Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalista, cronista, poeta e compositor



‘Se o povo não repete os versos de um poeta, então o artista não existiu.
Quem existiu foi, apenas, o homem fátuo que tentou a celebridade com poemas tão
ilegítimos que o povo não decorou.’ (‘A lâmpada azul do sonho’, A
Notícia
, setembro de 1946)


Quando cheguei de volta ao Rio, vindo da Itália, há pouco menos de um mês,
estava me esperando um livro. Comecei imediatamente a lê-lo e alguém me
perguntou do que se tratava. Disse-lhe que era a biografia de Orestes Barbosa,
mas a pessoa não sabia quem era, então disse-lhe: ‘E tu pisavas nos astros
distraída…’ Imediatamente foi reconhecido como o autor de Chão de
estrelas
. No exórdio acima omiti de propósito o autor do texto: ‘A lâmpada
azul do sonho’ é uma crônica do próprio Orestes Barbosa, portanto ele ao
escrevê-la estava pensando no próprio futuro de poeta.


Todavia os versos e a música que o imortalizaram são insuficientes para que
se conheçam suas múltiplas atividades. Orestes Barbosa começou na imprensa como
revisor, tornou-se repórter, mas não um qualquer – tinha opiniões próprias que
nem sempre eram aceitas pelo grande público. Para dar um exemplo: quando o país
inteiro classificava Dilermando de Assis como um cruel criminoso, por ter matado
em legítima defesa, própria e do irmão, o escritor Euclides da Cunha, na época
um dos grandes símbolos nacionais, Orestes Barbosa foi um dos poucos jornalistas
a defenderem Dilermando. Suas lutas o levaram mais de uma vez à cadeia,
desgostos que não fizeram arrefecer seu espírito combativo.


Trabalho indispensável


Como cronista foi o sucessor, mais que isso, o herdeiro de João do Rio,
descrevendo o Rio de Janeiro e os personagens que lhe davam vida de uma forma
ímpar, muitas vezes superando seu antecessor. Poeta de alta qualidade, que fez
do idioma uma jóia rara. Ele é parte integrante da história da imprensa carioca
no início do século 20, acompanhando o advento da rádio como o primeiro meio de
comunicação de massas.


Um janeiro foi lançado o livro Orestes Barbosa – Repórter, cronista e
poeta
, de Carlos Didier, que já tinha dado aos amantes da música popular
brasileira o precioso trabalho Noel Rosa, uma biografia, escrito com João
Máximo. Dizer que Oestes Barbosa… se trata de uma simples biografia
seria desmerecer um trabalho de pesquisa que se estendeu por 13 anos. O que o
autor nos apresenta é uma obra historiográfica documentada à exaustão, inclusive
com importantes depoimentos de quem conviveu com o biografado.



Orestes Barbosa – Repórter, cronista e poeta é um trabalho de
referência indispensável na estante de quem se interesse pela história de sua
amada cidade do Rio de Janeiro.

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