“O silêncio abafa, às vezes, coisas incômodas que não interessa ouvir.” (Antônio Luiz da Costa, professor)
E não é que, de repente, não mais do que de repente, um silêncio de tumba etrusca baixou sobre o “caso Carlinhos Cachoeira”? Um caso que, no modo de ver de gente que sabe das coisas, contém com vasta sobra ingredientes mais estarrecedores do que todos os mensalões juntos. O já julgado no Supremo e os outros que o Supremo ainda não julgou, mas que pela lei do bom senso e por indesviável coerência jurídica, ainda vai ter que julgar. Alargando um pouco mais a comparação, um caso, este aí, com potencial explosivo superior até mesmo à inexplicavelmente eclipsada história que tem como pivô aquele banqueiro famoso pelas estripulias cometidas, personagem beneficiado estranhamente em manobras ditas legais que a opinião pública apreciaria bastante fossem melhormente explicadas.
E como uma coisa acaba puxando outra, nada de deixar esquecida a suspeita de alguns analistas atentos às investigações em curso de toda essa sequência de maracutaias. Referidos observadores aventuram-se a admitir a possibilidade da existência de conexões entre as peraltices do contraventor e do banqueiro. A hipótese aventada conferiria proporções ainda mais alarmantes a essa carga pesada onerosíssima de malfeitorias perpetradas contra os interesses da coletividade.
Interesses coletivos
Voltemos à estranhável redução do interesse midiático pelas proezas do articulador do grupo mafioso instalado no eixo Brasília-Goiânia – proezas que vão da corrupção deslavada, subornos, achaques, chantagens, intimidações de autoridades do Judiciário, a suspeitas graves de “queima de arquivo”. Há também quem acredite, e não são poucos, que a circunstância geradora desse mutismo súbito da grande mídia encontra explicação na revelação tormentosa e incômoda trazida pelas interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça acerca da mancomunação de jornalistas renomados com o malsinado esquema Cachoeira. Pelo que alguns pouquíssimos veículos de comunicação se dispuseram a divulgar, vencendo indesculpável autocensura corporativista, mais de meia centena de ligações telefônicas documentam esse chocante e por todos os títulos repudiável entrelaçamento delituoso. Uma situação espúria que não pode deixar de ser enxergada como versão tupiniquim do “escândalo Murdoch” ocorrido no Reino Unido.
Esse silêncio precisa ser logo rompido, a bem do interesse público. Os desdobramentos do “caso Cachoeira” em toda sua extensão e intensidade, doam a quem doerem, terão que vir à tona tintim por tintim, tal como aconteceu, para desafogo geral, com o “mensalão”. Melhor lembrando, com um dos mensalões sob mira da Justiça. A sociedade já vem se acostumando a esperar de todos os setores com responsabilidades definidas no processo de construção de nação transparência absoluta com referência a tudo que diga respeito aos negócios públicos.
Sente-se revigorada diante das evidências de que, por parte de setores do Poder constituído, passou a existir, de tempos pra cá, maior preocupação em assegurar clareza solar para os atos que consultem os sagrados interesses coletivos.
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[Cesar Vanucci é jornalista, Belo Horizonte, MG]