Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fonte libera jornalista para testemunhar

Judith Miller, jornalista do New York Times que estava presa há quase três meses por ter se recusado a colaborar com a justiça, foi libertada da prisão na Virgínia na tarde de quinta-feira (29/9), depois que ela e seus advogados chegaram a um acordo com o promotor federal Patrick J. Fitzgerald, que investiga o caso do vazamento da identidade da agente da CIA Valerie Plame. Judith – que recebeu a informação, mas nunca chegou a escrever uma matéria sobre o assunto – havia se recusado a revelar sua fonte a Fitzgerald. Ela afirmou ter finalmente recebido permissão da fonte, esta semana, para testemunhar diante do grande júri. Depois do depoimento, que ocorreu na sexta-feira (30/9) e durou mais de três horas, a jornalista foi para sua casa, em Long Island. ‘Estou com muita vontade de comer comida caseira e abraçar meu cachorro. Acreditem em mim ou não, eu não queria ter sido presa’, desabafou.


Segundo pessoas oficialmente ligadas ao caso, a fonte de Judith seria I. Lewis Libby, chefe de gabinete do vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. A repórter teria encontrado com Libby em 8 de julho de 2003, e conversou com ele por telefone naquela semana. As conversas entre funcionários do governo e jornalistas durante este período teriam sido um foco central na investigação, já que a identidade de Valerie seria revelada pouco tempo depois, em um artigo do colunista sindicalizado Robert Novak – que, aparentemente, não sofreu pressões para revelar sua fonte.


O publisher do New York Times, Arthur Sulzberger Jr., disse em depoimento que o jornal apoiava a decisão de Judith de testemunhar, assim como apoiou a decisão anterior da jornalista de se recusar a cooperar. ‘Judy não hesitou em sua decisão de proteger a confidencialidade de sua fonte. Estamos felizes por ela ter recebido de sua fonte uma liberação direta e voluntária, por telefone e por escrito, a liberando para testemunhar’, afirmou ele.


A investigação de Fitzgerald estava focada sobre o fato de funcionários do governo Bush terem ilegalmente revelado à imprensa que Valerie Plame, mulher do diplomata e ex-embaixador americano Joseph Wilson, seria uma agente da CIA. O artigo de Novak com a revelação foi publicado em julho de 2003, pouco tempo depois de Wilson ter criticado o governo Bush.


O diplomata havia viajado ao Níger, por conta da CIA, para investigar a acusação do governo de que o Iraque tentara obter urânio naquele país. Quando afirmou publicamente que não encontrara nenhum indício de que esta informação fosse verdadeira, as autoridades tentaram desacreditá-lo. Acredita-se que a coluna do conservador Novak tenha sido uma represália às declarações de Wilson.


Sabe-se que Karl Rove, estrategista político de Bush, e Libby mencionaram Valerie a repórteres, mas não se tem certeza se eles a identificaram pelo nome ou se mencionaram seu status de agente da CIA. Um outro foco da investigação seria descobrir se os funcionários do governo teriam falado a verdade nos seus testemunhos para os investigadores e diante do grande júri. Não se sabe ao certo se alguém da administração do governo Bush será punido pelo vazamento da informação.


A participação de Judith na história permanece ainda sem esclarecimento. Fitzgerald afirmou que obter o testemunho da repórter seria um dos últimos objetivos na sua investigação. ‘O acordo satisfaz minha obrigação como jornalista de me manter fiel a minhas fontes. Fui para a cadeia para preservar o princípio de que um jornalista deve respeitar a promessa de não revelar a identidade de uma fonte confidencial. Eu escolhi sofrer as conseqüências em vez de violar minha promessa. O princípio é mais importante do que minha liberdade pessoal’, afirmou ela.


Judith deveria permanecer presa até o fim do mandato do grande júri, que seria em outubro, se não tivesse decidido revelar a identidade de sua fonte anônima à justiça. O outro jornalista envolvido no caso, Matthew Cooper, da revista Time, aceitou, em julho, depor ante o grande júri e revelar sua fonte.


Muitos jornalistas acreditam que suas fontes poderiam se recusar a fornecer informações se não estivessem protegidas pelo anonimato. ‘Eu espero que a minha estadia na prisão tenha ajudado a fortalecer o laço entre jornalistas e suas fontes’, afirmou Judith. ‘Espero que este caso deixe claro a necessidade de uma lei federal que proteja jornalistas de não ter de divulgar fontes de informações confidenciais’. Informações de David Johnston e Douglas Jehl [The New York Times, 29 e 30/9/05] e Adam Entous [Reuters, 29/9/05].