Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Observatórios na formação dos profissionais de comunicação

O presente trabalho pretende apresentar as primeiras impressões sobre a influência do projeto de extensão – vinculado ao curso de Comunicação Social – Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente (Agência Unama) na formação de profissionais de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade da Amazônia. Por isso mesmo, por ter um caráter inicial, as observações aqui apresentadas fazem parte de um estudo ainda em andamento que pretende investigar o impacto que a presença da Agência terá na formação do estudante que passa pela por ela, seja como bolsista ou como voluntário, e as possíveis modificações em longo prazo que esse projeto trará para o exercício profissional de futuros comunicadores.

Introdução

O projeto da criação de um observatório de mídia na área da infância e adolescência vinculado ao curso de Comunicação Social da Universidade da Amazônia (Unama) nasceu juntamente com a reforma curricular que em 2003 pretendia implantar mudanças na estrutura de formação dos estudantes. Ao mesmo tempo em que foram introduzidas modificações na matriz curricular do curso, a proposta de um monitor de mídia ganhava espaço de discussão em alguns círculos do curso e da área de extensão da universidade. Em agosto de 2004, finalmente o projeto se materializou – a partir do financiamento da própria universidade e apoio do Unicef – e passou a ocupar um espaço no laboratório de Comunicação Social.

Durante os primeiros seis meses, a Agência Unama sistematizou a metodologia de análise quantitativa e qualitativa do conteúdo coletado de jornais impressos, assim como a esquematização de um grande banco de dados com o material coletado. Além disso, após um ano de funcionamento, a equipe da Agência Unama – formada por uma professora do curso, dois jornalistas e estudantes bolsistas e voluntários – produziu o primeiro relatório com análise do material coletado (disponível aqui para consulta online).

Nesse sentido, a idéia de produzir análises da cobertura dos jornais do Pará sobre infância e adolescência com a participação dos estudantes do curso tinha como motivação não só a necessidade de fomentar a formação crítica no alunado, mas suprir a completa carência de projetos dessa natureza no Estado, o que de certa forma dotou a experiência da Agência Unama de formato diferenciado daquelas agências que monitoram a cobertura jornalística sobre infância e adolescência meramente do ponto de vista quantitativo, pois além do acompanhamento da cobertura de mídia e sugestões de pautas junto aos veículos, o projeto da Unama pretende ser um espaço de produção de conhecimento, que envolve desde o desenvolvimento de metodologia para análise do conteúdo, passando por debates e grupos de discussão, até disponibilizar o grande banco de dados como fonte para a produção de vários tipos de estudos e projetos de investigação.

Para além do monitoramento

O Pará é o segundo maior estado do Brasil, com população estimada em quase sete milhões de habitantes. Entretanto, alguns indicadores sociais no Estado, no tocante aos que se relacionam às condições de desenvolvimento infanto-juvenil, preocupam. De acordo com levantamento do Unicef, essa Unidade da Federação ocupa o 23º lugar em Índice de Desenvolvimento Infantil, à frente apenas do Maranhão, Bahia, Acre e Alagoas. (Dados constantes no Relatório do Unicef – Índice de Desenvolvimento Infantil no Brasil; disponível aqui. Consultado em 21.mai.2006).

Em contrapartida, 78% de seus domicílios possuem televisão. ( Dados disponíveis no Banco de Dados on-line do IBGE; disponível aqui. Consultado em 21.mai.2006).

Esse último dado poderia nos levar a acreditar na noção liberal de que basta ter acesso à informação para que seja formada uma opinião pública e com isso mudar cenários a curto e médio prazos. Além dessa idéia não se sustentar diante dos atuais estudos que envolvem jornalismo e opinião pública, pois se firma na hipótese de que são os meios e não os cidadãos que escolhem os temas de interesse púbico (MIRALLES, 2004), também no caso do Pará esbarra numa cobertura insuficiente, superficial, pouco comprometida com a defesa dos diretos da infância e da adolescência e profissionais que demonstram pouco conhecimento sobre o sistema de garantias (TORRES e MIRANDA, 2005), o que de longe deixaria qualquer leitura de mudança a partir apenas da agenda jornalística local sem perspectiva.

Acreditamos que a presença e a atuação da Agência Unama podem vir a introduzir mudanças nesse cenário, movendo temas que mobilizem a opinião pública.

De agosto de 2004 a agosto de 2005, cerca de 30 estudantes de jornalismo e publicidade e propaganda passaram pela Agência Unama como bolsistas e/ou voluntários. As primeiras impressões coletadas para este estudo, ainda em início, dão conta de uma mudança de perspectiva dos estudantes em relação à função como pessoas e como comunicadores.

“(…) minhas experiências pessoais e profissionais vêm amadurecendo consideravelmente devida à minha entrada na Agência Unama”. Uma das minhas maiores preocupações quando entrei na universidade era sobre a qualidade de minha formação e que tipo de profissional poderia ser. O trabalho de extensão universitária desenvolvido pela Agência permite que eu não seja mais um profissional mecanicista e um repetidor de valores sociais desgastados (…). Aprendo a ter uma visão jornalística sobre infância e a adolescência que faz a diferença na formação acadêmica.” (Depoimento do estudante Marcelo Oliveira, do 5º período de Jornalismo.)

Além disso, ao se encaminharem para estágios nas empresas de comunicação, boa parte deles se torna referência local para o tema infância e adolescência. E, ainda, os alunos que têm passado pela Agência apresentam desempenho acadêmico superior ao da média em sala de aula.

Considerações em aberto

Se a Agência Unama irá de fato contribuir para a formação de uma geração de comunicadores críticos e mobilizados para os direitos da criança e do adolescente só o tempo nos dirá. Temos a noção exata de que o que aqui apresentamos não nos leva a nenhuma resposta imediata. Porém, as primeiras impressões nos animam o suficiente para contabilizar em quantos anos teremos profissionais diferenciados o suficiente para produzir a necessária transformação que nossas infância e juventude merecem.

Referências

MIRALLES, Ana M. Periodismo, opinión pública y agenda ciudadana. Bogotá: Grupo Editoral Norma, 2004.

PRADO, Ana, TORRES, Vânia. A criança e o adolescente na mídia impressa de Belém: desinformação e superficialidade. 2º Congresso Brasileiro da Associação de Pesquisadores em Jornalismo, Salvador: 2004

SILVERTONE, Roger. Por que Estudar a Mídia? São Pauklo: Loyola, 2002.

TORRES, Vânia, MIRANDA, Luciano. Infância e Adolescência na Pauta da Mídia:uma análise da cobertura dos jornais do Pará sobre a criança e o adolescente. Belém: Unama, 2005.

Relatório do Unicef – Índice de Desenvolvimento Infantil no Brasil. Disponível em: http://www.unicef.org/brazil/lista_projetos03.htm . Consultado em: 21.mai.2006.

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Jornalista, professora e coordenadora do curso de Comunicação Social da Universidade da Amazônia (Unama), responsável pelo projeto ‘gência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente’, vinculada à Renoi