Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TCU cobra explicações
sobre caso das cartilhas


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 14 de setembro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Sônia Filgueiras, Expedito Filho


TCU abre investigação formal sobre desvio de verba na Secom


‘O Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu ontem abrir um processo formal – chamado de tomada de contas especial – para investigar supostas irregularidades em dois contratos firmados pela Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência em 2003, durante a gestão do ministro Luiz Gushiken. Por unanimidade, oito ministros do tribunal julgaram necessário aprofundar uma auditoria que apontou indícios de prejuízo de R$ 11,6 milhões aos cofres públicos.


O objetivo dos contratos era a edição e distribuição de 5 milhões de revistas e folhetos com propaganda oficial – material que acabou recheado de elogios ao governo Lula e ataques à gestão Fernando Henrique. O serviço foi realizado pelas agências de dois ex-marqueteiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: Duda Mendonça e Associados, de propriedade do próprio Duda, e Matisse Comunicação e Marketing, do publicitário Paulo de Tarso dos Santos.


Os técnicos do TCU avaliam que houve superfaturamento de preços. Pior: parte do serviço pode ter sido paga sem que o trabalho tenha sido efetivamente realizado. Não há evidências convincentes de que um bom lote das publicações tenha sido mesmo impresso, já que ele não passou pela administração federal. Numa justificativa que aponta para relação promíscua entre o governo e o partido do presidente, o Planalto alega que cerca de 1 milhão de exemplares foi encaminhado diretamente para diretórios municipais do PT, que se encarregaram da distribuição.


O tribunal aponta como responsáveis pelos possíveis danos ao erário Gushiken, seu então secretário-adjunto Marcus Flora, outros oito ex-funcionários da Secom e as duas agências de publicidade. Os responsáveis têm 15 dias para apresentar explicações ou recolher aos cofres públicos o possível prejuízo. Gushiken foi enquadrado por ter ‘no mínimo falhado nos seus deveres de diligência, contribuindo para a ocorrência do possível dano’.


Ao citar as empresas dos ex-marqueteiros de Lula, o tribunal registra a possível prática de ‘enriquecimento sem causa’. O TCU decidiu ainda remeter uma cópia do processo ao Ministério Público Federal, que vai examinar agora se o caso envolve a prática de crime ou de improbidade administrativa.


EXPLICAÇÕES


O TCU chegou a analisar as explicações preliminares prestadas pela Matisse e pela secretaria chefiada por Gushiken, além da participação do PT no caso. Os ministros não só rejeitaram as explicações, como afirmaram que elas ‘serviram para reforçar os indícios das graves irregularidades’.


Os ministros afirmam que o envolvimento do PT provocou ‘confusão entre ação governamental e ação partidária com claros objetivos promocionais’ do partido. Além dos indícios de superfaturamento e de não-execução de parte dos serviços, o TCU também aponta o fato de que o governo inseriu nas revistas matéria promocional de integrantes do governo, o que contraia a Constituição.


O voto sugerindo abertura do processo, que serviu de base para a decisão do TCU, partiu do ministro Ubiratan Aguiar, relator do caso.’


Vanice Cioccari


Gráficas se negam a exibir notas fiscais do serviço


‘Diretores das gráficas Pancrom e Kriativa (do grupo Litokromia) confirmaram ontem ter produzido pelo menos 900 mil exemplares de publicações para o governo Lula e entregue o material à Secretaria de Comunicação Institucional (Secom) ‘e parte para o PT’. Mas evitaram dar detalhes, mesmo sobre títulos das publicações, e recusaram-se a mostrar as notas fiscais do serviço prestado.


O diretor comercial da Kriativa, Roberto Casali, admitiu ter rodado ‘600 mil revistas do governo federal’ e ter seguido a orientação das agências de publicidade do governo, Duda Mendonça e Matisse. ‘Essa celeuma, sobre se entregou aqui ou ali, para nós, não interessa. Às vezes, mandavam entregar no PT e na Secom’, afirmou Casali. Ele disse não se lembrar do tipo de cartilha rodada na gráfica – que tem sede em Alphaville, Barueri (SP). ‘Foi em 2004. Às vezes, tem título (na nota) que não é exatamente o da publicação’, revelou.


O diretor-presidente da Pancrom, Homero Villela, disse ter rodado 300 mil exemplares de uma cartilha para o governo Lula a pedido da agência Matisse, que pertence ao publicitário Paulo de Tarso Santos, responsável pelas campanhas de Lula em 1989 e 1994. ‘Foi entregue no Brasil inteiro’, afirmou Villela. ‘Nós comprovamos ao TCU a entrega dos 300 mil exemplares com notas fiscais e canhotos. Foi entregue conforme a orientação das agências’, ressaltou, informando em seguida que não tem mais as notas fiscais do serviço. Segundo ele, a papelada foi encaminhada às agências de propaganda ‘no primeiro semestre’ para que preparassem a defesa nos processos no TCU. Até agora não foi devolvida. ‘Foram encaminhadas as (notas) originais, para que tirassem cópias autenticadas’, alegou.


Já o diretor comercial da Kriativa disse que tem as notas fiscais e também enviou cópias ao TCU ‘no ano passado’, mas não as apresentou. ‘Está tudo no arquivo morto’, garantiu. A Pancrom existe há 60 anos e, assim como a Kriativa, está voltada para o mercado publicitário.’


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Ex-ministro estranha decisão perto das eleições


‘O chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos do governo, Luiz Gushiken, insistiu ontem na tese de que a decisão do TCU está ligada à proximidade das eleições. ‘Estranho que somente agora venha a se apontar suposto conteúdo não institucional, quando à época – quase dois anos atrás – todos os deputados, senadores, governadores, prefeitos e outras autoridades receberam o material’, disse ele, por nota. ‘Certamente, alguns setores políticos prefeririam que o governo não prestasse contas nem divulgasse realizações.’


Gushiken afirmou ainda que o acórdão do TCU ‘estabelece que a etapa seguinte do processo permitirá a apresentação de defesa e das provas de que não existiu qualquer ilegalidade, nem prejuízo aos cofres públicos, na produção e distribuição do material informativo’. Para ele, não há impedimento legal na forma como foram distribuídas as publicações.’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Google Earth terá mais ferramentas


‘Efe – O dispositivo de busca pela internet Google Earth anunciou ontem que incluirá em seu serviço vídeos, fotografias e blogs de instituições como o Programa para o Meio Ambiente da ONU e o serviço de Parques Nacionais dos EUA. O programa terá imagens por satélite de cem locais que sofreram danos ambientais, como zonas desflorestadas da Amazônia.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


MTV faz debate sem políticos


‘Com Lula, sem Lula, com Alckmin ou sem Alckmin, a MTV vai realizar o seu primeiro debate político. Diferentemente das outras emissoras, que marcam seus debates afoitas pela presença dos principais candidatos, o canal musical realiza um debate no próximo dia 22, mas sem a participação de políticos. Isso mesmo.


De olho na repercussão de sua campanha sobre as eleições deste ano, que prega indignação e intolerância – não só contra os políticos -, a emissora reunirá representantes de várias entidades para discutir o tema e a importância do voto consciente.


A emissora colocou no ar no mês passado a campanha MTV ovos e tomates que, em 15 vinhetas, sugere atirar ovos e tomates nos políticos corruptos, sem citar nomes. Para muita gente, a campanha instiga o eleitor a votar nulo.


‘Não é uma campanha pelo voto nulo e sim contra o político nulo. O problema é que muita gente vestiu a carapuça’, explica o diretor de programação da MTV, Zico Góes. ‘Tivemos muitas reações contrárias, como a do prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), e de um deputado estadual da Bahia que, em discurso na tribuna, acusou a MTV de pregar a violência contra políticos e, por ser uma emissora de origem norte-americana, estava a serviço do presidente George W. Bush’, conta Góes, rindo. ‘Nesses debates vamos contar com representantes de entidades, como a Ubes; teremos também uma turma que defende o voto nulo e outras associações engajadas politicamente.’


O debate será comandado pela VJ Penélope Nova.


Ainda no clima de política, o VMB deste ano – premiação do videoclipe realizada pela emissora – terá o tema como mote principal de seus esquetes de humor.


entre-linhas


O Jornal da Band fecha sua série de entrevistas com os presidenciáveis hoje, com Lula. Ricardo Boechat, Fernando Mitre e Franklin Martins entrevistam o candidato à reeleição ao vivo, do Palácio da Alvorada, às 19h20.


Eterna parceira de Faustão, Lucimara Parisi pode atacar de atriz. A diretora foi convidada a integrar o elenco de Pé na Jaca, próxima trama das 7 da Globo.


Lorena Calábria, apresentadora do Domingo Espetacular,da Record, e ex-Multishow, faturou pela segunda vez o Prêmio Comunique-se de Jornalismo como Melhor Jornalista de Cultura.


Ensaio


A Band também está no páreo da teledramaturgia e já prepara as chamadas de sua próxima novela, Paixões Proibidas, que estréia em novembro. Na foto, o diretor Ignácio Coqueiro orienta o ator Igor Kowalevsky. Na trama de época, ele interpreta o músico Carlos Salgado.’


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 14 de setembro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Marta Salomon


TCU cobra governo federal sobre mistério das cartilhas


‘O TCU (Tribunal de Contas da União) fixou ontem prazo de 15 dias para o ex-ministro Luiz Gushiken e as agências Duda Mendonça e Matisse devolverem aos cofres públicos R$ 11,7 milhões em decorrência de supostos serviços superfaturados ou nem sequer prestados na publicidade do governo Lula. Esse também é o prazo fixado para a defesa dos envolvidos.


Na auditoria aprovada ontem por unanimidade, o tribunal aponta o envolvimento do PT nas irregularidades. Contrariando as normas da administração pública, o partido se apresentou como responsável pelo recebimento de 930 mil revistas de propaganda do governo, exemplares esses que o TCU ainda suspeita que nem chegaram a ser impressos.


A auditoria gerou um embate político. A oposição reagiu dizendo ver no episódio margem para a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) chamou a idéia de ‘golpista’.


Para o tribunal, as investigações até aqui mostram ‘confusão entre a ação governamental e ação partidária, com claros objetivos promocionais’ ao PT. Além das revistas que o partido supostamente distribuiria, o TCU identificou ‘tom promocional do presidente da República’ no conteúdo das publicações, o que também seria ilegal.


O valor do suposto prejuízo aos cofres públicos fixado ontem não foi corrigido pela inflação. Os R$ 11,7 milhões correspondem a quase 1,9 milhão de revistas pagas e que não teriam sido entregues e o pagamento de até R$ 2,25 por exemplar acima do preço de mercado, em mais de 3 milhões de revistas.


A auditoria pesquisou quatro edições de balanço da ações de governo (6, 12, 18 e 24 meses) e a produção de livretos sobre inclusão social encomendados às agências Duda Mendonça & Associados e Matisse Comunicação de Marketing entre agosto de 2003 e maio de 2005.


Cinco gráficas -Burti, Pancrom, Kriativa, Takano e Web- também teriam participado das irregularidades, segundo o TCU, além de funcionários da antiga Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência.


A auditoria começou em 2005, a partir das denúncias de desvio de recursos públicos destinados à publicidade para o esquema de caixa dois do PT, investigadas pela CPI dos Correios. ‘Meu voto reflete o trabalho da auditoria, agora vamos ouvir as partes’, disse ontem o ministro Ubiratan Aguiar, autor do relatório.


A votação da auditoria em plenário vinha sendo adiada desde outubro por divergências no TCU. Nesse período, as investigações avançaram. Ao tentar contestar as suspeitas de pagamento por serviços não prestados, a Secom acabou envolvendo o PT. O partido apareceu como responsável por distribuir 930 mil revistas.


A versão não convenceu o TCU, que também apura o pagamento por serviços não prestados no caso desses exemplares. A justificativa transformou-se em agravante: ‘Pelo seu conteúdo [das revistas] e pela distribuição via partido, teria o potencial de se constituir em propaganda partidária’, destaca a auditoria.


Na apuração dos prejuízos aos cofres públicos, coube à Matisse a maior fatia: R$ 4,1 milhões. A Duda Mendonça é cobrada a devolver R$ 3,8 milhões. O ex-ministro Luiz Gushiken, além de responder solidariamente pelo total do prejuízo, é cobrado a ressarcir ao erário R$ 3,7 milhões pelos exemplares que teriam sido distribuídos pelo PT.


O tribunal detectou ‘no mínimo falha no dever de diligência’ do ex-ministro e seu sub, Marcos Flora, na aplicação de recursos púbicos destinados ao pagamento de material de propaganda da Presidência.


A Duda Mendonça perdeu o contrato de publicidade com o Planalto depois do escândalo do mensalão, que apontou o dono da agência e marqueteiro da campanha de 2002 como beneficiário de R$ 10 milhões do caixa dois do PT. A agência Matisse pertence a outro ex-marqueteiro e amigo de Lula, o publicitário Paulo de Tarso Santos.’


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Gushiken e Duda associam auditoria à eleição


‘Em notas divulgadas ontem à noite, o ex-ministro Luiz Gushiken e o publicitário Duda Mendonça associam a auditoria do Tribunal de Contas da União à disputa eleitoral.


‘Estranho que somente agora, às vésperas das eleições, venha a se apontar suposto conteúdo não-institucional [do material de propaganda]’, escreveu o ex-ministro e atual chefe do NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência). A auditoria iniciada em meados do ano passado, teve a votação em plenário do TCU adiada em quase um ano.


Ele diz que vai contestar as conclusões do TCU: ‘A etapa seguinte do processo permitirá a apresentação de defesa e das provas de que não existiu ilegalidade nem prejuízo aos cofres públicos na produção e distribuição do material’.


Também em nota, Duda reproduz os argumentos de Gushiken e contesta a auditoria do TCU. ‘Os preços cobrados foram rigorosamente preços de mercado, e as revistas foram efetivamente produzidas e devidamente entregues.’


Procurado pela Folha, o publicitário Paulo de Tarso Santos não se manifestou. Até o fechamento desta edição, a subsecretaria de Comunicação Institucional não havia decidido se divulgaria nota.


O Palácio do Planalto reagiu à ofensiva de críticas pelo caso das cartilhas do governo distribuídas pelo PT e classificou de ‘golpistas’ os que falam em impeachment ou impugnação da candidatura de Lula por crime eleitoral de uso da máquina.


‘É atitude golpista de quem quer já deslegitimar o próximo governo, a partir do reconhecimento que eles mesmos fazem de que perderam a eleição, o que é uma visão deles’, disse o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.


O petista admitiu que pode realmente haver problemas no caso -como também pode não haver-, mas disse que as medidas estão sendo tomadas.


O PT não se manifestou ontem a respeito da decisão do TCU, alegando que esse é um assunto do governo federal.


As gráficas Burti e Pancrom, duas das que imprimiram as cartilhas, defenderam o preço que cobraram pelo material. Informaram ainda que tudo foi pactuado com as agências de publicidade. No telefone da gráfica Web, de Brasília, foi informado que a empresa fechou. Na gráfica Kriativa, uma funcionária disse ontem que não havia ninguém para falar do assunto. A Associação Brasileira da Indústria Gráfica informou que a gráfica Takano faliu.’



Editorial


Como na cartilha


‘OS INDÍCIOS de uso da máquina pública para fins partidários não se esgotam no enredo do mensalão. A distribuição de material publicitário do governo por diretórios municipais do Partido dos Trabalhadores, revelada pela revista ‘Veja’, reforça as inquietações a respeito dos desvios éticos da administração federal.


Em nota, anteontem, o PT admitiu ter recebido e distribuído 929.940 exemplares de cartilhas e encartes com propaganda do governo e críticas à gestão anterior. O material foi produzido por encomenda da Secretaria de Comunicação (Secom), subordinada diretamente à Presidência. Por lei, teria de ser entregue à própria secretaria ou a outro órgão público. Jamais aos diretórios de um partido político.


Há agravantes. O Tribunal de Contas da União (TCU) solicitou a abertura de um processo para apurar os detalhes do caso. O relatório foi aprovado ontem, mas a iniciativa -uma atribuição do tribunal- esbarrou em resistências internas. A pedido do ministro Marcos Vilaça, a votação do texto do relator foi suspensa antes mesmo da discussão. Felizmente, o lobby fracassou.


Espera-se que a investigação seja minuciosa. Mais uma vez a gestão Lula confunde propaganda oficial -instrumento legítimo de comunicação- com interesses partidários. A recente multa aplicada pelo TSE ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, relativa justamente a uso indevido da máquina em folhetos distribuídos pela Secom, revela que a miopia persiste no governo.


O episódio denota incapacidade de reconhecer os limites que a República impõe entre interesses do Estado e interesses de um partido. Quando falta tal discernimento ao governante de turno, é preciso que as instituições incumbidas de controlar o Executivo entrem em cena, como faz o TCU no caso das cartilhas.’


Otavio Frias Filho


Emília para presidente


‘COM CERCA de 10% das intenções de voto, a candidatura da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) é minoritária o bastante para ter coesão ideológica e unidade programática.


É quando cedem à tentação de se tornar majoritários que os partidos perdem esses atributos. Tornam-se balofos e complacentes, bem ao contrário da elétrica senadora, uma espécie de boneca Emília da política atual.


Mas essa coesão ideológica é superficial. Assim como o antigo MDB da época do regime militar, o que congrega os adeptos do PSOL é um ‘não’, categórico e automático, a ‘tudo o que aí está’.


Não aos bancos, não ao FMI, não ao condomínio PSDB-PT no poder. Não ao mensalão, ao machismo, aos agrotóxicos, a George W. Bush, ao desemprego etc. Não a tudo o que parecer desagradável ou soar desumano.


Por baixo desse consenso negativo e romântico, é possível discernir ao menos quatro tendências que têm pouco em comum entre si. Suas divergências em potencial só não eclodem porque todo mundo sabe que são remotas as chances reais de HH.


A primeira dessas tendências corresponde ao voto de protesto contra a corrupção. É o voto menos ideológico daqueles que favorecem a postulação da senadora. Tem parentesco com o antigo voto udenista que tanto fustigou Getúlio Vargas e seus herdeiros políticos, JK e Jango. Antes incrustado na direita, boa parte desse tipo de voto está de visita à esquerda no espectro atual.


A segunda tendência é a dos órfãos do antigo PT. Para esse eleitor foi o partido, não o mundo, que mudou. Em sua inesgotável fidelidade aos próprios dogmas e clichês, o militante órfão quer começar tudo de novo, como em 1980.


Outra tendência é a do cristianismo político. Traduz um anticapitalismo regressivo, sentimental e contra-tecnológico, cujo modelo seria algo como uma aldeia medieval. Como sempre que se mistura política e religião, é uma autopista de boas intenções levando diretamente ao inferno.


Uma quarta tendência, sem ordem entre elas, é a da política alternativa pós-moderna. Como o pensamento de esquerda foi expelido da economia após longa carreira de crimes e fiascos, refugiou-se nas causas ‘leves’, ligadas ao comportamento, à sexualidade, ao ambientalismo.


Não é que existam disparidades entre essas quatro atitudes. Elas não dispõem nem sequer de uma linguagem em comum, um ‘esperanto’ como foi o marxismo. Sua unidade retórica limita-se a reiterar slogans esfarrapados.


Isso não é responsabilidade do PSOL nem de HH. É reflexo de um fenômeno muito mais amplo e de caráter internacional. Em resumo, o colapso do socialismo ‘real’, que até 15 anos atrás dividia o mundo em duas metades, deixou o espaço público à mercê do mercado e de seus intérpretes políticos.


OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha’


Folha de S. Paulo


Ausente, Lula é alvo de críticas de adversários em debate na TV


‘Ausente do debate de ontem da TV Gazeta, Luiz Inácio Lula da Silva virou alvo dos outros três principais candidatos. Na abertura e no último bloco, Geraldo Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam Buarque criticaram o petista por não comparecer ao segundo debate entre os presidenciáveis desta eleição.


Segundo o tucano, Lula não compareceu para não falar sobre promessas que deixou de cumprir e sobre os ‘cinco ministros indiciados pela polícia’. Já o senador pedetista chamou a ausência de ‘desprezo’ ao processo democrático.


A candidata do PSOL afirmou que gostaria de ‘desmascarar’ o presidente no debate e que ele tinha que ‘descer de seu trono de corrupção, arrogância e covardia política’.


Até a mediadora Maria Lídia alfinetou, dizendo que o petista ‘sequer respondeu ao convite’ feito pela emissora.


Parlamentarismo


Acompanhado ontem somente pelo coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra, e pelo coordenador do programa de governo do candidato, João Carlos Meirelles, Alckmin voltou a dizer que é contra a reeleição e defendeu o parlamentarismo como sistema de governo.


‘Se o Brasil tivesse parlamentarismo, no ano passado o governo já tinha caído. A Câmara já teria sido dissolvida, já tinha sido convocada eleição no ano passado, e o Brasil não estaria perdendo tempo’, afirmou o tucano.


Questionado por Cristovam sobre um acordão que estaria sendo fechado entre setores do PT e do PSDB para depois da eleição, Alckmin não respondeu e disse apenas que a eleição estava ‘começando’ somente agora, há duas semanas e meia do dia de votação.


Em suas respostas, Heloísa manteve o discurso que faz na campanha contra os bancos e a política econômica, chamada por ela de ‘irresponsável’.


Cristovam também falou do que mais tem falado nesta eleição -educação. Insistiu que a educação ‘é o centro da revolução, o vetor’.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Rodopoesias


‘Como prova, o e-mail da Globo anunciando terem sido ‘definidas as regras para o debate’ veio com foto dos representantes dos candidatos. Dos marqueteiros de Lula e de Geraldo Alckmin, abraçados e sorrindo. Quanto às normas, ‘se algum candidato faltar, um dos presentes poderá relatar, ao público, a pergunta que faria’, em ‘40 segundos’, com cadeira ‘vazia’. O blog de Ricardo Noblat diz que a Globo recuou, que eram 1min30s de pergunta e mais 1min30s de comentário.


No e-mail, a rede relata que o marqueteiro de Lula disse ver ‘com grande simpatia a ida do candidato’.


Para quem não se satisfaz só com a Caravana no ‘Jornal Nacional’, tem blog também. É onde William Bonner escreveu, por exemplo, que ‘foi patriótico e hercúleo o trabalho da Caravana’ naquilo que o ‘JN’ descreveu como ‘a pior estrada do Brasil’ -ou, diz o blogueiro, ‘o fim da picada’. O blog postou até agora três ‘rodopoesias’, nenhuma assinada por Pedro Bial.


Da apresentadora e blogueira Fátima Bernardes, ontem às 18h na Globo, com a chamada do ‘JN’:


– Um prédio da Igreja Internacional da Graça de Deus, não da Igreja Universal do Reino de Deus, como dissemos, desabou em Pirassununga, em São Paulo.


No Blog da Caravana, posts e fotografias de Bonner, Fátima Bernardes, Bial


O MELHOR CANDIDATO


A campanha eleitoral engrossa, com enunciados como ‘TCU pede explicação ao governo sobre cartilhas’ ou ‘TCU bloqueia repasse de R$ 6,35 milhões ao Piauí às vésperas da eleição’, na Folha Online e demais. Mas FHC continua em outra dimensão, na submanchete do portal Terra, em reportagem de bastidores de Bob Fernandes:


– FHC: Eu errei. José Serra era o melhor candidato.


‘LIVRO-BLOG’


E surge na rede o que o jornalista Ivo Patarra chama de ‘livro-blog’, na verdade, seu livro recusado por duas editoras. ‘O Chefe’ relata o escândalo do mensalão, a partir da cobertura de imprensa. Assessor da secretaria das Subprefeituras de SP, ele diz que a obra é anterior e ‘não tem nenhuma vinculação’.


ETANOL VS. PETRÓLEO


Na cobertura da visita do primeiro-ministro da Índia, nas dezenas de sites do país, destaque para a frase de que ‘o Brasil é líder mundial em etanol’, daí a cooperação etc. Na Bloomberg, de outro lado, aumento ‘exponencial’ da exportação de etanol brasileiro ao Japão. E, no ‘Le Monde’, os esforços locais para ampliar o consumo de etanol -com o Brasil de modelo.


De sua parte, Hugo Chávez era destaque no ‘Guardian’, por conta do acordo com o prefeito de Londres: ele vão trocar ‘diesel barato’, para os ônibus londrinos, por apoio em ‘policiamento, turismo e transporte’, para Caracas.


‘SUL-SUL’


O encontro de Brasil e Índia, inclusive ‘líderes empresariais’, era notícia no site do ‘Wall Street Journal’, em texto de Gerald Jeffris, com atenção para o comércio ‘sul-sul’, de um futuro bloco ao G20.


‘UNANIMIDADE’


Já no site do ‘Financial Times’, em texto de Jonathan Wheatley, nada do encontro. O enunciado dizia que o ‘Brasil fica para trás dos outros BRICs’, acrônimo de Brasil, Rússia, Índia e China. E o correspondente repisava que, para crescer, na ‘unanimidade entre economistas’, o país precisa cortar gastos, com a reforma na Previdência etc.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


TV digital terá bloqueio contra pirataria


‘As grandes redes brasileiras, principalmente a Globo, estão preocupadas com um assunto até então quase exclusivo dos distribuidores de DVDs: a pirataria de conteúdo audiovisual.


Com a implantação da TV digital, a partir de 2007, programas e eventos transmitidos pela TV aberta, como seriados e jogos de futebol, passarão a ser alvo fácil dos piratas. Poderão ser copiados com altíssima qualidade e vendidos horas depois em qualquer camelô.


‘Vamos ter que adotar uma tecnologia para proteger nosso conteúdo’, afirma Fernando Bittencourt, diretor-geral de engenharia da Globo. ‘A internet já é e será um problema eterno, mas ainda não tem qualidade de imagem. Com a TV aberta digital e com a IPTV [TV paga via internet], as cópias serão perfeitas’, explica.


A tendência é o fã de determinados programas, que os grava para rever inúmeras vezes, ser punido por causa do combate à pirataria. Segundo Bittencourt, uma das prioridades das redes agora é adotar no Brasil um dispositivo que impeça o telespectador de fazer cópias de programas. ‘Podemos permitir que o telespectador grave e reveja uma única vez’, diz o executivo.


A Globo quer bloquear cópias de programas porque teme perder receitas com a venda de DVDs de séries e minisséries. Em outros casos, como na Copa, a emissora é obrigada por contrato a combater a pirataria.


TENSÃO NO AR 1Diretores da Record andam perdendo o sono com a queda de audiência do ‘Jornal da Record’, um dos campeões de faturamento da emissora.


TENSÃO NO AR 2O telejornal, que dava dez pontos no início do ano, quando foi reformulado para ficar parecido com o ‘Jornal Nacional’, caiu para nove em julho e não passou de 7,5 em agosto.


ALÍVIO NO ARO que consola a Record é que dois produtos importantes do SBT, as novelas ‘Rebelde’ e ‘Cristal’, também estão em queda livre, por causa das constantes mudanças de horário. O ‘fenômeno’ ‘Rebelde’, que deu médias de 12 pontos em março (às 18h50) e abril (19h20), despencou para cinco neste mês, no ar às 21h20.


NOVOS PACOTESA Sky anuncia hoje a transmissão de novos canais pagos e formatos de empacotamento. No mercado, é dado como certo que canais que estão na Net Digital, como o Disney Channel, entrarão na Sky, assim como a TV Rá-Tim-Bum, da Cultura.


VELHA AUSÊNCIAApesar de ter sido obrigada no processo de fusão com a DirecTV a carregar os canais da Band, a Sky ainda não chegou a um acordo para distribuir o Band News e o BandSports.


TÉDIO ELEITORALA Rede TV! está se sentindo esnobada pelo presidenciável Cristovam Buarque. Apesar de ter apenas um ponto nas pesquisas, Buarque ainda não confirmou presença na série de entrevistas que a emissora vem fazendo às terças-feiras.’


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