Os recentes anúncios de cortes nos setores editoriais de pelo menos cinco jornais americanos acenderam a luzinha vermelha de alerta para crise no jornalismo. Jennifer Saba, da Editor & Publisher [28/9/05], conversou com consultores e analistas de mercado sobre o assunto, e as notícias não foram nada boas. Segundo eles, os cortes sugerem mais períodos difíceis a serem enfrentados nas redações dos EUA em um futuro próximo.
Na semana passada, Knight Ridder e The New York Times, duas das maiores companhias de mídia do país, anunciaram os tão temidos cortes de emprego, em conseqüência da queda na receita publicitária. A New York Times, que publica o jornal homônimo e o Boston Globe, anunciou a redução de 4% de sua força de trabalho, incluindo 80 cargos nas redações – 45 do Times e 35 do Globe. No mesmo dia, o Knight Ridder, que publica o Philadelphia Daily News e o Philadelphia Inquirer, os dois maiores jornais da Filadélfia, anunciou seus planos de cortar 100 postos de trabalho em suas redações.
‘Eu acho que isso serve como precursor para ações similares’, afirmou Peter Appert, analista da Goldman Sachs. ‘Você tem uma tremenda pressão na operação de margens de lucro. Estas mudanças refletem a nova realidade da indústria’, completou. Lauren Rich Fine, analista da Merrill Lynch, diz que ficou impressionada como as duas companhias conseguiram encontrar um grande número de empregados sem os quais podem funcionar. ‘Isso me diz que há tempos difíceis à frente’, afirma ela.
Os analistas alertam para a possibilidade de queda na qualidade dos jornais por causa da redução de custos nas redações. ‘Investidores se importam com a qualidade do produto levando em consideração que ela está definitivamente ligada à performance financeira’, diz Appert. ‘Na realidade, entretanto, é muito difícil estabelecer uma ligação direta entre qualidade do produto – talvez porque ela seja tão subjetiva – e performance financeira na indústria de jornais’, explica.
Uma queda na qualidade pode prejudicar a circulação, que, por sua vez, afeta a receita publicitária. Com isso, está criado um ciclo vicioso. Para evitá-lo, os jornais afetados terão que repensar o produto que têm nas mãos. Segundo Appert, o impacto disso nos jornais da Filadélfia deve ser maior do que nos da New York Times Co., que sofreram um corte menor.
Para Amanda Bennet, editora do Inquirer, não é possível ‘tirar 75 pessoas da redação e continuar a fazer as coisas do jeito que eram feitas antes’. Segundo ela, é preciso reexaminar todos os aspectos do trabalho – o que foi feito no Inquirer no início desta semana, em uma reunião com os chefes de todas as editorias. Em uma mensagem sobre a reunião endereçada à equipe, Amanda contou que passou muitas horas trabalhando ‘na definição de valores fundamentais dos jornais – que não podemos nos desfazer, mesmo quando nosso tamanho é reduzido –, como nossa ambição, nosso jornalismo vigilante, nossa personalidade e voz, e nosso compromisso em alcançar a todos os nossos leitores’.