Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Opiniões editoriais e mensagens subliminares

O jornal New York Times seguiu duas tradições do jornalismo americano no dia 27 de outubro: deixou claro quem apoia na eleição presidencial deste ano e fez isso no editorial, espaço no qual é natural que o veículo se posicione a favor ou contra um assunto de domínio público. No Brasil, não há padrão nesse método – o apoio do Estadão a candidatura de José Serra na disputa presidencial de 2010 causou estranheza –, pior quando feito de modo subentendido, como o Diário de S. Paulo fez no domingo (28/10).

No dia do 2º turno da eleição para prefeito de São Paulo, o diário publicou um editorial (seção Nossa Opinião) intitulado “Para votar melhor”. Nele é emitida uma visão do pleito paulistano numa tentativa de não mostrar explicitamente quem o jornal apoiava, se Fernando Haddad, do PT, ou José Serra, do PSDB. Ao lê-lo, salta quem é o candidato preferido, mas não de forma direta.

Note alguns trechos do editorial, que logo no começo tenta fazer média e elogia os concorrentes que chegaram ao 2º turno dizendo que “jogaram o bom jogo da democracia (…), empenhados em entender os desejos e dúvidas do eleitorado”. Porém, no período seguinte vem a primeira opinião sobre um candidato sem mencioná-lo. Por que essa tática? Será que o público-alvo do jornal percebeu a sutileza? Ou não há necessidade de deixar claro de quem se está escrevendo?

A política econômica do keynesianismo

O período em questão é este: “De modo especial, a cidade agradece aos dois [Haddad e Serra] por terem afastado a ameaça de um aventureiro [Celso Russomanno] sem estrutura que por semanas seguidas apareceu nas pesquisas como favorito.”

Pois bem, no parágrafo posterior vem o posicionamento do jornal contra Haddad: “Uma metrópole como São Paulo não pode cair nas mãos de quem não tem experiência, não tem história, não tem ficha limpa (…).” Continua o editorial defendendo que o prefeito de São Paulo precisa ser experiente e de visão nacional, pois o que acontece na capital paulista reflete no país. E pontua que o candidato ideal para ser eleito é o que tem uma equipe que espelhe seu posicionamento político “… gente de passado limpo, livre de empecilhos…” Aqui remota ao envolvimento que alguns membros do PT tiveram, (têm) com a corrupção. Também há um alerta para o eleitor levar em consideração as alianças políticas montadas e com quem o candidato está ao lado (lembrando o caso Paulo Maluf e aliança com Lula/Haddad/PT).

Além de se posicionar contra Haddad sem chamá-lo pelo nome, o editorial do Diário de S. Paulo endossa seu apoio a Serra: “Uma cidade (…) deve ser confiada a um administrador de competência comprovada, capacitado para aperfeiçoar o que está funcionando, habilitado para inovar naquilo que exige abordagem diferente.” Seria melhor estampar no título “Para votar melhor, escolha Serra” ou alguma coisa parecida. Não tem motivo para omitir que a direção do jornal acredita ser a mais apropriada para São Paulo. Fica muito infantil restringir essa informação, deixá-la nas entrelinhas.

Diferente do New York Times, que no título do referido editorial escancara: “Barack Obama para reeleição“. O NYT esclarece que Obama é a melhor escolha ao destrinchar sua política econômica baseada no keynesianismo, no ponto mais elevado do intervencionismo estatal sem esquecer de ajudar quem mais precisa e deixar de favorecer os ricos (Obama é do Partido Democrata, que representa a ideia social esquerdista da política americana): “O presidente Obama mostrou firme compromisso ao usar o governo para ajudar no rápido crescimento [do país]. Ele formulou um orçamento sensível sem se dedicar a proteger os poderosos, e trabalhou na defesa do social para proteger os fracos.”

Wall Street Journalé pró-republicano

O NYT critica Mitt Romney, candidato republicano e adversário de Obama, e as políticas conservadoras do seu partido. Isso fica exemplificado na observação que o jornal faz ao exaltar Obama, que conseguiu aprovar suas principais promessas de campanha mesmo enfrentando um Congresso oposicionista com maioria republicana, de pensamento mais reacionário.

Escolher quem um jornal apoia numa candidatura política exterioriza qual é a linha editorial do veículo? Impede que a cobertura dos fatos seja isenta? O Diário de S. Paulo, analisando exclusivamente a edição de domingo (28/10), dedicou espaço igual para Haddad e Serra, não mostrando tendências opinativas nas matérias.

O que não acontece na mídia americana, muito mais partidária. Emissoras televisivas, revistas e jornais não forçam tanto para acobertar a respectiva opinião. O NYT é conhecido por ser democrata e corroborar ideias liberais (no sentido usado nos Estados Unidos). Como efeito comparativo, o rival do NYT, Wall Street Journal, adota uma linha mais conservadora, pró-Partido Republicano.

Transparência e opinião

O primeiro apoio do jornal via editorial ocorreu num 11 de outubro de 1860 e o escolhido foi o republicano Abraham Lincoln. Após outras cinco eleições opinando a favor dos conservadores, o NYT decide ficar ao lado do democrata Grover Cleveland em 1884. O último republicano que o NYT endossou foi [o general] Dwight Eisenhower em sua reeleição no ano de 1956 – um dos melhores e mais populares presidentes americanos. Desde então, foram 13 eleições apoiando democratas.

Ao se posicionar a favor de um candidato o jornal não deixa de cumprir seu papel. Mostra transparência e não esconde a opinião. Melhor assim do que se portar de “o imparcial, o isento”, pensando que não digitar nomes dos políticos no texto é a estratégia correta a ser exercitada. Todo jornal enxerga a política de um modo específico e expor ao leitor qual é este pensamento é o mais digno.

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[João da Paz é jornalista, São Paulo, SP]