Grande parte do debate sobre os problemas do mundo árabe ainda permanece escondido atrás de portas fechadas, mas há uma porção da mídia árabe que conseguiu trazer um pouco da discussão para o mundo exterior. Além dos milhares de sítios na internet, o cidadão árabe médio pode ter acesso a centenas de canais de TV por satélite ao custo de um equipamento de US$ 100. Há ainda os jornais impressos, altamente censuráveis, mas dispostos a correr o risco para fazer valer sua voz. Hassam M. Fattah, correspondente para o New York Times [6/2/05], faz um raio-x da mídia árabe.
Espalhados pelo mundo
Os canais de TV por satélite, ao contrário dos jornais, são menos suscetíveis à censura, pois suas transmissões podem ser originadas de qualquer parte do mundo. Se a maioria destes canais são governamentais ou especializados em entretenimento – que repetem, hora após hora, vídeos de música e reprises de antigos programas árabes e ocidentais –, hoje há um crescente número dos chamados canais independentes de notícias. O principal público-alvo está na Arábia Saudita, maior e mais abastado mercado consumidor da região, e onde se encontram os dólares dos anúncios publicitários.
Fattah lista algumas das emissoras de maior destaque. A al-Jazira é financiada em grande parte pelo governo do Catar. Polêmica e altamente crítica, foi banida de operar de alguns países árabes, entre eles a Arábia Saudita. Com a maioria de seus programas voltada a temas políticos, possibilita a participação de telespectadores por telefone e encoraja discussões inflamadas. Nela, os soldados ocidentais são chamados de ‘ocupantes’, e os suicidas, de ‘mártires’. A emissora pretende lançar, ainda este ano, uma versão falada em inglês.
A al-Arabiya é a segunda maior emissora de notícias por satélite do mundo árabe. Pertence ao Middle East Broadcasting Center, uma das maiores companhias de mídia da região, comandada em grande parte pelo bilionário príncipe saudita Walid bin Talal. Por esta razão, a emissora apóia o governo saudita. Ao competir com a al-Jazira, ela apresenta maior tolerância aos EUA e se refere às tropas americanas como parte de ‘forças multinacionais’.
Bastante popular, a al-Alam é patrocinada pelo governo iraniano e, de acordo com seu sítio de internet, tem como objetivos ‘construir pontes no mundo muçulmano’ e oferecer uma ‘resposta à invasão cultural ocidental’. Com escritórios em Teerã, Beirute e Bagdá, critica a guerra do Iraque, a política americana e os regimes árabes.
Ritmos ocidentais
Criada no ano passado pelo Ministério da Informação saudita como uma alternativa à al-Jazira, al-Ekhbariya apresenta noticiários e talk shows 24 horas por dia. O tom dos programas é tão seco que por vezes seus textos parecem saídos de uma palestra do ministério.
Apoiada pelos EUA, a al-Hurra tenta copiar os modelos dos programas apresentados pela al-Jazira e al-Arabiya, mas com apresentadores árabes vestidos como ocidentais. Costuma ser acusada de fazer propaganda para os americanos.
Há também os canais religiosos, como al-Fajr, al-Anwar, Iqraa TV, al-Majd, Koran TV e al-Manar, financiados por governos e fundações islâmicas. Têm como foco a educação religiosa e a leitura do Corão, mas de vez em quando passeiam por temas políticos.
Por fim, fazem sucesso as emissoras de música, como Rotana, Zen TV e LBC, voltadas para o público jovem. Misturam música popular árabe com ritmos ocidentais, como o hip-hop americano.
Sem medo de ir às bancas
A imprensa arrisca suas chances e vai às bancas. A maioria dos jornais é local, com pequena tiragem e pouca publicidade. Alguns, porém, driblam a repressão do governo publicando suas edições na Europa. Mesmo de longe, seus artigos podem ser bastante influentes.
O diário al-Sharq al-Awsat, publicado pelo grupo privado Saudi Media Research, é um dos mais antigos da região. Produzido em Londres e distribuído para grande parte dos países árabes, o jornal apóia o governo saudita e dá destaque às notícias daquele país. Ainda assim, mantém um tom moderado.
O nacionalista al-Hayat é o principal rival do al-Sharq Al Awsat. Também publicado em Londres e distribuído em quase toda a região árabe, pertence ao príncipe saudita Khalid bin Sultan bin Abdulaziz. Com muitos editores libaneses, o jornal é muito popular no Líbano.
O mais importante diário saudita, Okaz Okaz, não é propriedade governamental. Ainda assim, é conhecido como porta-voz do governo e costuma pautar os outros veículos de mídia da região.
Com alta tiragem, o egípcio al-Ahram é financiado pelo governo local. Normalmente a favor de reformas democráticas, o jornal acredita que os EUA passaram dos limites e deveriam cuidar de seus próprios problemas.
Finalmente, há o recém-nascido al-Ghad, jornal independente que vem desbancando as antigas publicações governamentais da Jordânia. Para chamar a atenção da jovem elite do país, o al-Ghad estampa em suas páginas questões controversas, como educação e reforma democrática.