Arthur Sulzberger Jr. radiou otimismo na palestra que fez na segunda-feira (15/10) na 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa, em São Paulo. Ele é “publisher” do The New York Times e membro da família que há mais de um século controla o jornal, talvez o mais influente do mundo. É a primeira vez que põe o pé no Brasil.
No futuro, disse, o Times vai ser cada vez mais regional e cada vez mais global; um jornal lido nos Estados Unidos e no exterior, acompanhando e adaptando-se às mudanças do meio. Quer ter um alcance global capitalizando a crescente demanda por informação que existe no mundo. Hoje, disse Sulzberger, a circulação é de 2 milhões de exemplares aos domingos, entre a versão impressa e a digital, dos quais 10% estão fora dos Estados Unidos. Com o International Herald Tribune, editado em Paris, o grupo tem uma presença internacional na mídia impressa.
Para mostrar o alcance do Times no exterior, afirmou que o maior número de leitores da versão digital que usa aplicativos em inglês está, obviamente, nos Estados Unidos. Mas a seguir, em lugar de um país de língua inglesa, como poderia ser esperado, vem a China, em terceiro o Canadá, em quarto a Coreia do Sul e em quinto o Japão.
Sulzberger insistiu no caráter local e global do jornal ao dizer que quando o seu bisavô, Adolph Ochs, comprou o Times, em 1896, vendia 9 mil exemplares nos quatro distritos que então tinha Nova York. Depois passou a circular também no Brooklyn e, ao longo do tempo nos Estados vizinhos da Nova Inglaterra, depois no país inteiro e mais tarde em todo o mundo, sem deixar de ser local ou regional. Insistiu repetidas vezes em que o futuro do jornal está em ser global.
Tinta vermelha
Atualmente, mais de 1,4 mil jornais, revistas e sites no mundo todo publicam artigos, fotos e gráficos do Times. O jornal também se prepara para oferecer serviços de informação digitais preparados especificamente para determinados países. No início do ano lançou um site experimental na China, que segundo o jornal foi bem-aceito pelos leitores; deverá ser lançado oficialmente em novembro. É feito por uma equipe de 25 a 30 pessoas.
No domingo [14/10], foi anunciado o lançamento, para o próximo ano, de um serviço on-line semelhante para o Brasil, em português – ou, como diz o título do comunicado, na língua nativa do Brasil. Pretende publicar no site de 30 a 40 artigos por dia, dos quais um terço produzido localmente, acompanhados de fotografias e, posteriormente, de infográficos. Será feito por uma equipe semelhante, em número, à chinesa.
Se mencionou o alcance, o prestígio e a qualidade editorial do jornal, Sulzberger pouco falou dos negócios e das dificuldades. The New York Times, que há poucos anos se encontrava numa situação extremamente difícil, causada tanto pelo avanço da internet e pela crise econômica, quanto por algumas decisões erradas, conseguiu melhorar as finanças. Deixou para trás alguns maus momentos e passou a cobrar pelo conteúdo que coloca na internet, mediante um engenhoso sistema que lhe permite manter uma forte presença na rede. Não ficou evidente, porém, que tenha conseguido encontrar um novo modelo de negócios para a era digital.
No ano passado, a The New York Times Co., da qual Sulzberger é presidente do conselho de administração, perdeu US$ 40 milhões. No segundo trimestre deste ano, o prejuízo foi de US$ 88 milhões – na verdade, teve lucro operacional; as perdas foram contábeis. Talvez porque alguns balanços ainda estão escritos com tinta vermelha, Sulzberger, além de otimista, foi cauteloso e disse que via um bom futuro – no médio prazo.