Nenhuma destas pessoas será o próximo presidente dos EUA: Gary Johnson, ex-governador do Novo México e republicano que se candidatou a presidente pelo Partido Libertário; Jill Stein, uma médica de Massachusetts que se candidatou pelo Partido Verde; e Virgil Goode, ex-deputado republicano, de Virgínia, candidato do Partido da Constituição. Eles não têm muito dinheiro ou reconhecimento, nem têm grandes organizações de campanha apoiando-os, mas Johnson concorre em 48 estados, Stein em 38 e Goode em 29. Os candidatos também têm ideias diferentes das do presidente Barack Obama e de Mitt Romney.
É por esse motivo que os leitores perguntam ao ombudsman do Washington Post por que não há mais cobertura dos candidatos “nanicos” e, em particular, por que não foram incluídos na excelente série de matérias sobre as posições de Obama e Romney que o Post publicou de 8 a 12 de outubro, na edição impressa, e está disponível online. São excelentes resumos e análises das posições dos candidatos dos dois principais partidos sobre questões que vão da saúde à imigração, com infográficos. Lendo as matérias, compreendem-se melhor as posições de ambos os candidatos do que assistindo aos debates pela TV.
Os democratas e os republicanos têm o monopólio do poder político, mas não têm o monopólio de ideias. Jill Stein, por exemplo, transformaria a Guarda Nacional [contingente militar de reserva, recrutado pelos estados e equipado pelo governo federal] no principal baluarte da defesa nacional, cortaria os gastos do Pentágono pela metade e fecharia muitas das bases militares americanas no exterior. Johnson abriria um espaço para a cidadania de imigrantes que quisessem trabalhar no país e legalizaria o jogo pela internet. Goode propõe eliminar o imposto sobre a propriedade, quer o inglês como língua oficial dos EUA e apoia praticamente qualquer ação que impeça a imigração ilegal.
Um sistema eleitoral distorcido
No ano passado, o Post deu cobertura a Goode em pelo menos cinco matérias, além de alguns posts de blogs. Ele ganhou espaço porque os líderes republicanos em Virgínia tentaram afastá-lo da candidatura por acharem que ele tiraria votos de Romney e, com o estado dividido, daria a vitória a Obama. Mas a cobertura de Johnson e Jill tem sido insuficiente, comenta, em sua coluna [21/10/12] o ombudsman do Post, Patrick Pexton. O esforço de Jill para conseguir financiamentos federais equivalentes – o que acabou conseguindo – mereceria uma matéria no primeiro. As outras quatro matérias e comentários sobre ela apareceram no ano passado na seção “Estilo” porque quem concorria com Jill para ser candidata pelo Partido Verde era a atriz Roseanne Barr. Não foi exatamente um tratamento significativo. Johson, que registrou 4% dos votos numa eleição primária em Virgínia no mês de setembro, ganhou um comentário no primeiro caderno quando abandonou a legenda republicana e a trocou pela do Partido Libertário, além de alguns posts em blogs e comentários em matérias sobre levantamento de financiamentos. E só.
Isso tudo mudou há duas semanas, quando começou o programa diário de 15 minutos do Post na televisão, The Fold. Devido ao papel de potencial de “ladrão de votos” em Virgínia de Goode, a equipe do programa decidiu entrevistá-lo e correu tão bem que decidiram entrevistar também Johson e Jill, o que estes aceitaram prontamente. Cada um dos três respondeu a cinco questões significativas em entrevistas curtas, mas informativas. Parabéns ao The Fold, uma das mais recentes inovações do Post, que foi projetado para ser assistido por televisores Google Internet, tablets Android e, naturalmente, o site do Post. É uma pena que a redação e a equipe política não tenham imitado The Fold.
Marcus Brauchli, editor-executivo do Post, disse: “Reconhecemos que terceiros partidos têm seguidores e levanta questões que são de importância para muitos eleitores. Procuraremos maneiras de nos dirigirmos a eles.” Não cabe ao Post apoiar qualquer candidato presidencial, nem mesmo os de partidos menores. O candidato é que tem que concorrer no ringue da política, num país distorcido por um sistema de pluralidade de votos em relação aos dois principais partidos. Mas faz parte da Primeira Emenda da Constituição americana ouvir pessoas e dar voz a quem não tem voz, mesmo que sua votação seja mínima das urnas.