Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Deonísio da Silva

‘A Câmara dos Deputados, atuando preferencialmente como tribunal nesses últimos cem dias, imita o areópago de Atenas, mas, ao contrário dos antigos areopagitas, poucos de seus membros têm condições de nos representar. A minoria culta foi denominada ‘elitezinha’ por Severino Cavalcanti, o rei do baixo clero, no discurso em que renunciou para não ser cassado por corrupção.


A expressão ‘baixo clero’, para denominar a maioria dos deputados, que seria composta de ignaros, é injusta com a Igreja. Sacerdotes brasileiros, como Antônio Vieira e Frei Caneca, sempre pertenceram ao baixo clero. Jamais foram bispos, arcebispos ou cardeais, mas poucas autoridades eclesiásticas os igualaram em sabedoria e boa formação.


‘E daí, quais são as novidades, como vão as coisas, como está você?’, perguntam uns aos outros os parlamentares quando voltam de suas bases, às terças-feiras. O começo é o mesmo das conversas de rua, de botequim, das viagens e dos locais de trabalho.


O costume é antigo. A ocupação preferida dos atenienses era perguntar aos estrangeiros o que havia de novo. Referem o hábito, entre outros, o historiador grego Tucídides, na História da Guerra do Peloponeso, o político e orador ateniense Demóstenes, nas Filípicas, e São Lucas nos Atos dos Apóstolos: ‘todos os atenienses que lá chegavam não tinham tempo senão para dizer ou ouvir alguma novidade’.


Não havendo jornal, quem chegava à cidade era levado ao areópago, onde as notícias eram partilhadas e discutidas. Muitos trabalhavam bastante para que outros pudessem exercitar a democracia. Faz 20 séculos que nas sociedades isso acontece todos os dias, pois, como diz o Eclesiastes, ‘nada há de novo sob o Sol; o que já foi, isso será; o que já se fez, isso se fará’. Ou a corrupção é novidade para alguém? Insólito e extraordinário é ela ser tolerada e praticada pelo Estado! ‘Salve-se quem puder, o que vale é a imagem, novinha em folha, lavada pela TV das CPIs’, escreveu meu colega de Estácio, o jornalista e professor Dermeval Netto em O Globo (17/9).


A democracia grega tinha algumas semelhanças com a brasileira. Para que os parlamentares façam as vezes dos antigos areopagitas, seus representados trabalham para gerar os impostos que sustentam os representantes. A partilha das novidades é hoje feita pelos meios de comunicação social, designados em síntese pela palavra mídia, pronúncia inglesa do latim media, plural de medium, meio. Jornais e revistas fazem isso para aqueles que têm o hábito ou o gosto de ler. O rádio e a televisão são mais democráticos. Ninguém precisa pagar nada para saber o que estão noticiando. E a internet ainda não foi democratizada.


As sessões do areópago, do grego ‘Areios pagos’, monte de Areios (deus da Guerra), eram realizadas a céu aberto e não em recinto fechado, a ‘kamára’ grega, que, ao ser levada para o latim, virou ‘camara’, tornando-se ‘câmara’ no português. Em grego, como no latim, tinha tal nome pela forma do teto desses recintos, em abóbada. Ali não pontificavam os ignaros: os atenienses respeitavam as instituições.’




JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu


‘Sopinha do Aécio’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 22/9/05


‘O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, de cuja varanda avista-se o Palácio da Liberdade e a piscina do Minas Tênis Clube, comunica aos leitores:


Aqui em Minas, o governador Aécio Neves fez publicar nos jornais desta semana anúncios em que reduzia o ICMS de produtos alimentícios, entre os quais tijolos, areia, telha, etc.. Já, já, teremos nas mesas, com o imposto reduzido, a famosa sopa de pedras.


Janistraquis, cozinheiro amador de razoável talento e inegável criatividade, garante que, bem temperadinha, a sopa agradará ao paladar de qualquer um e pode até enriquecer a merenda escolar, principalmente porque, como se sabe, não desistimos nunca e não deveremos esquecer que o melhor do Brasil ainda é o brasileiro.


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Educação zero


Uma colunista de O Globo deu nota zero à cobertura do US Open de tênis feita pela ESPN Internacional, porque o pessoal ‘falava demais’. José Inácio Werneck, comentarista da emissora e que participou das transmissões, enviou mensagem à colunista, em defesa do trabalho de sua equipe; então a moça, que não lhe deu a menor satisfação, escreveu que a cobertura do torneio pelo Sportv ‘foi muito melhor’. O Sportv, sabemos todos, pertence ao Sistema Globo.


A queixa de José Inácio foi publicada na coluna que ele assina na Gazeta Esportiva. Leia a íntegra no Blogstraquis.


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Ridículo da vida


Sob as cobertas que o agasalham do frio que já assalta sua Belluno, o considerado Giulio Sanmartini, o mais brasileiro dos italianos, despacha estas esclarecedoras linhas:


Ary Barroso sempre lutou para que, ao anunciar a música, o locutor também dissesse o nome do autor(es). Muito justo, pois naquele tempo estas eram atribuídas aos intérpretes. Nesta quarta- feira, 21/9, Marcia Peltier publicou em sua coluna do Jornal do Brasil: ‘O amor é o ridículo da vida’ (Dalva de Oliveira).


Trata-se, na verdade, de um verso da música ‘Bom dia’, cujos autores são Herivelto Martins e Aldo Cabral (‘Que o amor é simplesmente o ridículo da vida’). Ao que me consta, Dalva nem gravou essa composição de 1942, e sim Linda Batista. No início dos anos 70, a música também foi gravada por Maria Bethania.


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Desastre


O considerado Eduardo Perez lia o Estadão (aqui) quando foi surpreendido por este desastre que passa a relatar:


A tragédia dos passageiros já aparece na primeira linha: ‘Duas pessoas morreram por volta das 11h30 desta quinta-feira em razão da queda de um avião monomotor, prefixo PT-AMS…’.


Já a desdita do redator ocorreu no 3o parágrafo: ‘… Provavelmente a aeronave teve pane em um dos motores, que entrou em combustão…’


UM DOS MOTORES ?!? Quantos motores ele espera encontrar em um monomotor ?!? E olha que não saiu num jornalzinho de bairro, mas no Estadão…


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Imortais


Cleber Bernuci, diretor de nossa sucursal no interior de São Paulo, com sede em Americana, fazia na Internet uma pesquisa sobre o grande capitão da Seleção Brasileira de 1958, Hideraldo Luiz Bellini, quando levou esta bolada bem no meio da cara:


Entre os colegas, nas viagens e concentrações, Bellini era sempre visto como alguém responsável, muito companheiro e um líder natural. Alguns até tinham nele um ‘irmão mais velho’. Que o diga o já falecido Almir Pernambuquinho, que pôde contar com seu apoio e conselhos quando chegou ao Vasco em 1957 e teve Bellini como padrinho.


Bernuci ficou perplexo:


Que o diga o falecido?!?!?! Certamente o autor da matéria gritou ao pé da tumba: Almiiiiiiiirrrrr… Levanta-te e anda!…


Janistraquis adorou, Bernuci, porém acha que não houve erro ou desatino do nobre redator:


‘Deve ser um torcedor vascaíno, considerado, daqueles que acreditam na imortalidade dos grandes craques.’ (Confira em http://www.futebolinterior.com.br/osite/ondeandad.php?oa_id=14117, do site www.futebolinterior.com.br na coluna ‘Por Onde Anda?’.


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Pleonasmo


O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal brasiliense, de cujo banheiro, em subindo-se no vaso, é possível ver a ex-mansão do ex-Severino Cavalcanti, escreveu ao diretor editorial da revista Viaje Mais:


Prezado senhor: envio a seguinte observação sobre o nº 52, de setembro/2005:


FIORDES – página 10 – ‘as cataratas Victoria Falls (na Zâmbia)’


Trata-se de pleonasmo. Falls quer dizer cataratas.


Janistraquis se lembrou daquele conjunto: Irmãos Brothers.


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Sérgio Augusto


As pessoas vivem reclamando que os jornais só dão más notícias e os leitores menos compreensivos até nos acusam de lucrar com isso. Os mais compreensivos ao menos reconhecem que as más notícias superam, numericamente, as boas porque a imprensa nada mais é que um reflexo da realidade–inclusive quando privilegia notícias ruins com o intuito de vender mais jornais e revistas ou aumentar o ibope do telejornal.


Leia no Blogstraquis a íntegra do ensaio do Mestre, originalmente publicado no caderno Aliás, do Estadão.


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Para cantar


Faça mais uma visita ao Blogstraquis e conheça a letra do ‘hino do desarmamento’, intitulado O Revórve do Tropeiro, de autoria de Piriska Grecco. É uma colaboração do poeta e jornalista Nei Duclós.


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Engano


Janistraquis, que acaba de inaugurar um retrato do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, no mangueiro aqui do sítio, para espantar a mosca-do-chifre (funcionou, podem acreditar!!!), leu em tudo quando é canto:


Dólares e euros somem da Polícia Federal


O dinheiro, equivalente a mais de R$ 2 milhões, estava na sala-forte, na sede do Rio; 59 policiais foram afastados.


Meu secretário investigou, analisou, consultou as fontes mais bem informadas e fidedignas e concluiu:


‘Considerado, podem não encontrar o dinheiro nunca mais, porém uma coisa é certa: não foi desviado para as contas do PT, ao contrário do que a gente imaginou em princípio.’


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Que nem aqui


Deu na primeira página de jornais do mundo inteiro :


Ronaldinho é novamente o melhor do mundo


O meia-atacante do Barcelona recebeu ontem em Londres o prêmio da FIFPro, entidade que representa os jogadores profissionais de futebol e que organizou uma eleição com votos de 38 mil atletas de 40 países.


Janistraquis festejou:


Considerado, Ronaldinho ganhou um prêmio igualzinho ao Comunique-se, com uma diferença: aqui, os vencedores receberam votos de mais de 80 mil colegas do mundo inteiro!!


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Neocoronelismo?


O que pretendem os defensores dessa proposta de reforma política que circula por aí? O sociólogo Gilson Caroni Filho responde:


‘(…) pretendem escamotear as intenções que os movem: permitir que o caciquismo se eternize no legislativo, impedindo o acesso de novas lideranças políticas e forças sociais. Um neocoronelismo disfarçado de democracia moderna A adoção do voto distrital seria mais um passo nesse rumo de oligarquização e conseqüente esvaziamento da política como processo participativo.


Leia no Blogstraquis a íntegra do polêmico artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil.


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Obrigatório


A coluna recomenda, por indispensável e obrigatório, o livro-reportagem dos considerados Paulo Henrique Amorim e Maria Helena Passos, Plim-Plim, a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral, o qual esmiuça, esmigalha, esfarela, pulveriza, examina, investiga e esquadrinha o chamado escândalo da Proconsult.


Segundo o release da Editora Conrad, a obra, com orelha de Mino Carta, ‘reconstitui com riqueza de detalhes a frustrada tentativa do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) de impedir a vitória de Leonel Brizola nas eleições para governador do Rio de Janeiro em 1982 – através da fraude de totalização de votos com a ajuda da Proconsult, empresa de informática contratada pelo Tribunal Regional Eleitoral/RJ; e da Rede Globo de Televisão.’


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Nota dez


É a nota de Deonísio da Silva, com um texto publicado no Observatório da Imprensa a respeito de outro texto, ancestral, exemplar e atualíssimo.


IMPRENSA VENDIDA


A verba dos répteis


Acaba de sair a reedição de um livro muito oportuno: A imprensa e o dever da verdade [Editora Papagaio, 128 páginas], de Rui Barbosa. Constituiu-se originalmente em conferência, publicada pela primeira vez em 1920 (…) O que mudou desde então? O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o publicitário Marcos Valério são dois emblemas do que Rui Barbosa denunciou. O livro é atualíssimo e em boa hora veio a reedição.


(Leia a íntegra no Blogstraquis)


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Errei, sim!


‘MANCHETE QUE DÓI – Titulão do editorial do Caderno de Propaganda & Marketing, encartado às terças-feiras na Folha da Tarde, de São Paulo: Chutando os ovos. Meu secretário reclamou: ‘Considerado, essa é a chamada manchete que dói…’ (junho de 1995)


Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).’