Na edição que está nas bancas, a revista Veja, na minha avaliação, volta a cometer mais uma de suas derrapadas jornalísticas. Em matéria que reporta o retorno do “sanguessuga” Luiz Antonio Vedoin à prisão, depois do surpreendente episódio de tentativa de venda de um dossiê contra José Serra e outros políticos do PSDB, a revista dos Civita (“a sujíssima Veja”, como costuma caracterizar o decano do jornalismo político no Brasil, o jornalista Hélio Fernandes, editor da Tribuna da Imprensa), volta a tentar atingir a honra da senadora Serys Slhessareno (PT-MT).
Já digo como: a Veja aborda a prisão do empresário Valdebran Padilha, e, aproveitando-se da coincidência de Valdebran ser filiado ao PT de Mato Grosso, partido atualmente presidido pela senadora, a revista tenta vinculá-lo à campanha que Serys atualmente enceta visando o governo do estado, ilustrando a reportagem com uma foto de Serys e a legenda sacana: “Serys: campanha com a ajuda do suspeito”. Para fazer esta vinculação, a Veja não demonstra contar com qualquer dado da realidade, além do explícito desejo de usar sua inegável influência na comunidade para, mais uma vez, colocar o seu jornalismo a serviço da tentativa de destruição da respeitabilidade da senadora petista.
Só que a tentativa de Veja esbarra na apuração isenta (ou menos comprometida?) de outros veículos de comunicação e outros jornalistas, como Cláudio Humberto que, em sua coluna deste domingo, 17 de dezembro, revela, em nota, que a senadora Serys e Valdebran Padilha, na verdade, sempre se enfrentaram. Contra a tentativa de Veja, também conspira o insuspeito jornal A Gazeta, de Cuiabá – alvo de diversos processos judiciais movidos por Serys – que já publicara, neste sábado, 16 de setembro, ampla reportagem, assinada pelo jornalista Auro Ida, dando conta da suspeita de diversos setores do PT, em Mato Grosso, de que Valdebran Padilha, por suas relações com os Vedoins, pode, na verdade, é estar por trás da tentativa de envolvimento de Serys no chamado escândalo das ambulâncias.
Tentativa de envolvimento trabalhada e divulgada, com a maior dedicação, por membros da CPMI dos Sanguessugas, como Fernando Gabeira, Raul Jungman, Carlos Sampaio e Carlos Aleluia, e veículos como a Veja, a própria A Gazeta, o Diário de Cuiabá, a Folha de S. Paulo, o Estadão e a Rede Globo, além de colunistas como Ricardo Noblat e Reinaldo Azevedo, que jamais demonstraram grande interesse em ouvir a versão de Serys – embora o senador Amir Lando (PMDB-RO) tenha reconhecido que não leu a defesa da senadora na CPI antes de remeter seu caso ao Conselho de Ética, e a insuspeita senadora Heloisa Helena (PSOL-AL) tenha dado declarações à Agencia Estado e à Agencia Folha aventando a possibilidade da inocência de Serys.
O leitor mal-informado
Quer dizer: Emir Sader, analista da Agência Carta Maior, e um dos mais respeitados intelectuais deste país, parece está coberto de razão quando bate na tecla de que Veja é aquela revista que mente, mente, mente, mente, mente descaradamente. Bastaria aos editores e repórteres da Veja (“sujíssima Veja”!) adotarem o mínimo de cautela investigativa para perceberem que, quanto à relação Serys-Valdebran, existe outra versão muito diferenciada daquela que a revista, afrontosamente, apresenta. Mas qual! A prática do jornalismo, decididamente, não parece ser o interesse central de quem edita a revista neste tempos de disputa eleitoral.
No início deste ano, falando na tribuna do Senado, a senadora Serys Slhessarenko, ao analisar abordagens da revista com relação a determinadas figuras do PT e do governo, acusou a Veja, repetindo palavras do jornalista Luis Weis, deste Observatório da Imprensa, de praticar “um jornalismo de esgoto”. Pelo que parece, a Veja continua se esforçando para se enquadrar cada vez mais no figurino. Ou, talvez, praticar alguma espécie de vingança jornalística contra aquela que se dispôs a uma crítica tão sincera e aberta da publicação dos Civita.
O chato é que o leitor/contribuinte/cidadão brasileiro fica mal em matéria de informação se for se basear nas revistas semanais. A IstoÉ taí, exposta como publicação que, possivelmente, comercializa suas matérias como neste absurdo episódio dos Vedoins. A Veja, como se vê neste episódio de Serys, mente, mente, descaradamente. A Época, do grupo Globo, já ficara mal no episódio do caseiro. Quer dizer, em matéria de informação, talvez estejamos, como gosta de dizer o vulgo, perdidos (sic) e mal pagos. Mas confira as reportagens e tire você mesmo, leitor do Observatório, as suas conclusões:
1) Leia a reportagem de Veja:
O alvo era Serra
Vedoin, o empresário dos sanguessugas, é preso pela PF. Ele é suspeito de participar com petistas de uma armação contra o candidato tucano
A Polícia Federal anunciou, na sexta-feira passada, a prisão do empresário Luiz Antônio Vedoin em um motel em Cuiabá. Vedoin é um dos sócios da Planam, empresa que chefiava a máfia dos sanguessugas. O empresário foi preso como resultado de escutas telefônicas feitas pela PF. As escutas mostraram que Vedoin havia se envolvido em um esquema sujo de chantagem e guerra eleitoral: comprometera-se a repassar a um tesoureiro petista e a um segurança que trabalha para o PT um conjunto de fotos e vídeos em que José Serra, candidato ao governo de São Paulo, aparecia em cerimônias de entrega de ambulâncias, no período em que era ministro da Saúde. Na quinta-feira, a PF deteve Paulo Trevisan, tio de Vedoin, quando ele tentava embarcar de Cuiabá para São Paulo. Na bagagem, Trevisan levava fotografias, uma fita de vídeo e um DVD com 23 minutos de duração no qual aparecem imagens de uma solenidade de entrega de ambulâncias em Cuiabá, em 2001. No evento, estavam presentes Serra e o então governador paulista, Geraldo Alckmin.
De Cuiabá, os agentes da Polícia Federal avisaram os colegas de São Paulo e informaram sobre os contatos que o tio de Vedoin manteria na cidade. Na manhã de sexta-feira passada, devidamente alertados, os agentes paulistas prenderam, no Hotel Ibis, em frente ao Aeroporto de Congonhas, dois desses contatos. Um deles é Valdebran Carlos Padilha da Silva, empreiteiro de Mato Grosso, tesoureiro informal nas campanhas do PT no estado. Ele é ligado ao deputado petista Carlos Abicalil, notório engolidor de provas na CPI dos Correios. Valdebran e Abicalil operam juntos. O deputado usa uma casa de Valdebran como comitê de campanha em Cuiabá; Valdebran, por sua vez, seria um dos responsáveis por viabilizar as emendas de Abicalil.
Valdebran atualmente tem trabalhado pela candidatura ao governo da petista Serys Slhessarenko, envolvida no escândalo dos sanguessugas. Ele estava com muito dinheiro em seu poder: 758.000 reais e 109.800 dólares, tudo em dinheiro vivo. O outro preso é Gedimar Pereira Passos, um agente federal aposentado que recentemente passou a trabalhar como segurança no PT. Assim como Padilha, ele deveria encontrar-se com o tio de Vedoin e, também como Padilha, trazia consigo uma bolada em dinheiro vivo: 139.000 dólares e 410.000 reais. A PF suspeita que todo esse dinheiro seria trocado pelas fitas em poder do tio de Vedoin.
Semanas depois que fez um acordo com a Justiça Federal para delação premiada, em julho passado, o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin passou a ter suas ligações telefônicas secretamente monitoradas pela Polícia Federal. As autoridades estavam desconfiadas do comportamento do empresário, que parecia proteger alguns envolvidos e esconder parte de seu baú de provas. O monitoramento permitiu aos agentes federais ter a certeza de que Vedoin estava fazendo chantagem e negociando acusações. Nas últimas negociações, descobriu-se que os alvos eram Geraldo Alckmin e José Serra. As conversas telefônicas indicavam que Vedoin estava empenhado em reunir indícios de envolvimento dos tucanos com a máfia das ambulâncias. O superintendente da PF em Cuiabá, Geraldo Pereira, explica que a prisão de Vedoin ocorreu pelo crime de ocultação e venda de provas. “Temos mais elementos contra ele”, diz o superintendente. “Essa investigação não começou ontem.”
Na semana em que a Polícia Federal estourou as negociações clandestinas de Vedoin para incriminar os tucanos, a revista Istoé publicou uma reportagem de capa na qual Vedoin e seu pai, Darci Vedoin, acusam Serra de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. No início da noite de quinta-feira, antes de a reportagem de Istoé vir a público, o advogado Otto de Azevedo Júnior, que defende Vedoin, entrou em contato com a redação de Veja para avisar que havia protocolado uma petição na Justiça Federal com novas acusações de Vedoin. Otto disse ainda que as denúncias seriam publicadas na Istoé, mas citou apenas o envolvimento do nome do ex-ministro Barjas Negri, que foi secretário executivo de Serra e o sucedeu na Pasta da Saúde. Uma hora depois, em novo contato telefônico, dessa vez com o próprio Luiz Antônio Vedoin, Veja perguntou ao dono da Planam se, na entrevista a Istoé, ele havia citado o nome de José Serra. Vedoin negou peremptoriamente, mas o que se viu no dia seguinte é que ele havia mentido. Ao que tudo indica, Vedoin foi uma das peças de uma chantagem. Há muito por esclarecer nesse episódio. Espera-se, no entanto, que ele não sirva de álibi para livrar de punição os políticos sanguessugas que foram denunciados, com provas e fortes evidências, pelo empresário.”
2) Veja o que publica Cláudio Humberto, em sua coluna e em seu site na internet, neste domingo, 17 de setembro:
17/9/2006 | 0:00
Veto salvador
Preso em São Paulo com uma mala de dinheiro, para comprar denúncia contra o tucano José Serra, o petista Valdebran Padilha quase virou diretor da Eletrobrás. Foi vetado pela senadora Serys Slhessarenko (PT-MT).
17/09/2006 | 0:00
Mala influente
Valdebran Padilha, o homem da mala, tesoureiro do PT de Cuiabá em 2004, indicou um funcionário de sua empresa (Saneng), engenheiro Evandro Flores, para o cargo de superintendente da Funasa no Mato Grosso.
3) Leia o que publicou A Gazeta, de Cuiabá, em sua edição de sábado, dia 16 de setembro:
Prisão causa mal-estar no PT e levanta desconfiança
Auro Ida
Da Redação
A prisão do ex-funcionário do gabinete do deputado federal Carlos Abicalil e ex-tesoureiro da campanha de Alexandre Cesar à Prefeitura de Cuiabá, empreiteiro Valdebran Padilha, causou ontem mal-estar e desconfiança no PT de Mato Grosso. Ele foi preso pela Polícia Federal, junto com o advogado Gedimar Pereira Passos, num hotel em São Paulo, com R$ 1,168 milhão e US$ 109,8 mil que seriam utilizados para pagar o empresário Luiz Antonio Vedoin, sócio da Planam, que iria entregar fitas e documentos envolvendo o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, a máfia das ambulâncias.
“Vou pedir a suspensão da sua filiação do PT e que seja submetido a Comissão de Ética”, informou o presidente do partido em Cuiabá, Jairo Rocha. Ele evitou acusar abertamente os petistas de terem tramado o envolvimento da senadora Serys Marly, candidata ao governo do estado, com os sanguessugas. “Mas que é estranho, isso é”, enfatizou.
Jairo Rocha lembrou que Valdebran Padilha tentou, por duas vezes, ser indicado para uma diretoria da Eletronorte e foi barrado por Serys. A primeira indicação, segundo ele, foi feita antes da posse do presidente Lula pela corrente Unidade na Luta, liderada em Mato Grosso por Alexandre Cesar e Carlos Abicalil, homem de confiança de Lula no estado. “Na época, apresentamos um dossiê com irregularidades praticadas por ele”, lembrou. A segunda vez que o empresário tentou assumir um cargo na Eletronorte foi na época da reforma ministerial, logo após as eleições municipais de 2004, dessa vez, indicado pelo PMDB.
Mais uma vez, a senadora petista se posicionou contra a sua indicação com o agravante de ter sido mau gestor das contas da campanha à Prefeitura de Cuiabá. Jairo Rocha disse que a investigação precisa esclarecer todo o episódio já que há suspeitas e desconfianças.
“Queremos que seja apurado até as últimas conseqüências”. Para ele, é fundamental que o Conselho de Ética do Senado declare, o quanto antes, que a senadora petista é inocente da acusação feita por Vedoin. “Depois dessa descoberta, qualquer acusação de Vedoin, inclusive contra Serra, que é nosso adversário, não tem nenhum valor”, observou o jornalista Enock Cavalcanti, marqueteiro da campanha petista.”
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Jornalista, assessor técnico do mandato da senadora Serys Slhessarenko