‘Uma operadora de telefonia móvel de Israel lançou um aparelho para conquistar o mercado dos judeus ultra-ortodoxos, estimado em cerca de um milhão de pessoas, numa tentativa de impulsionar os negócios. O novo telefone ‘kosher’ traz um selo de aprovação das autoridades do rabinato, que recomendarão aos membros da comunidade haredi que fechem contrato com a MIRS Communication.
Os aparelhos, da Motorola, foram modificados para não acessarem a internet, não enviarem mensagens SMS, e-mails ou aplicações em vídeo e correio de voz. Com a preocupação de que a nova geração de telefones celulares pudesse ameaçar os valores ortodoxos e o modo de vida da comunidade, principalmente dos jovens, a questão foi analisada por um comitê.
Os rabinos já haviam banido dos jornais lidos pela comunidade judaica ultra-ortodoxa os anúncios dos serviços de telefonia celular. Eles dizem que não são contrários à tecnologia, mas temem que os modernos aparelhos que estão chegando ao mercado permitam o acesso a influências negativas.
A televisão é banida dos lares ortodoxos porque poderia exibir imagens de mulheres – ou pior, mulheres escassamente vestidas. Mesmo o rádio é controlado, e a maioria dos jornais não tem imagens.
O comitê que examinou os telefones fez uma lista de demandas para as operadoras de celular em Israel, mas apenas a MIRS pretendia atender ao setor. Ela espera que mais 100 mil usuários entrem para o seu total de 300 mil assinantes, oferecendo preços mais baixos para os que usarem a rede da empresa e tarifas relativamente altas para ligações para outras redes.
A empresa e os rabinos acreditam que as tarifas diferenciadas vão encorajar os judeus a usarem apenas aparelhos MIRS e desencorajar membros da comunidade haredi de ligar para eles sem seus telefones Kosher. Alguns líderes religiosos já anunciaram seu apoio à MIRS e o uso de influência para divulgar o uso dos aparelhos.
As famílias mais religiosas estão acostumadas com as restrições impostas pelos rabinos, especialmente no Sabbath, quando diversas formas de trabalho são proibidas.
A composição de um circuito elétrico é considerada ‘algo que trabalha’ e, portanto, evitada. Por isso, criaram-se diversos subterfúgios para que os judeus utilizassem seus aparelhos no Sabbath. Em alguns lugares, os elevadores, por exemplo, param em todos os andares sem que se precise apertar qualquer botão.
Também é proibido dirigir. Os judeus ortodoxos caminham, porém, apenas por distâncias curtas. Luzes e equipamentos elétricos não podem ser ligados ou desligados. As famílias deixam as lâmpadas ligadas ou utilizam timers programados antecipadamente. Utilizar telefones, instrumentos musicais, dinheiro ou escrever também são atividades evitadas.’
BLOGS & JORNALISMO
‘Processo da Apple gera discussão sobre papel dos bloggers’, copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br) / The New York Times, 2/03/05
‘No mundo físico, ser rotulado como jornalista pode conferir pouco prestígio e até evocar algum desprezo. Mas ser jornalista também pode conferir certos privilégios, como o direito de manter suas fontes em segredo. E por essa razão muitos bloggers, uma legião de comentaristas on-line e cultos, também gostariam de ser considerados repórteres.
Um processo registrado na Califórnia pela Apple Computer está fazendo os tribunais pensarem nessa questão: quem deve ser considerado jornalista? O caso, que envolve segredos que a Apple diz terem sido revelados em vários sites, está sendo seguido de perto no mundo dos comentaristas on-line, mas pode ter amplas implicações para os jornalistas que trabalham para organizações de notícias tradicionais.
Se o tribunal, no condado de Santa Clara, determinar que os bloggers são jornalistas, o privilégio de manter as fontes em sigilo será aplicado a um maior grupo de pessoas, talvez a ponto de os tribunais considerarem difícil conter sua extensão para outras pessoas no futuro.
‘É um assunto muito sério’, disse Brad Friedman, que se descreve como um blogger investigativo (seu site é bradblog.com). ‘Eles são bloggers porque só publicam seus artigos on-line? Eu acho que você tem que ver o que eles fazem. E se eles reportam fatos, então eles são repórteres’.
A Apple sempre teve um público devoto e a informação vazada sobre os novos produtos da Apple aparece em vários sites por anos. Para combater isso, a companhia registrou um processo no final do ano passado contra as fontes desses vazamentos – pessoas que, segundo a companhia, são funcionários ou terceiros.
A Apple pediu ao tribunal que force os sites que exibiram informações de seus produtos a revelarem suas fontes. Os bloggers combatem os esforços da Apple, que se focaram em três sites – Thinksecret.com, Appleinsider.com e PowerPage.org. O juiz do caso, James Kleinberg, deve apenas interpretar um estatuto da Califórnia que reconhece o privilégio dos repórteres em manterem suas fontes confidenciais. A determinação pode sair no início desta semana.
O processo registrado pela Apple fala sobre o roubo de segredos comerciais. Mas Susan Crawford, uma professora de direito da Faculdade de Direito Cardozo na Universidade Yeshiva (e uma blogger), diz que os passos pedidos pela Apple abrem uma questão mais ampla.
‘Sob quais circunstâncias um fórum on-line deve ser forçado a revelar uma fonte por trás de uma informação postada?’, perguntou Crawford. ‘Não há distinção entre um repórter do New York Times e um blogger por estes propósitos. Ambos operam como fontes de notícias para o público em geral’.
Os blogs, acrescentou, já estão cada vez mais poderosos e alguns têm um público que supera o de jornais de pequenas cidades. ‘Vimos isso com Rather, que foi derrubado pelos bloggers’, afirmou, referindo-se ao âncora do CBS, que foi duramente criticado pelos bloggers após a exibição de um segmento do programa ‘60 Minutes’ sobre o serviço do presidente Bush na Guarda Nacional.
Kleinberg deve tentar decidir o caso nos fundamentos mais estreitos possíveis, talvez lendo o texto da lei da Califórnia em questão para cobrir apenas as pessoas que trabalham para jornais tradicionais e revistas ou programas de TV e evitar ter que decidir se os bloggers são realmente jornalistas.
Independentemente da decisão do juiz, ela certamente será apelada. Mas a questão de quem é jornalista é, para muitos, uma questão de maior preocupação. Alguns bloggers querem qualquer proteção disponível para os jornalistas em companhias de mídia tradicionais para eles e os jornalistas destas companhias querem garantir que o direito de privilégio dos repórteres seja mantido.
Mesmo assim, se reconhecer um privilégio para os bloggers significa que qualquer comentarista on-line pode afirmar que é um jornalista, os juízes podem concluir que em vez de dar o privilégio para todos, ninguém deve tê-lo. Essa possibilidade preocupa os repórteres, que podem enfrentar um novo risco para o que escrevem ou transmitem.
A Apple não processou os sites pelos danos causados ao publicarem seus segredos comerciais, mas ainda pode fazer isso, afirmou Eugene Volokh, um professor de direito da UCLA. Ele considera o registro de um amigo do tribunal em nome dos bloggers, dizendo que o privilégio deve ser estendido a eles.
‘Isso é uma questão não-resolvida da Primeira Emenda’, disse Volokh.
Tentar traçar uma distinção com base na mídia usada pelo blogger ou repórter é errado, disse Jack Balkin, professor na Faculdade de Direito de Yale (e também um blogger). ‘Em 15 anos, pode não haver uma clara distinção entre repórteres e bloggers’, afirmou. ‘Você pode ter um repórter do Chicago Tribune de um lado e um cara sentado em casa com seus pijamas bebendo cerveja do outro’.’
Mario Lima Cavalcanti
‘Blogs acadêmicos’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/03/05
‘Mesmo contrariando um pouco o nome da coluna, considero sempre válido fugir de vez em quando do assunto jornalismo online para abordar temas ligados ao ensino na mídia digital. De certa forma o e-learning (ensino à distância) e o uso da mídia digital para complementar o ensino convencional há muito caminham de mãos dadas com o jornalismo online.
Em setembro de 2003 já havia abordado aqui na coluna o tema ‘Weblogs como ferramenta de ensino’, partindo do pressuposto que as estruturas cronológica e de publicação dos blogs podem facilitar o ensino à distância e contribuir com o ensino convencional. No mesmo artigo, foram citados exemplos de professores que utilizam esse meio para agregar valor ao que ensinam.
Um pouco mais tarde, em novembro de 2003, o professor Marco Bonito, especialista no ensino de jornalismo online, em entrevista aqui para a coluna, disse que ‘O maior exemplo disso [a respeito de o ensino de jornalismo online ainda ser uma tarefa árdua] são as discussões intermináveis sobre os blogs, se são ou não ferramentas úteis ao jornalismo’. Ainda hoje essa é uma questão que vive na cabeça de muitos, mas de dois anos para cá, o uso do blog para publicações de pesquisas e como ferramenta de ensino tem crescido bastante.
A mais recente edição da Lore, jornal online para estudantes graduados envolvidos com o ensino da escrita, relacionou 13 artigos (aqui) abordando o tema weblogs acadêmicos. Aliás, o próprio site da Lore tem a função de explorar e discutir pedagogias experimentais.
Na seleta lista constam textos muito interessantes como o artigo ‘I Blog, Therefore I Am’ (algo como ‘Blogo, logo existo’), de Angelina Karpovich, candidata a Ph.D. na Universidade de Wales, na Inglaterra; e ‘Practicing What We Teach’ (‘Praticando o que nós ensinamos’), de Cathlena Martin e Laurie Taylor, candidatas a Ph.D. na Universidade da Flórida, que falam sobre escrita colaborativa e ensino via blog.
A edição corrente da Lore fala ainda sobre ensino de línguas assistido por blog (que ganhou até o acrônimo BALL, ‘Blog-Assisted Language Learning’), um excelente texto de Jason Ward, instrutor da Universidade Americana de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos. Texto esse que indiretamente já mostra como o formato weblog está sendo proveitoso na área educacional e de pesquisas. Fica então a dica da Lore como leitura mais que recomendada sobre ensino e meio digital.
Leia também:
Weblog como ferramenta de ensino
Ensino de JOL? Bonito, hein?
BlogDid (weblog em português sobre literatura e didática)
Queremos saber sua opinião. Você já teve alguma experiência em termos de ensino online, seja ensinando ou aprendendo? O que você acha do uso do formato weblog no meio acadêmico? Utilize o formulário abaixo e deixe o seu comentário registrado. Até a próxima!’