 20 anos depois do ocorrido na cena.’
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O Globo
Terça-feira, 14 de fevereiro de 2006
CRISE DAS CHARGES
Irã publica charges sobre Holocausto
‘TEERÃ. A polêmica envolvendo as caricaturas de Maomé ganhou um novo capítulo ontem quando um site iraniano colocou na internet a primeira charge sobre o Holocausto, de um australiano. A segunda foi feita por um cartunista brasileiro.
O site Iran Cartoon publicou a charge de Michael Leunig, de Melbourne, dividida em duas partes. Ela mostra primeiro um judeu entrando no campo de concentração de Auschwitz. Na entrada, a inscrição: ‘Trabalho liberta.’ Depois, um judeu caminha para um campo de batalha, sob a frase: ‘Guerra traz a paz.’
A publicação seria uma parceria com o jornal ‘Hamshari’, que lançou o concurso sobre o Holocausto, segundo agências de notícias. Mas o site não informa isso e anuncia um concurso sobre o Holocausto em breve.
O chanceler federal austríaco, Wolfgang Schuessel, condenou a publicação.
– O mau uso dos símbolos e a violação de tabus como o Holocausto devem ser condenados – enfatizou, em Viena.
Conferência Islâmica pressiona ONU
Um novo foco de polêmica foi aceso em Berlim, onde na sexta-feira o jornal ‘Tagesspiegel’ publicou uma charge em que jogadores da seleção iraniana de futebol aparecem como se fossem homens-bomba, num jogo contra soldados alemães. A embaixada do Irã exigiu ontem um pedido de desculpas do jornal.
A Organização da Conferência Islâmica está pressionando a ONU a incluir no projeto de um novo órgão de direitos humanos a condenação a blasfêmias. Em viagem a Riad, o chefe de política estrangeira da União Européia, Javier Solana, disse ser favorável à idéia.
No Paquistão, a polícia usou gás lacrimogêneo contra mais de 6 mil estudantes que protestavam contra as charges sobre Maomé. Centenas foram presos após apedrejarem lojas e uma escola cristã. Em Lahore, paquistaneses queimaram a bandeira dos EUA.’
Cristina Azevedo
Site iraniano mostra cartum de brasileiro
‘Quem entrava no site do Iran Cartoon ontem à tarde via uma advertência de que a página poderia ser retirada do ar pelos Estados Unidos. Em seguida, vinha a charge de um árabe no que parecia ser um campo de concentração. O uniforme listrado lembrava a roupa usada por prisioneiros nos campos de concentração nazistas. No lugar da estrela de Davi, uma lua crescente. A assinatura na página iraniana em inglês dizia: ‘Latuff, Brazil.’
A charge era do brasileiro Carlos Latuff, um cartunista que vive no Rio de Janeiro e que tem muitos trabalhos publicados em jornais sindicais. Com um trabalho de forte conotação política, ele várias vezes aborda questões internacionais, como em ilustrações em que se mostra contra a guerra no Iraque.
O trabalho publicado pelo Iran Cartoon, um site freqüentado também por outros cartunistas brasileiros, foi feito em 2004 e não estava claro se havia sido enviado devido ao concurso sobre o Holocausto proposto pelo jornal iraniano ‘Hamshari’ ou se fora reproduzido. Latuff não foi encontrado e não retornou o recado deixado.
Essa não é a primeira vez em que ele aborda o conflito no Oriente Médio. Charges sobre a questão lhe valeram um convite em 1999 pelo Centro Palestino para a Paz e Democracia para conhecer a Cisjordânia. De outra vez, um site na região publicou uma charge sua em que o premier Ariel Sharon beijava Hitler. Amigos contam que a página foi retirada do ar.’
INTERNET
Reportagem faz papéis da Google caírem 5%
‘Da Bloomberg News – NOVA YORK, WASHINGTON e RIO. As ações da Google Inc. caíram ontem cerca de 5% depois que uma revista financeira afirmou que o valor dos papéis da empresa poderiam cair à metade ano que vem. A revista ‘Barron’s’ dedicou à Google sua capa esta semana, alertando para o aumento da concorrência e a vulnerabilidade a fraudes em anúncios online.
A reportagem aumentou o temor sobre o crescimento da empresa, cujos lucros do último trimestre ficaram abaixo das estimativas. Desde a divulgação do balanço, a Google já perdeu mais de US$ 20 bilhões em valor de mercado. As ações fecharam em queda de 4,66%, depois de caírem 5,4%, a US$ 345,70.
A ‘Barron’s’ também afirmou que as rivais Microsoft Corp. e Yahoo! Inc. estão chegando mais perto da Google. A Yahoo vai aprimorar seu sistema de busca no segundo semestre, e a Microsoft lançou o Windows Live Search, que permite buscas na internet, no disco rígido e no celular.
Também devem pesar nas ações da Google, segundo a ‘Barron’s’, as pressões que a empresa vem sofrendo para reduzir os preços de seus anúncios online e a chamada ‘fraude do clique’ – quando os usuários clicam várias vezes nos anúncios de um concorrente para elevar o custo de sua publicidade (que está ligado ao número de acessos).
O valor de mercado da Google chegou a US$ 128 bilhões (US$ 102 bilhões atualmente), ultrapassando o de gigantes como Coca-Cola e Cisco Systems. Mês passado, as ações atingiram o recorde de US$ 475,11 – mais de cinco vezes o preço de lançamento, de US$ 85.
Yahoo! vai à Casa Branca contra censura na China
Vários analistas de Wall Street saíram em defesa da Google. Jordan Rhonan, analista da RBC Capital Markets, disse em nota que ‘a sugestão de que os preços das ações da Google vão continuar a cair parece de caráter psicológico’. Já Para o analista do Banco UBS Benjamin Schachter, a ‘Barron’s’ está ‘fazendo barulho’ com estimativas sem precisão matemática.
– Especulação sempre existe no mercado financeiro e tanto a ganância quanto o medo são capazes de modificar o preço das ações. Foi o que fez os papéis da Google superarem US$ 400 e é o que impulsionou a forte queda de hoje (ontem). Mas especulações como a da revista provavelmente não teriam impacto sobre os papéis se tivessem sido feitas antes do fraco resultado da empresa no último trimestre do ano passado – pondera Gustavo Alcantara, gestor da Mercatto.
Ronaldo Guimarães, sócio da Cenário Investimentos, considera o movimento de ontem ‘natural’ após a forte alta recente.
– As ações subiram muito e muito rápido: 85% nos últimos 12 meses. Mas, como os papéis continuam muito caros, pode haver novas correções de preços a curto prazo.
Enquanto analistas discutem o valor das ações da Google, a Yahoo! tenta resolver um problema que também afeta sua rival: a censura na China. Em entrevista ao jornal britânico ‘Financial Times’ ontem, o conselheiro-geral da Yahoo!, Michael Callahan, prometeu apelar ao governo americano: ‘Nenhuma empresa pode enfrentar isso sozinha’. Ele disse esperar cooperação das outras empresas de internet, que vão falar amanhã no Congresso americano sobre a censura chinesa.
COLABOROU Patricia Eloy, com agências internacionais’
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Ibope revisa dados de ranking de anunciantes
‘O Ibope Monitor corrigiu ontem a lista divulgada semana passada com os 30 maiores anunciantes de 2005. A AmBev, que aparecia em 22 lugar, na verdade ocupou a 3 posição do ranking, com investimentos de R$ 423,772 milhões, no lugar da General Motors. No novo levantamento, a montadora aparece em quarto lugar, com R$ 387,572 milhões. Já as Casas Bahia permaneceram em primeiro lugar, com investimentos de R$ 2,396 bilhões, seguidas pela Unilever Brasil, que desembolsou R$ 491,712 milhões.
A pesquisa do Ibope divulgada na semana passada mostrou que os investimentos publicitários em 2005 somaram R$ 34,469 bilhões, o que corresponde a uma alta de 18,46% em comparação ao registrado no período anterior. A TV por assinatura foi o meio que mais cresceu, com alta de 30,85% na comparação com 2004 e investimentos que somaram R$ 2,324 bilhões.’
HISTÓRIA EM QUADRINHOS
‘O Tico-Tico’ em revista
‘No dia 11 de outubro do ano passado, ‘O Tico-Tico’, primeira revista brasileira de quadrinhos, completou cem anos. Além de ser a pioneira, ela foi a mais longa em tempo de publicação: parou de circular regularmente somente em 1957 (todas às quartas-feiras, pela Sociedade O Malho), mas edições especiais foram lançadas até 1977. Para relembrar a revista que marcou três gerações com as histórias de personagens como Chiquinho (o mais popular deles), Reco-Reco, Bolão e Azeitona, além de Gato Félix e Popeye (na época, batizado de Brocoió), os professores universitários Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos, mestres em histórias em quadrinhos, organizaram o livro ‘O Tico-Tico – Centenário da primeira revista de quadrinhos do Brasil’, lançado recentemente pela Opera Graphica Editora.
– ‘O Tico-Tico’ era uma publicação para crianças com enfoque educativo muito forte. E sobreviveu ao preconceito que existiu durante muitos anos com relação às HQs. Nunca ninguém afirmou, por exemplo, que a revista fosse prejudicial às crianças – explica Vergueiro.
Livro tem maisde 800 imagens
O livro de luxo é ricamente ilustrado (tem mais de 800 imagens) e contém um fac-símile do primeiro número integral de ‘O Tico-Tico’, garimpado na extensa biblioteca do bibliófilo José Mindlin. Também consta no livro uma entrevista com Afonso Botari, que contou ser a primeira criança a ler a revista. Nascido em 1899, ele morreu ano passado, no mesmo dia em que ‘O Tico-Tico’ completou seu centenário.
– Queríamos resgatar o ambiente em que a revista era produzida e consumida. Pesquisamos depoimentos de personalidades que tiveram contato com ‘O Tico-Tico’, como Lygia Fagundes Telles, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade e Maurício de Souza. E publicamos também artigos que abordam a revista de forma crítica e aprofundada – contou.
A revista foi a responsável por publicar pela primeira vez no Brasil personagens como Gato Felix e Krazy Kat. Já Mickey teve sua primeira edição especial brasileira lançada como ‘Edição extraordinária de ‘O Tico-Tico’, em 1934. Abrigou a nata da ilustração e da arte gráfica com nomes como Luiz Sá, J. Carlos e Angelo Agostini. Este último, criador do cabeçalho da revista, produziu a primeira história em quadrinhos do Brasil: ‘As aventuras de Nhô-Quim’, publicadas pela ‘Revista Fluminense’, em 1869. ‘O Tico-Tico’ também foi um dos principais responsáveis pela implantação da imagem de Papai Noel como culto natalino, durante a Segunda Guerra Mundial.
‘O Tico-Tico’ fez sucesso até os anos 30, mas começou a entrar em decadência depois da Segunda Guerra Mundial, quando as HQs americanas de super-heróis começaram a invadir o mercado brasileiro.
– As revistas americanas só tinham HQs. Já ‘O Tico-Tico’ seguia o modelo europeu, que misturava as histórias com textos e contos. Nos anos 50, a concorrência só fez aumentar com a criação da televisão.
O escritor Álvaro de Moya não foi leitor regular da revista: ele cresceu lendo as aventuras de heróis como Flash Gordon e Mandrake no ‘Suplemento juvenil’ (posteriormente ‘Globo juvenil’). Mas recorda-se da força de ‘O Tico-Tico’:
– Do começo do século até a década de 30, ela foi a revista mais importante do gênero no Brasil. Tinha a proposta de formar bons cidadãos, e era importante este tipo de posicionamento. Mas depois deste período não evoluiu, pois a linguagem ficou ultrapassada – critica Moya, um dos colaboradores da edição comemorativa. – Eles tiravam, por exemplo, os balões de diálogo dos quadrinhos e colocavam uma legenda embaixo dos desenhos porque achavam que crianças deveriam ler as histórias como se fossem livros.
Para Vergueiro, a revista morreu porque não acompanhou as mudanças sociais.
– ‘O Tico-Tico’ é coerente com a visão de mundo dominante de uma época, a da República Velha, e tem uma postura positivista do homem: a do cidadão pai de família e respeitador das leis – analisa Vergueiro. – Eles se calam sobre determinadas coisas. Colocam, por exemplo, a pobreza como uma questão pessoal e não social, ligando as posições mais humildes à falta de esforço. A idéia era fechar o livro com uma análise crítica, não ficar só no elogio.’
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 14 de fevereiro de 2006
CRISE DAS CHARGES
Brasileiro manda charge sobre Holocausto para jornal do Irã
‘Um chargista brasileiro, Carlos Latuff, do Rio, teve sua charge publicada ontem pelo jornal iraniano que promove um concurso de caricaturas sobre o Holocausto, uma resposta à publicação no Ocidente das caricaturas de Maomé. A caricatura de Latuff, que se recusou a falar com o Estado, mostra um árabe fumando com um uniforme de prisioneiro em um lugar que lembra um campo de concentração nazista.’
INTERNET
Yahoo! defende-se em polêmica sobre censura
‘Antecipando-se a um duro questionamento pelo Congresso americano amanhã, o Yahoo! planejava divulgar ontem um comunicado sobre sua crença na liberdade de expressão, mesmo tendo sido forçado a violar essa crença pelas leis na China. O buscador admitiu censurar sua versão na China para atender às exigências do governo.’
TELEVISÃO
Isto é Silvio Santos
‘Verbo que Silvio Santos é mestre em conjugar, apostar foi prática que voltou a divertir os bastidores do SBT com essa contratação surpresa de Carlos Nascimento. Nem nos domínios do Departamento de Jornalismo se tinha, até ontem, a conta exata sobre o destino do jornalista na Anhangüera. Às possibilidades de ele vir a comandar o Jornal do SBT, no lugar de Hermano Henning, ou um noticiário regional na faixa nobre, ou um noticiário de rede na hora do almoço somou-se ontem mais uma: um novo programa jornalístico nas noites de domingo – sim, na linha do Fantástico.
O mercado publicitário, que normalmente fareja mudanças do gênero com alguma antecedência, foi tão surpreendido pela troca de canal como os funcionários de Senor Abravanel e de Johnny Saad.
No fim de semana, a Bandeirantes tratou de excluir a imagem de Nascimento das chamadas promovidas para anunciar seus noticiários. O jornalista era aguardado por uns e outros na Anhangüera, ainda ontem. E Silvio Santos mais uma vez se divertiu com a bolsa de apostas interna. Faz parte do seu show.’
Ubiratan Brasil e Keila Jimenez
A TV debate a TV
‘Antigo defensor de uma televisão mais responsável, o professor Laurindo Leal Filho comandará um programa na TV Câmara disposto justamente a debater os excessos cometidos pelo veículo. Foi Laurindo, não custa lembrar, quem tornou pública a tal referência que o Jornal Nacional, via William Bonner, faz entre seu telespectador e o personagem Homer Simpson.
Batizada de Ver TV, a atração da TV Câmara estréia na quinta-feira, às 22 horas. É uma parceria com a TV Nacional e conta com o apoio da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Ver TV promete abordar desde tecnologia a ética na programação. Pesquisador na área de política da Comunicação, Laurindo afirma que o programa é voltado para quem gosta de ver televisão.
Com duração de uma hora, a atração terá a participação de três especialistas. Entre os primeiros temas a serem debatidos estão classificação indicativa e o papel da mulher na TV. A crítica de TV do Estado, Leila Reis, o deputado Orlando Fantazzini e a diretora de programação Beth Carmona estão na lista dos que já confirmaram presença.’
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