Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nelson de Sá


‘Ao vivo outra vez no Congresso, Roberto Jefferson não foi o mesmo.


Voltou ao ataque contra José Dirceu, Delúbio Soares etc. Mas se estendeu sobre temas paralelos como reforma política e, agora mais, a mídia.


‘Minha assessoria de imprensa’, relatou ele, aconselhou que não usasse mais ‘expressões’ pesadas contra Globo e ‘Veja’. Mas ele seguiu questionando até os ‘cabelos brancos’ do âncora do ‘Jornal Nacional’.


Reclamou do ‘William Bonner de sábado’, de reportagem sobre financiamento de campanha de sua filha. E até de chamarem Maurício Marinho de ex-diretor dos Correios:


– Quando vejo o senhor Bonner, ‘o ex-diretor’. Não é. Só a Globo não sabe que ele é chefe de departamento… Volto a advertir a Globo: ele é chefe de departamento, não diretor.


Quanto à revista, que iniciou o caso com a fita em que Marinho recebe R$ 3 mil, Jefferson citou a edição como prova de que a Abin estava por trás.


– A ‘Veja’ tentou proteger gente… Aqui é que vi que havia acordo. Que a negociação passou pelo Silvio Pereira.


Coincidência ou não, horas depois o ‘Jornal Nacional’ trazia entrevista com o ex-agente que ‘deixou a Abin em 2001’ e fez a gravação nos Correios. Negando envolvimento da agência e o suposto ‘acordo’.


Além de Globo News, Band News e TV Senado, duas redes abertas, Band e Rede TV!, transmitiram o início da apresentação de Jefferson.


A Globo deu entrada rápida, com repórter dizendo:


– Jefferson foi acusado por um ex-funcionário, aquele flagrado recebendo propina, de comandar esquema de corrupção nos Correios.


A sessão de ontem foi a mais ‘teatral’ até agora, com olho roxo, depois tratado ao vivo por enfermeira, por fim o curativo -em cena que virou primeira manchete na Band.


Heloísa Helena brincava com a afilhada de quatro anos e Jefferson Perez inquiria. Entre os parlamentares impecáveis, um havia feito ‘luzes’.


Mas Roberto Jefferson abriu seu depoimento proclamando ao ‘povo do Brasil’:


– Aqui é teatro de lutas, um teatro político, mas eu não vim desempenhar papel de artista… Enfrento a luta como cidadão, eu não sou ator.


Na primeira intervenção, Álvaro Dias saiu rindo:


– Certamente com arte a verdade alcança mais.


Com ou sem arte, o petebista voltar a abrir caminhos. Ontem demorou, mas lá pelas 22h o enunciado que se firmou, nos canais e sites, foi:


– Jefferson aponta endereço do suposto ‘mensalão’.


Deu andar, agência, banco e o nome do shopping. E a Globo confirmou que Marcos Valério andou por lá, sim.


RAPIDAMENTE


Jefferson ganhou poucos segundos ao vivo na Globo, sem direito a voz, não foi a manchete no ‘JN’ -e só foi falar no telejornal 45 minutos depois, já no fim


Roberto Jefferson comparou Marcos Valério a PC, o que rendeu a manchete na Folha Online, mas evitou uma vez mais se voltar contra Lula. Questionado por pefelistas, comentou a saída de José Dirceu:


– Agora o presidente está protegido. Eu tenho certeza de que ele sai dessa com toda a facilidade.


E Lula fez o que o petebista queria, no assunto do dia. Ouvia-se na Globo e por todo lado:


– Em nova entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Jefferson denunciou corrupção em Furnas. O governo já reagiu. O presidente demitiu os diretores citados.


Na escalada da Band, ‘agiu rapidamente’.


O HOMENAGEADO


Ontem só no ‘Bom Dia Brasil’:


– Na posse da diretoria do sindicato da indústria da construção, empresários se queixaram que a liberação de recursos do governo é lenta. As críticas foram endossadas pelo ex-presidente, homenageado da noite.


Entra FHC, em campanha:


– Se você olha o Orçamento, a parte que vai para investimento é mínima. É ruim. É o nosso calcanhar de Aquiles, não tem investimento… Mas os fundamentos que nós pusemos na economia estão firmes.


FHC vem dando entrevistas de Minas (‘O Tempo’) ao Chile (‘La Tercera’) e agora à revista ‘Exame’. O Blog do Noblat adiantou trecho. Do tucano:


– Lula deveria anunciar que não é mais candidato à reeleição. Deveria escolher projetos e abrir negociação com todos. É o que poderia aliviar a crise.’



 


JUSTIÇA vs. TIME


Pedro Dias Leite


‘‘Time’ entrega à Justiça anotações de repórter’, copyright Folha de S. Paulo, 01/07/2005


‘O caso dos dois repórteres dos EUA que corriam o risco de serem presos por se recusarem a revelar suas fontes teve uma reviravolta ontem, quando a revista ‘Time’ decidiu entregar à Justiça as anotações de seu jornalista Matthew Cooper. O ‘New York Times’, jornal em que trabalha a outra repórter, Judith Miller, disse estar ‘profundamente desapontado’.


A Justiça americana quer saber quem no governo George W. Bush revelou aos dois jornalistas a identidade de uma agente da CIA, mas os repórteres se recusavam a fazer isso e estavam sob a ameaça de passar meses na prisão.


Ontem, a ‘Time’ argumentou que decidiu entregar as anotações -o que deve revelar as fontes secretas- porque a imprensa não está acima da Justiça. ‘A mesma Constituição que protege a liberdade de imprensa requer obediência às decisões finais dos tribunais e respeito a suas decisões e julgamentos. O fato de a Time Inc. discordar fortemente das cortes não fornece nenhuma imunidade’, disse a empresa em um comunicado à imprensa.


Nenhum dos dois repórteres comentou a decisão, mas Cooper havia dito no dia anterior que era contra a idéia, só que isso não cabia a ele, mas à revista.


Na segunda-feira passada, a Suprema Corte dos EUA havia se recusado a analisar o caso, o que, na prática, esgotava todas as opções legais dos jornalistas. Estava marcada para a semana que vem uma audiência em que se esperava que o juiz fosse determinar onde e por quanto tempo os dois repórteres deveriam ser presos.


A decisão da revista, que também podia ter de pagar uma pesada multa por ter publicado a história, deve evitar as prisões, de acordo com advogados.


O ‘New York Times’ disse que vai ficar do lado de sua repórter, qualquer que seja o desfecho. O publisher do jornal, Arthur Sulzberger Jr., citou uma decisão de 1978, quando um de seus repórteres ficou preso por 40 dias em um caso parecido, para criticar duramente a decisão da ‘Time’.


Toda a atual história começou quando um ex-diplomata, Joseph C. Wilson, publicou um artigo em julho de 2003 em que criticava uma declaração do presidente Bush em um discurso. Alguns dias depois, um colunista conservador ligado ao governo, Robert Novak, revelou que a mulher do ex-diplomata, Valerie Plame, era uma espiã da CIA.


Os dois repórteres que agora enfrentam a Justiça fizeram investigações sobre o tema. Cooper, da revista ‘Time’, publicou uma matéria. Miller, do jornal, chegou a entrevistar pessoas sobre o assunto, mas nem sequer publicou um texto no ‘Times’.


Não se sabe se Novak, o primeiro a revelar o caso, cooperou com a Justiça e, se ele fez isso, por que o caso teve de seguir adiante.


A decisão da ‘Time’ é inédita na história recente da mídia americana, de acordo com o ‘Times’, e coloca em discussão até que ponto os repórteres conseguem fazer seu trabalho sem fontes ‘off the records’ (não reveladas). O mais famoso caso das últimas décadas, o Watergate, conseguiu derrubar um presidente com base em uma fonte secreta, que só foi revelada mais de 30 anos depois.’



Paulo Sotero


‘‘Time’ entregará anotações de repórter ameaçado de prisão ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 01/07/2005


‘A revista Time anunciou ontem que entregará as anotações do subchefe de sua sucursal de Washington, Matthew Cooper, a um grupo de jurados que investiga o vazamento da identidade de uma funcionária do serviço clandestino da CIA. O nome de Valerie Plame foi revelado ao colunista conservador Robert Novak por dois altos funcionários da Casa Branca, em julho de 2003. O vazamento aconteceu dias depois de o marido da agente, um ex-embaixador, ter denunciado a falsidade de um dos argumentos levantados pelo presidente George W. Bush para justificar a invasão do Iraque.


Expor agentes de inteligência é crime nos EUA. No início da semana, a Suprema Corte negou um recurso de Cooper e da repórter Judith Miller, do New York Times, a uma decisão judicial que lhes ordenou revelar suas fontes. A punição previstas para casos de obstrução e desacato à justiça é de até 18 meses de prisão. Para o jornal e a revista, a punição é de US$ 1 mil por dia de atraso na entrega do material a partir da sentença, que deve sair na quarta-feira.


A decisão da Time foi tomada à revelia de Cooper. Segundo seu advogado, o jornalista disse na quarta-feira que estava pronto para ir à prisão para proteger a confidencialidade de suas fontes, mas entendia que ‘uma corporação tem obrigações diferentes de um cidadão’.


Judith Miller mantinha ontem a decisão que tomou logo no início do caso de ir para a cadeia e não entregar suas fontes, conforme explicou numa entrevista que concedeu ao Estado em dezembro. ‘Tenho de estar pronta (para ir para a prisão) para proteger a confidencialidade das fontes, que é vital para a nossa profissão’, disse ela. ‘A menos que as pessoas tenham confiança de que nós as protegemos quando nos dão informações que podem ser ilegais ou impróprias, ou revelam atividades ilegais ou impróprias, elas deixarão de nos procurar. E o governo está tornando cada vez mais difícil para as pessoas falar sobre atos ilegais ou impróprios.’ Ao ratificar a decisão do tribunal de apelação, a Suprema Corte rejeitou o argumento apresentado pela Time e pelos dois repórteres segundo o qual a recusa em revelar as fontes está amparada na 1ª Emenda da Constituição, que garante a liberdade de imprensa.


O presidente da empresa que publica o New York Times, Arthur Sulzberger Jr., disse que ficou ‘profundamente desapontado’ com a decisão da Time e reiterou o apoio do jornal a Judith Miller. Em notícia que publicou ontem à tarde, o Times afirmou que a decisão da revista era ‘sem precedentes’.


O editor-chefe da Time, Norman Pearlstine, reconheceu as implicações negativas de sua decisão. ‘A Suprema Corte limitou a liberdade de imprensa de maneira que terá um efeito deprimente sobre o nosso trabalho e poderá prejudicar o livre fluxo de informação tão necessário numa sociedade democrática’, disse ele. ‘Uma vez que o tribunal se pronunciou, não temos escolha, a não ser a de obedecer a lei.’ O editor da Time disse acreditar que a entrega das anotações de Cooper às autoridades elimina a necessidade do jornalista de testemunhar ‘e certamente remove qualquer justificativa para sua prisão’.


Ele rejeitou, porém, a insinuação feita pelo Wall Street Journal de que a decisão de obedecer à ordem judicial teria sido ditada mais por cálculos financeiros da Time Inc., a companhia editora da revista, do que pela preocupação de preservar os padrões jornalísticos da publicação. ‘A insinuação de que houve influência corporativa é ridícula’, declarou Perarlstine. Novak lamentou ontem que seus dois colegas enfrentem a ameaça de prisão por não cooperar no caso. O colunista recusou-se a responder se teve contato com o promotor federal que investiga o vazamento ou se cooperou com o grupo de jurados. No entanto, eximiu-se de qualquer responsabilidade pela sorte de Cooper e Miller. ‘É uma loucura se alguém pensa que eles podem ir para a cadeia por minha causa.’ O colunista conservador, William Safire, cobrou uma explicação de Novak num artigo no New York Times. Safire afirmou que Novak deve a seus colegas uma explicação sobre como suas fontes da Casa Branca, que vazaram a identidade de Plame, conseguiram convencer os promotores a deixá-lo em paz.’



Adam Liptak


‘‘Time’ vai revelar fonte de repórter à Justiça’, copyright O Globo / The New York Times, 01/07/2005


‘A revista ‘Time’ anunciou ontem que vai fornecer os documentos referentes às fontes confidenciais de um de seus repórteres à investigação judicial sobre a revelação da identidade da agente secreta da CIA Valerie Plame. A decisão de um órgão da grande imprensa de revelar a identidade de suas fontes secretas parece não ter precedentes.


NYT ‘profundamente decepcionado’ com a ‘Time’


Num comunicado, Norman Pearlstine, editor-chefe da Time Inc., disse que a ‘mesma Constituição que protege a liberdade de imprensa exige obediência às decisões finais dos tribunais e respeito por suas sentenças e julgamentos. O fato de a Time Inc. discordar fortemente da corte não lhe dá imunidade. As inúmeras decisões da Suprema Corte em que até presidentes obedeceram ordens das quais discordavam totalmente evidenciam que nosso país vive sob o império da lei e nenhum de nós está acima dela’.


Por sua vez, o dono do ‘New York Times’, Arthur Sulzberger Jr., disse num comunicado: ‘Estamos profundamente decepcionados com a decisão da Time Inc. de entregar os registros requeridos. Enfrentamos pressões parecidas em 1978 quando nosso repórter Myron Farber e a Times Co. foram acusados de desacato a ordem judicial por se recusarem a fornecer os nomes de fontes secretas. Farber ficou 40 dias preso e fomos forçados a pagar multas pesadas. Nosso foco agora é na nossa própria repórter, Judith Miller, e em apoiá-la neste difícil período’.


Na segunda-feira, a Suprema Corte rejeitou um recurso da revista, de um de seus repórteres, Matthew Cooper, e da repórter Judith Miller. Anteontem, o juiz Thomas Hogan, da Corte Distrital Federal em Washington, disse que ordenaria a prisão dos repórteres por até 120 dias se eles não concordassem em testemunhar diante do grande júri. O magistrado disse que também imporia pesadas multas à revista e ao jornal.


Numa entrevista à rede de TV CNN, Pearlstine disse que a ameaça das multas não pesou na decisão.


– Não estamos acima da lei – reiterou o editor da ‘Time’.


A revista tomou a decisão contra as objeções do repórter, ameaçado de prisão. Os documentos a serem entregues incluem as anotações de Cooper.


Destino dos repórteres será decidido quarta-feira


Hogan marcou outra audiência para a próxima quarta-feira a fim de decidir o destino dos repórteres.


O caso começou com um artigo de opinião publicado no ‘New York Times’ em 2003 em que Joseph Wilson, um ex-diplomata, criticava declarações do presidente George W. Bush sobre esforços do Iraque de Saddam Hussein para obter material nuclear no Níger, na África. Suas críticas eram baseadas numa viagem que fizera àquele país, no ano anterior, para a CIA.


Oito dias depois, o colunista Robert Novak relatou que ‘dois altos funcionários do governo’ tinham lhe dito que a mulher de Wilson, Valerie Plame, era ‘uma agente da CIA na área de armas de destruição em massa’.


Wilson disse que a revelação foi uma retaliação por suas críticas. O artigo de Cooper sobre Plame foi publicado após a coluna de Novak. Miller fez algumas entrevistas sobre o tema, mas não publicou qualquer reportagem.’



O Globo


‘O cerco à imprensa’, copyright O Globo, 01/07/2005


‘Governo e conservadores têm mantido a mídia sob pressão na Presidência de George W. Bush.


TV PÚBLICA: A presidente do canal público de TV, Pat Mitchell, demitiu-se após ser alvo de uma campanha por causa de um desenho animado em que um coelho visita um casal de lésbicas. A secretária de Educação, Margaret Spellings, ficou indignada e houve ameaças de corte de verbas para o canal, que suspendeu o programa.


CNN: O chefe-executivo de notícias do canal, Eason Jordan, demitiu-se após ser bombardeado por blogs de direita, que o acusaram de antipatriotismo por ter afirmado que as tropas americanas mataram deliberadamente 21 jornalistas no Iraque.


SEYMOUR HERSH: O colunista conservador Tony Blankley sugeriu que o veterano jornalista seja investigado por espionagem por seu artigo na ‘New Yorker’ sobre as operações militares secretas do governo Bush no Irã e em outros lugares.’